quinta-feira, 17 de abril de 2014

333- TDAH - Ensinando aos alunos um "Manual do Proprietário do Cérebro"


Embora a pesquisa sobre o cérebro não forneça todas as respostas para nossos problemas educacionais, quando ela é bem fundamentada e correlacionada com estratégias e intervenções consistentes com interpretações de conhecedores do assunto da pesquisa, um entendimento básico de neurociências pode dar aos educadores o embasamento para tomar decisões esclarecidas sobre produtos/currículo que alegam ser focados no cérebro.
Talvez o mais importante é que educadores com esse embasamento possam compreender por que as suas melhores estratégias funcionam e como aplicá-las a diferentes unidades de instrução e como se adequarem aos pontos fortes de educandos individuais. Assim, elas poderão ter mais conhecimento e motivar seus alunos a compartilhar esse conhecimento de como sua própria ferramenta mais importante pode ser otimizada através de seus próprios esforços.
Depois de praticar a medicina como neurologista de adultos e crianças por 15 anos, no início dos anos 90, eu fiquei angustiada pela epidemia de encaminhamentos que eu estava recebendo para avaliar crianças para TDAH, TOC, epilepsia tipo petit mal, síndrome da oposição e desafio, bem como outros transtornos do comportamento e da atenção. A percentagem dessas crianças que apresentavam de fato as condições pelas quais foram encaminhadas não mudava.
Uma vez que os professores é que originaram os encaminhamentos, comecei a observar as turmas, conversar com educadores e ler a respeito do impacto dos testes padronizados sobre o tipo de ensino que estava sendo ministrado nas classes. Descobri que a pressão para ensinar visando o teste era tão intensa que estava embutida num currículo rígido com predominância de exercícios repetitivos e um mínimo de atividades motivadoras centradas nos alunos.
Minha base em neurociências tornou-se a lente pela qual eu podia avaliar a qualidade e potenciais aplicações da nova ciência da aprendizagem. Nos últimos 10 anos como professora, tenho avaliado a pesquisa em neurociência e ciência cognitiva conforme é aplicada a minhas próprias turmas, e, posteriormente, a problemas comuns a muitos professores. Durante esse período, comecei a escrever livros e artigos e a fazer apresentações/oficinas de desenvolvimento profissional em âmbito nacional e internacional sobre a utilização das pesquisas sobre o cérebro como uma ponte para estratégias de ensino “neuro-lógicas”.
Mente, Cérebro e Educação
A união da mente, cérebro e aprendizagem com a pesquisa de laboratório e cognitiva limita-se a sugerir estratégias baseadas no que eu denomino previsões neuro-lógicas. Ao dizer “neuro-lógicas”, eu me refiro a estratégias sugeridas ou apoiadas pela pesquisa e que estão de acordo com minha base em neurociências e a experiência em sala de aula, tanto minha quanto a de outros. Eu considero que uma estratégia é neuro-lógica quando se correlaciona  com os dados acumulados sobre como o cérebro parece processar uma entrada [input] sensorial em aprendizado.
Embora aquilo que vemos em estudos de imagem do cérebro ou outras pesquisas em laboratório não possa prever o que uma estratégia ou intervenção irá significar para alunos individuais, as informações podem orientar o planejamento didático. Caberá cada vez mais a educadores profissionais com conhecimentos básicos sobre o cérebro usar as deduções da pesquisa científica para nortear as estratégias, o currículo e as intervenções que selecionarem para metas específicas e alunos individuais.
Alunos atentos
Como muitas das crianças encaminhadas para o meu consultório foram enviadas para avaliação de problemas de atenção, eu comecei por averiguar as pesquisas referentes a isso. Todo aprendizado vem através dos sentidos e qualquer informação sensorial que chega é a resposta inconsciente dos filtros em nosso primitivo cérebro inferior, o qual é essencialmente o mesmo de outros mamíferos. Os animais precisam que o sistema de filtros dê atenção prioritária a sinais de perigo  e prazer em potencial (a visão de uma presa em potencial ou o cheiro de um parceiro de acasalamento em potencial). Os seres humanos têm este mesmo sistema cerebral primitivo de recepção de informação. Em nível inconsciente, reflexivo, nossos cérebros são programados para dar prioridade de entrada (prestar atenção) a mudança e novidade, especialmente sinais ligados a perigo ou prazer.
