terça-feira, 30 de julho de 2013

290- PELA PRECISÃO DO DIAGNÓSTICO

Professor Dr. Luis Augusto Rhode em entrevista nas páginas amarelas de VEJA.  - Por Adriana Dias Lopes

O brasileiro que ajudou a fazer o novo manual americano de psiquiatria diz que apenas uma em cada quatro pessoas com transtornos é diagnosticada e tratada adequadamente.

Em 2007, o psiquiatra gaúcho Luis Augusto Rohde, de 48 anos, recebeu um convite até então inédito para um médico brasileiro. Diretor do Programa de Déficit de Atenção e Hiperatividade da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ele foi convidado pela reputada Associação Americana de Psiquiatria a contribuir para a atualização do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o DSM, o mais respeitado documento científico da psiquiatria mundial, em sua quinta versão. Na fase final de edição da cartilha, Rohde fazia parte de um grupo internacional de 160 especialistas. Eles se reuniam -algumas vezes por teleconferência, outras pessoalmente - de quinze em quinze dias para discutir os progressos na detecção de doenças da mente nos últimos vinte anos. O DSM-5 foi lançado em maio, pleno de controvérsias. Nesta entrevista a VEJA, Rohde discute as novidades do trabalho - e indica que mudanças ele representará para a medicina.

O que há de realmente novo e significativo no recente manual americano de diagnóstico?

Ele estabelece uma nova maneira de o médico diagnosticar a doença mental. Hoje, a maioria dos psiquiatras tende a se centrar na hipótese principal de diagnóstico - ou seja, a mais grave ou a queixa que motivou o paciente a procurar um profissional. O novo manual, o DSM-5, no entanto, determinou que um transtorno psiquiátrico não precisa ter um único e solitário foco de atenção. O resultado não pode ser exageradamente categórico. As informações na psiquiatria são extremamente subjetivas, diferentemente do que ocorre em outras áreas da medicina. Para completar o quadro de complexidade, são raríssimas as vezes em que um transtorno se manifesta de forma isolada. Cerca de metade dos doentes psiquiátricos é portadora de pelo menos dois transtornos. Nos casos mais graves, isso ocorre 80% das vezes. Tal mecanismo faz parte intrínseca da formação cerebral. As doenças mentais precisam ser avaliadas na forma mais ampla possível. O médico deve abordar absolutamente todas as possibilidades. Há treze grandes áreas a ser verificadas. Entre elas, o nível de atenção, a ansiedade, o humor, as psicoses, a cognição e a interação social.

Um paciente com transtorno do humor bipolar e com transtorno de ansiedade, por exemplo, deve passar pela mesma abordagem médica?

Muitos pacientes são tratados a vida toda como portadores de bipolaridade, quando, na verdade, sofrem também de transtorno de ansiedade. Mas, sem tratar a ansiedade, eles dificilmente conseguirão manter uma rotina dentro dos padrões de normalidade. Uma abordagem mais ampla, investigativa, reduz a possibilidade de erro no diagnóstico. Talvez as empresas responsáveis por reembolsos médicos não gostem muito dessa postura, por implicar consultas longas. Mas assim deve ser.

A nova abordagem poderá levar a uma explosão do registro de doenças mentais?

Sim. Haverá um aumento no reconhecimento das doenças dentro dos consultórios, já que a nova forma de diagnóstico ajudará o médico a fazer uma detecção mais fidedigna dos problemas que não eram tratados ou eram tratados incorretamente. Mas um ponto tem de ficar muito claro: cada alteração desse manual é resultado de uma minuciosa e intensa análise do que está sendo proposto na literatura de primeira linha. O objetivo nunca foi e nunca será aumentar ou reduzir o espectro de doenças diagnosticáveis. O psiquiatra americano Allen Frances, professor emérito da Universidade Duke e editor-chefe da versão anterior do manual, afirmou que o DSM-5 estimula a frouxidão nos limites entre transtorno mental e normalidade. Consequentemente, haveria um aumento no número de pessoas submetidas a tratamentos psiquiátricos sem necessidade.

