quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Os medicamentos para o TDAH raramente funcionam bem na primeira tentativa. 432

Os medicamentos para o TDAH raramente funcionam bem na primeira tentativa.

Encontrar a medicação mais eficiente para a química própria do seu cérebro ainda é, infelizmente, um processo de tentativa e erro. É difícil, mas não desista, ao menos antes de ler essas soluções para os problemas comuns das medicações para o TDAH. Por Larry Silver, M.D.

Tomar remédio geralmente é o primeiro passo no tratamento do TDAH. Mas o que fazer se os medicamentos para o TDAH não funcionarem? Ou se os sintomas ficarem piores? Ou quando você ou o seu filho apresentarem efeitos colaterais dos medicamentos?

Leia adiante as soluções para os problemas comuns dos medicamentos que os adultos e as crianças, assim como seus pais, enfrentam.

- Problema: A medicação para o TDAH não funciona.

Quando começam a usar medicação, alguns adultos e pais reclamam que não há nenhuma melhora. A razão mais comum para essa falta de resposta é um diagnóstico errado de TDAH. Pode ser que os comportamentos do seu filho sejam causados por um problema acadêmico, tal como uma Dificuldade de Aprendizagem. Pode ser que seja depressão ou um transtorno emocional e não TDAH adulto. Muitos pacientes contam para seus médicos que eles, ou seus filhos, não conseguem ficar quietos ou prestar atenção às tarefas diárias. Sem fazer perguntas ou realizar testes, o médico faz uma receita.
O diagnóstico de TDAH não é assim tão simples. Critérios específicos devem ser observados antes que um diagnóstico de transtorno de deficit de atenção seja feito: estabelecer que os comportamentos são crônicos (existem desde a infância) e pervasivos (em casa, no trabalho, na escola).

Em alguns casos, o diagnóstico de TDAH pode estar correto, mas a dosagem recomendada pode estar incorreta. Determinar a dosagem correta não se baseia na idade ou no peso corporal, mas em quão rapidamente a medicação é absorvida para a corrente sanguínea e levada ao cérebro. Um adulto de 113 quilos pode precisar de 5 mg, enquanto uma criança de 27 quilos pode precisar de 20 mg. Como a dose necessária é específica para cada paciente, a medicação deve ser iniciada em doses baixas, em 5 mg. Se não aparecerem benefícios, a dose deve ser aumentada em mais 5 mg a cada 5 ou 7 dias até que seja determinada a dose correta.
Finalmente, muitos portadores de TDAH apresentam problemas adicionais, além do seu diagnóstico de TDAH. Os mais frequentes são Dificuldades de Aprendizagem, Transtorno de Ansiedade, Depressão, Problemas com o Controle da Raiva, ou Transtorno Obsessivo-compulsivo. Os estimulantes controlam os sintomas do TDAH, mas não resolvem os sintomas causados pelas outras doenças.

- Problema: A medicação para o TDAH não funciona o tempo todo.

Se as manhãs são difíceis: Pense em como você ou seu filho agem quando estão sob efeito da medicação do TDAH e em como quando não estão. Muitos problemas acontecem antes da medicação começar a funcionar ou quando d dosagem não dura todas as 4 ou 8 horas citadas na bula.

Para se manter, ou ao seu filho, calmo e focalizado pela manhã, tente acordar uma hora mais cedo do que o usual e tomar logo a medicação para o TDAH. Então, volte a se deitar. Para as crianças, se voltar a dormir for difícil, converse com seu médico sobre o uso de Daytrana, um adesivo de metilfenidato (não existe no Brasil). Aplique o adesivo na coxa do seu filho quando ele ainda estiver dormindo e a medicação começará a funcionar em uma hora. Se fizer isso, mais uma dose no começo da tarde poderá ser necessária.

