sexta-feira, 12 de setembro de 2014

362- O Mito da Aprendizagem: Por que eu nunca digo ao meu filho que ele é esperto

O Mito da Aprendizagem: Por que eu nunca digo ao meu filho que ele é esperto. Por Salman Khan

Meu filho de cinco anos começou a aprender a ler. Toda noite, nos sentamos em sua cama e ele lê para mim um pequeno livro. Inevitavelmente, ele topa com uma palavra difícil: na noite passada a palavra foi "gratefully" [reconhecidamente]. Ele acabou por conseguir pronunciá-la depois de um sofrido minuto. Então ele disse, "Pai, você não fica contente com o esforço que eu fiz com essa palavra? Acho que eu podia sentir o meu cérebro crescendo". Eu sorri. Meu filho agora está verbalizando os assim chamados sinais de uma "mentalidade do crescimento". Mas isso não foi por acidente. Recentemente, pus em prática pesquisa que andei analisando nos últimos anos: decidi elogiar meu filho não quando ele se saía bem em coisas nas quais ele já era bom, mas quando ele insistia na coisas em que tinha dificuldades. Reforcei para ele a ideia de que por meio do esforço seu cérebro cresce. Em meio à grande quantidade de pesquisas sobre o assunto "mentalidade de aprendizagem" e essa experiência pessoal com meu filho, estou mais convencido do que nunca que a mentalidade dirigida ao aprendizado pode ser mais importante do que qualquer coisa que nós ensinamos.

Os pesquisadores sabem há algum tempo que o cérebro é como um músculo, que quanto mais você usa, mais ele cresce. Eles descobriram que as conexões neurais se formam e se aprofundam mais quando cometemos erros fazendo coisas difíceis do que quando temos sucesso fazendo coisas fáceis.
O que isso significa é que nossa inteligência não é fixa, e que a melhor maneira pela qual podemos aumentar nossa inteligência é assumir tarefas nas quais podemos encontrar dificuldades e falhar.

Entretanto, nem todo mundo tem consciência disso. Dr. Carol Dweck, da Stanford University, estuda há décadas o pensamento ligado ao aprendizado das pessoas. Ela descobriu que muitas pessoas aderem a um de dois pensamentos: fixado ou crescimento. O pensamento fixado acredita erroneamente que as pessoas ou são espertas ou não são, que a inteligência está determinada, fixada pelos genes. Pessoas com o pensamento do crescimento acreditam corretamente que a capacidade e a inteligência podem ser aumentadas pelo esforço, pela luta e pelo fracasso. Dweck descobriu que os que têm o pensamento fixado tendem a focalizar seu esforço em tarefas nas quais eles têm uma grande chance de sucesso e evitam tarefas nas quais eles têm de lutar, o que limita seu aprendizado. Pessoas com o pensamento do crescimento, entretanto, aceitam os desafios, e entendem que a tenacidade e o esforço podem mudar o resultado do seu aprendizado. Como você pode imaginar, isso está correlacionado com o último grupo estar mais ativamente se exigindo e crescendo intelectualmente.

A boa notícia é que mentalidades podem ser ensinadas; elas são maleáveis. O que realmente é fascinante é que Dweck e outros desenvolveram técnicas a que eles denominam "intervenções com mentalidade de crescimento", que mostraram que mesmo pequenas mudanças na comunicação ou comentários aparentemente inócuos podem ter muitas implicações de longa duração para a mentalidade de uma pessoa. Por exemplo, elogiar o método de alguém ("Eu gosto realmente do modo com que você enfrenta esse problema") em vez de elogiar um talento ou habilidade inata ("Você é tão esperto!") é uma maneira de reforçar a mentalidade do crescimento com alguém. O elogio do método reconhece o esforço; o elogio do talento reforça a noção de que alguém só é bem sucedido (ou não) com base em um traço fixo. E nós temos visto isso também na Khan Academy: estudantes estão gastando mais tempo aprendendo na Khan Academy depois de expostos a mensagens que elogiam sua tenacidade e determinação, e que enfatizam que o cérebro é como um músculo.

A Internet é um sonho para os que têm a mentalidade do crescimento. Entre Khan Academy, MOOCs, e outros, há um acesso sem precedentes a um conteúdo sem fim para ajudar você a aumentar sua mente. Entretanto, a sociedade não estará levando vantagem disso sem que a mentalidade do crescimento seja mais prevalente. E se nós ativamente tentarmos mudar isso? E se começarmos a usar seja qual for o meio à nossa disposição para começar a usar intervenções com mentalidade do crescimento com todos de quem cuidamos? Isso é muito maior do que a Khan Academy ou a álgebra - isso se aplica a como você se comunica com suas crianças, como você dirige sua equipe no trabalho, como você aprende uma nova língua ou instrumento. Se a sociedade como um todo começar a aceitar a luta pelo aprendizado, não haverá um fim para o que pode ser o potencial humano global.


E agora uma surpresa para você. Lendo esse artigo, você já completou a primeira metade de uma intervenção com a mentalidade do crescimento. A pesquisa mostra que já ao ser exposto à pesquisa em si mesma (por exemplo, saber que o cérebro cresce principalmente por errar as questões, não acertar) pode começar a mudança na mentalidade de uma pessoa. A segunda metade da intervenção é para você mostrar a pesquisa para outras pessoas. Fizemos um vídeo que comemora a luta do aprendizado, que o ajudará a fazer isso. Finalmente, quando meu filho, ou por causa disso, mais alguém me perguntar sobre aprendizagem, eu somente quero que eles saibam uma coisa. Conforme eles aceitem a luta e os erros, eles podem aprender tudo.

361- TDAH e abuso de drogas


Segundo uma recente pesquisa nos Estados Unidos, os jovens com TDAH têm mais do que o dobro de probabilidades de experimentar e abusar de drogas. 
Ainda que os estimulantes (anfetaminas, metilfenidato) usados para o tratamento do TDAH possam ser viciantes, não há evidências de que tomá-los aumente o risco de abuso de substâncias. 
Os autores advertem que esses estimulantes podem ser usados de forma indevida, e que 23% dos jovens americanos em idade escolar tentam vender, comprar ou trocar medicamentos para o TDAH. 
Os medicamentos que se usam para tratar o TDAH apresentam um potencial de abuso, ainda que a grande maioria dos jovens com TDAH não chegam a ter problema de abuso de substâncias.
O estudo conclui que são necessárias mais investigações para averiguar por que alguns jovens são mais susceptíveis que outros. É possível que a mesma biologia que provoca o TDAH também ponha alguns dos jovens em risco mais alto de abusar de substâncias. 
Outros fatores sociais poderiam contribuir também para o aumento do risco; por exemplo, alguns desses jovens costumam ter maiores dificuldades na escola e sentem mais ansiedade por esse motivo.


