quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Por que os estudantes universitários utilizam ilegalmente medicações para o TDAH? (422)

Por que os estudantes universitários utilizam ilegalmente medicações para o TDAH?
O uso de medicação para o TDAH sem uma receita médica, isto é, o uso ilegal, é um grande e, talvez, crescente problema nos campos universitários dos Estados Unidos. A porcentagem de estudantes que fazem uso ilegal de medicações para o TDAH varia muito entre as faculdades, mas taxas de 30% foram encontradas em alguns campi.
Além dos riscos à saúde para os estudantes que fazem uso ilegal, esse comportamento também cria problemas para os estudantes com receita médica. Eles são frequentemente abordados pra vender ou compartilhar seu medicamento, o que é ilegal. Se eles fazem isso, acabam não usando as doses de que necessitam. As preocupações com esse desvio contribuem para que alguns centros universitários de saúde e de aconselhamento estejam decidindo não mais proporcionar serviços de avaliação ou tratamento para o TDAH, tornando mais difícil para os estudantes obter a ajuda de que necessitam.
Mitos sobre o uso não médico dos medicamentos para TDAH
A mídia fala frequentemente de estudantes universitários fazendo uso ilegal de medicação para o TDAH. Geralmente isso é descrito como parte de um estilo de vida universitário do tipo “trabalhe duro, jogue duro”, implicando em que isso seja um comportamento típico ou obrigatório entre os universitários.
Isso não é verdade. Pesquisas anteriores, incluindo um trabalho meu, mostraram que os estudantes que usam ilegalmente medicações para o TDAH são diferentes dos que não usam em importantes aspectos. Especificamente, eles têm nota média de avaliação acadêmica (GPA) mais baixa, são mais preocupados com seu rendimento acadêmico, consomem mais álcool, têm mais probabilidade de se envolver em uso de drogas ilícitas, mais probabilidade de fumar, e relatam mais sintomas de depressão e de ansiedade. Assim, como um grupo, eles estão tendo dificuldades em uma variedade de áreas. Para uma revisão desse assunto, veja www.helpforadd.com/2013/march.htm
Problemas de atenção e o uso não médico
Um achado particularmente interessante é o de que os usuários ilegais também relatam taxas significativamente mais elevadas de problemas de atenção. Em meu próprio trabalho, veja www.helpforadd.com/2007/december.htm , problemas de atenção relatados espontaneamente eram não somente mais elevados nos universitários que não faziam uso ilegal, mas, também, indicavam quem seria um usuário ilegal nos primeiros dois anos de faculdade. Os relatos espontâneos de maiores problemas de atenção pelos estudantes que usavam medicação para o TDAH ilegalmente foram, atualmente, replicados em vários estudos, sugerindo que, ao que parece, alguns estudantes estão tentando “tratar” as dificuldades de atenção que eles percebem que boicotam seu sucesso acadêmico.
Uma limitação importante desses estudos é que eles se baseiam em dificuldades de atenção relatadas espontaneamente e que não incluem nenhuma avaliação objetiva. Como resultado, não sabemos se os estudantes que fazem uso ilegal de medicações para o TDAH realmente têm dificuldade de atenção em relação aos seus colegas, ou se eles apenas pensam que têm.
Esse problema foi resolvido em recente estudo publicado, intitulado “Attention, motivation, and study habits in users of unprescripted ADHD medication” [Illieva and Farah (2015). Journal of Attention Disorders, DOI: 10.1177/1087054715591849]. Os participantes foram 128 universitários, 61 dos quais relataram uso ilegal anterior de medicação para TDAH e 67 que não usaram. Esses universitários foram comparados quanto às dificuldades de atenção relatadas espontaneamente, assim como quanto às medidas computadorizadas de um teste de atenção chamado TOVA (Test of Vigilant Attention).
Além de verificar como esses grupos se comparavam nessas variáveis importantes, os pesquisadores também examinaram se eles diferiam na qualidade dos hábitos de estudo e em sua motivação para se engajar nas tarefas cognitivas, duas características adicionais que podem contribuir para o uso ilegal entre os universitários que procuram aumentar seu desempenho acadêmico.
Para replicar os achados de outros estudos anteriores, os participantes também foram solicitados a relatar seu nível de uso de drogas e sintomas de depressão e ansiedade.
Resultados
