Tenho 12 anos de idade e pelo tempo que posso me lembrar,
tive lados opostos dentro de mim. Alguém me disse que eu era “dotada” – muito
inteligente e criativa. Mas eu tinha que trabalhar de verdade, realmente muito,
com coisas que pareciam muito mais fáceis para outras meninas, tais como
memorizar e prestar atenção.
Veja um exemplo: em matemática, ciência e artes, sou mais
rápida em imaginar coisas do que outras garotas. Como quando minha professora
nos mostra uma nova maneira de subtrair frações, parece óbvio para mim e não
para as outras garotas. Mas, quando estou tentando ouvir alguém falando ou
lendo, minha mente começa a vagar.
Uma vez, quando estávamos falando sobre plantas, em ciência,
isso me fez pensar em meu jardim e no que iria plantar no ano seguinte. E isso
me fez pensar sobre uma nova espécie de pimenta que eu tentava plantar para o
meu pai, porque ele gosta de coisas apimentadas. E isso me fez pensar sobre as
comidas apimentadas que ele costumava comer quando vivia em Singapura.
Parece uma espécie de galho de árvore, e logo eu não sei
mais sobre o que é a discussão. Às vezes, isso é bom quando alguém está falando
comigo, porque me ajuda a desenvolver a conversação. Se estou em aula, me ajuda
a ter novas ideias que ninguém tinha pensado antes. Mas isso também me
prejudica em aula, porque eu não capto sempre o que o professor está dizendo.
Às vezes tenho ideias complicadas que não consigo explicar
para os outros. Isso realmente me frustra, e fico brava com a pessoa porque ela
não está entendendo! Acho que você poderia dizer que eu choro facilmente. Isso
realmente incomoda minha mãe. Às vezes, tenho a mesma espécie de problema
quando preciso fazer uma pergunta. Fico travada com a pergunta porque não
consigo formulá-la. E tenho os mesmos problemas quando estou tentando escrever
minhas ideias em uma folha de papel.
Quando estou fazendo alguma coisa difícil para mim, como
escrever, eu facilmente perco o foco e acabo fazendo um trabalho apressado,
para que possa fazer alguma outra coisa na qual sou melhor. Mas, então, não
ganho uma boa nota com o meu trabalho e me sinto mal. O problema é que há
tantas coisas interessantes para eu fazer em minha casa; coisas que eu penso
que sejam tão educativas quanto escrever. Eu realmente faço química e
experimentos com alimentos na cozinha, ou tento usar outras misturas de
sementes e solos em meu jardim, ou assisto ao History Channel ou Popular Mechanics
for Kids, ou resolvo problemas e jogos de lógica. Eu prefiro estudar o
comportamento dos pássaros (com meus pássaros, naturalmente!), trabalho no meu
Web site com meu pai, e faço projetos de engenharia com madeira ou o que
estiver sobrando por perto. Gosto da minha escola, mas odeio que o trabalho de
casa tire o tempo para fazer essas coisas. Isso é o que ser dotada e ter TDAH.
Lições de vida
Tentei alguns remédios para me ajudar com o déficit de
atenção. É tão esquisito que façam remédio para isso! Um me ajudou a me
concentrar e a ter mais ânimo com a escola. Agora, outro me ajuda a ser mais
otimista, mas, quando o efeito acaba, eu me sinto menos feliz e fico mais
distraída. Meu remédio ajuda um pouco, mas ele não resolve completamente o
problema da atenção. Ainda tenho de fazer esforço para manter a atenção, e, às
vezes, fico distraída mesmo com o remédio.
Os remédios não resolvem os problemas que eu tenho com a
memorização e com o estudo para as provas. Meu tutor sugeriu que eu desenhasse
figuras quando estivesse memorizando fatos para minha prova de história. Por
exemplo, quando estivesse estudando a Renascença, eu desenhasse a figura de uma
harpa para o renascimento da música e uma cruz para o renascimento da cultura.
Isso me ajudou a lembrar dessas coisas para uma prova. Mas demora muito estudar
desse jeito, então eu não consegui estudar tudo e tirei uma nota baixa porque
houve um monte de coisas que eu não consegui estudar. Às vezes, isso me faz
querer desistir, quando verifico quão difícil é ter de estudar muito mais
coisas que não são tão difíceis para os outros alunos.