Pediatrics, 2014 - Harstad E., Levy S. - Committee on Substance Abuse

360- Excesso de TV ou de computador pode causar TDAH?


Pergunta feita por stef241116 a Parents of ADHD Children (ADDitude)

[Estou lendo um livro sobre TDAH, escrito por um psiquiatra, e, embora concorde com a maioria da informação contida nesse livro, discordo fortemente de uma declaração dele, que diz "novos estudos têm revelado que a excessiva exposição à TV ou ao computador pode predispor uma criança ao TDAH". O excesso de TV ou de computador pode causar o TDAH?]

Resposta: 

Eis aqui o porquê. 
Sabemos qual é a explicação médica para o TDAH: uma falta de dopamina no cérebro, assim como outras falhas na função cerebral. 

Também sabemos que ele é MUITO genético. São fatos médicos, não "novas teorias".

Se uma criança SEM TDAH assiste muito à TV, posso entender por que sua capacidade de prestar atenção pode diminuir e por que ele quer estimulação/satisfação imediata, resultando em perda do foco para as coisas mundanas. 

Entretanto, se você tirar a TV da vida dessa criança, como se você estivesse tirando o açúcar de alguém viciado nele, a criança voltará ao normal depois de algum tempo, porque o vício foi resolvido.

Faça isso a uma criança com TDAH e adivinhe o que acontecerá? 
O cérebro dela ainda é TDAH. 
Por quê? Porque é uma condição médica congênita. 
Os efeitos da exposição excessiva à TV, ou ao computador, são hábitos e comportamentos aprendidos. Grande diferença. 
Concorda ou discorda?


ADDitude

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

359- Gestação, Antidepressivos, Autismo e TDAH

Estudo coloca em dúvida a afirmação de que o risco de autismo esteja ligado a antidepressivos tomados durante a gestação

Um estudo dos EUA questiona análises anteriores que associam um risco aumentado de autismo ao uso de antidepressivos durante a gestação. Segundo os resultados publicados no “Molecular Psychiatry”, estes estudos foram meramente capazes de refletir o risco aumentado de autismo relacionado somente à depressão materna. Contudo, a maior probabilidade de transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) foi confirmada.
Pesquisadores do Hospital Geral de Massachusetts (Boston) compararam dados coletados entre 1997 e 2010, de 1.400 crianças com transtornos globais do desenvolvimento, incluindo autismo, com 4.000 crianças saudáveis ​​e fizeram uma correlação com informações sobre suas mães. O mesmo foi feito para 2.250 crianças com TDAH e 5.600 controles pareados.
À primeira vista, a associação entre a exposição pré-natal a antidepressivos e autismo foi confirmada. Contudo, após ajustar para fatores direcionados para depressão grave, a associação deixou de ser significativa. Medicamentos direcionados para a via da serotonina (tanto antidepressivos quanto outros medicamentos) não estavam ligados a um risco aumentado de autismo; enquanto, aparentemente, medicamentos antipsicóticos pareceram aumentar o risco. A probabilidade de TDAH foi reduzida quando o foco foi direcionado para a gravidade da depressão materna, mas permaneceu significativa.

Existem numerosas opções para tratar a depressão e ansiedade durante a gravidez, diz o autor sênior Roy Perlis. “Mas se for preciso usar antidepressivos, espero que as mães possam se sentir confiantes quanto à sua segurança.”

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

358- Os jovens com TDAH têm conexões cerebrais interrompidas


Notícia Publicada na Revista de Neurologia, de Barcelona, Espanha, em 27/08/2014, revela que um novo estudo [Li F., He N., Li Y., Chen L., Huang X., Lui S., et al - Radiology, 2014] mostrou, por meio de imagens de ressonância magnética funcional (RMf), em estado de repouso, que crianças e adolescentes com TDAH têm conexões interrompidas entre diferentes áreas do cérebro.

Para o novo estudo, os investigadores utilizaram a RMf para avaliar a função das vias nervosas quando o cérebro se concentra em uma tarefa específica. Compararam os resultados de uma amostra de 33 crianças , de 6 a 16 anos, com TDAH, com 32 controles sadios, de 8 a 16 anos, e correlacionaram os achados com os obtidos nas provas de funções executivas (Wisconsin Card Sorting Test y Stroop Color-Word Test).

Os resultados mostraram que os pacientes com TDAH tinham alteradas a estrutura e a função localizadas em áreas do cérebro como o córtex órbito-frontal, que participa principalmente do processamento cognitivo e do planejamento estratégico, e no globo pálido, que está implicado no controle inibitório.

O estudo sugere que as anormalidades estruturais e funcionais nestas regiões cerebrais podem causar a falta de atenção e a hiperatividade dos pacientes com TDAH, e que os resultados preliminares mostram a associação entre os achados de imagem e os sintomas. 

Os investigadores também encontraram anormalidades nas conexões entre as redes do cérebro associadas com a disfunção executiva em estado de repouso. Essas anomalias indicam alterações cerebrais mais extensas no TDAH do que já se havia demonstrado. 

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

357- TDAH - Doze Dicas Para Ter o Professor do Seu Filho no Seu Time


Fazer uma parceria com o professor do seu filho pode significar a diferença entre o sucesso e o fracasso em classe. Por Eileen Bailey.

1- Seja um jogador da equipe.

Seu filho fica seis horas por dia, 1200 horas por ano, em sala de aula com o professor, a cada ano. Quando você e o professor do seu filho trabalham juntos, seu filho terá uma experiência escolar positiva e bem sucedida, educacional e socialmente. Exige esforço, mas assegure-se de estabelecer um relacionamento cooperativo com o professor.

2- Comece bem o ano.

É uma boa ideia iniciar uma conversa com o novo professor do seu filho. Alguns pais preferem enviar uma carta apresentando seu filho e dando informações sobre suas necessidades. Outros pais acham que uma conversa face a face é o melhor. Fazer contato como professor do seu filho logo de início permite que o professor saiba que você cuida e que está envolvido, e que será um parceiro cooperativo se os problemas surgirem.

3- Mantenha atitude positiva.

Seja por telefone, email, ou sentado face a face com o professor do seu filho, assegure-se de que a comunicação seja positiva e otimista. Atacar o professor faz com que ele fique na defensiva, diminuindo seu desejo de colaborar com você. Não se esqueça do fato de que a maioria dos professores quer ajudar e ver seu filho ser bem sucedido.

4- Comunique-se com o professor de modo conveniente.

