quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

187- O treinamento (coaching) ajuda os universitários com TDAH? (2a. parte)


Obtenção de dados
Como notado, esta parte do estudo foi qualitativa em natureza e envolveu entrevistas pessoais com os estudantes de cada campus. As entrevistas foram transcritas e codificadas, usando um software especialmente desenhado que identificava temas comuns entre elas. Por exemplo, temas que emergiram incluíam “habilidades de estabelecer metas”  e “ferramentas de controle do tempo”, indicando que essas eram as áreas consistentemente discutidas pelos estudantes.
Uma vez identificados os temas importantes, os pesquisadores revisaram cuidadosamente as transcrições para identificar o material que fosse diretamente relevante para cada tema. Isto permitiu ao pesquisador a compilação de um conjunto confiável de sentimentos dos estudantes, dentro de cada tema e categoria para revisão. Lendo o material de entrevista relevante para cada área temática, os pesquisadores desenvolveram um sentido geral da experiência relevante dos estudantes para cada área.
Este é um método muito diferente da tradicional pesquisa quantitativa, que se apoia mais na análise estatística de dados quantitativos. Entretanto, quando métodos qualitativos apropriados são empregados, isto pode ser uma abordagem rigorosa e sistemática para aprender sobre a experiência individual, que os proponentes argumentam que proporcione um complemento muito útil para os métodos quantitativos.
Resultados
As conclusões importantes relatadas pela maioria dos estudantes incluíam as seguintes:
1. O treinamento os ajuda a trabalhar mais produtivamente na direção de suas metas. Muitos relataram que seu treinador ajudou-os a pensar e a usar seu tempo mais produtivamente.
2.Os estudantes se sentiram mais capazes de manejar as múltiplas datas-limite usando a estrutura que seu treinador ajudou-os a criar e seguir.
3. Os estudantes sentiram que os treinadores os ajudaram a desenvolver melhores estratégias de organização.
4. Os estudantes sentiram que os treinadores os ajudaram a persistir na direção de atingir suas metas acadêmicas quando barreiras inicialmente impediam seus esforços.
5. Os estudantes sentiram que o contato frequente entre as sessões facilitou a solução dos seus problemas e reforçou sua motivação para alcançar suas metas. Também ajudou-os a se sentirem mais confiantes no sentido de alcançarem seus objetivos.
6.  Os treinadores ajudaram os estudantes a desenvolver metas acadêmicas mais realistas assim como planos mais realistas para atingi-las.
7. Os estudantes relataram aumento dos sentimentos de competência em relação à sua habilidade de manejar com sucesso as demandas da vida universitária. Como resultado, muitos estudantes relataram maiores sentimentos de bem estar e aumento da confiança sobre seu sucesso futuro.
8. Os estudantes descreveram comportamentos mais autorregulados como um benefício importante. Isto é, eles se sentiram mais capazes de dirigir consistentemente seus comportamentos no sentido de alcançar os objetivos que haviam estabelecido para si mesmos.
É notável que a despeito do impacto claramente positivo do treinamento que os estudantes relataram, seus comentários foram variados em relação a se o treinamento melhorou diretamente seus GPAs. Isto é consistente com os achados quantitativos que estão resumidos em http://edgefoundation.org/information/research/  nos quais as notas que os estudantes dão a si mesmos indicam ganhos significativos no estudo e nas habilidades de organização, comparados com os participantes controle, mas nenhuma mudança significativa no GPA.
Isto é importante por várias razões. Primeiro, indica que os estudantes não viam os treinadores como uma panaceia. Embora eles claramente achassem os treinadores úteis nas maneiras acima anotadas, eles eram mais circunspectos sobre o impacto dos treinadores em seu desempenho acadêmico objetivo. Segundo, esta visão mais cheia de nuances aumenta a credibilidade das respostas positivas que eles forneceram. Isto é, o fato de que eles não relatam simplesmente que os treinadores ajudaram em tudo, sugere que os estudantes forneceram informações sobre áreas em que os treinadores foram realmente úteis e que refletem verdadeiramente a experiência dos estudantes.
(Continua na próxima postagem)

186- O treinamento (coaching) ajuda os universitários com TDAH? (1a. parte)