Se você ou seu filho pioram à tarde: Pode ser que haja uma queda da proteção ao meio-dia e as dificuldades apareçam entre as 12 e as 13 horas. Pode ser que você comece a perder o foco em torno das 4 horas da tarde, ou ligado e hiperativo às 8 da noite. Preste atenção para descobrir quando os sintomas do TDAH pioram. Pode ser que o comprimido de 4 horas dure somente 3 horas. Talvez a cápsula de 8 horas que você está dando ao seu filho não esteja liberando o medicamento de modo uniforme. Conte ao seu médico quando a medicação não funciona. Ele poderá reconfigurar a dosagem ou mudar a medicação.

- Problema: A medicação para o TDAH provoca efeitos colaterais.

Perda do apetite. Alguns medicamentos para o TDAH provocam perda de apetite, mas ele costuma voltar ao normal em algumas semanas. Quando não, tente atrasar a primeira dose para depois do café da manhã. O almoço costuma ser o grande desafio. Um almoço diferente do tradicional, tal como um milkshake com suplementos (Ensure), ou uma barra de cereal com proteínas e bem calórica, podem proporcionar os nutrientes enquanto o apetite não estiver muito bom. Para aumentar o apetite na hora do jantar, atrase o comprimido da tarde até a hora do jantar. Se nada disso funcionar, peça ao seu médico um encaminhamento para um nutricionista que tenha experiência no trabalho com TDAH. Se o apetite não voltar, fale com seu médico sobre mudar para outro medicamento estimulante ou para um não estimulante.

Problemas de sono. Os estimulantes afetam a área do cérebro que induz o sono. Pular a dose das 4 horas da tarde pode ajudar, mas não ao custo dos sintomas se tornarem incontroláveis. Se você achar que esse é o caso, tente essa experiência. Com a permissão do seu médico, acrescente um comprimido de 4 horas de ação às 8 horas da noite. Uma pequena dose de estimulante ajuda alguns TDAHs a pegar no sono. Se a experiência falhar e você ou o seu filho não conseguirem dormir, seu médico poderá sugerir Benadryl. Muitas pessoas acham que uma pequena dose de melatonina ajuda no sono.

Outros efeitos colaterais. De trinta a cinquenta por cento dos pacientes com TDAH têm uma comorbidade. Em alguns casos, a medicação estimulante piora essas comorbidades ou faz com que elas se tornem clinicamente aparentes. Se você notar que você ou seu filho se tornem mais ansiosos ou com medo, infelizes ou enraivecidos com os estimulantes, mas que os sintomas somem quando você está sem a medicação, fale com seu médico.

É essencial que os problemas de regulação emocional sejam tratados prontamente. Um médico geralmente receitará um inibidor seletivo da recaptação de serotonina (SSRI) para tratar esses transtornos. Então a medicação estimulante poderá ser reintroduzida sem causar dificuldades. A medicação poderá ser necessária para tratar o transtorno de tiques, também.

Problemas com a educação dos filhos. Seu filho resiste ou se recusa a tomar a medicação. Eduque seu filho sobre a medicação que ele está tomando. Não conte a ele que é um comprimido de vitamina. Você terá muita dificuldade de reconquistar a confiança dele mais tarde, quando ele descobrir a verdade. Explique o que é o TDAH e como ele afeta sua vida. Conte a ele como a medicação diminui os sintomas do TDAH. Explique que ele pode sentir efeitos colaterais, mas que eles serão controlados pelo médico e por você. Seu filho será mais cooperativo se ele participar do processo de tratamento.

Desacordo entre marido e mulher quanto à medicação do TDAH. No caso de uma criança com TDAH, se um dos progenitores achar de maneira muito segura que ela não deveria tomar a medicação, e dizer isso para a criança, poderão ocorrer sérios problemas. Se a criança tiver visões conflitantes sobre os benefícios da medicação, ela poderá parar de tomar ou questionar o por quê dela ter de tomá-la. Se você é um adulto com TDAH e seu companheiro/a não acreditar que você precise de medicação, isso poderá criar uma tensão em seu relacionamento ou causar dificuldades em outras áreas da sua vida. Marque um encontro com seu médico para discutir o diagnóstico do TDAH e o valor da medicação, junto com seu cônjuge.


domingo, 8 de janeiro de 2017

TDAH - O tratamento do seu filho é do tipo “pacote completo”? - 431

O tratamento do seu filho é do tipo “pacote completo”?

