sexta-feira, 20 de julho de 2012

222- O "Mito" do TDAH: Como entender o que você ouve por aí


Esclarecimento sobre o TDAH  - Prof. Dr. Paulo Matos


As dúvidas movem a ciência e permitem o progresso, porque impulsionam os cientistas a tentar esclarecê-las. Dúvidas, portanto, representam algo inestimável e imprescindível para todas as áreas da ciência; para a medicina não é diferente. Existe atualmente um grande número de questões não esclarecidas sobre diferentes aspectos de muitas doenças; são estas dúvidas que estão ocupando os cientistas do mundo inteiro neste exato momento e vão ocupá-los por toda sua vida profissional.

E o que fazem os cientistas? Eles fazem pesquisas com critérios rigorosos para testar suas hipóteses. Para isto, devem submeter seu projeto a um comitê de ética e ter cada etapa de seu trabalho avaliada e aprovada antes mesmo de começar. Quando a pesquisa termina, os cientistas publicam os resultados em revistas especializadas, para que os conhecimentos não apenas sejam conhecidos por todos os demais cientistas, como também para que outros possam verificar os resultados e tentar reproduzi-los para confirmá-los ou rejeitá-los. A isto chama-se de método científico e é a única maneira de se controlar os conhecimentos gerados por pesquisas.

Um cientista mal intencionado publicou resultados fraudulentos? A única forma será verificar os resultados de sua pesquisa (eles são obrigatoriamente armazenados durante muitos anos). Outro tirou conclusões erradas a partir dos resultados de sua pesquisa? Basta verificar a metodologia, conferir os resultados e ver se há outras conclusões possíveis. Alguém recebeu verba de um patrocinador que potencialmente influenciou a análise dos resultados? Informações sobre verbas são obrigatórias e caso haja uma infração, nenhuma revista científica publicará mais artigos deste pesquisador. Existiu alguma fraude com os dados? É possível saber verificando os materiais originais da pesquisa e os relatórios publicados; várias revistas publicam imediatamente editoriais quando descobrem algum tipo de erro ou fraude.

Portanto, somente o método científico nos dá a segurança de que uma determinada informação é segura, porque deste modo ela pode ser analisada, verificada, confirmada ou abandonada. Para isso existem as revistas científicas especializadas que só publicam pesquisas que respeitaram o método científico e que foram previamente avaliadas por um grupo de pesquisadores imparciais e com experiência. Quando ocorrem erros, de qualquer natureza, este é o único modo de eles serem descobertos e corrigidos: através de publicações científicas padronizadas.

Agora, imagine que alguém lhe diga que “determinada doença é causada por isto ou por aquilo” ou ainda que “determinado medicamento causa este ou aquele problema”. Você aceitaria, de bom grado? Sem pedir nenhuma comprovação científica? Sem pedir para ver os artigos científicos publicados em revistas especializadas?

Como você pode saber se algo que um profissional de saúde está dizendo é verdade? Qualquer ideia pode fazer algum sentido e mesmo assim ser falsa; nem toda lógica é verdadeira, obviamente. Muitas vezes, um discurso inflamado, aparentemente bem intencionado, é cheio de conclusões que não tem qualquer fundamento científico e não se baseia em nenhum achado de pesquisa. No Brasil, frequentemente pessoas fazem discursos e até mesmo iniciam campanhas sobre saúde baseadas em suas opiniões pessoais ou suas crenças políticas; ou seja, no que elas “acham”- é o famoso “achismo”.

E quanto ao TDAH? Existem dúvidas sobre inúmeros aspectos específicos do TDAH, assim como existem com relação ao câncer, ao diabetes, ao infarto do miocárdio, ao Parkinson, etc. Mas não existe nenhuma dúvida, no meio científico, quanto a sua existência: o TDAH é um dos transtornos mais bem estudados em toda a medicina e é descrito por médicos há mais de 2 séculos.

Mas por que algumas pessoas insistem em dizer que “TDAH não existe”?

Em primeiro lugar, vamos esclarecer quem reconhece o TDAH como uma doença: a Organização Mundial da Saúde. Além disso, no Brasil, temos a Associação Médica Brasileira, a Associação Brasileira de Psiquiatria, a Academia Brasileira de Neurologia e a Academia Brasileira de Pediatria. Você não acha estranho que alguém conheça “uma verdade” que é ignorada por todas as organizações médicas?

Bem, o modo mais simples e rápido de terminar uma discussão sobre “a existência do TDAH” seria pedir que os indivíduos que negam sua existência forneçam artigos científicos que sustentem sua opinião. Mas eles jamais o farão, porque tais artigos.... não existem! O seu discurso sempre será baseado no “achismo” e sempre dará a impressão de que estão lutando por uma causa justa, para “defender” a população de algum mal terrível. Por outro lado, artigos mostrando que existem bases neurobiológicas e genéticas no TDAH somam mais de 10.000 atualmente (isto mesmo, dez mil, você leu corretamente).

Algumas pessoas, talvez, fiquem na dúvida sobre a existência do TDAH porque “todo mundo tem um pouco”. O que ocorre é que todo mundo tem alguns sintomas de TDAH; este diagnóstico é feito pela quantidade de sintomas e não na base do “tudo ou nada”. Exatamente como no diabetes, na hipertensão arterial, no glaucoma, na osteoporose, etc.: o que dá o diagnóstico é a intensidade ou quantidade.

Existem também indivíduos que acreditam que todo e qualquer problema de comportamento (TDAH nem sempre causa problemas de comportamento, ressalte-se) é causado “pela sociedade”. Geralmente estas pessoas estão fortemente envolvidas com grupos políticos que pregam intervenções do governo na sociedade (também chamada de “engenharia social”, muito comum nos regimes ditatoriais comunistas). Tais movimentos remontam à ideia comprovadamente equivocada de que os homens nascem invariavelmente bons e puros e é a sociedade que os corrompe. Estas ideias, que datam do século XVIII, não sobreviveram aos achados da genética e das neurociências, que não existiam naquela época.

Outros, ainda acreditam que todo e qualquer problema psíquico é causado por fatores psicológicos, apesar da farta literatura científica sobre as bases neurobiológicas e genéticas do TDAH. Desnecessário dizer que geralmente tais indivíduos ganham a vida fazendo tratamento psicológico para as doenças; raramente, entretanto, falam sobre o seu próprio conflito de interesses.

Por fim, ainda há aqueles que tomam conhecimento de diagnósticos errados de TDAH, de prescrições equivocadas de medicamentos, de automedicação para fins recreativos ou para aumento do desempenho em provas e passam então a dizer que “o diagnóstico é falho” ou “o tratamento é similar ao uso de uma droga”. Não é difícil enxergar que a existência destes erros em nada comprometem nem o diagnóstico nem o tratamento do TDAH. Pense nos antibióticos: eles são muito prescritos de modo errado. Usam-se antibióticos, por exemplo, para infecções de garganta com muita frequência, um uso sabidamente equivocado (elas são causadas na maioria das vezes por vírus, que não são combatidos com antibióticos). Nem por isso deve-se abolir os antibióticos, que curam e salvam vidas quando usados corretamente. O mesmo exemplo ainda serve para aqueles indivíduos que dizem que “os medicamentos para TDAH são inespecíficos e agem em qualquer pessoa”: de fato, os antibióticos matam as bactérias em qualquer um, mas só curam aqueles que estão com pneumonia.

TDAH não é um mito. Muito daquilo que se fala contrariamente ao seu diagnóstico e tratamento são simplesmente “achismos”, crenças sem fundamento objetivo ou científico; ou seja, são mitos. E mitos, definitivamente, não são algo em que você deva confiar quando se trata de sua saúde ou da saúde de seus filhos.

Paulo Matos
Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Mestre e Doutor em Psiquiatria e Saúde Mental
Pós-doutor em Bioquímica
Presidente do Conselho Científico da ABDA

quarta-feira, 18 de julho de 2012

221- TDAH - Quando você decide que é hora de terminar o casamento?


