segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

265- Entrevista: Alexandre Lopes


 
'Professores precisam parar com desculpas', diz brasileiro que concorre a prêmio de melhor docente dos EUA.

À frente de turmas que misturam crianças com autismo, adotivas e imigrantes, ele afirma que, a despeito das condições adversas, missão do educador segue sendo a de desenvolver o potencial máximo dos alunos.

Em abril, o brasileiro Alexandre Lopes, de 44 anos, pode receber um aperto de mão do presidente Barack Obama. Ele é um dos quatro finalistas de um tradicional prêmio americano que desde 1952 aponta o melhor professor do ano no país. A premiação acontece na Casa Branca. Formado em produção editorial, Lopes deixou o Brasil em 1995. Nos Estados Unidos, trabalhou como comissário de bordo antes de se tornar professor do ensino infantil. Desde 2005, leciona em uma escola pública de Miami, na Flórida. Na unidade, é o primeiro especialista em educação inclusiva, método que prevê a integração de todos os estudantes a estabelecimentos regulares de ensino, a despeito de limitações físicas, intelectuais ou sociais. Lopes cuida de 25 alunos com idades entre 3 e 5 anos de idade, sendo que um terço deles tem autismo, distúrbio que afeta a capacidade de comunicação. Seu desafio é oferecer conhecimento a todas as crianças, considerando dificuldades e possibilidades de cada uma. "Meu dever como professor é fazer com que meu aluno chegue mais próximo de seu potencial máximo, seja ele qual for." Para cumprir a tarefa, o professor não descansa. Se quer apresentar dinossauros aos pequenos, leva bonecos dos bichos pré-históricos à sala de aula; se o desafio é explicar o significado da palavra "áspero", apresenta uma lixa. A fama de bom mestre se espalhou. No início do ano passado, o brasileiro foi escolhido pelos colegas o melhor professor da escola e, meses depois, o melhor docente da Flórida. Agora, ele tenta conquistar a América com o prêmio concedido pelo CCSSO, organização que reúne secretários estaduais de educação dos Estados Unidos. Na entrevista a seguir, Lopes conta como fez da profissão um exercício de dedicação, que inclui a investigação do potencial de cada criança e o desenvolvimento de estratégias quase personalizadas para driblar obstáculos. "Meu lema é: aquele que traz menos é sempre o que recebe mais", diz. "Situações adversas não podem servir de desculpa."

Como um brasileiro se tornou candidato a melhor professor dos Estados Unidos?

Em 2001, a companhia aérea em que eu trabalhava apresentou um programa de demissão voluntária, oferecendo benefícios para quem optasse pela saída. Achei que era hora de buscar nova formação. Eu queria me especializar em línguas estrangeiras, mas uma conselheira vocacional analisou meu currículo e sugeriu que eu fizesse um curso de educação especial para a primeira infância. Eu nem sabia do que se tratava, mas resolvi arriscar. Então, me apaixonei pela área. Mais tarde, recebi uma recomendação para uma bolsa de mestrado na Universidade de Miami. Em 2005, recebi o convite para iniciar a primeira turma de educação inclusiva na escola em que trabalho até hoje. Ali, ganhei fama de bom professor: algumas famílias de outras localidades viajavam mais de uma hora para matricular seus filhos em minhas aulas. Em 2012, fui escolhido o melhor professor da escola pelos meus colegas, o que deu início a essa história de premiações. Acho que uma série de fatores contribuiu para meu desempenho: o principal é levar meu trabalho muito a sério e nunca deixar de estudar. Além do mestrado, possuo certificação nacional em educação especial e estou terminando o doutorado na Universidade Internacional da Flórida. Exerço minhas funções com dedicação e carinho, além de conhecer a fundo toda a teoria envolvida em cada ato educacional dentro de uma sala de aula.

Como são suas turmas na escola?

Trabalho com crianças de 3 a 5 anos. No período da manhã, tenho uma turma de 12 alunos e, à tarde, outra de 13. Cerca de um terço dos meus alunos tem autismo. Há também alunos filhos de imigrantes, que ainda estão aprendendo inglês, além de crianças em condições socioeconômicas adversas, vivendo em abrigos ou com famílias provisórias. Por serem crianças muito novas, as turmas não podem ser grandes.

Como lidar com turmas com condições tão particulares?

