quinta-feira, 7 de julho de 2011

113- Quebrando a maldição do hiperfoco (continuação da 112)

“Muitos cientistas, escritores e artistas com TDAH têm carreiras muito bem sucedidas, em grande parte devido à sua habilidade em focalizar naquilo que estão fazendo, por horas a fio,” diz Nadeau.
Mas o foco intenso e sem controle é mais frequentemente um problema. Deixado sem controle, ele pode levar ao fracasso na escola, perda de produtividade no trabalho e comprometimento dos relacionamentos com amigos e em casa.
“Crianças com TDAH geralmente gravitam ao redor do que é interessante e excitante, e são avessas a fazer coisas que elas não querem fazer,” diz Joseph Biederman, M.D., chefe do programa de psicofarmacologia pediátrica do Massachusetts General Hospital, em Boston. “ Combine isto com o fraco gerenciamento do tempo e problemas da socialização, ambos os quais são típicos das crianças com TDAH, e a criança pode acabar jogando Nintendo durante todo o final de semana.”
Adultos com TDAH contam histórias de falta a encontros ou reuniões e a perda de prazos porque ficaram tão absorvidos em algo a ponto de perder a noção de tempo. Em um caso com história extraordinária, contada por Nadeau, uma mulher com TDAH ficou tão focalizada num projeto que não notou que sua casa estava pegando fogo. “Somente quando os bombeiros chegaram, procurando por alguém dentro da casa, foi que ela olhou para cima e percebeu o que estava acontecendo,” diz Nadeau.

As melhores maneiras de intervenção
Se uma criança com TDAH tende a se perder em sua atividade favorita, os pais ou professores devem primeiramente adotar meios de limitar a quantidade de tempo que a criança tem para gastar na atividade.
“Mesmo que uma criança esteja usando medicação para o TDAH, jogar Nintendo sempre será mais atraente do que estudar para uma prova de matemática,” diz Biederman. “Então a criança deve ter permissão para jogar somente em pequenas doses – não durante o dia todo.”
“Se você tem um filho que hiperfocaliza em uma atividade favorita, você precisará se opor à essa tendência sendo extra vigilante sobre os limites de tempo gasto na atividade e sobre a adesão a este esquema,” diz Carol Brady, PH.D., uma psicóloga de Houston. “Pode também ser útil fazer um acordo antecipado com seu filho sobre a hora em que a atividade pode ser feita, e sobre quando não pode.”
Então, é essencial desenvolver um sistema para ajudar seus filhos a redirecionarem seu foco. Quando chega a hora de parar com a atividade, Brady recomenda ser um pouco flexível, esperando por uma pausa natural – o final de um show de TV, por exemplo.
Mas não é suficiente dar à criança um tempo limite e esperar que ela pare. “Digo aos pais que eles precisam fazer algo para quebrar o transe em que seus filhos estão,” diz Silver, “tal como dar um tapinha no seu ombro, passar a mão na frente do seu rosto, ou ficar entre ele e a TV ou a tela do computador.” A não ser que você faça isso, ele diz, a criança pode nem perceber que você está tentando chamar a atenção dela.
“Estas crianças não são desobedientes,” diz Nadeau. “Seus cérebros só não estão registrando o que você está falando para elas. É por isso que a interrupção nunca deve ser raivosa, e por isso que você deve permitir alguns minutos para que a mudança de atenção dela aconteça. É quase como tirar alguém de um sonho.”
Para ajudar a amenizar o processo, Nadeau recomenda arrumar um tempo para educar seu filho sobre as maneiras como o seu cérebro funciona. “Seu filho precisa entender por que é difícil para ele parar de fazer alguma coisa em que ele realmente esteja interessado”, ela diz. “A criança também precisa saber que, por causa disso, os professores e os pais podem ter de intervir de tempos em tempos para interromper uma atividade.”

Estabelecendo dicas externas
Para adultos com TDAH, controlar os ataques de hiperfoco requer o estabelecimento de dicas externas para redirecionar sua atenção. “Este tipo de foco intenso não é algo que você toma e joga fora,“ diz Barkley.
Nadeau, que tem ela mesma o TDAH, geralmente apresenta hiperfoco quando assume um trabalho escrito. Então ela ajusta um timer para lembra-la de compromissos que ela tem de atender, ou chamadas telefônicas que precisa fazer. Mensagens no computador, ajustadas para surgir na tela de tempos em tempos, podem também ser utilizadas. Assim também, pode ajudar recrutar o auxílio do esposo, ou de um ajudante de trabalho. “Trabalho com um homen que fica tão sobrecarregado no seu trabalho que ele treinou um colega a vir e puxá-lo para fora do seu escritório para reuniões,” diz Nadeau.
Outro paciente de Nadeau tinha o costume de trabalhar em seu computador após o jantar. “Ele ficava completamente no ar,” diz Nadeau, “até o ponto em que sua mulher  ia se deitar e ele nem notava. Ficava trabalhando até duas ou três horas da amanhã.” Desesperada, a mulher começou a literalmente desligar a tomada do computador dele quando chegava a hora de ir dormir. “Era a única maneira de obter sua atenção.” Diz Nadeau.