E não é o que pode acontecer?

Em minha opinião, Frances tinha uma expectativa de continuar no comando do DSM-5. Mas suas críticas acabaram de certa forma exercendo um papel decisivo. Elas nos estimularam a ser absolutamente transparentes. Nunca na história da elaboração de um manual de psiquiatria houve tal comportamento. Todas as decisões passaram por avaliação da classe médica do mundo todo. Os novos critérios foram submetidos três vezes ao site da Associação Americana de Psiquiatria e receberam milhares de sugestões. Mas a crítica em si de Frances é completamente infundada. O risco de afrouxamento sempre existiu, desde as primeiras tentativas de catalogar as doenças psiquiátricas, na década de 50, com o DSM-1. É o que acontecerá até termos marcadores biológicos na psiquiatria.

Eles já foram identificados?

A grande meta inicial do DSM-5 era mudar o paradigma da psiquiatria justamente com a adoção de marcadores biológicos que facilitassem o diagnóstico. Mas, infelizmente, isso ainda não é possível. O que conseguimos fazer foi agrupar algumas doenças conforme um marcador. Mas não indicá-lo como triagem. A esquizofrenia, por exemplo. Sabe-se que os pacientes tendem a ter níveis de dopamina alterados. Mas, entre os doentes, há também aqueles que possuem quantidades normais do neurotransmissor. Assim como há pessoas com taxas elevadas que não sofrem de esquizofrenia. Temos de refinar os marcadores. Acredito que, em dez anos, já teremos marcadores eficazes para algumas doenças psiquiátricas. Mas isso será assunto para o próximo DSM.

Uma das mudanças mais polêmicas do DSM-5 refere-se a uma contribuição do seu grupo de pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sobre o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). O manual eleva de 7 para 12 anos a idade em que essa doença continue sendo oficialmente diagnosticada. Qual o motivo dessa mudança?

Em países como os Estados Unidos, em que o sistema de saúde segue rigorosamente as orientações do DSM, essa ampliação foi fundamental. Lá, até então, se o início dos sintomas ocorresse em pessoas com mais de 7 anos, os médicos não dariam a devida atenção ao caso ou o tratamento não teria reembolso dos planos de saúde. Dados de grupos internacionais e de nosso grupo, na universidade Federal do Rio Grande do Sul, no entanto, conseguiram provar que 96% dos casos de déficit de atenção são diagnosticados até os 12 anos. Agora, nesse caso, eu pergunto: é melhor passar a infância sendo chamada de criança incompetente, malcriada, preguiçosa, que são julgamentos morais, ou ser vista como portadora de déficit de atenção? Afirmo que para os primeiros predicados não há tratamento. Para o último, sim.

Em fevereiro deste anos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou um levantamento mostrando o aumento, entre crianças, de 75% na prescrição de cloridrato de metilfenidato, o princípio ativo do principal medicamento contra o TDAH. O que esse aumento significa?

Quando o estudo da Anvisa foi publicado, acusaram os psiquiatras de exagero na medicação dos portadores de TDAH. Lembro bem que a situação em Porto Alegre, onde trabalho, foi apontada como dramática, por se tratar da cidade com o maior índice de prescrição da medicação. Ora, temos em Porto Alegre o maior centro de pesquisa em déficit de atenção da América do Sul. Em João Pessoa, em termos de comparação, não há mais que cinco psiquiatras especializados em crianças e adolescentes. Em que lugar o consumo de medicamentos para a doença  seria maior? Em Porto Alegre, claro. Mesmo se seguirmos as estatísticas mais conservadoras, teremos uma subnotificação de TDAH, e, claro, um número enorme de pessoas que deveriam tomar remédios. Apenas um quarto dos doentes com transtorno de comportamento está devidamente diagnosticado e tratado no Brasil. [Veja neste blog a postagem 276- O TDAH é subtratado no Brasil]

Mas, quanto mais avançados são os conhecimentos psiquiátricos, não são maiores os riscos de medicalização do comportamento?