Quando você decide que é hora de terminar o casamento?
JustwannagiveupCouples With One ADHD Partner30 Comments
Olá, sou nova aqui. Hubby e eu estamos casados há 8 anos, juntos há 10 anos e temos dois filhos, de 4 e de 1 ano. Ele é o esposo com TDAH e eu não. Antes de termos os filhos, ele era definitivamente TDAH, mas não tão ruim como agora. Ele toma seu remédio durante a semana (90 mg de Adderal XR) para ajudá-lo a prestar atenção no trabalho, mas não gosta de tomá-lo nos fins de semana, para dar uma pausa livre de remédios para seu organismo. Mas eu sinto que parece que ele sofre como se fossem os sintomas de abstinência, por causa disso. Ele se torna maníaco, especialmente junto da família. Ele também fica um pouco assim perto dos amigos mas não tanto quanto perto da minha família e da dele. Acho que o que me incomoda tanto agora é que ele está ensinando ao nosso filho que está tudo bem em ficar amolando as pessoas até que elas gritem com você. Entretanto, durante a semanas, quando ele está usando os remédios, ele fica constantemente dizendo ao filho para não amolar sua irmã. Totalmente dois pesos e duas medidas e muito hipócrita. Tentei falar disso com ele na noite passada, sobre como ele se comportou mal no último final de semana, mas ele parecia que não entendia. Não sei como falar com ele porque se eu começo ele parece desligar ou não me dar atenção. Ele tente ser o centro da atenção até o ponto de gritar com as pessoas e interromper as conversas, e se comporta maldosamente comigo quando não está usando a medicação. Sinto como se o Adderal estivesse piorando o TDAH, especialmente quando ele está sem o remédio. Não quero que meus filhos cresçam pensando que seja legal ser um imbecil com as pessoas. E é exatamente isso que ele está ensinando ao nosso filho. Minha pergunta é, como eu posso ajudá-lo a controlar isso? Eu tento e dou a ele artigos para ler, livros etc., e ele não consegue prestar atenção o suficiente para os ler... ele lê o mesmo parágrafo várias vezes e não consegue aprender nada. Então, conversar não adianta, ler não adianta. Eu deveria dizer a ele que gostaria de conversar com seu médico, juntos, para ver se conseguimos descobrir outro modo de tratamento? Quando você decide que já fez tudo o que podia e desiste? Não quero isso, porque ele ainda seria uma influência sobre nossos filhos se eu o deixasse, mas, do jeito que as coisa andam atualmente, eu me sinto totalmente frustrada e o pai deles é um mal exemplo para eles. E eu não tenho nenhum apoio financeiro para cuidar deles. Poderia morar com minha família por algum tempo, e eles me sustentariam por algum período, mas eu não tenho educação universitária e nenhuma experiência de trabalho. Teria de começar do zero. É aterrorizante. Eu gostaria que ele assumisse comigo os compromissos e que lidasse com seu problema, em vez de usá-lo como uma muleta. Ele ficou verdadeiramente insuportável no último final de semana.

terça-feira, 17 de julho de 2012

220- Carta de Esclarecimento à Sociedade sobre o TDAH, seu diagnóstico e tratamento.

Brasília, 13 de Julho de 2012

Recentemente, uma série de matérias sobre o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) tem sido veiculada pela mídia jornalística não especializada. Em boa parte dessas matérias, profissionais apresentados como especialistas em saúde e educação (embora seus currículos informem não terem publicações científicas sobre o assunto) transmitem opiniões pessoais como se fossem informações científicas. Pior, suas opiniões não refletem os conhecimentos atuais sobre o transtorno, que é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde e sobre o qual constam centenas de publicações em bancos de dados (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/) descrevendo claramente as graves consequências nas esferas acadêmica, familiar, social e profissional. Tais opiniões equivocadas são nocivas para pacientes, familiares e para a população como um todo.
A afirmação de que o TDAH “não existe”, de que os medicamentos aprovados pela ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária para o tratamento desse transtorno são “perigosos” e tornam as crianças “obedientes” é, na melhor das hipóteses, expressão pública de ignorância em relação ao tema, investigado cientificamente de modo extenso por pesquisadores de todo o mundo, muitos deles brasileiros. Na pior das hipóteses, configura crime porque veicula informações erradas sobre tema de saúde pública. Incontáveis Associações Médicas ao redor do mundo já se posicionaram não deixando dúvidas sobre a validade do TDAH (vide posicionamento da Associação Médica Americana em Referências no final do texto).
Tais matérias induzem os leitores à falsa conclusão que há dúvidas não apenas quanto à existência do TDAH, como sobre os benefícios do tratamento medicamentoso. Obviamente, tais textos jamais citam qualquer artigo científico, nenhum dado de pesquisa, demonstrando os tais efeitos “perigosos” ou graves. E, numa prova incontestável da natureza parcial e enganosa, em desrespeito aos princípios básicos do jornalismo, deixam de citar centenas de artigos científicos que documentam fartamente os benefícios, a eficácia e a segurança dos medicamentos usados no tratamento do TDAH. Recentemente, um grande estudo publicado no mais importante jornal Inglês de Psiquiatria documentou que o metilfenidato é a medicação mais eficaz em Psiquiatria e uma das mais eficazes em toda a Medicina (vide em Referências no final do texto).
Os sintomas que caracterizam o TDAH não são comportamentos infantis comuns, meras variações da normalidade, que médicos, pais e professores querem “controlar”. Seria o mesmo que dizer que diabete é um mero aumento de açúcar no sangue, uma simples variação do normal observado na população. Noventa e cinco por cento das crianças e adolescentes não tem a intensidade e gravidade de sintomas que os portadores de TDAH, do mesmo modo que 90% dos adultos não têm níveis elevados de açúcar. Diagnósticos são frequentemente estabelecidos pela intensidade e gravidade. A lista é grande: hipertensão arterial, glaucoma, osteoporose, hipertireoidismo, etc. Todos eles, à semelhança do que ocorre no TDAH, cursam com graves consequências para o indivíduo. Proposições do tipo “quem não esquece alguma coisa de vez em quando?” ou “quem não responde impulsivamente de vez em quando?” são, além de superficiais, irrelevantes: todos os sintomas do TDAH ocorrem em frequência e intensidade não observada em indivíduos normais.
O diagnóstico do TDAH é realizado através de entrevista clínica e há extensa literatura científica sobre a fidedignidade deste procedimento. A sugestão de que a ausência de exames complementares tornaria o diagnóstico “frágil” novamente reflete inacreditável desconhecimento de saúde mental: também não há exames para os diagnósticos de Depressão, Autismo, Transtorno do Pânico, Esquizofrenia, Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Transtorno Bipolar, etc.
A comunidade científica Brasileira, aqui representada por mais de 20 associações e grupos de pesquisa, reitera que o TDAH pode ser diagnosticado de modo fidedigno e seu tratamento, se bem conduzido, tem grandes chances de diminuir os prejuízos que esses indivíduos apresentam ao longo da vida. Embora tratamentos não farmacológicos possam auxiliar bastante no manejo terapêutico do TDAH, todos os artigos científicos disponíveis indicam que o tratamento farmacológico é a primeira escolha para a maioria dos portadores.
Fornecer informações equivocadas e ocultar dados científicos bem documentados é dificultar ou retardar o acesso da população ao diagnóstico ou a tratamento, é a expressão de uma das mais perversas formas de discriminação social: a Psicofobia.

Referências

1. Diagnosis and Treatment of Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder in Children and Adolescents. Larry S. Goldman, MD; Myron Genel, MD; Rebecca J. Bezman, MD; Priscilla J. Slanetz, MD, MPH; for the Council on Scientific Affairs, American Medical Association - JAMA. 1998;279(14):1100-1107

2. Putting the efficacy and general medicine medication into perspective: review of meta- analysis. Stefan Leucht, Sandra Hierl, Werner Kissling, Markus Dold and John M. Davis. British Journal of Psychiatry, 2012, 200:97-106

Entidades signatárias
1 - Associação Brasileira de Psiquiatria
2 - Associação Brasileira do Déficit de Atenção
3 – Sociedade Brasileira de Pediatria
4 – Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil
5 – Associação Brasileira de Neurologia, Psiquiatria Infantil e profissões afins
6 – Academia Brasileira de Neurologia
7 – Sociedade Brasileira de Neuropsicologia
8 – Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul
9 – Sociedade Interdisciplinar de Neurociência Aplicada à Saúde e Educação
10 – Associação Brasileira de Dislexia
11 – Ambulatório dos Estudos de Aprendizagem do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Neurologia e Pediatria)
12 – DISAPRE – Laboratório de Pesquisa em Distúrbios da Aprendizagem e da Atenção – Faculdade de Ciências Médicas - Universidade de Campinas
13 – Laboratório de Investigações Neuropsicológicas – Universidade Federal de Minas Gerais
14 – Laboratório de Neuropsicologia do Desenvolvimento – Universidade Federal de Minas Gerais
15 - Unidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência (UPIA) da Universidade Federal do Estado de São Paulo (UNIFESP-EPM)
16 – Centro de Referência para Criança com TDAH Instituto de Pediatria e Puericultura Martagão Gesteira – Universidade Federal do Rio de Janeiro
17 – Ambulatório de Neuropsicologia Pediátrica do Serviço de Neurologia do Complexo Hospitalar Professor Edgar Santos da Universidade Federal da Bahia
18 – Ambulatório de Distúrbio de Aprendizagem da Santa Casa da Misericórdia de São Paulo
19 – GEDA - Grupo de Estudos e Pesquisa do Déficit de Atenção da Universidade Federal do Rio de Janeiro
20 – NANI – Núcleo de Atendimento Neuropsicólogo Infantil – Universidade Federal do Estado de São Paulo
21 - Comunidade Aprender Criança – Instituto Glia
22 – Núcleo de Investigações da Impulsividade e da Atenção da Universidade Federal de Minas Gerais
23 – Centro de Orientação Escolar - Hospital da Criança Santo Antonio da Santa Casa de Porto Alegre
24 – Laboratório de Clínica Cognitiva do Instituto de Psicologia da Universidade Federal da Bahia
25 - Programa de Déficit de Atenção/ Hiperatividade do Hospital de Clinicas de Porto Alegre da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
26 – Serviço de Psiquiatria Infantil da Santa Casa do Rio de Janeiro
27 - Grupo de Pesquisa em Neurodesenvolvimento, escolaridade e aprendizagem – CNPq
28 - Ambulatório de Déficit de Atenção (AMBDA) da Universidade Federal de Minas Gerais
29 – Instituto ABCD

sexta-feira, 6 de julho de 2012

219- Tenha coragem de perdoar seu esposo com TDA



Ter um companheiro com TDA não é fácil, mas perdoar - e planejar para prevenir os problemas - é um passo na direção certa. O especialista Dr. Ned Hallowell oferece conselhos de relacionamento.