Falar com o professor atualmente é muito maia fácil - email, textos, chamadas telefônicas, recados em sites e redes sociais. Logo no início do ano, fale com o professor para descobrir qual o melhor método, de modo que você fique sempre atualizado com o que aconteça em sala de aula e sobre os trabalhos de casa. Uma semana pode ser melhor para um email, outra para texto. Determine também, junto com o professor, com que frequência vocês devem se comunicar.

5- Não leve as coisas para o lado pessoal.

Os pais ficam na defensiva quando um professor relata as falhas do seu filho. Se o professor lhe diz que seu filho é bagunceiro e que não obedece, tenha empatia por ele e trabalhe em conjunto para encontrar uma solução. Concorde que seu filho pode ser um chato e continue a conversa no sentido de resolver o problema.

6- Corte os problemas pela raiz.

Imagine descobrir que seu filho vai fracassar em uma disciplina somente a poucas semanas do final do semestre. Evite isso envolvendo-se logo de início e pedindo para ser avisado dos problemas logo que surjam. Marque uma reunião com o professor do seu filho durante a segunda ou terceira semana no início das aulas para resolver esse assunto. Desse modo, você poderá resolver a falta de entrega de algum trabalho ou notas baixas a tempo.

7- Compartilhe o que funciona.

Você conhece seu filho melhor que ninguém e as estratégias de classe que funcionaram para ele no passado. Compartilhar essa informação ajuda o novo professor a entender melhor como conquistar e ensinar seu filho. Não fale somente dos fracassos de seu filho; discuta o que funciona. Em vez de dizer "Ele não escuta", diga, "Acho que quando faço contato visual ao dar as instruções, ele escuta melhor".

8- Vá preparado.

Seja em uma reunião, pela primeira vez, com o professor do seu filho, ou indo a uma reunião de pais e mestres, vá preparado. Tenha uma lista de perguntas e de preocupações, amostras de trabalhos e provas escolares, anotações de professores anteriores, e acomodações que tenham funcionado. Mantenha a informação em uma pasta-arquivo para que seja mais fácil transportar e compartilhar. Depois da reunião, faça anotações e guarde-as na pasta-arquivo.

9- Apareça e envolva-se

As escolas frequentemente dependem de ajuda voluntária e da participação dos pais. Faça parte da Associação de Pais e Mestres, seja voluntário em classe, no trabalho de secretaria ou na biblioteca ou acompanhe uma excursão ao campo. Você poderá observar como suas crianças se comportam no início na escola e conhecer outros pais e o pessoal da escola. Você se tornará um deles, em vez de um pai exigente demais e autoritário.

10- Resolva um desentendimento com o professor.

Se você e o professor do seu filho não conseguem concordar com a solução de um problema ou se o professor não está colaborando, pergunte qual será o próximo passo em vez de se retirar enraivecido. Você pode sugerir que o psicólogo da escola, o conselheiro ou o diretor sejam incluídos na busca de uma solução. Pergunte ao professor se ele gostaria de marcar uma reunião.

11- Aconselhe-se com o professor.

Assim como você compartilha informação com o professor, ele pode lhe dar dicas para ajudar seu filho em casa. Faça perguntas sobre o desempenho escolar do seu filho e sobre as disciplinas nas quais ele tem dificuldade. Peça dicas e material que possa utilizar em casa para ajudar seu filho a ser bem sucedido na escola.

12- Demonstre sua gratidão

Todos gostam de um elogio. Se o professor de uma criança faz algo com que um pai não concorde, os pais geralmente mandam um email ou ligam para reclamar. Quão frequentemente você manda um email para cumprimentar um professor ou para agradecer por algo que ele tenha feito ou dito? Quando o professor do seu filho deixa um pouco de sua rotina de trabalho para entender seu filho ou para ajudá-lo a se sentir aceito, certifique-se de mostrar sua gratidão.


ADDitude.  (veja, também, a postagem 286, neste blog)

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

356- TDAH - O tratamento do seu filho é o pacote completo?


A medicação trata somente as deficiências neuroquímicas do déficit de atenção. Nós temos de tratar, também, os problemas psicológicos e sociais. Por Larry Silver, M.D.

Terminei meu treinamento em psiquiatria geral, seguido por treinamento em psiquiatria da criança e do adolescente em meados de 1960. Minha especialidade médica era uma sub-especialidade relativamente nova da psiquiatria. Naquela época, a teoria de entender e tratar a criança era centrada na teoria psicanalítica e na psicoterapia psicanaliticamente orientada. Todo meu treinamento e supervisão clínica foram baseados nesse modelo. Eu era fascinado pela psicologia da mente. Mas, igualmente, era interessado na compreensão do funcionamento cerebral, e na relação entre o cérebro e a mente.

Com a permissão do diretor do meu programa de treinamento, atendi conferências de casos para os residentes em outra nova sub-especialidade médica, Neurologia da Criança. Lá, um menino tinha uma coisa chamada de Reação Hipercinética da Infância. Hoje ela é chamada de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. A criança era hiperativa e ia mal na escola. Ela foi medicada com dextroanfetamina e seus sintomas melhoraram.
Eu estava lidando com uma criança com sintomas semelhantes na terapia. Ela estava com todas as características de Reação Hipercinética da Infância. Eu discuti minha ideia de tentar a medicação. Meu supervisor não gostou da ideia de usar medicação em vez de psicoterapia e me encorajou a me concentrar na "psicodinâmica do caso". Eu estava frustrado por causa da falta de progresso do caso, então assumi o risco de me meter em apuros. Em colaboração com o pediatra do meu paciente, dei um jeito dele começar a tomar a dextroanfetamina. Os pais dele, assim como os professores e o paciente notaram uma dramática melhora. Ele conseguia ficar sentado na classe e se concentrar no seu trabalho. Seu comportamento bagunceiro cessou. Eu não podia explicar ao meu supervisor que tinha ignorado suas instruções e que tinha utilizado o tratamento medicamentoso. Então, eu tive de afirmar que a psicoterapia e a orientação dos pais tinha resultado na melhora dos comportamentos. Meu supervisor elogiou meu trabalho.

Como as Coisas Mudaram

Desde então, a psiquiatria da infância e da adolescência percorreram um longo caminho. Usamos um modelo biopsicossocial que leva em conta a função cerebral, assim como as funções, psicológica e social, todas no contexto da vida da criança dentro da família, na escola e com os colegas. Os estudos de crianças com TDAH nos ensinaram sobre a relação entre função cerebral, ou disfunção, a os comportamentos clínicos observados.

