terça-feira, 15 de abril de 2014

331- Segredos do Cérebro TDAH


A maioria das pessoas é neurologicamente equipada para determinar o que é importante e motivar-se para o fazer, mesmo quando isso não for do seu interesse. E há o restante, nós, com déficit de atenção. Por William Dodson, M.D.

O TDAH é uma condição confusa, contraditória, inconsistente e frustrante. Ele é muito opressivo para as pessoas que vivem com ele todos os dias. Os critérios de diagnóstico que foram usados nos últimos 40 anos deixam muitas pessoas em dúvida se têm ou não a condição. Os diagnosticadores têm longas listas de sintomas para ler e excluir. O DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) tem 18 critérios e outras listas de sintomas citam ao redor de 100 traços.

Os profissionais, eu inclusive, têm tentado estabelecer um modo mais simples e claro de entender os prejuízos do TDAH. Temos procurado a "linha luminosa e reluzente" que define a condição, explica a fonte dos problemas e dá a direção do que fazer a respeito.

Meu trabalho na última década sugere que temos esquecido de algo importante sobre a natureza fundamental do TDAH. Fui procurar os especialistas nessa condição - as centenas de pessoas e seus familiares com quem trabalhei e que foram diagnosticados com o TDAH - para confirmar minha hipótese. Minha meta era procurar a característica que todos os com TDAH têm, e que as pessoas neurotípicas não têm.

Eu a descobri. É o sistema nervoso TDAH, uma criação única e especial que regula a atenção e as emoções de modo diferente do que o sistema nervoso daqueles sem a condição.

A "Zona TDAH"

Quase todos os meus pacientes e seus familiares gostariam de abandonar o termo Transtorno de Déficit de Atenção, porque ele descreve o oposto do que eles sentem em cada momento de suas vidas. É difícil chamar algo de transtorno quando ele implica em muitas coisas positivas. O TDAH não é um sistema nervoso lesionado ou defeituoso. É um sistema nervoso que trabalha bem usando suas próprias regras. Apesar da associação do TDAH com Dificuldades de Aprendizagem, muitas pessoas com um sistema nervoso TDAH têm QI significativamente acima da média. Elas também usam esse QI mais alto de modo diferente das pessoas normais. Na época em que muitas pessoas com a condição chegam ao colegial, elas são capazes de resolver problemas que bloqueiam qualquer outra pessoa e saírem com soluções que ninguém tinha visto.

A grande maioria dos adultos com sistema nervoso TDAH não é claramente hiperativa. Eles são hiperativos internamente.

Os portadores do problema não têm falta de atenção. Eles prestam muita atenção em tudo. Muitas pessoas com TDAH sem tratamento têm quatro ou cinco coisas na mente ao mesmo tempo. A marca do sistema nervoso TDAH não é o déficit de atenção, mas a atenção inconsistente.

Todos os que têm TDAH sabem que podem "entrar na zona" ao menos quatro ou cinco vezes ao dia. Quando estão "na zona", não têm nenhuma dificuldade e os déficits de função executiva que podiam ter antes de "entrar na zona" desaparecem. Os portadores de TDAH sabem que são espertos e brilhantes, mas nunca estão seguros de que suas habilidades aparecerão quando precisarem delas. o fato de que os sintomas e prejuízos vão e vêm ao longo do dia é o traço definidor do TDAH. Ele torna o transtorno mistificador e frustrante.

As pessoas com TDAH entram na zona principalmente por se interessarem ou ficarem intrigadas com o que estão fazendo. Eu chamo isso de sistema nervoso baseado em interesse. Amigos e familiares críticos vêem isso como ser não confiável ou malandragem. Quando os amigos dizem "Você pode fazer as coisas de que gosta", eles estão descrevendo a essência do sistema nervoso TDAH.

Indivíduos com TDAH também entram na zona quando são desafiados ou lançados em um ambiente competitivo. Às vezes uma tarefa nova ou diferente atrai sua atenção. Entretanto, a novidade tem vida curta, e tudo fica velho num instante.

Muitas pessoas com sistema nervoso TDAH podem se engajar em tarefas e acessar suas habilidades quando a tarefa é urgente - um prazo final, por exemplo. É por isso que a procrastinação é uma dificuldade quase universal em pessoas com TDAH. Elas querem fazer o seu trabalho, mas não conseguem dar início até que a tarefa se torne interessante, desafiadora, ou urgente.

Como o resto do mundo funciona

As 90 por cento de pessoas sem TDAH do mundo são denominadas de neurotípicas. Não é que elas sejam normais ou melhores. Sua neurologia é aceita e aprovada pelo mundo. Para as pessoas com um sistema nervoso neurotípico, ficar interessada na tarefa, ou desafiada, ou achar a tarefa novidade ou urgente, ajuda, mas não é um pré-requisito para fazê-la.

As pessoas neurotípicas usam três diferentes fatores para decidir o que fazer, como dar início e como ficar ligada até o final do trabalho:

1- O conceito de importância (elas pensas que o trabalho deve ser feito).

2- O conceito  de importância secundária - elas são motivadas pelo fato de que seus pais, professores, patrão ou alguém que respeitam pensam que a tarefa seja importante para ser aceita e completada.

3- O conceito de recompensas por fazer uma tarefa e consequências ou punições por não fazê-la.