A medicação trata somente as deficiências neuroquímicas do deficit de atenção. Precisamos tratar, também, os problemas psicológicos e sociais. Por Larry Silver, M.D.

Fiz meu treinamento em Psiquiatria Geral, seguido por treinamento em Psiquiatria da Criança e do Adolescente, na metade dos anos sessentas. Minha especialidade médica era uma subespecialidade relativamente nova da Psiquiatria. Naquela época, a teoria para a compreensão e o tratamento de crianças era centrado na teoria psicanalítica e na psicoterapia psicoanaliticamente orientada. Todo meu treinamento e supervisão clínica foi baseado nesse modelo. Eu era fascinado pela psicologia da mente. Mas eu era igualmente interessado na compreensão do funcionamento cerebral e nas relações entre o cérebro e a mente.

Com a permissão do diretor do meu programa de treinamento, atendia discussões de casos para residentes em outra nova subespecialidade médica, Neurologia da Infância. Um dos casos era de um menino com algo chamado de “Reação Hipercinética da Infância”. Isso, agora, é chamado de Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade, ou TDAH. A criança era hiperativa e ia muito mal nos estudos. Foi medicado com dextro-anfetamina e seus sintomas melhoraram.

Eu lidava com uma criança que tinha sintomas semelhantes na terapia. Ela tinha todas as características da Reação Hipercinética da Infância. Discuti minha ideia de tentar a medicação. Meu supervisor não ficou contente com a minha ideia de tentar usar medicação em vez de psicoterapia, e encorajou-me a me concentrar na “psicodinâmica do caso”. Eu estava frustrado com a falta de progresso do caso e, então, assumi o risco de me meter em problemas. Em colaboração com o pediatra do meu paciente, providenciei para que ele começasse a tomar a medicação (dextroanfetamina). Os pais, os professores e o próprio paciente notaram uma dramática melhora. Ele se tornou capaz de ficar sentado durante as aulas e de se concentrar em seu trabalho. Seus comportamentos disruptivos cessaram. Eu não podia dizer ao meu supervisor que tinha ignorado suas ordens e providenciado o uso de medicação. Então, tive de exaltar como a psicoterapia e a orientação dos pais tinha resultado na melhora dos sintomas. Meu supervisor elogiou meu trabalho.

Como as coisas mudaram

A Psiquiatria da Infância e da Adolescência evoluiu muito desde então. Usamos um modelo biopsicossocial que leva em conta o funcionamento cerebral, assim como o funcionamento psicológico e social – tudo no contexto da vida da criança na família, na escola e com os colegas. As pesquisas com crianças TDAH nos ensinaram sobre as relações entre o funcionamento cerebral ou sua disfunção e os comportamentos clínicos observados.

Muitos acreditam que o TDAH foi o primeiro transtorno em que se demonstrou ser o resultado de uma produção deficiente de um neurotransmissor específico em áreas cerebrais específicas. A descoberta de que um grupo de medicações - chamadas de “estimulantes” porque estimulam células nervosas específicas a produzir mais desse neurotransmissor deficiente – causava uma diminuição ou interrompia a hiperatividade, a desatenção e a impulsividade, abriu o campo da psicofarmacologia da infância.

Atualmente, sabemos que outros transtornos são o resultado de uma deficiência de neurotransmissores específicos em áreas cerebrais específicas. (Até agora, não encontramos um transtorno que pareça ser o resultado de uma produção excessiva de um neurotransmissor específico em áreas específicas do cérebro.) Para cada um desses transtornos, temos medicações que aumenta a produção do neurotransmissor, levando à melhora. Foram as pesquisas com o TDAH que expandiram nosso conhecimento da neurociência e do tratamento de transtornos com base neurológica.