Muitos estudantes com TDAH lutam para serem bem sucedidos na faculdade. Conforme foi notado em artigo anterior do Attention Research Update, por Linda Hecker, do Landmark College, o meio universitário sobrecarrega as funções executivas tais como o gerenciamento do tempo e a organização das tarefas. O dia da faculdade é pouco estruturado se comparado ao do colegial – os estudantes têm somente 1 ou 2 aulas por dia, com muito “tempo livre” nos intervalos. Há mais trabalhos de longa duração e nenhum grupo de estudos ou pais que fiquem por perto para garantir que os estudantes fiquem atentos (veja  www.helpforadd.com/2006/july.htm ). Por isso, os estudantes com TDAH precisam confiar mais em suas habilidades para controlar seu comportamento ao longo do tempo, na busca de realizações importantes, e eles frequentemente têm maior dificuldade do que seus colegas para se engajar consistentemente em tais comportamentos de autorregulação.
Intervenções que se destinam a desenvolver e melhorar as importantes habilidades de autorregulação – assim como outras funções executivas importantes – podem ser especialmente úteis para os estudantes universitários com TDAH. Uma intervenção que atua diretamente nisto é o Coaching (treinamento). Os treinadores auxiliam pessoas com TDAH propiciando a eles um claro entendimento da natureza do TDAH e de como ele afeta a sua vida diária. Eles trabalham com os clientes para identificar metas importantes e para desenvolver planos e estratégias para alcançá-las. Eles ajudam os clientes a monitorar seu progresso na direção dessas metas, a identificar quando eles estão se desviando delas e a desenvolver estratégias para mais eficientemente alcançá-las ao longo do tempo. Assim, os treinadores podem auxiliar os estudantes a desenvolver sua habilidade para regular seu comportamento de modo eficiente, e proporcionar uma importante fonte externa de regulação, conforme essa habilidade vai se desenvolvendo. Em teoria, isto deveria ajudar os estudantes com TDAH a conquistar maior sucesso acadêmico.
Como esta abordagem funciona realmente para os estudantes com TDAH? Esta questão foi analisada em estudo publicado recentemente no Journal of Attention Disorders (Parker et al., 2011 – Self-control in postsecondary settings: Students perceptions of ADHD College coaching. Journal of Attention Disorders, DOI:10.1177/1087054711427561). Os participantes foram  19 estudantes de 10 campi diferentes, que foram selecionados a partir de uma amostra maior, de 88 estudantes com TDAH, que tinham sido escolhidos ao acaso para receber a intervenção do treinamento (coaching).

Foram analisadas duas questões primárias:

1. Qual é o efeito do treinamento na percepção que os estudantes com TDAH têm do processo que utilizam para manter suas metas acadêmicas, tais como o GPA (Grade Point Average)?  (veja no Google)

2. Que benefícios os estudantes associam aos serviços de treinamento?

O estudo fez uso de extensas entrevistas com os estudantes para obter suas impressões sobre a experiência de coaching e sobre como ela os ajudou. Também houve um componente quantitativo do estudo, que avaliou o impacto do coaching sobre as respostas dos estudantes em várias escalas de avaliação, assim como foram coletados dados sobre índices objetivos de rendimento acadêmico, tais como o GPA. Um resumo desses resultados está disponível em http://edgefoundation.org/information/research/  (Nota: O estudo foi patrocinado por Edge Foundation – www.edgefoundation.org – uma organização dedicada o fornecer treinamento eficiente aos estudantes com TDAH. Eu (Dr. Rabiner) não tenho nenhuma ligação com esta fundação).

No que consiste o coaching?

O coaching focaliza as sete maiores áreas quando trabalha com estudantes: planejamento, estabelecimento de metas, construção da autoconfiança, organização, focalização, atribuição de prioridade e persistência na tarefa. Estas áreas foram selecionadas para resolver diretamente os problemas que muitos estudantes com TDAH têm no funcionamento executivo.

Treinadores e estudantes realizaram conversas telefônicas de 30 minutos, uma vez por semana, durante as quais os treinadores, de rotina, perguntavam aos estudantes sobre suas metas acadêmicas, assim como sobre o seu bem estar físico e emocional. Foram realizadas vinte e cinco sessões de treinamento. Os treinadores trabalharam com os estudantes para dividir os objetivos maiores em uma sequência de tarefas menores e para criar sistemas para lembrar-se de agir naquelas tarefas. Houve um foco no desenvolvimento de ferramentas eficientes de gerenciamento do tempo e na criação de programas mais equilibrados que permitissem exercícios regulares e boa rotina de sono. Embora os treinadores tivessem empatia pelos estudantes que relatavam sentimentos de desencorajamento e de estresse, o foco era na ajuda para os estudantes identificarem os passos concretos que poderiam adotar para corrigir a causa desses sentimentos.

Além das sessões semanais por telefone, os treinadores se comunicavam com os estudantes com frequência por texto, e-mail e por ligações mais curtas. Assim, os estudantes receberam lembretes regulares sobre suas metas e planos e desenvolveram um senso de serem responsáveis pelo seu progresso. A comunicação frequente também permitiu que os treinadores vigiassem a marcha dos estudantes em direção ao seu objetivo com maior frequência e a intervir mais cedo quando os estudantes estivessem falhando.

Este foco na solução imediata dos problemas, assim como o contato regular entre as sessões programadas, são importantes distinções entre o treinamento para o TDAH e as abordagens mais tradicionais para a terapia com adultos jovens.

(Continua nas próximas postagens: 187 e 188)

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