Muitos crêem que o TDAH foi o primeiro transtorno a ter demonstrado ser o resultado de uma deficiência na produção de um neurotransmissor específico, em áreas específicas do cérebro. A descoberta de que um grupo de medicamentos - chamados de estimulantes, porque estimulam células nervosas específicas a produzir mais do seu neurotransmissor deficitário - causava uma diminuição, ou o desaparecimento, da hiperatividade, desatenção e/ou impulsividade observadas abriu o campo da psicofarmacologia da criança.

Atualmente, sabemos de outros transtornos que são o resultado de uma deficiência de neurotransmissores específicos em áreas específicas do cérebro. Até hoje, não encontramos um transtorno que pareça ser o resultado de um excesso de um neurotransmissor produzido em área específica do cérebro). Para cada um desses transtornos, temos medicamentos que aumentam a produção do neurotransmissor, levando à melhora. Foram estudos de indivíduos com TDAH que expandiram nosso conhecimento da neurociência e do tratamento de doenças neurologicamente estabelecidas.

Lições Aprendidas

Deixem-me voltar à minha história. Depois dos meus anos de treinamento, ingressei na faculdade de um centro médico universitário. Onze anos depois, mudei-me para o National Institute of Mental Health (Instituto Nacional de Saúde Mental). Depois, voltei para um centro médico universitário. Nesses mais de 40 anos, minhas áreas principais de pesquisa, de trabalhos clínicos escritos e de atividade clínica foram sobre o TDAH e as Dificuldades de Aprendizagem. Durante esses anos, o pêndulo gradualmente oscilou dos modelos psicológicos para os biológicos para a compreensão do comportamento normal e da psicopatologia. Hoje, o pêndulo está no centro, com atenção igual na disfunção cerebral e nos desafios psicológicos e sociais.

Agora sabemos que uma deficiência de um neurotransmissor específico em áreas específicas do cérebro explica as dificuldades encontradas em uma criança ou um adulto com TDAH. Sabemos que certas medicações corrigem a deficiência do neurotransmissor, resultando em uma redução ou na eliminação dessas dificuldades. Também aprendemos que medicamentos isoladamente não são suficientes. Uma pessoa diagnosticada com TDAH vive em uma família e precisa funcionar em um mundo real, com todas suas expectativas e demandas. Não podemos tratar somente a deficiência neuroquímica.

Ainda há médicos, incluindo alguns psiquiatras da infância e da adolescência, que parecem ter se fixado em um só lado do problema. Seu foco é muito intenso na medicação e muito fraco na exploração dos possíveis desafios familiares e psicossociais.

Deixem-me lhes dar um exemplo. Um pai leva seu filho ao médico de família. O pai diz: "O professor dele diz que ele não consegue ficar sentado quieto e que não está prestando atenção à aula. Eu vejo as mesmas coisas em casa." O médico escuta hiperatividade e desatenção e conclui que é TDAH, e preenche a receita com um estimulante. 

No que o médico errou? A inquietação e a desatenção podem ser o resultado de dificuldades com as tarefas acadêmicas, possivelmente devido a uma Dificuldade de Aprendizagem. Ou as dificuldades podem refletir o estresse na família por problemas entre os pais. A hiperatividade poderia ser o resultado de ansiedade, não de TDAH.

Os médicos e os pais devem se lembrar: Nem todos os indivíduos que são hiperativos, desatentos e/ou impulsivos têm TDAH. 

Os comportamentos vistos em crianças, adolescentes ou adultos que têm TDAH podem também ser vistos em indivíduos com outras doenças - depressão, ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo, para citar algumas. Também é possível que tais comportamentos sejam o resultado da frustração do estudante na escola, por causa de uma Dificuldade de Aprendizagem, outro transtorno relacionado com o cérebro.

Precauções para todos nós

É importante determinar se os comportamentos são neurologicamente ou psicologicamente baseados. Temos protocolos clínicos em nosso Manual de Diagnóstico e Estatística de Doenças Mentais (DSM-V) para ajudar a distinguir entre os dois. 
Se a inquietação, desatenção, dificuldades de organização, ou impulsividade se iniciam em certa hora ou ocorrem somente em certas situações, é provavelmente um problema psicológico. 
Se os comportamentos são crônicos (você os notou desde a infância) e invasivos (ocorrem em casa, na escola, no trabalho, com os colegas), provavelmente são um problema derivado do cérebro, tal como o TDAH.

Para seu médico fazer um diagnóstico de TDAH, ele deve provar que esses problemas observados são o resultado de problemas relacionados com o cérebro, não psicológicos, familiares ou derivados do estresse social. Como isso é feito?

1- Documente quais comportamentos a criança ou o adulto têm.
2- Mostre que esses comportamentos são crônicos.
3- Mostre que esses comportamentos são invasivos. Se os comportamentos identificados começaram em certa época da vida ou se ocorrem somente em certas situações, o TDAH não deve ser considerado.

Têm sido, para mim, 40 anos maravilhosos, fazer parte da transição de um modelo psicológico de entendimento do comportamento para um modelo que envolve fatores biológicos, psicológicos e sociais. Em grande parte, o estudo do TDAH me levou a essa jornada.

Larry Silver, M.D.

ADDitude

terça-feira, 5 de agosto de 2014

355- Como conquistar os aprendizes relutantes

Como conquistar os aprendizes relutantes
Por Nancy Barile

Umas das minhas coisas favoritas no Facebook é que ele permite que eu me conecte com meus antigos alunos. entretanto, fui surpreendida quando um aluno em particular, Eddie Scofield, me adicionou como amiga há 3 anos.
Eddie e eu tivemos um relacionamento muito conturbado quando ele era meu aluno na classe de inglês avançado em 2008. Havia 35 alunos naquela classe, muitos dos quais tinham uma  mistura de problemas acadêmicos e de comportamento. Eddie se distingui quase que imediatamente como o líder na criação de problemas. Em algum dia ele podia ser questionador, sarcástico, oposicionista, às vezes preguiçoso e definitivamente maldoso.

Depois das duas primeiras semanas com Eddie, eu estava arrancando meus cabelos. Eu imaginava meios de fazê-lo trocar de classe. Mas um par de estratégias eficientes mudou nosso relacionamento - e eu não percebi isso até que eu e Eddie nos encontramos em um recente projeto.

Pensando sobre o passado

Recentemente, convidei Eddie a passar em meu colégio. Eu estava preparando um workshop para nosso distrito chamado "Motivando o Aprendiz Relutante", e pensei que ele pudesse ser capaz de fornecer  dicas importantes sobre esse assunto.