Se você está casado com alguém com o déficit de atenção (TDA/TDAH), você provavelmente se terá perguntado quantas vezes terá de perdoá-lo. TDA não é fácil - para os que o têm ou para os que vivem com quem tem! Por isso que todos os casamentos TDAH podem se beneficiar de algum aconselhamento sobre o relacionamento.

Nós, que temos TDA (eu, inclusive), geralmente não aprendemos com nossos erros. Nós os repetimos seguidamente. Se a pergunta for "Quantas vezes tenho de lhe dizer?", a resposta pode ser "Centenas, no mínimo!" Isso significa que merecemos um salvo-conduto? É claro que não. O TDAH não é uma desculpa para a irresponsabilidade. É uma explicação para o comportamento, e um sinal de que a pessoa precisa aprender a assumir responsabilidades de maneira mais efetiva.

Mesmo os tratamentos mais perfeitos para o TDAH não produzem resultados perfeitos. Peça ao seu esposo TDAH para levar o lixo para fora. Ele concorda e passa pelo cesto de lixo distraído com uma nova idéia que o invadiu.

Você pede ao seu esposo que ele a elogie de vez em quando, porque acha difícil lembrá-lo de que você necessita da atenção dele. Sem jeito e envergonhado ele se desculpa e decide prestar mais e melhor atenção em você. Você sabe que ele realmente sente o que diz. Mas, ele cumpre o prometido? Não. Você pede ao seu esposo TDA para que pare de fazer compras por impulso no cartão de crédito. Novamente, algo constrangido, ele concorda. Ele não quer aumentar a dívida mais do que você. Mas, no dia seguinte, ele vê uma coisa à qual não resiste e, bingo!, um novo item foi acrescentado à conta.

O que você pode fazer? Esquecer? Divorciar-se dele? Bater na cabeça dele com um porrete?

Acabo de escrever um livro chamado "Dare to Forgive" (Tenha coragem de perdoar). Uma das afirmações que faço no livro é que o perdão não é licença para repetir o mesmo erro em seguida. Então, se você perdoa seu esposo - e eu espero que sim - você também deve estabelecer um plano para que o mesmo problema não apareça repetidamente. Se o plano não funcionar, reveja-o e tente novamente. Revisar planos é tudo o que é a vida.

Entenda que esses problemas não indicam uma desconsideração consciente de você ou da responsabilidade, mas  realmente uma desconsideração involuntária, intermitente, sobre todas as coisas. Essa é a natureza diabólica do TDAH. Tenha isso em mente (e as boas qualidades dele) quando você tiver vontade de estrangulá-lo. Enquanto ele quiser continuar a viver com você - e pode ser como um profissional, também - pode ser feito algum progresso. Vitória total? Cura completa? Não. Mas, progresso.

Conforme você notar que ele se esforça para ter um melhor comportamento, tenha compaixão. Construa o pensamento positivo e o faça crescer. Mantenha seu senso de humor. Fique em contato com outras pessoas que podem ajudar. E lembre-se de que sob a casca do TDA bate um coração e há uma mente cheia de calor, criatividade, jovialidade, e imprevisibilidade. Quase sempre há algo de bom que supera o ruim.

Até mesmo o suficiente para tornar um casamento feliz e uma vida agradável.

Este artigo foi publicado no número de abril/maio de 2004 de ADDitude

segunda-feira, 2 de julho de 2012

218- A Impulsividade do TDAH: Ajude as crianças a pensar antes de dizer ou fazer algo de que se arrependerão.



Pais de crianças com TDA/TDAH oferecem sugestões para ajudar seu filho a evitar e a controlar a fala e as atitudes impulsivas. Pelos Editores de ADDitude.

ADDitude perguntou: Como você controla a impulsividade do seu filho com TDAH para que ele não diga ou faça algo de que se arrependerá?
É um grande desafio, mas muitos de vocês tentarão conseguir isso com suas próprias estratégias inovadoras.

“Eu o encaro, olho nos olhos dele, ponho minhas mãos em seus ombros e converso com ele sobre as consequências de suas ações”. – Adrienne, Flórida

“Digo ao meu filho para que fique quieto por dois minutos e que respire fundo comigo. Esta pausa permite que ele reavalie a situação. Isto geralmente o acalma e permite que ele adote uma atitude diferente”. – Helen, Arizona

“Tenho uma conversa franca com meus filhos e explico que toda ação tem consequências, e que eles podem escolher as ações que levam a consequências positivas”. – Christine, Massachusetts

“Pedimos ao nosso filho que tente ouvir, em sua mente, o que ele quer falar alto. Se ele ficar inseguro sobre o que deveria dizer, ele não deve dizer. Também dizemos a ele que, se não for algo que ele diria ou faria na frente de Deus ou de sua avó, ele não deve dizer ou fazer”. – Karen, Wisconsin

“Eu ergo minha mão, como se fosse um sinal de pare. É um aviso para parar e pensar – para nós dois”. – Brenda, California

“Eu digo, ´Parem, parem já, olhem para mim e escutem. Falo deliberadamente, usando os seus nomes completos. Então, eles sabem que é importante”. – Cassie, Connecticut

“Meus filhos sabem que, quando eu assumo certa postura, é melhor que eles parem e reavaliem o que estão fazendo ou dizendo. Tenho de me lembrar de fazer isso a cada dia”. – Brandi, California

“Não controlo. Quem tem TDA/TDAH aprende com a dor que suas palavras ou ações provocam. Só demora mais tempo para que eles aprendam”. – Frank, California

“Geralmente digo ´Não faça isso!´ Mas se fizer, então ele perde um ou dois privilégios”. – Jodi, Texas

“Tento prever quais as situações que ela pode enfrentar e a previno. Se não for assim, geralmente não dá tempo de evitar”. – Cecilia, Minnesota

“Uso empatia. Digo ´Lembre como você se sentiu quando...´”. – Dee, Maine

“Cada vez que ele grita ou fica bravo comigo, eu lembro a ele, no auge da situação, que em uma ou duas horas ele vai se sentir mal por causa do que disse ou fez. Estou fazendo assim já há algum tempo e parece que está começando a funcionar”. – Tammy, British Columbia, Canada

“Às vezes, pergunto a ele ´Vale a pena?´ e isto faz a mágica”. – C., Kansas

“Se eu soubesse a resposta, eu a engarrafava e vendia – e faria uma fortuna!” – Debbie, New York

Este artigo apareceu no número de verão de 2011 de ADDitude.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

217- Ter menos idade ao entrar na escola aumenta a chance de ter o diagnóstico de TDAH - Continuação da 215 e 216


Resumo e considerações

Os resultados de três estudos independentes, que empregaram amostras grandes e representativas, indicam que as crianças que são mais jovens para o ano escolar são significativamente mais propensas do que suss colegas a serem diagnosticadas com TDAH e a serem tratadas com medicação estimulante. Com base em análise adicional conduzida em um desses estudos, o efeito relativo à idade é primariamente relacionado à percepção dos professores e não se estende a outras dificuldades de aprendizagem. Entretanto, esses dois últimos tópicos foram examinados em somente um dos três estudos, e, por isso, precisam ser replicados.

Por que ser mais jovem para o ano escolar aumenta as chances de uma criança ser diagnosticada com TDAH? Uma explicação plausível é que focalizar a atenção e controlar o comportamento são habilidades que se desenvolvem com o tempo. Na entrada para a escola, ser até 12 meses mais jovem que os colegas representa uma porção substancial da idade total de uma criança, e essas capacidades tiveram menos tempo para se desenvolver. Como resultado, crianças relativamente mais jovens serão em geral menos capazes do que suas colegas de classe para regular sua atenção e seu comportamento, e mais provavelmente serão identificadas pelos professores como portadoras de dificuldades nesses itens. Então, elas serão encaminhadas para avaliação e diagnóstico de TDAH em taxas mais elevadas.