O primeiro filtro que determina a entrada no cérebro de nova informação sensorial é o sistema ativador reticular (SAR) nos seres humanos e outros mamíferos. O SAR admite menos de 1%  das informações sensoriais disponíveis para ele a cada segundo. A prioridade para sobrevivência é dada à mudança e à novidade no ambiente que esteja associada com ameaça ou evoque curiosidade.
Basicamente, os alunos que se acreditava não estarem prestando atenção, estavam prestando atenção em alguma coisa, só que não naquilo que o professor oferecia como entrada sensorial. Isso me levou a experimentar, e depois recomendar, que os professores, antes de mais nada, criem e mantenham ambientes seguros e empáticos na classe. Então eles podem usar lições que promovam a curiosidade, que têm maior probabilidade de promover a entrada sensorial da lição aos cérebros dos seus alunos. Exemplos de novidade que aguçam a curiosidade e atenção incluem usar um item incomum de vestuário, colocar algo diferente na parede, tocar uma música quando os alunos entrarem, mudar a disposição da mobília na sala de aula, ou até mesmo fazer uma pausa carregada de suspense durante uma explanação – porque o silêncio muitas vezes é a novidade em uma sala de aula.
Depois de alguns anos, percebi que meus alunos estavam particularmente curiosos a respeito de seus cérebros. A princípio, passei informações sobre como seus estados emocionais podem determinar a via que uma nova informação percorre no cérebro. Nós discutimos que quando o cérebro está muito estressado ou muito confuso e frustrado, ele entra no modo sobrevivência e as informações  serão enviadas para o cérebro inferior, onde os comportamentos resultantes relacionam-se com a sobrevivência, tais como luta/fuga/imobilização. Expliquei que a amígdala, uma parte do sistema límbico emocional do cérebro, pode modificar isso quando o estresse é reduzido. O objetivo era ficar no estado relaxado, alerta, para que a informação nova viaje através da amígdala para o córtex pré-frontal cognitivo superior, onde pode ser reconhecida e processada pelo pensamento ao invés de gerar uma reação.
Calmo e Focado para Memória Aprimorada
O cérebro produz ondas com frequências elétricas variáveis, medidas em hertz (ciclos por segundo). Durante as frequências elétricas de ondas cerebrais chamadas  Teta, a frequência de 4 a 7 Hz correlaciona-se com um estado de calma e períodos de consciência intensificada. A frequência Teta pode ser vista durante devaneios com explosões de insight criativo e meditação avançada. Resultados de pesquisas recentes com estudos de EEG utilizando eletrodos implantados (em pacientes sob avaliação para remoção cirúrgica de áreas gatilho de crises epilépticas) mostraram que no estágio relaxado e alerta, quando as ondas teta são proeminentes no EEG, as memórias são mais fortes (Rutishauser, Ross, Mamelak, & Schuman, 2010).
Uma das aulas que mais empolgavam os alunos era aquela em que eles descobriam que seu humor e atenção concentrada determinam qual informação é assimilada por seus cérebros reflexivos “pensantes”. Nós revisamos a amígdala e eles lembraram que, se estão calmos e concentrados, suas amígdalas tomarão a “decisão” de enviar a informação a seu cérebro pensante no córtex pré-frontal. Expliquei sobre a pesquisa com EEG e que no estado atento de alerta concentrado eles aprenderão mais do que ouvirem e lerem, e serão capazes de ter controle mais consciencioso de suas emoções e criatividade.
Fizemos então atividades de atenção e eles experimentaram a consciência intensificada quando intencionalmente focaram a atenção em um som ou a visualização de alguma coisa que aprendem em história. Depois disso, nós frequentemente fazíamos respiração de relaxamento antes de começar testes ou lições desafiadoras, e os alunos descreviam seu humor mais tranquilo e consciência mais alerta e sentiam que compreendiam e se lembravam de mais coisas.