Para mim, foi mais fácil aprender japonês porque quando você
escreve em japonês, é arte, e eu adoro desenhar. A escrita japonesa é cheia de
precisão, e eu gosto de ficar gastando um longo tempo com alguma coisa e
torná-la exata. Mas a lentidão é outro problema que eu tenho e que frustra as outras
pessoas. E o meu tutor diz que eu às vezes tenho dificuldade para decidir
quando entrar em detalhes torna melhor o
meu trabalho ou quando isso realmente prejudica meu trabalho porque “eu não
consigo ver a floresta pelas árvores”. Há um lado do japonês que tem sido
difícil para mim. Estou atrasada em relação à minha classe no que diz respeito
a decorar os caracteres japoneses e as combinações de caracteres.
No terceiro ano fui para uma escola para crianças com
dificuldade de aprendizado, onde aprendi o método Slingerland de leitura. Isso
realmente foi muito bom para mim. Agora leio livros que são difíceis de
verdade, como The Golden Compass e The Amber Spyglass.
A visualização-verbalização foi realmente útil, também, para
descobrir como soletrar. Ainda sou uma má soletradora, mas estou melhor do que
era. Porém, as outras coisas da escola foram muito fáceis para mim, e eu ficava
aborrecida porque já sabia ciência e matéria. Quando voltei para minha escola
pública, os garotos me perguntavam, “Dana, você foi a uma escola especial no
terceiro ano?” A Educação Especial não é uma coisa popular. Você precisa ser
normal para ser legal.
Algumas pessoas idealizam os estudantes dotados porque
pensam que eles são bons em todas as matérias, mas isso não é verdade. Não
somos superinteligentes em tudo, como um computador. Sou dotada em algumas coisas.
Meu tutor disse que sou um aprendiz visual. Por exemplo, em história, quando
minha professora estava falando sobre a segunda guerra mundial, ela nos mostrou
fotos das trincheiras em que eles lutavam. Sempre nos lembraremos daquelas
cenas.
Ser dotada é uma coisa ruim em algumas das escolas em que
estudei. No cinema, alunos espertalhões geralmente não são bons em esportes. As
pessoas acham que se você é superesperto, então provavelmente você é fraco. É
muito legal ser um gênio em matemática, mas é muito mais legal ser realmente
atlético. Foi isso que eu descobri em minha escola pública.
Agora vou a uma escola para alunos dotados, e somos muito
atléticos por lá. Fazemos movimentos e dança, e artes marciais, quase todos os
dias. Fico feliz que os alunos da minha escola não ligam muito para o estilo e
quão legais sejam suas roupas. Assim, para mim, é muito mais confortável.
Estamos juntos nessa
Qual é a melhor maneira de ajudar garotas como eu?
Precisamos de muito apoio de nossos pais e não ser reprendidos por tirar notas
baixas. A melhor coisa que os pais podem fazer é ajudar seus filhos a superar
suas dificuldades. Ajudou-me muito quando minha mãe me mostrou novas maneiras
de estudar para uma prova. Ajudou-me a encontrar amigos honestos, que não ficam
falando mal pelas costas. Ajudou-me a encontrar uma escola onde os professores
viram que eu tenhos coisas em que sou muito boa. Uma vez minha mãe me contou
uma história sobre nerds de computador que acabam conquistando o mundo, e
algumas vezes penso nessa história e me sinto muito melhor.
Espero que outros alunos dotados que tenham TDAH saibam que
não estão sós. Espero que isso ajude os alunos a falar com seus pais e
professores sobre coisas que os aborrecem e, assim, se sintam menos estranhos e
solitários. Falar com eles sobre as coisas em que você é bom e quais são as
coisas difíceis para você – e porque são difíceis para você – pode ajudar os
alunos a descobrir como tornar a escola um pouco mais fácil. Acima de tudo,
falar sobre coisas podem também ajudar os alunos a se sentir melhores sobre si
mesmos.
Este
artigo foi publicado no número de agosto-setembro de 2004 de ADDitude.