Esse risco existe, embora não no caso do TDAH. Somos capazes agora de identificar muitos sintomas dos transtornos em sua fase inicial, e isso pode tornar os limites entre doença e normalidade mais tênues. Erros de diagnóstico existem em qualquer área da medicina. Há muita infecção viral sendo tratada com antibiótico, por exemplo. No entanto, a medicalização do comportamento, quando feita sem critérios, é má medicina. Nesse sentido, uma das áreas mais delicadas e nebulosas é a que trata dos transtornos de sexualidade, quando as fronteiras entre normalidade e patologia sã ainda mais tênues, como no transtorno do exibicionismo. Exibir o corpo nu, dentro de casa, com as janelas abertas, por exemplo, sabendo que alguém (um adulto, apenas) está olhando, pode dar prazer e não ser uma doença. Para ser considerado distúrbio, o gesto deve nesse caso ser a forma predominante de prazer e também estar associado ao sofrimento, quando a pessoa sente culpa ou se escraviza àquele ato.

Quais foram as principais alterações na classificação das doenças do DSM-5?

Entre as que ganharam um status próprio, estão o ato de comer compulsivamente, o acúmulo exagerado de objetos desnecessários e o transtorno disfórico menstrual, uma versão severa da tensão pré-menstrual. Há também aquelas doenças que estiveram prestes a se tornar "independentes", digamos assim, como o transtorno da automutilação não suicida. Mas não encontramos evidências suficientes para alçá-lo a uma categoria de diagnóstico isolado. A automutilação pode pertencer ao transtorno fronteiriço da personalidade, mas também pode fazer parte da depressão. A nova classificação, a meu ver, mais inovadora, no entanto, é o transtorno da desregulação do humor e do comportamento. A doença deriva do transtorno bipolar. o transtorno bipolar se caracteriza pela oscilação do humor. Observamos que os pacientes que sofriam na infância de oscilações crônicas não desenvolviam bipolaridade na fase adulta - mas, sim, depressão ou ansiedade. Essas pessoas não são bipolares, portanto. É bem possível que elas não devam ser tratadas com medicamentos para o transtorno bipolar, como estabilizador do humor.

Ainda há resistência ao diagnóstico de doenças mentais?

Os transtornos psiquiátricos são subnotificados como um todo, sobretudo quando eles se manifestam na infância e na adolescência. Eu poderia dizer que se trata apenas da falta de psiquiatras especializados. Ainda existe um enorme preconceito da sociedade de maneira geral - o estigma de que doença psiquiátrica é sinal de loucura é muito presente ainda. Tal pensamento fez sentido somente por volta dos anos 70. Além disso, há uma forte influência de um grupo dentro da psicologia social para quem os transtornos mentais se configuram apenas como sofrimentos e conflitos emocionais. Ou seja, simplesmente se descartam os aspectos neurobiológicos das doenças mentais. Esses profissionais não representam a maioria na psicologia. Mas têm voz ativa porque ainda ocupam os cargos-chave das associações de classe.

Será possível um dia a prevenção das doenças psiquiátricas?

Não tenho dúvida sobre isso. Cerca de 60% dos transtornos psiquiátricos começam na infância. Ao sabermos disso, por que não focar a identificação precoce dos sintomas, quando a doença é mais fácil de ser evitada? Citamos um exemplo de prevenção no DSM-5, mas ainda em fase de estudo - não como proposta de diagnóstico, portanto. É o caso da esquizofrenia. Uma criança pode apresentar sintomas psicóticos muito breves e sutis, como, por exemplo, achar que os colegas mexeram em seu estojo. Isso se repete pelo menos uma vez por semana, durante três meses. Somando-se a isso, a criança passa a ter dificuldade para dormir . Dificilmente uma mãe considerará a possibilidade de delírio. Mas, pelo perfil dos sintomas, sabe-se que essa criança terá um risco até 40% maior de se tornar esquizofrênica em relação à criança que não apresentou os sintomas. Diagnosticada e tratada, o risco de desenvolver a doença cai pela metade.