Toda a minha instrução é acompanhada por representações concretas, pictórica e simbólica, do que está sendo dito. Se trato de dinossauros, mostra à turma, respectivamente, bonecos dos bichos, imagens projetadas na lousa digital e nomes dos animais. Quando conto uma história, apresento imagens do local onde ela se passa e dos personagens envolvidos. Se digo que algo é áspero, dou uma lixa para as crianças passarem a mão e saberem o que aquela palavra significa.

Onde entram os fundamentos da educação inclusiva?

Defino educação inclusiva como o método em que o objetivo é atingir o potencial máximo de cada um dos seus alunos. Meu objetivo é fazer com que todas as crianças progridam. Nem todas, é claro, alcançarão o mesmo desenvolvimento. Meu dever é apenas fazer com que o aluno chegue mais próximo do seu potencial, seja ele qual for.

Qual a maior gratificação do trabalho?

Dou muito valor às pequenas conquistas. Certa vez, recebi um aluno no dia em que ele completava três anos de idade. Era tranquilo, mas não falava nada. Contudo, toda vez que eu demorava um pouco mais em uma atividade, ele me beliscava para chamar minha atenção. Ensinei a ele que, se quisesse algo, ele deveria pedir, apontar, tocar, mas nunca beliscar alguém. Ele aprendeu, mas seguia sem falar. Finalmente, após quase dois anos de trabalho, um dia isso aconteceu. Eu trabalhava com outra criança quando alguém tocou as minhas costas. Então, ouvi uma voz rouca dizer: "Alex." Comecei a chorar: a primeira palavra que ele disse foi o meu nome. Eu me envolvo muito com os meus alunos. Acho que não há outra forma de ensinar.

O senhor citou o uso de lousa digital. Suas técnicas poderiam ser usadas no Brasil, levando em conta que nem todos os professorem têm acesso à tecnologia em sala de aula?

Em qualquer escola do mundo essas técnicas podem ser utilizadas. A alta tecnologia nos auxilia em sala de aula, mas temos também o que chamo de "baixa tecnologia", que depende exclusivamente dos conhecimentos e criatividade do professor. Não ter as mesmas condições de ensino de outros colegas é um desafio para muitos professores, mas isso não pode servir de desculpa.

Os educadores apresentam muitas desculpas?

Acho que a educação passa por uma crise e temos que sair dela. Se aceitarmos qualquer desculpa, só vamos perpetuar essa crise. Na escola em que trabalho, há um incentivo grande para que os pais participem mais da educação dos filhos. Eu me esforço particularmente nessa tarefa: se for preciso, dou cambalhotas para trazê-los à escola, pois as crianças só têm a ganhar quando os pais se envolvem na educação delas. No entanto, não posso deixar que a ausência da família se torne uma desculpa para o fracasso educacional do aluno. O meu lema é: aquele que traz menos é sempre o que recebe mais. Se o desafio do aluno é aprender um novo idioma, devo lidar com isso. Se ele tem deficiência no desenvolvimento, devo lidar com isso. Se ele vive em uma situação de vulnerabilidade, tenho de lidar com isso. Caso o aluno não esteja evoluindo como esperado, o professor deve se questionar a respeito dos rumos do trabalho.

De maneira geral, os professores americanos têm condições de trabalho melhores do que as oferecidas a seus pares brasileiros. Isso não é um desafio a mais?

Nunca trabalhei como professor no Brasil e não conheço a fundo os dilemas enfrentados pelos profissionais no país. As pessoas acham que um professor Flórida é muito mais valorizado, mas não é bem assim se compararmos essa atividade a outras. Somente agora, após muito trabalho e dedicação, atingi remuneração semelhante à que recebia como comissário de bordo. Se pensarmos que possuo mestrado e estou prestes a concluir o doutorado e que um comissário de bordo precisa apenas do ensino médio completo, há uma discrepância salarial muito grande também aqui.

O que mudou na sua vida desde que o senhor começou a acumular prêmios na profissão?

 Desde agosto, após ter sido escolhido o melhor docente da Flórida, não estou mais na sala de aula. Tornei-me embaixador da educação, com as funções de inspirar colegas e representar o estado em conferências e atividades educacionais. Minha vida fugiu ao meu controle (risos).

O senhor pretende lecionar no Brasil?

Eu nunca parei para pensar nisso. Na verdade, nunca pensei que um dia seria requisitado para tal tarefa. Tudo aconteceu muito rápido. De qualquer forma, acredito que terei oportunidade para dividir o que sei com os professores no Brasil. Isso me deixaria lisonjeado.