É importante notar que nenhum dos pesquisadores sugeriu que seus dados originassem questões sobre a validade do TDAH como um transtorno “real”, com fundamentos neurobiológicos. Em minha opinião, usar esses achados para questionar a validade da condição seria altamente problemático.

Em vez disso, esses achados sugerem que muitas crianças que são jovens para o ano são diagnosticadas não porque têm o transtorno mas porque são do ponto de vista do desenvolvimento menos avançadas do que a maioria das suas colegas. Pelo mesmo motivo, crianças que são relativamente mais velhas para o ano escolar podem ser menos diagnosticadas porque sua desatenção e hiperatividade não parecem excessivas em relação às suas colegas mais jovens. Ambos os resultados são potencialmente perigosos e falam sobre as complexidades envolvidas em diagnosticar o TDAH, mas não sobre a validade do TDAH como um transtorno legítimo.

Os resultados desses estudos acentuam a importância das avaliações diagnósticas cuidadosas e acuradas. Esses estudos trazem uma contribuição importante para o campo por meio do aumento da consciência do risco de receber um diagnóstico de TDAH. Embora não haja nenhuma maneira fácil de corrigir este fator complicador, há vários passos a serem adotados que podem ser úteis.

Em primeiro lugar, os clínicos que avaliam crianças pequenas deveriam ser extremamente cuidadosos quando estas crianças também forem relativamente jovens para o ano escolar. Para crianças nascidas perto da data de corte para entrada na escola, consideração especial deve ser dada para a idade relativa, que pode ser um importante fator no comportamento escolar da criança.

Em segundo lugar, deve ser bom estreitar as faixas de idade usadas em muitas escalas de comportamento amplamente utilizadas. Os resultados desses estudos sugerem que há diferenças normativas significantes nos sintomas de desatenção e de hiperatividade entre as crianças nascidas durante meses diferentes do mesmo ano, para não citar de anos diferentes. O que é “normal” para uma criança de 6 anos e 1 mês difere do que é típico para uma criança de 6 anos e 11 meses de idade.

Entretanto, as escalas de comportamento geralmente têm categorias de idade que abarcam vários anos. Assim, em vez de comparar se os comportamentos de desatenção que um professor encontra em uma criança de 6 anos são excessivos em relação a outra criança de 6 anos, a nota da criança será determinada em relação ao “grupo normativo”, que inclui crianças que são vários anos mais velhas. Como resultado, crianças na ponta inferior da faixa de idade podem ser mais propensas a receberem notas altas na escala de sintomas do TDAH do que crianças na ponta superior da faixa de idade. Isto é muito diferente de como o QI padronizado e os testes de desempenho são construídos, nos quais as notas são calculadas em relação a grupos de idade que abrangem somente alguns meses.

Em terceiro lugar, esses achados evidenciam o valor dos esforços correntes para desenvolver medidas objetivas confiáveis do TDAH, que não sejam afetadas pelos efeitos relacionados à idade. Com foi discutido em um número anterior de Attention Research Update,  o Quantitative EEG (qEEG), pode ser muito útil nesse sentido – veja www.helpforadd.com/2008/november.htm

Finalmente, a associação entre idade relativa e risco de diagnóstico evidencia a importância de se reavaliar sistematicamente as crianças a cada ano. Conforme as crianças se desenvolvem, a importância da idade relativa sobre a capacidade de regular a atenção e o comportamento provavelmente diminui. Por exemplo, é de se esperar menor diferença na capacidade de manter a atenção entre adolescentes de 15 anos mais jovens e os de 15 anos mais velhos, quando comparados a crianças de 6 anos mais jovens e de 6 anos mais velhas. Assim, se uma criança foi diagnosticada incorretamente com TDAH porque ela era relativamente mais jovem no ano de entrada na escola, e portanto menos capaz do que seus colegas de controlar a atenção e o comportamento, as reavaliações anuais identificarão isto conforme a criança passar para os anos seguintes.

Eu (Dr. David Rabiner) o convido a aprender mais sobre este novo modo de abordagem, que tem obtido crescente suporte na pesquisa, ao visitar www.helpforadd.com/cogmed.htm  e solicitar o pacote de informações para profissionais. Creio que você encontrará a informação do seu interesse.

David Rabiner, Ph.D. – Associate Research Professor – Dept. of Psychology & Neuroscience – Duke University – Durham, NC 27708 - USA

216-Ter menos idade ao entrar na escola aumenta a chance de ter o diagnóstico de TDAH - Continuação da 215


Três estudos recentemente publicados fornecem evidências convincentes de que a idade de uma criança em relação à de seus colegas de classe é um fator importante se ela for diagnosticada com TDAH. Os resultados desses estudos estão resumidos a seguir.

Estudo 1

O primeiro estudo sobre este assunto [Evans, et al. (2010). Avaliação do diagnóstico e tratamento médico errado em dados de revisão: A situação do TDAH entre crianças de idade escolar, Journal of Health Economics, 29, 657-693] utilizou dados do National Health Interview Survey (NHIS), uma avaliação anual de lares nos Estados Unidos que colhe dados a respeito de transtornos, doenças e incapacidades na população civil. A informação recolhida inclui dados sobre o diagnóstico de TDAH na população e sobre o uso de medicação estimulante que tenha sido receitada.

Os autores usaram os dados recolhidos de 1997 a 2006 e somente incluíram crianças de estados com margem ampla de corte para a idade de início escolar quando a criança tivesse cinco anos. Com base neste limite, que variou de estado para estado, eles examinaram as taxas de diagnóstico e de tratamento do TDAH de 37.000 jovens de 7 a 17 anos que nasceram até 120 dias antes (isto é, relativamente jovens para a escola) ou até 120 dias depois (isto é, relativamente velhos para a escola) da data de corte do estado.

Os resultados indicam que 9,7% de crianças jovens para a escola foram diagnosticadas com TDAH comparadas a 7,6% daquelas relativamente velhas para a escola, uma diferença de aproximadamente 27%. As taxas de uso de estimulantes também foram significativamente diferentes, 4,5% contra 4%,

Estudo 2

Um segundo estudo [Elder (2010). A importância dos padrões relativos para o diagnóstico do TDAH:Evidência baseada em datas de nascimento exatas. Journal of Health Economics, 29, 641-656] usou dados de outra grande avaliação nacional – o The Early Childhood Longitudinal Study – para examinar este assunto. Os dados inicialmente incluíram 18.600 estudantes de jardim de infância, de 1.000 programas de jardins de infância dos Estados Unidos, no outono de 1998;  as crianças foram seguidas periodicamente até 2007, quando a maioria estava no oitavo ano. A informação disponível incluiu as notas dos pais e dos professores sobre os sintomas de TDAH das crianças, os diagnósticos e os tratamentos com medicação estimulante; os resultados finais foram baseados em 11.750  crianças.

As taxas de diagnóstico e de tratamento do TDAH foram calculadas para crianças nascidas um mês antes (jovens para a escola) e um mês depois (velhas para a escola) da data de corte do estado, que foi 01 de setembro para alguns estados e 01 de dezembro para outros estados. Para estados com data de corte de 01 de setembro, 10% das crianças nascidas em agosto foram diagnosticadas com TDAH, comparadas com 4,5% das nascidas em setembro. Taxas de uso de medicação estimulante foram de 8,3% contra 2,5%, respectivamente. Para estados com a data de corte em 01 de dezembro, a taxa de diagnóstico para crianças nascidas em novembro foi de 6,8%, mais do que o triplo da taxa de 1,9% para as crianças nascidas em dezembro; as taxas de uso de estimulantes foram de 5,0% e 1,5%  respectivamente.

O autor examinou o impacto da idade relativa em que a criança foi diagnosticada com problemas de aprendizagem diferentes do TDAH, incluindo atrasos do desenvolvimento, autismo, dislexia, transtorno sócio emocional do comportamento, e outras dificuldades de aprendizagem. Para esses outros problemas de aprendizagem nenhum efeito relacionado com a idade foi encontrado.

O autor também demonstrou que a idade de entrar na escola tinha efeito muito mais forte na percepção do professor a respeito dos sintomas de TDAH das crianças do que na percepção dos pais. Ele sugeriu que isto poderia ser porque os professores avaliam o comportamento das crianças em relação a outras crianças da classe e as crianças relativamente mais jovens são menos capazes de controlar sua atenção e seu comportamento. Os pais, em contraste, podem usar padrões mais absolutos desde que estão menos capazes de observar seu filho em relação a uma classe cheia de colegas.