Essas estatísticas dão a impressão de que todo mundo é meio louco. Afinal, normalidade existe?

Seis em cada dez pessoas não são portadoras de nenhuma doença psiquiátrica. ou seja, a maioria é clinicamente normal. E quando digo isso estou incluindo nos 40% restantes portadores de distúrbios simples como a dificuldade de dormir no escuro e tiques leves.

VEJA - 31 de julho, 2013

segunda-feira, 22 de julho de 2013

289- A Escolha de Profissionais Para Tratar do Seu Filho Com TDAH - parte 2

(continuação da postagem 287)

À procura de um especialista

Diante de um pediatra que se mantém lhe dizendo que não há nada com que se preocupar, provavelmente você deveria pedir um encaminhamento para um especialista em desenvolvimento e comportamento infantil, para que seu filho seja mais bem avaliado. Dependendo da sua situação financeira ou do seu seguro de saúde, você poderá preferir um especialista ou uma clínica local por conta própria e marcar uma consulta. Mas, se o seu seguro de saúde pedir um encaminhamento do pediatra, como muitos fazem, lembre-se de que você terá todo o direito de pedir esse encaminhamento.

Um local de confiança  a ser procurado é o hospital infantil mais próximo ou um grande centro universitário. Muitas áreas metropolitanas devem ter ao menos um deles, ou ambos. Haverá uma clínica de avaliação do desenvolvimento pediátrico em cada um deles. Se você estiver procurando uma recomendação para certo tipo de especialista, e o seu pediatra não pode ou não sabe de um que possa satisfazer você, tente a internet. Peça a um diretor da escola do seu filho ou a um vizinho com criança com dificuldades de aprendizado, ou a mais alguém em quem você confie e que tenha experiência nos assuntos de desenvolvimento.

Não demorará para você descobrir que há um amplo espectro de ajuda disponível. Há muitos tipos de especialista, com treinamento diferente, orientação diferente e diferentes ferramentas de avaliação, que poderão oferecer a você diversos tipos de informação.

Alguns podem ser mais orientados para o funcionamento prático diário, outros podem ser mais ligados ao reconhecimento de síndromes e à realização de diagnósticos. Você pode encontrar especialistas no ambiente escolar ou em um centro médico, trabalhando sozinhos ou como parte de uma organização maior.

Programas de intervenção precoce, serviços federais para crianças com necessidades no desenvolvimento durante os três primeiros anos de vida estão disponíveis em todos os estados [Nota do tradutor: Viva a América!]. Para crianças menores do que três anos, sua companhia de seguro pode insistir em uma intervenção precoce  antes de pagar por qualquer outro teste.

Outra opção é solicitar uma avaliação escolar, por pensar que ajudará a fornecer algumas respostas ou porque sua companhia de seguro a exige ou ainda porque a escola geralmente paga os gastos [N.T.: Mais uma vez, Viva a América!] As avaliações escolares são frequentemente razoáveis pontos de partida, mas há alguns problemas:

          + A fila de espera pode ser longa
          + A qualidade das avaliações varia imensamente
          + Não há nenhuma garantia de que um dos avaliadores tenha                                      experiência com as necessidades da criança diferente.

Temos escutado queixas de pais sobre as avaliações escolares que parecem apressadas, ou superficiais, ou focadas em classificar cada criança em uma ou poucas categorias. Por outro lado, também temos trabalhado com muitos profissionais de escola talentosos, que ajudaram enormemente a muitas famílias. A perspectiva baseada na escola pode dirigir a avaliação especificamente para os problemas de aprendizagem que são de importância vital para as crianças.