264- Professores são educadores, não babás.


 
Autor do 2º artigo mais compartilhado no Facebook em 2011, americano diz que pais desrespeitam regras de escolas, pondo em risco o futuro dos filhos.

Nathalia Goulart

O segundo artigo mais compartilhado em 2011 por usuários americanos do Facebook foi escrito por um professor, Ron Clark (o primeiro trazia fotos da usina de Fukushima). Mais de 600.000 pessoas curtiram o texto na rede, escrito a pedido da rede de TV CNN e intitulado "O que os professores realmente querem dizer aos pais". O artigo descreve um cenário de guerra, travada entre pais e professores. Na visão de Clark, os pais vêm transferindo suas responsabilidades para a escola, sem, contudo, aceitar que seus filhos se submetam de fato às regras da instituição. Por isso, assim que surge a primeira nota vermelha ou uma advertência, invadem a sala de aula culpando os professores – a pretexto de preservar a reputação e o orgulho de seus filhos. "Precisamos estar mais atentos à excelência acadêmica e menos preocupados com a autoestima das crianças", diz o professor, na entrevista concedida a VEJA.com e reproduzida a seguir. "Essas crianças deixam de aprender que é preciso se esforçar muito para conseguir bons resultados. No futuro, elas não terão sucesso porque, em nenhum momento, exigiu-se excelência delas." Clark conhece sua profissão. Aos 39 anos, vinte deles dedicados à carreira, o americano já lecionou na zona rural da Carolina do Norte, nos subúrbios de Nova York e atualmente comanda uma escola modelo no estado da Geórgia que oferece treinamento a educadores. Graças à função, manteve, desde 2007, contato com cerca de 10.000 educadores de diversas partes do mundo, incluindo brasileiros.

Em seu artigo, o senhor fala de um ambiente escolar em que pais e professores não se entendem mais. O que tornou a situação insustentável, como o senhor descreve?

A sociedade se transformou. Hoje, vemos pais muito jovens, temos adolescentes que se veem obrigados a criar uma criança sem ao menos estarem preparados para isso. São pessoas imaturas. Por outro lado, temos famílias abastadas, em que pais trabalham fora e são bem-sucedidos profissionalmente. Pela falta de tempo para lidar com os filhos, empurram toda a responsabilidade da educação para a escola, mas querem ditar as regras da instituição. Ou seja, eles querem que a escola eduque, mas não dão autonomia a ela.

Que tipo de comportamento dos pais irrita os professores?

Acho que o ponto principal são as desculpas que os pais criam para livrar os filhos das punições que a escola prevê. Se um aluno tira nota baixa, por exemplo, ou deixa de entregar um trabalho, os pais vão à escola e descarregam todo tipo de desculpa: dizem que o filho precisava se divertir, que a escola é muito rigorosa ou que a criança está passando por um momento difícil. Ou, ainda, culpam os professores, dizendo que eles não são capazes de ensinar a matéria. Mas nunca culpam seus próprios filhos. É muito frustrante para os professores ver que os pais não querem assumir suas responsabilidades.

Problemas com notas são bastante frequentes?

Sim. Certa vez tive uma aluna que estava indo mal em matemática. A mãe dela justificou-se dizendo que, na escola em que a filha estudara antes, ela só tirava boas notas, sugerindo, assim, que o problema éramos nós, os novos professores. Infelizmente, essa ideia se instalou na nossa sociedade. Se a nota é boa, o mérito é do aluno; se é baixa, o problema está com o professor. E quando as notas ruins surgem, os pais ficam furiosos com os professores. O resultado disso é que muitos profissionais estão evitando dar nota baixa para não entrar em rota de colisão com os pais, que nos Estados Unidos chegam a levar advogados para intimidar a escola.

Os pais poupam os filhos de lidar com fracassos?

Hoje, existe uma preocupação grande com a autoestima da criança. Por isso, muitas pessoas se veem obrigadas a dizer aos pequenos que eles fizeram um ótimo trabalho e que são brilhantes, mesmo quando isso não é verdade. Essas crianças deixam de aprender que é preciso se esforçar muito para conseguir bons resultados. No futuro, elas não terão sucesso porque, em nenhum momento, exigiu-se excelência delas. Precisamos estar mais atentos à excelência acadêmica e menos preocupados com a autoestima das crianças.

Que conselho o senhor dá aos professores?