Uma pessoa com sistema nervoso TDAH nunca é capaz de usar a idéia de importância e recompensas para iniciar e fazer uma tarefa. Ela sabe o que é importante, ela gosta de recompensas, e não gosta de punições. Mas, para ela, as coisas que motivam o resto do mundo são meramente chatices.

A incapacidade de usar a importância e as recompensas para tornar-se motivado tem um impacto durante toda a vida do portador de TDAH:

Como os diagnosticados com a condição podem escolher entre as múltiplas opções se eles não podem usar os conceitos de importância e de recompensa ao final para motivá-los?

Como eles podem tomar decisões importantes se os conceitos de importância e recompensa não são úteis para tomar uma decisão nem uma motivação para fazer o que eles escolheram? 

Esse entendimento explica porque nenhuma das terapias cognitivas e comportamentais usadas para controlar os sintomas do TDAH têm um beneficio duradouro. Os pesquisadores vêem o TDAH como um derivado de um sistema nervoso defeituoso ou baseado em déficit. Eu vejo o TDAH como derivado de um sistema nervoso que funciona perfeitamente bem com suas próprias regras. Infelizmente, ele não funciona com nenhuma das regras ou técnicas ensinadas e encorajadas em um mundo neurotípico. Por isso que:

Os TDAHs não preenchem o padrão do sistema escolar, que é construído na repetição do que alguém pensa que seja importante e relevante.

Os TDAHs não florescem no emprego que paga as pessoas para trabalhar no que alguém (principalmente o chefe) pensa que seja importante.

Os TDAHs são desorganizados porque quase todo sistema organizacional lá fora é construído sobre duas coisas - priorização e gerenciamento do tempo - coisas em que os TDAHs não são muito bons.

Os TDAHs têm dificuldade de escolher entre alternativas porque tudo tem a mesma falta de importância. Para eles, todas as alternativas parecem a mesma coisa.

Pessoas com um sistema nervoso TDAH sabem que, se elas se engajarem em uma tarefa, elas conseguem fazer. Longe de serem mercadoria estragada, pessoas com sistema nervoso TDAH são brilhantes e inteligentes. O principal problema é que elas receberam um manual do proprietário neurotípico ao nascerem. Ele funciona para todo mundo, menos para elas.

Não transforme os TDAHs em neurotípicos

As implicações desse novo entendimento são vastas. A primeira coisa a fazer é para os coaches, médicos e profissionais pararem de tentar transformar as pessoas com TDAH em pessoas neurotípicas. A meta deve ser intervir tão cedo quanto possível, antes do indivíduo com TDAH ficar frustrado e desmoralizado pela batalha em um mundo neurotípico, onde tudo está contra ele. A abordagem terapêutica que tem a chance de funcionar, quando nada mais funcionou, deveria ter duas partes:

Ajustar o campo de ação neurológico com medicação, de modo que o  indivíduo com TDAH tenha a capacidade de atenção, controle de impulso e habilidade de ficar calmo no seu interior. Para muitas pessoas, isso requer duas medicações diferentes. Os estimulantes melhoram o desempenho diário dos portadores de TDAH, ajudando-os a terem as coisas feitas. Não são eficientes para acalmar a hiper-estimulação interna que muitos deles têm. Para esses sintomas, a maioria das pessoas será beneficiada pelo acréscimo de uma medicação alfa-agonista, como a clonidina, ao estimulante.

Entretanto, a medicação não é o suficiente. Uma pessoa pode tomar a medicação correta na dose correta, mas nada mudará se ela ainda se aproximar das tarefas com as estratégias neurotípicas.

A segunda parte do controle dos sintomas do TDAH é fazer o indivíduo criar seu próprio manual do proprietário. O manual do proprietário genérico que foi escrito tem sido desapontador para as pessoas com essa condição. Como quase todo mundo, os que têm TDAH crescem e amadurecem com o tempo. O que interessa e desafia alguém aos sete anos de idade não o interessará mais aos 27 anos.

Escreva suas próprias regras

O manual do proprietário do TDAH tem de ser baseado nos sucessos atuais. Como você entra na zona agora? Sob quais circunstâncias você tem sucesso e progride em sua vida corrente? Em vez de focalizar no que você falha, você precisa identificar como você entra na zona e funciona em níveis extraordinários.

Eu geralmente sugiro que meus pacientes carreguem um notepad ou um gravador de voz por um mês para escrever ou explicar como eles entram na zona.

Foi porque eles ficaram curiosos? Se for por isso, o que, especificamente, na tarefa ou na situação os intrigou? Foi porque se sentiram competitivos? Se foi por isso, o que no oponente ou na situação trouxe os sentimentos competitivos?

Ao final do mês, muitas pessoas compilaram 50 ou 60 técnicas diferentes que elas sabem que funcionam para elas. Quando chamadas a trabalhar e a se engajar, elas agora entendem como seu sistema nervoso trabalha e quais técnicas são úteis.

Eu vi muitas dessas estratégias funcionarem para muitas pessoas com TDAH, porque elas pararam e olharam para trás, e descobriram os gatilhos de que precisam para avançar. Essa abordagem não tenta mudar as pessoas com um sistema nervoso TDAH em pessoas neurotípicas (como se isso fosse possível), mas dá um auxílio ao longo da vida porque ela é construída com base em seu potencial.


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