Uma menina da sétima série com TDAH que também sofria de ansiedade antes dos testes disse: “Eu quero que o meu SAR deixe entrar a informação que eu quero e que minha amígdala mantenha o que eu ouço na aula fluindo para meu cérebro pensante. Funcionou na aula, então eu tentei sozinha em casa. Funcionou. Eu fiz a tarefa mais rápido e até acertei os problemas difíceis, porque eu não fiquei frustrada no minuto em que não entendia alguma coisa. Eu só visualizei meu próprio cérebro abrindo o fluxo para meu córtex pré-frontal e voltei ao problema difícil com uma atitude melhor. Deu certo em casa e agora funciona nas provas.” 
Ensinando aos alunos um Manual do Proprietário do Cérebro
Descobri que quando os alunos sabem como seu cérebro aprende, eles se motivam para agir. Principalmente quando os alunos sentem que “não são inteligentes” e que nada do que façam possa mudar isso, a constatação de que eles podem literalmente mudar o cérebro através de estratégias de estudo e revisão é empoderadora. As crianças, assim como muitos adultos, acham que a inteligência é determinada ao nascimento ou antes disso, e nenhum esforço mudará seu nível de sucesso acadêmico.
Quando ensinei a meus alunos dos últimos anos do ensino fundamental e posteriormente a meus alunos do ensino médio sobre as modificações em seus cérebros que acontecem através da neuroplasticidade, eles até “captaram” o propósito de revisões e tarefas para casa. Eu explico, mostro a eles imagens do cérebro, e nós desenhamos diagramas sobre a construção de conexões entre neurônios que crescem quando uma nova informação é aprendida, e como mais dendritos crescem quando a informação é revisada. Suas reações são maravilhosas. Um menino de 10 anos disse: “Eu não sabia que podia fazer meu cérebro crescer. Agora eu sei sobre o crescimento dos dendritos quando eu estudo e quando tenho uma boa noite de sono. Agora, quando eu penso em assistir TV ou revisar minhas anotações, eu digo a mim mesmo que tenho o poder de fazer crescer células cerebrais se eu fizer a revisão. Eu ainda prefiro ver TV, mas faço a revisão porque quero que meu cérebro fique mais esperto. Já está dando certo e é muito bom sentir isso.”
Eu uso analogias com esportes, sobre os alunos desenvolverem maior habilidade quanto mais praticam um lance de basquete, e analogias de dança para alunos que viram seu desempenho melhorar à medida que ensaiam mais. Então fazemos ligações para explicar que seus cérebros respondem da mesma forma quando praticam suas tabuadas ou relêem partes confusas de um livro.
Meus alunos contaram a seus pais sobre "fazer meu cérebro trabalhar do jeito que eu quero" e logo outros professores estavam me pedindo as minhas aulas sobre. Escrevi uma versão para o ensino médio das aulas sobre o Manual do Proprietário do Cérebro para educadores fazerem modificações a seu critério e usarem para seus alunos, especialmente aqueles com dificuldades de atenção ou deficiências de aprendizagem.
Quando fiz a faculdade de medicina e me tornei uma neurologista, eu não sabia que um dia seria professora e escreveria sobre estratégias de ensino baseadas nas pesquisas sobre o cérebro, mas uma vez que comecei a fazer conexões entre minhas duas profissões, as ligações ficaram evidentes. Quando vi como meus alunos reagiram e o interesse que desenvolveram pela ciência do cérebro, fiquei muito feliz por poder passar um Manual do Proprietário do Cérebro para outros educadores compartilharem com seus alunos.
Dra. Judy Willis, MD, Mestre em Educação
Neurologista e Professora do Ensino Médio, Santa Barbara, Califórnia.
 
©Maio 2010 The Johns Hopkins Universidade New Horizons for Learning  http://educação.jhu.edu
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