Ele acabou contando sua história pessoal no workshop, e eu aprendi muito mais sobre ele, coisas que eu não sabia quando ele era meu aluno. Por exemplo, eu não sabia que ele tinha sido por uns tempos um sem casa, durante o colegial, que seu padrasto tinha sido convocado depois do 11 de setembro, ou que sua mãe era uma viciada em drogas. Eu não imaginava que tivesse tido um enorme impacto sobre Eddie - e que minha classe tivesse mudado sua vida.

Quando Eddie acabou de falar naquele dia, eu tinha aprendido muito sobre meu antigo aluno. Mas essa não foi a melhor parte: ao final da apresentação, ele deu dez dicas de motivação para os aprendizes relutantes. Espero que vocês as achem valiosas, como eu e meus colegas achamos.

As dez dicas de Eddie para motivar os aprendizes relutantes

1- Seja entusiasmado com o seu trabalho. Os alunos não podem ficar excitados para aprender se o professor for claramente desinteressado.

2- Não suponha. Um aluno pode parecer ser um problema ou ter uma reputação na escola. Você pode ter tido um contato com ele ou saber dele por um irmão. Entretanto, a verdade é que você nunca saberá como um aluno vai agir ou desempenhar em sua classe. É melhor começar com uma lousa limpa - e imaginar que ele esteja pronto e querendo trabalhar com afinco.

3- Relutância e ignorância não são sempre mutuamente inclusivas. Eddie ressaltou que os aprendizes relutantes não são necessariamente aprendizes incapazes. Se você fizer essas pressuposições sobre um aluno, tenha certeza de que ele irá definitivamente se tornar um relutante.
Eddie me lembrou de um incidente quando ele deveria escrever um trabalho mas não queria assumir a tarefa. Eddie gastou a maior parte da aula embromando, jurando que ele podia escrever um trabalho que tirasse nota A+ nos últimos 20 minutos da aula. Então, eu aceitei o desafio dele. É claro que ele escreveu um trabalho brilhante em 20 minutos, principalmente porque ele apreciou o fato de eu ter lhe dado autonomia para usar o tempo eficientemente.

4- Comunique-se com os outros educadores. Lá atrás, quando eu estava arrancando meus cabelos por causa do Eddie, fui falar com sua professora anterior de inglês. Fiquei surpresa quando ela  começou a falar emocionada sobre ele. Ela me contou que ele tinha tido uma vida difícil em casa e que eu precisava dar a ele uma chance. Então, eu ouvi e mudei minha abordagem. Eddie disse que gostou do modo pelo qual sua primeira professora o defendeu e forneceu informação sobre sua situação, além do fato de que eu tinha tido o cuidado de dar a ele uma segunda chance.

5- Faça perguntas e se importe. Eddie disse que quando ele estava no colégio, frequentemente queria que um professor ou o administrador lhe perguntassem o que estava errado. Ele disse que provavelmente teria dado uma resposta, mas ele teria se sentido muito melhor se alguém tivesse mostrado que se importasse o bastante para fazer a pergunta.

6- Utilize o tempo em classe para mais do que aulas. É difícil acreditar que ainda existem professores que ensinam sem parar, mas isso acontece. Atualmente, há poucas razões para não variar a instrução e para envolver mais os alunos em seu aprendizado.

7- Desafie os alunos respeitosamente. Todos nós sabemos quando um aluno está sendo deliberadamente criador de caso e querendo nos tirar do sério. Mas é importante ser respeitoso quando desafiar os alunos - não cause embaraço, não humilhe, não faça gozação com eles. Em vez disso, encoraje-os e reúna-se privadamente para discutir suas preocupações. 

Descubra o que está por trás do seu mau comportamento ou desinteresse em fazer a tarefa. Eddie me contou que uma das coisas que o fisgou na minha classe foi meu senso de humor e o fato de que eu podia contestá-lo ponto a ponto em sarcasmo, não maldade ou ataques pessoais, mas sarcasmo espirituoso e brincalhão. Isso o ajudou a construir uma ligação comigo, como professora.

8- Seja justo e vigilante no apoio das regras estabelecidas em classe. Não dê um privilégio a um aluno e recuse-o a outro. Alunos são superconscientes dessa dinâmica e sabem exatamente o que acontece na classe.

9- Puna imediatamente as infrações graves. Eddie tornou claro que os professores precisam usar disciplina imediata para comportamento que esteja fora de propósito. Mas ele sugeriu que infrações menores sejam manejadas de maneira sem confrontação, talvez depois da aula ou em uma conversa privada, para não humilhar ou envergonhar os estudantes. Por exemplo, Eddie nunca se esqueceu do professor que ligou para sua mãe em frente de toda a classe.

10- Estabeleça conexões pessoais. Estabelecer fortes relações com seus alunos e criar um ambiente no qual você e os alunos estejam trabalhando na direção de um objetivo comum, é provavelmente a única coisa mai poderosa que você pode fazer para motivar um aprendiz relutante. Pergunte a um jogador de futebol se ele viu o jogo do time dele na noite anterior. Faça um comentário sobre uma camiseta interessante que um aluno esteja vestindo. Reconheça o sucesso de um aluno no campo dos esportes ou em um jogo escolar. Prestar atenção nos aprendizes relutantes é um longo caminho na motivação deles.

As dicas de Eddie são simples e intuitivas. Mas mesmo sendo uma professora veterana com 19 anos de prática no ensino eu me sinto renovada após revê-lo. Penso que podemos todos nos beneficiar voltando atrás e reavaliando as maneiras com que lidamos com os aprendizes relutantes.
Então, você deve estar se perguntando - o que faz o Eddie atualmente? Tenho o maior prazer em ouvir que ele é um calouro na Salem State University. Mas fiquei chocada quando ele revelou sua escolha de carreira: ele planeja ser um professor colegial de Inglês. Ele até está fazendo seus alunos estudar comigo no outono!

Como sua antiga professora - e futura colega - eu não poderia estar mais orgulhosa.