Embora você possa precisar ou querer começar com uma avaliação pela escola, e ela pode fornecer informação de valor, você deverá ir além em sua procura.

Resolvendo o quebra-cabeças

Conforme você progride nesse labirinto de especialistas, seu trabalho será obter e avaliar a informação oferecida e tomar decisões importantes sobre quando prosseguir e quando parar.

Entenda o conjunto de caracteres. Pergunte aos especialistas que encontrar sobre suas qualificações e seu campos particulares de conhecimento. É importante saber se você está lidando com um neurologista ou com um neuropsicólogo.

Mesmo que você não esteja completamente seguro de como integrar o conjunto de especialistas com a avaliação e conselhos que você receba, seu pediatra e os outros especialistas que você consultar poderão entender melhor as opiniões que você já coletou se você puder apresentá-las a quem estiver fazendo a avaliação.

Fale! Faça perguntas! Tome notas! Alguns pais não conseguem ou não podem ter suas perguntas respondidas em detalhe pelos profissionais que estão avaliando a criança. às vezes isso acontece porque há testes que ainda precisam ser pontuados ou conversas que precisam ser feitas entre os membros da equipe de avaliação. Ao final, você poderá ir embora sabendo quando e como terá os resultados da avaliação.

Apoio para o tratamento

Alguém que já passou um tempo com seu filho deveria ser capaz de lhe dar algumas indicações e observações. É muito razoável deixar os avaliadores saberem que você gostaria de ter uns minutos ao final das sessões para saber o que eles estão pensando. Sempre tome notas. Você poderá estar mais tenso do que pensa, e poderá ser difícil lembrar-se exatamente do que você ouviu ou não ouviu.

Peça para que os termos não familiares sejam soletrados e explicados e solicite fontes de informação que você possa consultar. Se você tiver feito uma avaliação multi-especializada, pense em marcar um novo encontro para discutir os resultados.

Tenha um notebook. Conforme o tempo passa, você pensará em perguntas que gostaria de fazer, observações sobre seu filho que parecem significantes, ideias para avaliação ou terapia posterior. Escreva tudo em um notebook. Nele você poderá anotar os especialistas que consultou, os testes que eles fizeram e as informações que eles forneceram.

Escreva os números dos telefones dos especialistas ou dos programas que você obteve de outros pais, assim como os dados para contato com alguém que pode não ser útil agora, mas que poderá ser em alguns anos. Um notebook o ajudará a seguir seu filho e o seu próprio entendimento. Ele também ajudará você a usar o tempo com os especialistas para fazer as perguntas que você estava querendo apresentar.

Confie em seu instinto. Siga nesse processo com a mente aberta mas com um saudável grau de ceticismo. Se alguém lhe diz algo que é absolutamente contra o que você pensa do seu filho, considere isso objetivamente. Se não fizer sentido, esqueça. Não deixe que alguém que não possa responder satisfatoriamente às perguntas suas prossiga por tempo longo em uma relação terapêutica com seu filho, não importa quão grandes ou gloriosos sejam seus títulos ou sua sala de espera. [N.T - Putz, minha sala é bem grande...]

Não espere um momento "eureka". Repetimos isso porque é muito importante: Crianças diferentes não se encaixam perfeitamente em categorias de diagnósticos. O processo corrente de ter seu filho avaliado e considerados os diferentes diagnósticos pode ser valioso se apontar o caminho para ajudar seu filho. Ainda, é provável que ele não vá fornecer uma conclusão luminosa quando você descobrir o que realmente está acontecendo.

Alguns especialistas e clínicas darão a quase todo mundo um diagnóstico. Se você procurar bastante e por muito tempo, acabará dando com alguém que pregará um diagnóstico no seu filho - talvez porque seja o mesmo rótulo que todos recebem naquela clínica em particular. Tenha cuidados especiais com rótulos que trazem recomendações imediatas para tratamentos caros. Não deixe ninguém abusar do seu desejo de ajudar seu filho. Vale a pena obter uma segunda opinião ou discutir a recomendação com seu próprio pediatra.