Estudo 3

O último estudo [Morrow et al., (2012). Influence of relative age on diagnosis and treatment of Attention-deficit/hyperactivity Disorder in children. Canadian Medical Association Journal, DOI:10.1503/cmaj.11619] examinou a associação entre idade de início e diagnóstico de TDAH em um estudo sobre 935.000 jovens da British Columbia, que tinha entre 6 e 12 anos de idade em qualquer época entre dezembro de 1997 e novembro de 2008. Assim, o valor deste estudo é que a amostra vem de um país diferente e de um sistema de saúde inteiramente diferente do sistema dos Estados Unidos.

O corte de entrada na escola na British Columbia durante este tempo foi 31 de dezembro. Semelhante aos resultados revistos acima, meninos nascidos em dezembro eram 30% mais propensos a ser diagnosticados com TDAH do que meninos nascidos em janeiro; meninas nascidas em dezembro eram 70% mais propensas a serem diagnosticadas com TDAH do que meninas nascidas em janeiro. Meninos eram 41% mais propensos e meninas eram 77% mais propensas a serem tratados com medicação se tivessem nascido em dezembro, comparados com os que tivessem nascido em janeiro.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

215- Ter menos idade ao entrar na escola aumenta a chance de ter o diagnóstico de TDAH


O TDAH é o transtorno neurocomportamental mais comumente diagnosticado nas crianças e evidências substanciais indicam que fatores biológicos têm papel importante em seu desenvolvimento. Por exemplo, embora permaneça desconhecido o mecanismo exato pelo qual os fatores genéticos promovem risco aumentado de TDAH, a importância da transmissão genética foi documentada em vários estudos publicados.

Embora os fatores biológicos sejam amplamente considerados como importantes no desenvolvimento do TDAH, nenhum teste médico ou biológico é recomendado para uso de rotina no diagnóstico do TDAH. Em vez disso, como virtualmente todas as doenças psiquiátricas, o TDAH é definido por uma constelação de sintomas comportamentais que são geralmente relatados pelos pais ou professores de uma criança. Ainda, em quase todos os casos, é a preocupação dos pais ou dos professores sobre a capacidade de uma criança prestar atenção e de controlar seu comportamento que leva a criança a ser avaliada para o TDAH em primeiro lugar.

Embora algumas crianças mostrem comportamento bastante desatento ou hiperativo e impulsivo para serem diagnosticadas como TDAH na idade pré-escolar, geralmente é somente após a criança entrar na escola que as preocupações relacionadas com a atenção e a hiperatividade aparecem. Isto pode ser especialmente verdadeiro para os sintomas de desatenção, conforme as exigências para a atenção sustentada se tornam maiores quando a criança começa a ir à escola. Os professores podem observar como a capacidade de uma criança controlar a atenção e o comportamento se compara com toda a classe – algo que os pais tipicamente não podem fazer – e seu julgamento pode, então, ser de particular influência em como uma criança é avaliada para o TDAH e ser diagnosticada com o transtorno.

Vários fatores podem contribuir para as diferenças na habilidade das crianças em prestar atenção e a controlar seu comportamento quando começam a escola. Um fator certamente é o TDAH, porque as crianças com o transtorno serão observadas pelos professores como mais desatentas e/ou hiperativas. Outro fator – e que é frequentemente esquecido – é a idade da criança em relação à idade dos seus colegas de classe. Este é o assunto investigado nos estudos que estão resumidos abaixo.

O sistema de escolas públicas tem datas específicas em que uma criança precisa ter nascido para começar o jardim de infância. Considere duas crianças em um sistema escolar em que a data de corte seja 31 de dezembro.
José nasceu em 31 de dezembro de 2007 e, assim seria admitido no jardim de infância no outono de 2012 (nos Estados Unidos). Comparado aos demais colegas de classe que nasceram mais cedo, como 01 de janeiro de 2007, ele seria relativamente jovem. Na média, de fato, José seria 6 meses mais jovem que seus colegas.

João nasceu em 01 de janeiro de 2008 e não estaria, então, apto a entrar na escola no outono. Em vez disso, ele teria de esperar até o outono de 2013, antes de começar o jardim de infância. Assim, comparado à maioria de sua classe que teriam nascido mais tarde, até 31 de dezembro de 2008, ele seria relativamente mais velho; na média seria cerca de 6 meses mais velho.

Embora uma diferença de idade de 6 meses dificilmente possa fazer uma diferença na capacidade de prestar atenção, de responder e de controlar o comportamento crianças mais velhas e adolescentes, essa quantia faz uma grande diferença em crianças de 5 a 6 anos de idade. E, diferenças próximas de um ano, que podem existir entre as crianças mais velhas e mais novas em uma classe, poderiam estar associadas com grandes diferenças nestas dimensões (prestar atenção, responder e controlar o comportamento). Isto sugere que crianças relativamente jovens para o primeiro ano no início das aulas serão, na média, menos aptas para controlar sua atenção e seu comportamento do que os seus colegas. Como resultado, crianças jovens para o grau podem mais provavelmente serem vistas pelos professores como tendo dificuldades, que serão relatadas aos pais. Em muitos casos, isto pode levar os pais a fazer uma avaliação de seus filhos para o TDAH e potencialmente aumentar a taxa de diagnóstico e de tratamento do TDAH em crianças jovens para iniciar a escola. Há evidências de que este seja o caso?

(Nota do tradutor: nas próximas postagens veremos as respostas obtidas pelos estudos já realizados – Dr. Menegucci)

sábado, 2 de junho de 2012

214- Novas evidências de que o TDAH pode aumentar a criatividade.



As dificuldades associadas ao TDAH são extensivamente documentadas. De fato, esses estudos representam uma parte substancial da pesquisa publicada sobre o TDAH. Este tipo de trabalho ajuda a aumentar a consciência sobre as dificuldades sofridas por muitos indivíduos com TDAH e evidencia a importância de receber o tratamento correto.

O que foi perdido – ou ao menos ignorado – na maioria das pesquisas sobre o TDAH é a possibilidade de que o TDAH possa também trazer alguns benefícios. Certamente, muitos indivíduos com TDAH tentam progredir e não é incomum ouvir indivíduos discutindo como o TDAH os tem beneficiado. Eu, com certeza, me lembro de vários dos meus clientes contando que “ficar perdido em seus pensamentos”, ter ideias diferentes girando em sua mente quando era esperado que estivessem prestando atenção em uma coisa, e ter sua atenção facilmente dirigida para coisas em sua volta contribuiu para sua criação de muitas ideias interessantes e para juntar as coisas de maneiras interessantes.

Há alguma evidência de que o TDAH pode realmente predispor o indivíduo a se tornar mais criativo? Russel Barkley, um dos mais importantes pesquisadores e especialistas em TDAH, argumentou contra a noção de que o TDAH confere benefícios assim como problemas, dizendo em recente artigo no New York Times que “Não há nenhuma evidência de que o TDAH seja uma ´benção´ ou que traga quaisquer vantagens além das que outras pessoas da população em geral possam ter. As pessoas com TDAH são indivíduos, como qualquer outro, e podem ter sido abençoadas com talentos particulares que estejam em nível mais alto do que o visto em outras pessoas. Mas esses talentos não têm nada a ver com ter TDAH – eles os teriam de qualquer modo.” Entretanto, um estudo publicado no último ano na revista Personality and Individual Differences [White & Shah (2011), Creative style and achievement in adults with Attention-deficit/hyperactivity Disorder. Personality and individual Differences, 50, 673-677.] sugere que isto não é necessariamente verdadeiro e que pessoas com TDAH podem realmente produzir mais trabalho criativo.

Os participantes foram 60 estudantes de faculdade, 30 dos quais tinham sido diagnosticados com TDAH e 30 estudantes para comparação. Tanto homens quanto mulheres estavam representados e sua criatividade foi avaliada por 3 modos diferentes.

Em primeiro lugar, os participantes fizeram o Creativity Achievemente Questionnaire (CAQ), um teste em que os indivíduos relatam sua capacidade criativa em 10 domínios: drama, humor, música, artes visuais, escrita criativa, invenção, descoberta científica, artes culinárias, dança e arquitetura. Um exemplo de um item do CAQ seria “Meu trabalho ganhou um premio no show de arte”. Assim, a avaliação fornece um indicador da verdadeira realização criativa. As notas são obtidas para cada domínio e para o desempenho geral. A pesquisa indica que esta medida fornece uma avaliação confiável e verdadeira das realizações criativas.

Os estudantes também fizeram o FourSight Thinking Profile, uma auto-avaliação do estilo preferido de cada um quando lida com a resolução de problemas no mundo real. Quatro estilos de resolução de problemas foram identificados: 1. Os esclarecedores – os que têm preferência por definir e estruturar o problema a ser resolvido; 2. Os idealizadores – os que preferem criar ideias para a solução do problema em causa; 3. Os desenvolvedores – os que preferem elaborar ou refinar as ideias que foram inicialmente sugeridas; e, 4. Os implementadores – Os que preferem por em ação uma ideia refinada.