Nancy Barile


Nancy Barile (@nancybarile), a National Board Certified Teacher, has taught English language arts at Revere High School in Revere, Mass., for 19 years. She advises the Culture Club and Future Teachers Club and is an adjunct professor at Emmanuel College. A CTQ Collaboratory member, Nancy won The Kennedy Center/Stephen Sondheim Inspirational Teacher Award in 2013 and serves on the College Board New England Regional Council.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

354- A ESCOLA IDEAL: UM CONCEITO EM CONSTANTE DESENVOLVIMENTO

Dr. Mauro de Almeida
A inclusão só será completa no dia em que deixar de existir.
Essa frase resume o propósito deste trabalho.
Quando, em 2.008, no ”Congresso Aprender Criança” começamos a falar em inclusão, não tínhamos ideia do que isso representaria para a nossa Comunidade depois de seis anos.
Apresentamos, naquela oportunidade, o que chamamos de “Manifesto Vinícius”, uma abordagem de questionamento à forma em que a inclusão é feita em nosso país, dando a todas as crianças e adolescentes o direito de frequentar a escola normal, mas sem estratégias para lidar com as diferenças. A base daquela apresentação mostrava um relatório de aproveitamento expedido pela escola para um aluno com diagnóstico de TDAH idêntico ao documento de outro aluno com baixo aproveitamento advindo de problemas familiares e ambiente hostil.
Hoje, temos a certeza da necessidade de trabalhar o tema da inclusão escolar de forma ampla, total e irrestrita, mesmo que isso gere – e gerará – uma série de polêmicas entre acadêmicos, legisladores, autoridades científicas e educacionais.
Não se tem notícia de nada parecido como esta cartilha NO MUNDO INTEIRO. Então, pelo ineditismo, pela coragem e pela revolução nos hábitos e costumes, somos, todos nós, desbravadores em pleno Século XXI, de um dos temas mais antigos da Humanidade: as diferenças entre as pessoas e o respeito à individualidade.
O tema do Aprender Criança 2.012 foi, justamente, a inclusão escolar.
Tivemos a grande oportunidade de ver e ouvir grandes especialistas que, além de palestras memoráveis, colaboraram conosco na elaboração de proposições para aplicação nas escolas e salas de aula.
A nosso pedido, essas proposições não foram limitadas a essa ou àquela dificuldade econômica, arquitetônica, profissional ou instrumental que uma localidade qualquer possa ter e – evidentemente – todas têm. Por que? Para que pensemos em soluções amplas, em consecução de ideais de preparação dos profissionais, em captação de recursos, em crescimento contínuo. Incluir requer esforços de mudança de paradigmas, a começar por limitações já culturais do tipo “isso é utópico”, “minha escola não tem nem giz”, “vocês estão loucos”, etc e tal. Em nossa primeira cartilha, o Projeto Atenção Brasil, falamos muito sobre a questão da RESILIÊNCIA: precisamos adotar esse conceito como prioridade em nossa caminhada. Lembrem-se disso a cada dificuldade, a cada barreira.
Afinal: a escola ideal existe?
Não, não existe. Mas podemos nos aproximar de algo melhor a cada dia.
Basta observar nossa proposta número 7: “Incluir alunos com NEE em classe regular envolve mudanças pedagógicas e na estrutura curricular que devem ser individualizadas dentro de um projeto escolar que atenda às demandas de singularidade frente às limitações do pensamento (concretude); além do desenvolvimento de habilidades frente às limitações de participação e atividade, dada a diversidade dos alunos incluídos.”
Uma vez atendida em sua plenitude, essa proposta resume o conceito atual de “escola ideal”.  Mas será que, de fato, estamos construindo uma escola que se aproxime disso?
Propusemos uma discussão entre especialistas em educação com formações diferentes e atividades diversas.
A Professora Camila Pestana (atuando em escola particular), a Psicopedagoga Mirella Jorge (de instituição para alunos com necessidades especiais de aprendizagem), a Psicóloga Paula Stipp (de uma instituição voltada para deficientes mentais) e a profissional de sustentabilidade e responsabilidade socioambiental Giuliana Preziosi.
As quatro são unânimes ao aprovar a proposta número 7 desta cartilha. O que elas dizem: para Giuliana, “precisamos extrapolar a barreira física, que é premissa, e pensar na metodologia, com raízes sistêmicas onde tudo deve estar conectado. A escola ideal é pautada no respeito e na empatia. É uma escola que acompanha as mudanças do mundo e constrói soluções em conjunto para lidar com suas adversidades”.
Para Mirella, “a escola ideal é a que acolhe todas as crianças diante de suas diversidades, respeitando particularidades, medos e anseios, com a ampla visão que o professor pode ser o sujeito a fazer toda a diferença na vida escolar de cada criança, juntamente com uma equipe disposta a incluir e a ter um olhar de respeito e afeto. Oferecendo meios significativos de aprendizagem real a todos”.
Paula afirma que “a escola ideal é a que proporciona uma educação de qualidade para todos, analisando dificuldades e potencialidades de cada aluno de forma a atender necessidades individuais. Deve ter, acima de tudo, o objetivo de formar cidadãos solidários e valorizar as diferenças”.
Camila acredita que “a escola ideal não deveria ser inclusiva, pois a escola é para todos. Educar não é tarefa fácil e lidar com diferenças, menos ainda. O espaço escolar é o ambiente mais rico para se trabalhar as relações sociais e de saberes. Hoje, as escolas pretendem que os alunos se adaptem a ela, ao invés de mudar seus procedimentos e atender as necessidades de cada aluno. O nosso desafio em quebrar esses paradigmas, se inicia em nossa formação enquanto educadores e se reflete em nossa prática. Incluir um aluno em educação formal é fazê-lo pertencer àquilo que tem por direito”.
Mas, como transformar esses conceitos em práticas?
Giuliana diz que “Além de capacitação e treinamentos adequados, o professor aprende junto com os alunos a superar dificuldades. As aulas, além de conteúdo, ganham vivências e experiências compartilhadas”.
Para Mirella, “é preciso priorizar a criança na escola comum, mas os que apresentam NEE devem ser acompanhados por uma equipe multiprofissional, seja na própria escola ou numa instituição em período oposto, desde que haja troca entre educadores e especialistas”.
Para Paula, “a complementação para os que apresentam NEE deve ser feita numa escola especial, auxiliando com procedimentos especializados, terapias diversas, estimulação precoce e preparação para o mercado de trabalho”.
Camila afirma que “há necessidade de formar professores com excelência, com rotinas e currículo escolar muito bem planejados e reais ao grupo pertencente, com práticas sociais como assembleias e parceria com a família.”
Essas profissionais são pessoas ideais para embasar essa proposta porque são educadores do dia a dia, gente que enfrenta as dificuldades reais da educação voltada para o direito de todos.
A essas afirmações acrescentamos a visão de que estamos em pleno processo de mudança, de que a escola não é algo estático e de que, a cada momento, nos deparamos com situações novas e inesperadas.
É fato que, quanto mais o planejamento for eficaz, menor a chance de errar, mas isso não nos garante uma fórmula imutável de sucesso.
O objetivo desta cartilha, seus indicadores de desempenho e a avaliação constante dos progressos obtidos em cada escola participante nos dão a certeza de que nos aproximaremos SEMPRE de algo melhor.
É assim que iremos construir a “escola ideal”, com adaptações e aperfeiçoamento constantes, com participação de todos os agentes envolvidos e contando com a participação efetiva de profissionais de saúde engajados nas rotinas pedagógicas.