A maioria dos profissionais que você encontrar na sua procura por avaliação e diagnóstico será de pessoas honradas. Entretanto, deve ser dito, que há uma espécie de indústria de fabricação de diagnósticos e de tratamentos para crianças com variações do desenvolvimento. Isso nos traz de volta, à nossa preferência por centros médicos universitários.

Finalmente, não esqueça de que o principal para tudo isso - a avaliação, os testes, a consulta com vários especialistas - não é terminar com o rótulo correto, o nome correto, a resposta correta em algum exame médico estudantil cósmico. O principal é ajudar seu filho - e ajudar você a ajudar seu filho.

Adaptado de Quirky Kids (Ballantine), por Perri Klass, M.D., e Eileen Costello, M.D. Permissão de Random House. ADDitude (nov/dez.)


sexta-feira, 19 de julho de 2013

288- O Uso de Medicamentos Para o TDAH Leva ao Abuso de Drogas?


Não, mas a medicação para o déficit de atenção também não protege contra o uso de drogas, como os pesquisadores acreditavam.
Por Wayne Kalyn

Entre as muitas perguntas sobre medicação para o TDAH que os pais fazem - e se preocupam com isso - está a sobre o possível aumento do risco de abuso de drogas promovido por esses medicamentos. 

Até o mês passado, a resposta era absolutamente não. De fato, tomar medicação para o TDAH, segundo os estudos feitos, abaixava o risco de abuso de drogas em quase 50%.

Um novo estudo publicado no último mês pelos pesquisadores de Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) derruba a conclusão de que os medicamentos protegem contra o abuso de drogas. Os pesquisadores analisaram 15 estudos de longo prazo, e seguiram milhares de crianças dos 8 aos 20 anos, para descobrir que tomar medicação estimulante não aumenta nem diminui o risco de abuso de substâncias.

"Descobrimos que as crianças não eram nem mais nem menos predispostas a desenvolver transtorno de abuso de álcool ou de substâncias como resultado do tratamento com estimulantes", disse Steve S. Lee, Ph.D., principal autor do estudo, professor de psicologia na UCLA.

Então, como isso se encaixa na pesquisa que indica que os adolescentes e adultos jovens com TDAH são de duas a três vezes mais predispostos a desenvolver grave abuso de drogas e de álcool, comparados com os que não têm TDAH? O novo estudo concluiu que o abuso de substâncias está ligado ao transtorno e aos seus sintomas, não ao estimulante.

"Para os pais cuja maior preocupação sobre a Ritalina e os outros estimulantes seja o risco futuro de abuso de substância, esse estudo pode ser um alívio", diz Lee.


ADDitude

quarta-feira, 17 de julho de 2013

287- A Escolha de Profissionais Para Tratar do Seu Filho Com TDAH - parte 1


Trabalhar com médicos em quem você confia pode ajudar sua tarefa com segurança. A seguir, veja como encontrar a melhor equipe para tratar sua criança com TDAH. Por Perri Klass e Eileen Costello.

Antigamente, a maioria das crianças diferentes não obtinha um diagnóstico formal de categorias como transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Elas eram chamadas de excêntricas  ou estranhas, vistas como frutos do acaso e mimadas como gênios infantis, ou recusadas como desajustadas.

Todos nos lembramos de tais crianças dos nossos próprios dias escolares, e, provavelmente, elas não recebiam nenhuma terapia especial, não tomavam nenhum remédio, não procuravam tratamento para TDAH e não portavam nenhuma terminologia psicológica em sua jornada através da infância.
Dê uma olhada nas mesmas classes e nos mesmos pátios escolares atuais e verá uma variedade de diagnósticos: TDA, TDAH, várias dificuldades de aprendizagem, disfunções da integração sensorial, transtorno de oposição e desafio.