Claramente, todos esses aspectos são importantes para a solução criativa de problemas e um estilo não é inerentemente melhor ou pior do que qualquer um dos outros. Os escritores previsivelmente mostrariam maior preferência para serem geradores de ideias, isto é, do tipo idealizadores, enquanto os estudantes mostrariam maior preferências pelos estilos Esclarecedor e Desenvolvedor.

Finalmente, os participantes fizeram o Abbreviated Torrance Test for Adults (ATTA); esta é uma medida padronizada e amplamente utilizada do pensamento criativo divergente. O pensamento divergente ocorre quando geramos muitas ideias possíveis de como resolver um problema particular. Quando nos engajamos no pensamento divergente, múltiplas abordagens para a resolução de um problema são identificadas rapidamente; no processo, conexões inesperadas e criativas entre ideias diferentes podem surgir.

As tarefas no ATTA cuidam das habilidades criativas verbais e não verbais. A seção Verbal examina a habilidade de cada um pensar criativamente com palavras, enquanto os testes Não Verbais avaliam a habilidade individual de pensar criativamente com figuras. Exemplos de tarefas verbais incluem fazer sugestões para melhorar um brinquedo e pensar em quantos usos diferentes podem ser possíveis para um item comum, por exemplo, um tijolo. Exemplos de tarefas de criatividade não verbal incluem a construção de um retrato ou uma figura, por exemplo, os participantes usam formas básicas para criar uma figura e para terminar uma figura já começada, por exemplo, terminar e dar nome a desenhos incompletos.

Resultados

Atividades criativas do mundo real – Estudantes com TDAH tiveram notas significativamente maiores no Creative Achievement Questionnaire do que os estudantes do grupo controle. Além disso, sua nota média era mais alta para cada um dos 10 domínios. Assim, não foi só nos domínios menos acadêmicos, como música e artes visuais, que os estudantes com TDAH tiveram atividades mais criativas, mas também em ciência, redação e arquitetura.

Um aspecto interessante desses achados foi o de que a faixa de notas era muito maior entre os estudantes com TDAH, assim como a quantidade de variação. Assim, não parece de a realização criativa tenha sido uniformemente mais alta entre estes estudantes; em vez disso, a média geral mais elevada parece refletir níveis muito altos de realização criativa por um subgrupo desses estudantes. FourSight Thinking Profile – Como foi dito acima, esta não é uma medida direta da capacidade criativa per se, mas, em vez disso, reflete o estilo de resolução de problemas preferido pelo indivíduo. Com previsto, os estudantes com TDAH mostraram preferência pelo estilo idealizador, isto é, eles preferiam gerar múltiplas ideias, enquanto outros estudantes preferiam os estilos esclarecedor e desenvolvedor.

Abbreviated Torrance Test for Adultos – Neste teste validado de pensamento criativo, os estudantes com TDAH não tiraram notas mais altas que os colegas em geral. Entretanto, como previsto, eles tiveram notas significativamente mais altas em tarefas que mediam a originalidade verbal.

Efeitos dos medicamentos – Metade dos estudantes com TDAH estavam sendo tratados com medicamentos e metade não. Nenhuma diferença entre esses grupos foi achada em qualquer dessas avaliações de criatividade. Como os autores notam, entretanto, sua habilidade de detectar qualquer diferença foi limitada pela pequena amostra.

Resumo e Implicações

Os resultados deste estudo interessante apoia a noção de que o TDAH esteja associado com aumento da criatividade em adultos jovens. Um aspecto importante deste estudo é que ele empregou medidas múltiplas da criatividade – realizações criativas do mundo real, estilos preferidos de solução de problemas e desempenho com medida baseada em provas da criatividade verbal. Como dito acima, estudantes com TDAH superaram seus pares nas realizações criativas do mundo real e nas medidas de avaliação da criatividade verbal. Eles também mostraram uma preferência para serem geradores de ideias em oposição aos clarificadores ou esclarecedores das ideias já existentes.

Por que o TDAH poderia estar ligado ao desempenho criativo? Uma possibilidade sugerida pelos autores – e que é consistente com o trabalho teórico recente sobre a natureza do TDAH – é que os indivíduos com TDAH são caracterizados por um controle inibidor mais fraco. Os déficits de inibição fazem mais difícil a manutenção do foco em um único pensamento ou ideia e a eliminação dos estímulos externos; isto pode resultar em ter mais pensamentos ao acaso e ideias, e  gastar mais tempo com pensamentos múltiplos e ideias fornece aumento da oportunidade de fazer conexões interessantes. Em teoria, isto pode contribuir para o desenvolvimento de pensamento menos convencional e para aumentar as habilidades de pensamento divergente. Também é possível que a natureza da atividade criativa seja um complemento melhor para as pessoas com TDAH do que as atividades em que o sucesso depende de ficar rigidamente ligado a um plano ou a um trabalho para encontrar a solução correta. Como resultado, elas podem gastar mais tempo em devaneios criativos e, assim, se dar bem.

A preferência que os indivíduos com TDAH mostram pelo estilo idealizador pode ser importante em relação ao tipo de ambiente de trabalho em que eles provavelmente se dão bem. Especificamente, este estilo sugere que eles podem ser especialmente bem equipados para atividades e carreiras comerciais que premiam as habilidades de pensamento divergente. Naturalmente, outros tipos de habilidades de pensamento são também importantes porque mesmo o mais criativo e motivado comerciante será menos destinado ao sucesso se ele for incapaz de conduzir os planos de maneira disciplinada e consistente.

Outra maneira desses achados serem aplicados é a de mostrar às crianças os benefícios potenciais que o TDAH pode conferir em termos de pensamento criativo e de realizações criativas. Isto pode eliminar a noção de ter um déficit ou transtorno e contribuir para o desenvolvimento de talentos que acentuem a autoestima.

Enquanto os achados deste estudo sugerem que a criatividade aumentada pode ser um benefício real associado ao TDAH, a replicação desses achados com um amostra maior, com crianças e adolescentes, seria um importante próximo passo. Também é importante não perder de vista as dificuldades muito reais que estão associadas ao TDAH e a reconhecer que para muitos, esta é uma condição muito prejudicial, para a qual o tratamento contínuo é necessário.

Dito isto, é uma bela mudança que surge a partir de um estudo bem conduzido e que abriga uma mensagem esperançosa e otimista baseada no que parecem ser achados sólidos.
Personality and Individual Differences [White & Shah (2011), Creative style and achievement in adults with Attention-deficit/hyperactivity Disorder. Personality and individual Differences, 50, 673-677.]

David Rabiner, Ph.D.
Associate Research Professor
Dept. of Psychology & Neuroscience
Duke University
Durham, NC 27708

213- Comecem o jogo!


O conhecimento convencional diz que o videogame é uma distração que atrapalha o aprendizado. Mas, para os adolescentes com déficit de atenção, ele pode realmente oferecer um modo de auxiliar as funções executivas. Por Collin Guare

Se jogar videogame por horas a fio garantisse o sucesso futuro, eu seria hoje o presidente. Naturalmente, este não é o caso. Entretanto, muito da minha destreza mental e das minhas funções executivas aguçadas – habilidades cerebrais necessárias para executar tarefas – podem ser debitadas às minhas horas passadas na frente de uma tela. O jogo me ajudou a controlar as dificuldades relacionadas ao TDAH.

Embora os pais possam argumentar que o videogame causa distração, e é um obstáculo para a aprendizagem, a pesquisa mostra o contrário. Em seu livro, What Video Games Have to Teach Us About Learning and Literacy (O que o videogame tem a nos ensinar sobre aprendizagem e habilidade de leitura), James Paul Gee, Ph.D., diz que o que faz um jogo ser fascinante é sua capacidade de fornecer um ambiente coerente de aprendizado para os jogadores. Alguns videogames não são apenas uma experiência de aprendizagem, diz Gee, mas eles também facilitam a metacognição (resolução de problemas). Em outras palavras, bons jogos ensinam aos jogadores bons hábitos de aprendizagem.

Há muitos videogames que oferecem aos adolescentes a chance de ter diversão e de aperfeiçoar as habilidades executivas ao mesmo tempo. Aqui estão quatro exemplos que são populares, divertidos, mentalmente recompensadores e “maneiros”.