É possível evitar que os pais surtem diante de notas ruins e do mau comportamento dos filhos se for construída uma relação de confiança. Em vez  de só procurar os pais quando as crianças vão mal na escola, oriento que os professores conversem com os responsáveis também quando a criança vai bem. Na minha escola, procuro conhecer os pais de todos os meus alunos. Procuro encontrá-los com frequência e envio cartas a eles com boas notícias. Assim, quando tenho que dizer que a criança não está rendendo o esperado, eles me darão credibilidade e confiarão na minha avaliação.

É possível determinar quando termina a responsabilidade dos pais e começa a da escola?

As duas partes precisam trabalhar em conjunto. Os pais precisam da escola e a escola precisa do apoio da família para realizar um bom trabalho. Um conselho que sempre dou aos pais é que nunca falem mal da instituição de ensino ou do professor na frente dos filhos. Se a criança ouve os próprios pais desmerecerem seus mestres, perde o respeito por eles. O contrário também é verdadeiro. Os professores precisam respeitar os pais, porque eles são parte fundamental na educação de uma criança.

Em algumas situações a discussão sobre responsabilidades da família e da escola surge com muita força. Em casos de bullying, por exemplo, pais e professores trocam acusações. Sobre quem recai a maior parte da responsabilidade nesses casos?

A minha resposta novamente é que precisamos trabalhar em conjunto. Quando o bullying acontece na escola, é obrigação dos professores intervir imediatamente. Mas muitos não agem assim porque querem evitar conflitos com os pais. E isso é muito grave. O bullying está devastando nossas crianças. Precisamos combatê-lo. Para que os professores tenham liberdade para agir, precisam do apoio dos pais. Mas você sabe o que acontece? Muitas vezes, quando os pais são chamados na escola para serem alertados de que seu filho está praticando bullying contra um colega de classe, o que ouvimos é: "Mas qual o problema disso? Tenho certeza de que outros colegas também zombam do meu filho e ele não se sente mal por isso." Mais uma vez, vemos os pais se esquivando da responsabilidade.

A que o senhor atribui o sucesso do artigo que estourou no Facebook?

Eu escrevi o que todos os professores tinham vontade de dizer aos pais, mas não podiam dizer, porque isso os enfureceria. O que eu fiz foi dar voz a milhões de profissionais. Fiquei sabendo que muitas escolas imprimiram o texto e enviaram uma cópia a cada família. Na internet, pessoas de outros países também compartilharam a minha mensagem.

O senhor criou uma escola modelo, a Ron Clark Academy. Como é a relação de seus professores com os pais?

Procuramos estabelecer uma relação próxima. Como eu disse, estamos constantemente em contato com os pais, nos bons e nos maus momentos. Também promovemos encontros semanalmente, nos quais ofereço aos pais a oportunidade de assistir a uma aula na escola, destinada exclusivamente a eles, para que acompanhem o que está sendo ensinado a seus filhos. Ou seja, trabalhamos muito para conquistar uma relação harmônica. Não estou dizendo que é fácil lidar com os pais. Alguns deles podem ser bem malucos.

O senhor, na sua escola, recebe professores de diversas partes dos Estados Unidos e também de outros países, como o Brasil. Além dos problemas de relacionamento com os pais, do que mais professores de todo o mundo reclamam?

As avaliações tiram o sono dos professores. Não sei exatamente como funciona no Brasil, mas nos Estados Unidos os professores são constantemente cobrados a melhorar o desempenho de suas escolas em testes padronizados. E todo o processo educacional passa a girar em torno de algumas provas. Isso é massacrante, para os alunos e para os professores. Os professores precisam de mais diversão na sala de aula.

263- Os Jogos da Raiva (TDAH e TOD) (ADHD & ODD)


Os Jogos da Raiva

Abatida pelo transtorno de oposição e desafio do seu filho? Pare com essa loucura – e com os surtos violentos – com essas estratégias para mudança. Por Karen Barrow.

Anne detesta acordar pela manhã. Seu filho, Sam, de nove anos de idade, é imprevisível. Às vezes ele segue as rotinas matinais. Outras vezes, ele briga por coisas pequenas – um pedido para se vestir, uma parada não programada a caminho da escola, ou um simples “não” a um pedido de pizza ou de dinheiro.

“Todo dia, nunca sei o que esperar dele”, diz Anne, que é gerente de relações públicas de um colégio particular em New Hampshire. “Ele começa a gritar e a chutar quando as coisas não são como ele quer”.