Lições Aprendidas

Deixem-me voltar à minha história. Depois dos meus anos de treinamento, liguei-me à faculdade de um centro médico universitário. Doze anos mais tarde, mudei-me para o National Institute of Mental Health (Instituo Nacional de Saúde Mental). Depois, voltei ao centro médico universitário. Nesses mais de 40 anos, minhas principais áreas de pesquisa, trabalhos clínicos escritos e atividade clínica focalizaram o TDAH e as Dificuldades de Aprendizagem. Durante esses anos, o pêndulo gradualmente balançou dos modelos psicológicos para os modelos biológicos, para o entendimento do comportamento normal e da psicopatologia. Atualmente o pêndulo mudou para o centro, com igual atenção nas disfunções cerebrais e nos desafios psicológicos e sociais.

Hoje, sabemos que uma deficiência de um neurotransmissor específico em áreas específicas do cérebro explica as dificuldades encontradas em uma criança ou em um adulto com TDAH. Sabemos que certos medicamentos corrigem a deficiência do neurotransmissor, resultando na redução ou eliminação dessas dificuldades. Aprendemos, também, que a medicação isoladamente não é o suficiente. Uma pessoa diagnosticada com TDAH vive em uma família e deve funcionar no mundo real, com todas suas expectativas e cobranças. Não podemos tratar somente a deficiência neuroquímica.

Ainda há médicos, incluindo alguns psiquiatras da infância e da adolescência, que parecem ter pendido para um lado do arco. Seu foco é muito centrado na medicação e pouco na exploração dos possíveis problemas psicossociais e familiares.

Deixem-me dar um exemplo. Um pai leva seu filho a um médico de família. O pai diz: “O professor dele diz que ele não consegue ficar sentado quieto e que não presta atenção na aula. Em casa, vejo a mesma coisa.” O médico ouve hiperatividade e desatenção, conclui que é TDAH e escreve uma receita de um estimulante. No que o médico possivelmente falhou? A inquietação e a desatenção podem ser o resultado de dificuldades acadêmicas, possivelmente devidas a uma Dificuldade de Aprendizagem. Ou as dificuldades podem refletir estresses na família por causa de problemas entre os pais. A hiperatividade poderia ser o resultado da ansiedade, não de TDAH.

Médicos e pais devem lembrar-se de que nem todos os indivíduos que são hiperativos, desatentos e/ou impulsivos têm TDAH. Os comportamentos vistos em crianças, adolescentes ou adultos que têm TDAH também podem ser vistos em indivíduos com outros transtornos – depressão, ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo, para citar alguns. Também é possível que tais comportamentos sejam o resultado da frustração de um aluno na escola por causa de Dificuldades de Aprendizagem, outro transtorno de origem no cérebro.

Dicas para todos nós

É importante determinar se os comportamentos são neurologicamente baseados ou psicologicamente baseados. Temos guias clínicos em nosso DSM-V (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) para ajudar a distinguir entre os dois. Se a inquietação, desatenção, dificuldades de organização ou impulsividade começam em uma ceerta época ou ocorrem somente em certas situações, provavelmente será um problema psicológico. Se os comportamentos são crônicos ( ou se foram notados desde a infância) e pervasivos (ocorrem em casa, na escola, no trabalho, e com os colegas), provavelmente será um problema cerebral, tal como o TDAH.

Para seu médico fazer um diagnóstico de TDAH, ele deve demonstrar que os comportamentos observados são o resultado de problemas com base cerebral, não psicológicos, familiares ou estresses sociais. Como isso é feito?
1- Documente quais comportamentos o adulto ou a criança tem.
2- Mostre que esses comportamentos são crônicos.
3- Mostre que esses comportamentos são pervasivos.

Se os comportamentos identificados começaram em certa época da vida ou se ocorrem em somente algumas circunstâncias, o TDAH não deve ser considerado.

Foram 40 anos maravilhosos para mim, ser parte da transição de um modelo psicológico para a compreensão do comportamento para um modelo que envolve fatores biológicos, psicológicos e sociais. Em grande parte, o estudo do TDAH abriu o caminho.


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