Portal e Portal 2

A série Portal é uma revolução na indústria do videogame. Ela privilegia o "jogar o jogo" em lugar de gráficos explosivos e narrativas complexas. Os jogadores navegam um personagem através de um centro de pesquisa abandonado usando um “canhão portal”. Ele abre as portas entre as câmaras pelas quais os jogadores ou objetos podem se mover. Portal é essencialmente um jogo de enigma situado num mundo tridimensional. O jogo é atraente e cognitivamente produtivo. Requer dos jogadores habilidades executivas como planejamento, gerenciamento do tempo e memória de trabalho, que as crianças com TDAH precisam aprimorar. Ganhadora de múltiplos prêmios de “jogo do ano” de várias publicações, a série Portal está disponível para Xbox, PS3 e usuários de computador. Classificada como T, para adolescentes.

Starcraft e Starcraft II: Asas da Liberdade

Pertencem à categoria conhecida como Jogos de Estratégia em Tempo Real (RTS), que são feitos com mapas e ambientes vistos do alto. Os jogadores constroem diversos tipos de unidades e colhem material, todos com o objetivo de se defender de um inimigo (um computador ou um ser humano) em uma batalha. As crianças precisam prestar a máxima atenção para garantir que estão produzindo unidades com eficiência mais alta, enquanto preveem os ataques e planejam os assaltos ao inimigo. Para ter sucesso, um jogador necessita do uso da metacognição, atenção sustentada e da memória de trabalho. Se você precisa de uma prova do prestígio deste jogo, veja os profissionais. Competições profissionais são realizadas para os dois jogos e rotineiramente oferecem prêmios de centenas de milhares de dólares. Disponíveis para Mac e Windows. Classificados como T, para adolescentes.

A Franquia Zelda

No reino dos “velhos, mas legais”, a série Zelda é soberana, especialmente a Ocarina do Tempo e a Majora´s Mask. Embora lançadas há mais de uma década, estes jogos estabeleceram o padrão industrial de como combinar narrativa, modo de jogar e estratégia. Os jogadores são desafiados por um enigma de palavras, que precisa de pensamento crítico e persistência dirigida a uma meta – em outras palavras, atingir uma meta apesar das distrações e dos interesses competitivos.

Estes jogos estão disponíveis para o sistema de jogo N64, embora versões novas tenham sido lançadas para Wii e Nintendo. Alguns adolescentes podem não gostar do N64 por causa da sua relativa pobreza gráfica, mas não foi sem uma razão que eu completei o Ocarina do Tempo no ano passado. O modo de jogar magnetizante e o desafio do Zelda são irresistíveis. Classificado como E, para todos.

Guitar Hero

Este é um jogo de exercício de foco e reflexo. Oferece aos adolescentes uma oportunidade de ajustar sua habilidade de prestar atenção e de transformar o estímulo visual em uma reação física. É preciso da memória de trabalho para dominar este jogo, porque ele se baseia na repetição de padrões complexos. Os jogadores usam controles de plástico com a forma de guitarra para seguir jogando com suas músicas preferidas. Disponível para PS2, PS3, Xbox 360, Wii, Windows e Mac, e Nintendo DS. Classificado como T, para adolescentes, embora algumas versões para Wii sejam classificadas como E, para todos.

Videogames não é apenas diversão. Eles oferecem às crianças com TDAH uma oportunidade, sem risco, de desenvolver as funções executivas que usarão na vida adulta. Então, eu digo aos pais, “Comecem o jogo!”. E se os seus filhos por acaso encontrarem um jogador chamado “gwhere?” nas suas jornadas online, diga-lhes para pegarem leve com ele. Na velhice, ele está um pouco enferrujado.

Este artigo saiu no número de verão de 2012 de ADDitude.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

212 - Individualização e Pluralização

“Um Educador convencido da relevância da teoria das Inteligências Múltiplas deveria individualizar e pluralizar!
Por individualização entendo o melhor conhecimento do perfil de inteligência de cada um dos seus alunos; e até onde for possível é útil que ensine e avalie de modo que eles desenvolvam as potencialidades individuais.
Por pluralização, entendo que o Educador tem a possibilidade de decidir quais tópicos, conceitos ou ideias são mais importantes, e então apresentá-los de diferentes formas. A pluralização refere-se a duas metas importantes. Primeiro, quando um tópico é ensinado de formas variadas cada pessoa assimila melhor algumas delas. Além disso, os vários modos de exposição revelam o que significa entender bem um assunto. Quando compreendemos perfeitamente um tópico, normalmente podemos pensar nele de várias formas, aproveitando assim nossas inteligências múltiplas.
Inversamente, se alguém ficar restrito a uma única forma de conceito e apresentação, sua compreensão tenderá a ser mais superficial.
Essa linha de pensamento levou a uma conclusão surpreendente. Inteligências múltiplas não deveriam por si sós ser uma meta.
Objetivos educacionais precisam refletir os próprios valores (individual ou social) dos educadores, que nunca decorrem simplesmente ou diretamente de uma teoria científica.
No entanto, se uma pessoa influencia os valores educacionais de outra, a existência de inteligências múltiplas pode ser muito útil. Em particular, se as metas educacionais do Educador incluírem acompreensão de disciplinas, será possível mobilizar nossas várias inteligências, por exemplo, empregando múltiplas maneiras de apresentação e avaliação.”
Howard Gardner
PhD em Psicologia Professor da Faculdade de Educação da Harvard University  - Criador da teoria das inteligências múltiplas - Trecho extraído da revista Mente & Cérebro (setembro 2011)

terça-feira, 15 de maio de 2012

211- O Sonhador (TDAH forma desatenta)


Para as pessoas com o TDAH do tipo desatento, ter sucesso em um mundo cheio de ruídos e distração pode parecer um sonho impossível. Mas, com determinação e apoio, pode não ser impossível. Por Tess Messer.

Pessoas com o TDAH desatento são geralmente ignoradas e esquecidas. Diferente dos invasores de Wall Street, nenhum de nós quer criar nenhuma espécie de revolução. Nós, com o tipo desatento, entendemos que nossos irmãos hiperativos dominam a atenção dos pais, professores e psiquiatras – e da maioria dos dólares destinados à pesquisa, por aí – mas não temos intenção de ocupar nada além do nosso mundo interior de pensamentos.

A razão para isso tem menos a ver com o fato de que não somos revolucionários do que com o fato de que nós adoramos nossos colegas TDAH barulhentos e desordeiros. Somos agradecidos a eles pela cobertura que eles nos proporcionam. Se não fossem eles, alguém poderia notar que estamos geralmente “No Mundo da Lua”.

O Mundo da Lua é o Lar

Na verdade, os neurocientistas podem ter encontrado o “Mundo da Lua” do nosso cérebro. Os pesquisadores são capazes de ver o cérebro sonhando, e eles estão denominando este estado como o modo desligado do cérebro.

O modo desligado faz com que o cérebro vagueie quando você está tentando prestar atenção. É o modo desligado que pensa coisas como “Rapaz, aquela teia de aranha na parede tem um padrão interessante”. É o modo desligado que faz com que você rabisque um desenho no seu caderno quando se esperava que estivesse prestando atenção em algo importante. Aparentemente, conforme o cérebro envelhece, a habilidade dele para sair do modo desligado começa a falhar. O cérebro começa a processar as coisas mais lentamente e se torna menos focalizado. Não preciso de uma explicação sobre o modo desligado do cérebro. Eu o conheço bem.

Cresci em uma grande família cubana. Como acontece com a maioria das crianças com TDAH desatento, não fui uma criança feliz, sortuda e cheia de amigos. Eu era introvertida, ansiosa, geniosa, descoordenada e distraída, mas o fato de que eu era quieta foi uma benção em minha casa. Geralmente eu era a única pessoa em nossa casa apinhada que não estava falando.

Na escola era a mesma coisa. Meus professores ficavam ocupados com as crianças barulhentas e bagunceiras, e, embora eu mal pudesse ler, eu era quieta. Os testes mostraram que meu QI era bom. Minha mãe sabia que alguma coisa estava errada. Fui testada, analisada e aconselhada, mas nada me ajudou até que eu chegasse à adolescência.

No colegial, eu fui colocada em um programa de profissionalização. Nessa época, eu era uma adolescente apática, distraída, com uma atitude ruim e média 4. A escola pensava que o trabalho pudesse ser a resposta, então trabalhei como auxiliar de enfermagem.

As enfermeiras sabiam que eu era uma péssima estudante e me adotaram em seu projeto. Elas me ensinavam e me encorajavam, e eu aprendi minhas obrigações rapidamente. Descobri que eu aprendia com a mão-na-massa, e comecei a me sentir confiante. As enfermeiras com quem trabalhei bebiam litros de café, então eu também comecei a beber. Meus sintomas de desatenção começaram a melhorar.  Tornei-me menos introvertida e menos ansiosa, mais focalizada e assertiva. Talvez fosse o café cubano que eu bebia pela manhã, ou talvez fosse meu cérebro mais amadurecido, ou talvez eu tivesse encontrado um modo de tirar meu cérebro do modo desligado. É difícil dizer, mas fiquei capaz de me concentrar e trabalhar.