Sam foi diagnosticado com TDAH aos cinco anos e, enquanto explicasse algumas de suas dificuldades, tal diagnóstico nunca explicou seu temperamento agressivo e desafiador. Somente no início deste ano escolar Anne procurou ajuda para o comportamento do seu filho, que estava se tornando muito estressante para sua família. O pediatra diagnosticou que Sam sofria de TOD - Transtorno de Oposição e Desafio.

Reconheça o TOD em seu filho

Crianças com TOD têm um padrão de raiva, violência e comportamentos agressivos em relação a seus pais, cuidadores e outras figuras de autoridade. Antes da puberdade, o TOD é mais comum em meninos, mas, depois da puberdade, é igualmente comum em ambos os sexos. Sam não está sozinho em seu duplo diagnóstico de TDAH e TOD; calcula-se que até 40% das crianças com TDAH tenham TOD.

Toda criança age e testa seus limites de tempo em tempo, e o TOD parece o comportamento adolescente típico: responder, crises de raiva e agressividade. O primeiro passo para corrigir o comportamento problemático da criança é reconhecer o TOD. Como você sabe que seu filho está sendo apenas uma criança ou se ele precisa de ajuda profissional?

Não há uma linha clara entre o “desafio normal” e o TOD, diz Ross Greene, Ph.D., professor associado de clínica psiquiátrica na Harvard Medical School e autor do livro “The Explosive Child”. A falta de critério claro explica por que os profissionais geralmente discordam se uma criança deve ser diagnosticada com TOD.

Greene enfatiza que compete aos pais decidir quando procurar ajuda para uma criança desafiadora. “Se você estiver sofrendo com o comportamento do seu filho, e isso estiver causando interações desagradáveis em casa e na escola, você terá preenchidos os critérios para ter um problema”, diz Greene. “E eu sugiro que você procure auxílio profissional”.

Anne nunca tinha ouvido falar de TOD quando consultou uma terapeuta cognitiva comportamental para discutir estratégias de controle do comportamento errático do seu filho. Depois de ficar certo tempo na casa da família, observando Sam e suas interações com sua mãe, a terapeuta viu sinais de TOD. “Eu não sabia do que ela estava falando”, diz Anne. Na visita seguinte ao médico, Anne perguntou se o TOD podia explicar o comportamento de Sam, e o médico disse que sim.

“Quando penso sobre isso, o diagnóstico faz sentido”, diz Anne. “Nada que usei com minha filha mais velha – como somar algumas consequências antes de puni-la – para controlar seu comportamento, funcionou com Sam”.

Outra mãe, Jane Gazdag, contadora em Nava Iorque, começou a notar comportamento problemático em seu filho, Seamus Brady, agora com oito anos, quando ele tinha quatro anos de idade. “Ele gritava por duas ou três horas por causa de coisas pequenas”, diz Jane. “Ele brigava por tudo”.

Quando Jane descobriu que tinha parado de fazer coisas alegres com seu filho, como passar o dia em Manhattan, porque para ela seria muito estressante, ela suspeitou que ele tivesse TOD e falou sobre isso com o pediatra. Seamus foi diagnosticado com TOD.

Os sinais do TOD podem ser vistos no comportamento de uma criança em relação ao seu cuidador. O comportamento desafiador pode se espalhar a um segundo cuidador e aos professores ou demais figuras de autoridade, mas se aparece em uma criança com TDAH, o TOD aparecerá dentro de dois anos depois do diagnóstico do TDAH.

Se uma criança começa a se tornar desafiadora, há um modo fácil de dizer se o comportamento é uma consequência do TDAH ou se é um sinal do TOD. “O TDAH não é um problema de começar uma tarefa, é um problema de terminar uma tarefa”, diz Russel Barkley, Ph.D., professor de psiquiatria e de pediatria na Medical University of South Carolina. “Se uma criança não pode começar uma tarefa, é TOD”.

A ligação Impulsividade/Desafio

Entender por que o TOD é encontrado tão frequentemente em crianças com TDAH é entender as duas dimensões do transtorno – os componentes emocional e social, diz Barkley. Frustração, impaciência e raiva é parte do componente emocional. Discussão e desafio desmedido é parte do aspecto social.

Muitas crianças com TDAH são impulsivas, e isso dirige o componente emocional do TOD. “Para pessoas com TDAH, as emoções são expressas rapidamente, enquanto outras pessoas são capazes de conter seus sentimentos”, diz Barkley. Por isso que a pequena parte de crianças com o tipo desatento do TDAH é menos sujeita a desenvolver o TOD. Crianças que têm TDAH, com intensa impulsividade, são mais sujeitas a serem diagnosticadas com TOD.