Problemas de atenção relatados espontaneamente – De modo consistente com trabalho anterior, universitários que tinham usado medicação para o TDAH ilegalmente relataram taxas significativamente mais altas de ansiedade e de depressão. Entre os usuários ilegais, quanto maior a dificuldade de atenção relatada, mais frequente era o uso.
Problemas de atenção medidos objetivamente – Como notado acima, um teste computadorizado chamado TOVA, foi usado para obter uma medida objetiva da atenção. Os usuários ilegais tiveram as medidas de atenção, por esse método, significativamente mais fracas do que os não usuários, embora a diferença não tenha sido tão grande quanto à atenção relatada espontaneamente.
Motivação para tarefas cognitivas – A motivação para se engajar em tarefas cognitivas foi medida com os participantes relatando seu nível de aborrecimento e de motivação durante o TOVA; esse teste é uma tarefa repetitiva de 22 minutos, que certamente pode ser sentida como aborrecedora e monótona. Os usuários ilegais relataram níveis significativamente mais baixos de motivação durante a tarefa e também a sentiram como mais aborrecida.
Hábitos de estudo – A medida dos hábitos de estudo avaliou práticas conhecidas como relacionadas a um desempenho acadêmico melhor, por exemplo, o uso de auto-teste para avaliar a compreensão da matéria, o aprendizado da matéria ao longo do tempo, em vez de decoração, a frequência regular às aulas e o tempo gasto para estudar, etc. Os usuários ilegais relataram hábitos de estudos mais fracos que os dos outros estudantes. E, entre os usuários ilegais, quanto mais fracos os hábitos de estudo, mais frequentemente eles tinha usado medicações para o TDAH no ano anterior.
Uso de drogas, depressão, e ansiedade – Consistente com trabalho anterior, os usuários ilegais relataram níveis mais altos de uso de drogas, assim como mais sintomas de depressão e de ansiedade.
Resumo e implicações
Os resultados desse estudo evidenciam que o uso ilegal de medicações para o TDAH pelos estudantes universitários não deve ser tido como um comportamento típico de estudantes universitários e parte do estilo de vida “trabalhe duro, jogue duro” que caracteriza muitos estudantes.
Com base em trabalho anterior, os usuários ilegais foram descobertos não somente como tendo mais dificuldades relatadas espontaneamente com a atenção, mas também mostraram atenção mais fraca em avaliação objetiva. Também relataram maior aborrecimento durante tarefa cognitiva repetitiva e menor motivação para fazê-la. E eram menos propensos a empregar hábitos de estudo associados ao sucesso acadêmico. Como foi visto várias vezes, eles também eram mais propensos a abusar do álcool e de outras drogas, e relataram mais sintomas de ansiedade e de depressão. Assim, em vez de serem “estudantes típicos”, eles estavam provavelmente tendo muito mais dificuldades que seus colegas, por várias maneiras.
Os resultados desse estudo sugere que alguns estudantes procuram o uso ilegal de medicação para corrigir dificuldades de atenção, para aumentar sua motivação para se engajar no trabalho acadêmico e, talvez, para compensar os fracos hábitos de estudo. Infelizmente, embora os estudantes possam perceber que o uso de medicação para o TDAH desse jeito os ajude, não há nenhuma evidência que isso seja verdadeiro. De modo claro, seria de longe preferível que esses estudantes procurassem assistência profissional para suas dificuldades, que podem ou não ter algo a ver com o TDAH.
Embora não tenha sido especificamente um foco desse estudo, é importante enfatizar que o uso recreativo disseminado de medicação para o TDAH nos campi universitários põe em risco os estudantes com receitas legítimas. Eles estão em risco por serem abordados para desviar sua medicação para uso ilegal. Ao fazer isso, falharão doses que seriam necessárias. Não fazer isso significa desagradar um amigo que esteja pedindo ajuda, o que pode ser difícil.
Pais e médicos devem se assegurar de que jovem com receita para TDAH esteja ciente de que será abordado dessa maneira e que entenda que os problemas associados com o desvio da medicação. Não é suficiente dizer a eles para que não façam isso. O jovem deve ser instruído a manejar essas situações de modo que ele se sinta mais confortável e capaz de lidar corretamente com elas por si mesmo. As escolas deveriam também ser mais vigilantes e desenvolver e pôr em prática políticas relacionadas ao desvio de medicamentos receitados em seus campi.

David Rabiner, Ph.D.

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