COMUNIDADE APRENDER CRIANÇA - Dr. Marco Antônio Arruda
Diretor do Instituto Glia

domingo, 27 de julho de 2014

353- ABDA - Carta Aberta à população sobre TDAH

Sexta, 25 Julho 2014 00:00

Carta Aberta à população sobre TDAH

Escrito por  ABDA
ABDA participa do movimento em protesto contra a portaria no 986/2014 da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, que determina restrições a distribuição de medicamento para TDAH pelo SUS, e impede o médico de realizar o exercíco da medicina. O TDAH é um transtorno neurobiológico, ou seja, uma condição médica. Embora o tratamento correto seja multidisciplinar, o diagnostico é exclusivamente responsabilidade do médico.
A portaria no 986/2014 da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo é restritiva, burocratiza o acesso digno ao tratamento, principalmente à população com desvantagem social, e se posiciona contra a sistematização científica de maneira mistificadora e indigna. No momento em que a sociedade brasileira se organiza em torno de ações inclusivas, como as ações afirmativas na universidade pública, não podemos nos furtar de denunciar medidas preconceituosas contra os portadores de transtornos mentais, que excluam exatamente a população menos favorecida socialmente do acesso a tratamentos considerados de primeira linha em qualquer diretriz científica nacional ou internacional.
O diagnóstico de TDAH é oficialmente reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (cujo Código de Doenças encontra-se legalmente em vigor no país), há diretrizes internacionais para a sua realização e inúmeros estudos científicos que demonstram alterações no funcionamento cerebral no TDAH.
Resumos de alguns destes estudos e pesquisas cientificas sobre TDAH, podem ser acessados aqui.
A ABDA reivindica o acesso ao tratamento adequado e reconhecido mundialmente, e repudia o uso inadequado de qualquer medicação para TDAH, sem que haja uma avaliação criteriosa. A nossa luta é pela dignidade dos pacientes, acesso ao diagnóstico correto, tratamento de qualidade e dispensação de medicação para aqueles que REALMENTE precisam. A Prescrição de remédios psiquiátricos é atribuição exclusiva do profissional médico. No caso do TDAH, quem está habilitado a prescrever a medicação, é o PSIQUIATRA, NEUROLOGISTA e NEUROPEDIATRA!!!
Sabemos que tal meta só será alcançada com atitudes, políticas públicas inclusivas e capacitação profissional, e não com protocolos disciplinares pseudocientíficos e demagógicos.
A ABDA é uma associação de pacientes, sem fins lucrativos. Nossa missão é disseminar informação científica sobre TDAH.
Convocamos pessoas com TDAH, familiares, profissionais de educação e saúde, e toda sociedade civil preocupada com o bem estar de todas as crianças brasileiras e imbuídas no propósito de lutar pela dignidade, respeito e liberdade, a se engajar nesta causa.
- See more at: http://www.tdah.org.br/br/noticias/reportagens/item/1080-carta-aberta-%C3%A0-popul%C3%A7%C3%A3o-sobre-tdah.html#sthash.JITcgcOQ.dpuf

quinta-feira, 17 de julho de 2014

352- Algumas regras para discutir direito e para perdoar mais depressa (TDAH)


Qual é o segredo de um casamento TDAH saudável? Pode ser a maneira pela qual os casais se comunicam quando brigam - e com que rapidez eles perdoam e seguem em frente. Por Melissa Orlov.

Todos os casais brigam. É parte do amor e do casamento. Mas nem todos os casais sabem como seguir em frente depois de uma briga - e os que sabem têm uma  grande vantagem e uma grande chance de felicidade duradoura.

O objetivo para todos os casais (especialmente os que têm TDAH) não é parar de brigar - isso vai acontecer - mas aprender como ter uma "briga boa".

O que a ciência diz

O especialista em relacionamentos, John Gottman, Ph.D., autor de The Seven Principles for Making Marriage Work (Os Sete Princípios Para Fazer o Casamento Funcionar), e seus colaboradores, fez um conjunto de pesquisas sobre relacionamentos saudáveis. Seu trabalho sugere que não é a frequência com que você briga que determina a durabilidade do seu relacionamento. São as ações que você adota quando você briga, e como você repara o dano depois, que prognosticam a estabilidade de um relacionamento.
Infelizmente, os relacionamentos TDAH têm as condições estabelecidas contra si mesmos. Por quê?

1- Casais atingidos pelo TDAH enfrentam mais altos e baixos do que outros casais.

2- As pesquisas recentes feitas com gêmeos sugerem que problemas da regulação emocional,  característica principal do déficit de atenção, são ligados geneticamente. Casais TDAH regularmente têm respostas emocionais desproporcionais em ocasiões inesperadas. Isso pode levar os parceiros, TDAH ou não TDAH, a se sentirem como se tivessem de pisar em ovos.

3- O parceiro não TDAH geralmente cai no hábito de criticar o parceiro TDAH, de estar sempre julgando, corrigindo e "educando" o parceiro a ser organizado, a prestar mais atenção, e coisas assim. O parceiro reclamante pensa que está fazendo uma base sólida para o relacionamento. Não está. Na maior parte do tempo os TDAHs vêem a crítica e as ordens como abuso verbal. Eles se sentem molestados e agredidos,como se ele não pudesse fazer nada direito. Sua resposta é atitude defensiva e a raiva.

Discussões versus "Brigas Boas"

Eu ouvi estas queixas de muitos portadores de TDAH ao longo dos anos: "Estou fazendo o melhor que posso para ficar calmo quando minha mulher, que não tem TDAH, fica pegando no meu pé  sempre pelas mesmas coisas, todo o tempo. Mas eu não consigo deixar de ficar bravo. Ela me provoca. Parece que brigamos o tempo todo. Depois que começamos, ela também fica muito brava... essas brigas estão me fazendo muito mal."
O marido parece precisar de um controle melhor dos sintomas para ser mais confiável, e sua mulher precisa ser mais respeitosa e simpática enquanto ele tenta atingir esse controle. Mesmo com essas mudanças, o casal ainda brigará de vez em quando. Aprender a ter uma "briga boa" - arejando discordâncias como parceiros iguais, em vez de atirar as diferenças na cara um do outro, ajudará. Gottman sugere algumas idéias para tirar a raiva das brigas:

1- Comece com uma queixa, não com uma crítica. "estou preocupado porque o lixo não está sendo removido regularmente" é uma queixa. "Você nunca remove o lixo como prometeu" é uma crítica. Queixas funcionam melhor; elas são mais respeitosas e não põem o ouvinte na defensiva tão rapidamente.