Tornando as coisas chatas mais atraentes
Finalmente, a melhor maneira de lidar com o hiperfoco é não brigar com ele mas acolhê-lo. “Se a escola ou o trabalho pode ser tornado mais estimulante, ele atrairá o foco do mesmo modo,” diz Nadeau.
“Crianças com TDAH necessitam de um padrão maior de ensino,” diz William Sears, M.D., professor associado de clínica pediátrica na Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia, em Irvine. “Uma criança com TDAH se torna enfadada rapidamente quando se lhe pede para memorizar um monte de dados de história. Mas se ela se dispõe a escrever uma peça sobre o assunto e a representa-la, ela vai brilhar.”
A mesma coisa é verdedeira para os adultos. “Um trabalho que propicie o reconhecimento público, junto a consequências prazerosas mais imediatas, pode ser ideal para os que têm TDAH,” diz Barkley. “Talvez seja por isto que 35% das pessoas com TDAH sejam autônomas por volta dos seus trinta anos – uma porcentagem muito mais alta do que a normal.”

O outro lado do hiperfoco
Quando você aprende a mudar o hiperfoco a seu favor, isto pode ser uma conquista vantajosa. São inúmeras as histórias sobre portadores de TDAH que podem se concentrar intencionalmente por longos períodos de tempo em projetos complexos.
“Quando eu costumava dirigir comerciais de TV, nunca podia me sentar e fazer um relatório dos gastos financeiros,” diz Frank Coppola, de Nova Iorque. Um coach (treinador) de TDAH, que também tem TDAH. “Mas estando no estúdio, eu fazia nove coisas simultaneamente, e podia prestar atenção em cada uma delas, sem nenhum problema.”
“Eu treino baseball,” comenta Sears, “e sempre escalo os meninos com TDAH como arremessadores e pegadores. Como arremessadores, sua habilidade de hiperfoco os ajuda no alvo, e como pegadores, o hiperfoco aumenta sua consciência do batedor. Crianças com TDAH se tornam grandes jogadores de hockey pelas mesmas razões. Quando a jogada está do outro lado da quadra eles ficam meio distraídos, mas quando a coisa vem para o seu lado, eles se transformam em muito alertas e hiperfocados.” 

112- Aprenda sobre o TDAH: Foco no hiperfoco


Informação sobre o sintoma do TDAH chamado hiperfoco . Um sintoma comum, que explica por que muitas crianças e adultos com TDAH podem se concentrar tão intensamente, às vezes. Por Royce Flippin – ADDitude

Não é nenhum segredo que as crianças e adultos com TDAH geralmente têm dificuldade para prestar atenção em tarefas que eles acham sem interesse. Alta distração – em crianças com TDAH que são incapazes de permanecer focalizadas na aula, ou em adultos com TDAH que nunca dão conta de fazer seus trabalhos escritos – é um sintoma-chave no TDAH e um critério para o diagnóstico.
O que você pode não saber sobre o TDAH é que há um outro lado: a tendência das crianças e adultos com transtorno de déficit de atenção de focalizar muito intensamente em coisas do seu interesse. Às vezes, a focalização é tão intensa que eles podem se tornar desligados do mundo que os cerca.
Para crianças, o objeto do hiperfoco pode ser jogar um vídeo game ou ver TV. Para adultos, pode ser fazer compras ou surfar na internet. Mas seja o que for que prenda a atenção, o resultado é o mesmo: a não ser que alguma coisa ou alguém interrompa, horas de devaneio são perdidas enquanto atividades importantes e relacionamentos ficam de lado. “As pessoas que pensam que TDAH significa ter atenção curta não entendem o que seja o TDAH”, diz Kathleen Nadeau, Ph. D., psicóloga de Silver Spring, Maryland, e autora de ADD-Friendly Ways to Organize Your Life. ”Um jeito melhor de olhar para isso é entender que as pessoas com TDAH têm um sistema de atenção desregulado.”

Recompensas imediatas

Como a distração, o hiperfoco é tido como o resultado de níveis anormalmente baixos de dopamina, um neurotransmissor que é particularmente ativo nos lobos frontais do cérebro. Essa deficiência de dopamina torna difícil a “troca de marchas” para enfrentar as tarefas chatas, mas necessárias.
“Crianças e adultos com TDAH têm dificuldade de mudar a atenção de uma coisa para outra”, diz Russel Barkley, PH. D., um pesquisador e professor de psiquiatria na SUNY Upstate Medical University, em Siracusa, New York. “Se eles estão fazendo algo de que gostem ou achem psicologicamente recompensador, eles tendem a persistir neste comportamento por mais tempo do que outros, que  normalmente já teriam passado para outro assunto. O cérebro de pessoas com TDAH é ligado a atividades que dão recompensa imediata.”
Na visão de Larry Silver, M. D., um psiquiatra da Georgetown University Medical School em Washington D.C., tão intensa concentração é na verdade um mecanismo de compensação.
“É um modo de lidar com a distração,” diz Silver. “Alunos de faculdade com TDAH me contam que eles intencionalmente vão para um estado de intensa focalização para terminar suas tarefas. Crianças mais jovens fazem a mesma coisa de modo inconsciente quando estão fazendo algo prazeroso, como assistir um filme ou jogar no computador. Geralmente elas não estão conscientes de que estão focalizando tão intensamente.”

Oportunidades perdidas

Não há nada inerentemente perigoso com o hiperfoco. De fato, ele pode ser uma vantagem. Alguns portadores de TDAH, por exemplo, são capazes de canalizar seu foco em algo produtivo, tal como uma atividade ou trabalho escolar. Outros se permitem  hiperfocar em algo como uma recompensa para terminar uma tarefa importante, mas chata.
(continua)

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