A infância virou uma sopa de letrinhas. Uma criança que não se encaixe no modelo provavelmente receberá avaliação intensiva, levando a diagnósticos e novos diagnósticos e, na volta, um programa de terapias individualizadas, intervenções com base na família e, possivelmente, medicamentos. Isso é uma coisa boa. Já não mais tomamos como certo que algumas crianças que sofrem com problemas sejam deixadas sozinhas em sua luta.

Mas, para os pais dessas crianças, o mundo de hoje apresenta sua própria espécie de dificuldades. Em um mundo perfeito, você confiaria em uma equipe de especialistas eruditos e sensíveis, que veria seu filho sem preconceitos e que levaria o tempo necessário para conhecê-lo. Suas recomendações seriam realistas e práticas, e as consultas de avaliação e de acompanhamento seriam integralmente cobertas pelo seu plano de saúde.

Sinto muito, não temos o mapa desse tipo de mundo. Como você já deve ter percebido, com tantos diagnósticos para escolher, e uma estonteante lista de especialistas para consultar, os pais de crianças diferentes podem perder tempo, dinheiro e o sono, e ainda descobrirem que sabem pouco mais do que sabiam no começo, e, talvez, menos confiantes em seu instinto.

Bem, podemos não ter um mapa, mas nosso objetivo aqui é ajudar o mais que pudermos para que você obtenha, se não tudo, o que for necessário para juntar sua equipe de especialistas. Se você ainda estiver procurando um diagnóstico que faça sentido ou se já estiver em meio a um tratamento, os conselhos a seguir poderão ajudá-lo a fazer escolhas seguras sobre os profissionais do seu filho.

O Ponto de Partida

Tipicamente os pais começam pelo profissional de saúde do seu filho, geralmente um pediatra, o clínico da família ou uma enfermeira particular. Alguns pediatras têm treinamento adicional em desenvolvimento e em comportamento, e muitos outros têm um interesse especial na área. Mas todo pediatra gasta a maior parte do seu tempo examinando bebês e crianças pequenas e tem alguma ideia da faixa normal, e de suas variações que atingem os limites da faixa.

Se você falou de alguma preocupação sobre seu filho com o pediatra, e ele ouviu atentamente, interagiu com seu filho e o examinou, porém não ficou alarmado, fique tranquilo. Não é uma garantia, é claro, mas pode bem ser que o que você está vendo seja somente uma fase do desenvolvimento. Pode ser difícil julgar se uma criança de dois anos está além do normal quanto a comportamento de oposição e de birras, especialmente se ela for o seu primeiro filho.

Se você confia e gosta do seu médico, deve deixar como está por ao menos uns poucos meses. Não há provavelmente nenhum teste vital único que precise ser feito rapidamente para uma resposta essencial. Obviamente não estamos falando de uma criança que seja surda ou com o autismo clássico ou com convulsões. Sempre é importante que a criança com transtornos psiquiátricos ou clínicos seja diagnosticada e tratada tão rapidamente quanto possível.

Mas se você estiver realmente preocupado sobre o desenvolvimento do seu filho, fale com seu pediatra. Interrompa-o, olhe nos olhos dele e fale que você está preocupado, e diga exatamente porquê. Então, marque uma consulta para falar especificamente sobre sua preocupação. Não tente discutir isso durante uma consulta por causa de uma infecção de ouvido.
Suas preocupações devem alertar o pediatra para fazer algum tipo de avaliação sistemática do desenvolvimento, não só "dar uma olhada" no seu filho. Se você sentir que não está sendo ouvido, procure uma segunda opinião. Muitos pediatras serão receptivos para encaminhar você e seu filho para um especialista em comportamento e desenvolvimento, se você estiver verdadeiramente preocupado.


(a continuar  na postagem 289)

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