2- Comece de leve, ou por um tópico. Começos de leve mostram respeito para com a outra pessoa, por não fazer pressuposições. Geralmente incluem uma observação e focalizam em sentimentos. A seguir, um exemplo de um começo de leve: "Eu realmente senti sua falta. Nós não estamos ficando juntos o bastante nesses últimos dias". A versão ruim disso seria: "Você nunca presta atenção em mim!"

3- Seja respeitoso. Não importa quão difícil seja o assunto, ou quão bravo você esteja, seu parceiro sempre merece respeito. Não há justificativa para gritos ou depreciações. Trate seu parceiro como você gostaria de ser tratado.

4- Use palavras não ameaçadoras e não ameace seu parceiro. Se você ficar afogado pelas emoções e sentir que não vai aguentar, tente deixar seu parceiro sair da briga.

5- Use frases clarificadoras, tais como, "Se eu entendi corretamente, nós dois pensamos..."

6- Fale com calma. Isso é difícil quando as coisas são emocionais. Treinamento da prudência e respiração profunda ajudam.

7- Use ajudas verbais para atenuar suas interações. Em minha casa, se um de nós fica muito emocionado - acontece com nós dois - podemos usar uma ajuda verbal previamente combinada para sugerir que precisamos fazer uma pausa. Retomamos a conversa mais tarde.

8- Olhe seu parceiro nos olhos. Isso serve a dois propósitos: de comunicar eficazmente como você se sente e ssegurar que você tem a atenção do seu parceiro.

9- Procure as concordâncias. Você terá mais chance de se engajar construtivamente se focar nas similaridades e preocupações compartilhadas. Redirecione uma briga sobre a hora de dormir com "Sei que ambos estamos tentando achar o melhor equilíbrio entre sono suficiente e tempo com as crianças...", pondo ambos na mesma equipe de resolução de problemas.

10- Faça perguntas com o final aberto. As melhores brigas são conversas nas quais você discorda. Não dê aula ao seu parceiro. Em vez disso, convide-o para a conversa. "Você vê isso desse jeito?" ou "O que você pensa?". Isso pode ajudar. Ouça a resposta do seu parceiro.

11- Faça declarações afirmativas. Mesmo que você discorde do seu parceiro, você ainda assegurará que as opiniões dele serão ouvidas. "Entendo que você sente que eu deveria fazer mais tarefas, mas não estou seguro que eu tenha tempo suficiente. Precisamos falar mais sobre isso" é mais construtivo do que "Estou muito ocupado". Você pode não assumir mais tarefas, mas demonstrou que ouviu a queixa do seu parceiro.

12- Aceite a legitimidade das emoções negativas. Em vez de lutar contra emoções negativas, seja solidário ao seu parceiro. Isso é importante se o seu parceiro está sentindo aflição. Você deve estar pronto para seguir em frente, mas ajudará a cura do seu parceiro se responder com "Sinto muito que tenhamos passado por tudo isso. Tem sido difícil".

Se essas estratégias parecem óbvias, pergunte a si mesmo se você as está usando consistentemente. Provavelmente não. É necessário pensamento e prática para usar declarações afirmativas e fazer perguntas com final aberto quando estiver bravo. Não são somente as palavras, são as emoções envolvidas que contam.

Segure a inundação

Um cônjuge não TDAH me confidenciou: "É difícil para mim sair de perto durante uma briga. Sinto-me ignorada, como se ele não estivesse escutando. Quando ele fica bravo, pode ficar explosivo e fora de controle. Às vezes, quando tento sair de perto, ele está em tal grau de raiva que vai atrás. Quando saio de perto, ele espera que eu esqueça e não discuta o problema".

A raiva do marido é chamada de "flooding" (inundação). É uma resposta fisiológica ao sentimento de que você está em perigo ou com outra emoção extrema. As partes do cérebro necessárias para brigar se inundam de sangue e de oxigênio para um melhor desempenho. Infelizmente, eles são retirados de partes do cérebro que lidam com o pensamento lógico. Quando você está "inundado", você pode sentir que não deveria estar brigando, mas não consegue que as partes lógicas do cérebro o impeçam. Por essa razão, brigas sob "inundação" podem ameaçar um casamento ou um relacionamento. A melhor maneira de lidar com a "inundação" é concordar em ter uma muleta verbal para interromper a conversa antes que ela vá mais longe.

A importância da tranquilização

As pesquisas sugerem que saber como se recuperar de uma briga é uma habilidade crítica. Uma pessoa oferece uma dica para fazer as pazes, tal como um pedido de desculpas, enquanto a outra fica aberta a essa dica. Um parceiro deve aceitar de coração um pedido de desculpas do seu companheiro, em vez de erguer um muo e se recusar a aceitar as desculpas.
É difícil prever quais comportamentos de reparação funcionarão pra quais duplas. Humor em momento de estresse pode aumentar os problemas para alguns e pode aliviar as piores ofensas, para outros.

Uma vez, enquanto meu marido e eu estávamos brigando porque eu me choquei com o carro dele acidentalmente, ele tentou fazer as pazes me entregando um buquê de flores murchas tiradas do porta-malas, onde ele as havia esquecido. O gesto me desconcertou e terminou com a briga.
Flores mortas podem não funcionar para acalmar seu parceiro, mas eis aqui alguns ramos de oliveira que você pode oferecer:

1- Faça um pedido de desculpa.

2- Fale sobre reconsiderar o ponto de vista dele ("Eu não tinha pensado nisso desse modo").

3- Lembre seu parceiro de que vocês estão no mesmo time: "Se nós concordamos que é importante ir dormir às 10 horas, o que poderá nos ajudar a fazer isso?"

4- Demonstre apreço: "Amei quando você aceitou começar a fazer exercícios".

5- Generalize a conversa para encontrar pontos de vista em comum ("Podemos discordar nos detalhes, mas ao menos, finalmente, concordamos que as calhas precisam de conserto neste ano!")

Concorde em discordar

Além de tudo o que já foi dito, você precisa concordar em discordar. A pesquisa longitudinal feita com casais demonstrou que cerca de 70 por cento do que o casal discutia 10 anos atrás ainda está sendo discutido 10 anos mais tarde. Se 70 por cento das discordâncias não têm solução, faz sentido saber negociar uma trégua. Isso é chamado de "work around" (contornar).

Você não está sugerindo que seu parceiro resolva o problema. Em vez disso, você reconhece que a coisa sobre a qual vocês têm brigado não tem solução, e é do seu maior interesse lidar com ela de modo construtivo. Isso põe você de volta no mesmo time de amantes.

ADDitude

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