Decidi ir para a faculdade e obter um diploma. Sabia que seria uma tremenda batalha; sai do colegial com uma média 1,6. Mas o exercício, as listas do que fazer, timers e o interesse verdadeiro no que eu estava estudando me ajudaram a atingir minha meta.

Finalmente o sucesso

Hoje, sou assistente de um médico em um movimentado departamento de medicina de emergência. Nunca tomei medicamentos para o TDAH; sou uma testemunha dos benefícios das intervenções comportamentais. Acho que se não tomasse meu café e fizesse os exercícios meu caderno de apontamentos terminaria no freezer e os rabiscos saltariam de dentro dele.

Algumas pessoas com o tipo desatento do TDAH não têm tanta sorte. Nossa melhor aposta para uma cura reside nas novas pesquisas sobre o envelhecimento do cérebro. Descobertas podem levar a outras visões que levarão ao tratamento para a desatenção. Muitos portadores de TDAH forma desatenta nunca conseguirão acompanhar o mundo de maneira tão boa quanto os que têm a forma hiperativa, mas alguns de nós vencemos os obstáculos.

Este artigo foi publicado no número de verão de 2012 de ADDitude.

210- O Manejo de Classe Que Cria Harmonia Em Vez de Hostilidade



Por Kevin Mixon

“Muito obrigado, Marquis”, o colega dele sussurrou com raiva. “Agora nós vamos perder 10 minutos do intervalo porque você fez besteira. Você é burro. Nós te odiamos!”

Parece familiar? Embora muitos especialistas se oponham aos sistemas de punição e recompensa, eles ainda são usados em quase todas as salas de aula. Os professores frequentemente são solicitados a adotar um sistema de manejo da classe para toda a escola, ou eles podem estabelecer o seu próprio sistema diante de uma necessidade de estrutura. Mas, devido a essas realidades, você ainda pode incorporar os indicadores de manejo de sala que são diretamente ligados às metas de aprendizagem e que reforçam as expectativas, em vez de simplesmente punir o assim chamado “mau” comportamento. Fazendo assim, você pode incentivar a inclusão em vez da competição destrutiva em sala de aula.

O primeiro passo para fazer isso é oferecer recompensas para as quais os estudantes terão de se esforçar e que são diretamente ligadas a metas de aprendizagem. Por exemplo, você pode recompensar os estudantes por esforço sustentado e construtivo, deixando que eles façam um jogo de revisão, não competitivo, com toda a classe (como o beisebol da matemática ou o “Jeopardy”(sorte)), por meio do qual você pode avaliar o conhecimento deles ao final de uma lição. Fred Jones, em “Tools for Teaching” (ferramentas para ensinar), recomenda que denominemos esses jogos de “Preferred Activity Time”(P.A.T.)(Tempo de Atividade Preferida). Tente escolher atividades de movimentação que estimulem o cérebro e propiciem alívio bem recebido ao se sentarem.

Além disso, tenha certeza de que você estruturou meios para que os alunos possam ganhar o P.A.T. para promover a inclusão e o espírito de corpo. Eis aqui um exemplo de como não fazer isto: Costumava começar minhas aulas com quatro bolinhas. Uma bolinha seria retirada para cada situação de mau comportamento geral por três ou mais alunos da classe (eu tinha um sistema diferente para o mau comportamento individual). Se a classe perdesse todas as bolinhas, eles perdiam a sua atividade preferida, e os estudantes mal comportados eram punidos por ter prejudicado todos os outros.

Mas eu aprendi coisa melhor. Agora, meus alunos precisam ganhar, em vez de perder, um número determinado de bolinhas. Além disso, o modo como eles ganham as bolinhas é individualizado. Por exemplo, um aluno difícil pode ganhar uma bolinha para o grupo por não ter crises de mal comportamento por vários minutos, enquanto outro aluno pode ganhar uma bolinha por auxiliar um aluno de língua inglesa ou um aluno com deficiência, sem ser mandado. Ambas as ações são vistas igualmente pelos colegas, porque eles ganharam a mesma coisa na direção da atividade desejada. Estudantes difíceis geralmente recebem aplauso por ganhar uma bolinha, em vez de insultos por ter fracassado.

Comente em vez de elogiar

Um segundo princípio para criar um sistema de gerenciamento que aumente a coesão é o de evitar o elogio pessoal. “Gosto do jeito como a Dayshaum fica sentada quietinha”. “Bom trabalho, Maria, adoro seu jeito de cantar”. Quão frequentemente incluímos em nosso retorno o jeito que nos sentimos em relação ao trabalho ou comportamento do aluno?  Caminhe pelas salas de qualquer escola e ouvirá isso o dia todo, até mesmo de professores excepcionais. Fiz isso por tantos anos; era – e ainda é – um dos hábitos mais difíceis de eliminar durante as aulas.

O problema é que qualificadores como “gosto do jeito... “, “gosto de... “ e “bom trabalho... “ transformam um incentivo instrutivo em um elogio pessoal. Alphie Kohn e outros citam muitas pesquisas convincentes que sugerem que o elogio do professor realmente elimina a motivação dos alunos. Eles acabam estudando pela recompensa (motivação extrínseca) em vez da satisfação pessoal de fazer um trabalho bem feito (motivação intrínseca). E, quando você retira a recompensa, você remove a motivação para fazer o trabalho.

O elogio também pode dar a impressão de que o professor tem favoritos, e assim troca a harmonia e a inclusão de toda a classe por competição e ressentimento. Além disso, o elogio individual não é bem visto em algumas culturas nativas americanas e em outras culturas, nas quais o bem estar de todo o grupo é a preocupação principal. E particularmente nas populações menos favorecidas de estudantes do ensino médio, e os mais velhos, os que são elogiados podem ser levados a bajular o professor.

A pesquisa é consistente e convincente, entretanto, no que diz respeito aos efeitos positivos do feedback (retorno) do professor sobre o aprendizado do aluno. Este feedback  somente precisa ser específico para a tarefa, de modo que informa o aluno em particular e os outros alunos na classe, sem incluir como o professor se sente a respeito.

Assim, adote os exemplos acima e elimine o “Eu gosto... “ e diga simplesmente que “Dayshaun está sentada quieta”. E podemos dizer para  Maria que sua “entonação durante a segunda passagem do canto foi mais correta do que a primeira”. Desse modo, Maria recebeu o feedback sobre sua acurácia quanto à tonalidade – assim como os demais na sala – sem a necessidade de elogio pessoal.

Lee Canter, em Classroom Management for Academic Success, descreve a técnica chamada de “narração comportamental” para fornecer aos estudantes os lembretes e o feedback sem o elogio do professor durante as rotinas e os procedimentos de sala. Em primeiro lugar, descreva claramente o procedimento, de preferência postado na forma escrita ou de desenhos se houver mais de uma ou duas etapas. (O educador Michael Grinder recomenda abusar do visual com as instruções sempre que possível; acrescentar figuras e ícones às instruções escritas ajuda os jovens, os alunos com necessidades especiais e os aprendizes de língua inglesa.)

Conforme os alunos passam fisicamente de uma etapa à outra (por exemplo, entram em silêncio na sala, sentam-se às mesas etc.), identifique os alunos que estão obedecendo às instruções sem fazer elogios. Por exemplo, “Carlos e Alyssa estão  entrando em silêncio na sala” ou “Leslie está sentada em sua carteira esperando as instruções”. Tente comentar com cada aluno todos os dias, para estabelecer a inclusão e evitar a percepção de proteger favoritos.

Comentários sobre comportamento, identificando o comportamento esperado, ajudam a lembrar aos alunos cada passo do procedimento e a maneira correta de realiza-lo. Esses lembretes auxiliam todos os estudantes, mas são particularmente úteis para os que têm problemas de comportamento, tais como o TDAH, porque propiciam lembretes concretos sem críticas quando esses estudantes têm dificuldade de lembrar-se das rotinas ou dos procedimentos.

Amamos os nossos alunos e queremos comemorar quando eles ficam felizes com suas conquistas. Felizmente, há amplas oportunidades para essas interações, e elas fazem muito para construir a empatia necessária para o aprendizado. Entretanto, não destruamos comportamentos desejados com a nossa bondade.

Então, fique a procura de jogos com conteúdo para o aprendizado e outras atividades que os alunos gostem e que desejam praticar. Enquanto ensina, propicie o feedback instrutivo e construtivo que orienta e motiva os alunos a aprender, em vez de procurar obter vantagens extrínsecas do professor. Essas abordagens o ajudarão a criar harmonia em vez de hostilidade na sua classe.

Kevin Mixon, um professor com o  certificado “National Board”, de Syracuse, N.Y., é coordenador de artes em Syracuse City Schools, autor de “Reaching and Teaching All Instrumental Music Stundents”, e coautor de “Teaching Music in The Urban Classroom”.

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