Raiva e frustração são de manejo difícil em uma criança com TOD e TDAH, mas é o desafio que aumenta o estresse da família causado pelo TOD. O mais surpreendente é que os pais alimentam o desafio. Se um pai cede rapidamente quando a criança tem uma crise de raiva, a criança aprende que pode manipular as situações tornando-se enraivecida e iniciando uma briga. Esse aspecto do TOD é um comportamento aprendido, mas pode ser desaprendido por meio da terapia comportamental.

Primeiro o TDAH, depois o TOD

Antes de enfrentar o TOD da criança, é importante que o seu TDAH esteja controlado. “Quando reduzimos a hiperatividade, a impulsividade e a desatenção da criança, talvez por causa da medicação, observamos melhora simultânea do comportamento de oposição”, diz Greene.

Os medicamentos estimulantes tradicionais são a droga de escolha inicial porque têm mostrado que reduzem os prejuízos do TDAH, assim como do TOD, em até 50% em mais de 25 pesquisas publicadas, diz William Dodson, M.D., que se especializou no tratamento do TDAH, em Greenwood, Colorado. Medicamentos não estimulantes também podem ajudar. Em um estudo, os pesquisadores descobriram que a droga atomoxetina, a forma genérica do ingrediente ativo do Strattera, reduz significativamente os sintomas do TOD e do TDAH. Os pesquisadores notaram durante a pesquisa, publicada no Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry, em março de 2005, que doses mais altas da medicação eram necessárias para controlar os sintomas em crianças que tinham como diagnóstico as duas condições.

O Strattera ajudou Seamus a controlar suas emoções, reduzindo o número e a intensidade de suas crises de raiva. “Fez uma grande diferença”, diz Jane. Para alguns, a medicação não é o bastante, e depois da criança ter os sintomas do seu TDAH sob controle, será a hora de atacar os comportamentos do TOD.

Embora haja pouca evidência a mostrar que algum tratamento seja eficiente no tratamento do TOD, muitos profissionais concordam que a terapia comportamental tem o maior potencial para ajudar. Há muitas formas de terapia comportamental, mas a abordagem mais comum é recompensar o bom comportamento e estabelecer consequências consistentes para ações e comportamentos inadequados.

Programas de terapia comportamental não começam com a criança; eles começam com o adulto. Como geralmente a criança com TOD tem um cuidador que a leva às crises de raiva e de comportamento violento, ou oferece punição inconsistente para o mau comportamento, a criança pensa que surtar lhe dará o que ela quer. Assim, o cuidador principal tem de ser educado para responder efetivamente a uma criança com TOD. Outra parte do treinamento dos pais é verificar se um deles é portador de TDAH sem diagnóstico; adultos com o transtorno são mais propensos a não controlar o comportamento da criança.

Estabelecer punição consistente é somente parte do programa de terapia comportamental; os pais precisam aprender a usar reforço positivo quando uma criança se comporta bem.

Mantenha o programa

Um terapeuta comportamental trabalha com os pais e a criança, juntos, para reduzir os problemas de comportamento. No topo da lista de Anne estava o “cale a boca” que seu filho gritava para todo mundo. Anne mantinha uma folha para anotar o número de vezes que seu filho gritava em um dia. Ao final do dia, Anne e seu filho viam o total juntos. Se o número estivesse abaixo da meta do dia, ela lhe dava uma pequena recompensa, um brinquedo ou um tempo a mais para jogar videogame. Dia a dia, Sam tentava reduzir o número de vezes que ele dizia “cale a boca”, e Anne tentava ser consistente em suas punições.

Todos os cuidadores de uma criança precisam participar do programa. Avós, professores, babás, e outros adultos que ficam por um tempo sozinhos com seu filho, precisam entender que a necessidade de consistência na terapia comportamental se estende a eles também.

“O TOD tem efeito deletério nos relacionamentos e na comunicação entre as crianças e os adultos”, diz Greene. “Você vai querer melhorar as coisas o mais rápido que puder”.

Anne acredita que sua diligência vai ser recompensada. “Esperamos que todo o trabalho que temos feito será, um dia, bom para o Sam”, ela diz.

Este artigo foi publicado no número de primavera de 2013 de ADDitude.

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