domingo, 6 de outubro de 2013

300- O TDAH não é uma desculpa – Nunca.


 
O déficit de atenção pode explicar o mau comportamento do meu filho de oito anos – mas, agora, embora a medicação ajude a controlar seus impulsos, ela não o livra de apuros. Por Samantha Hines.

Meu filho de oito anos, Edgar, nem sempre se comporta bem. Seus irmãos também não, mas ele tem TDAH e eles não, assim, seus comportamentos e ações estão sob observação mais rigorosa do que os dos seus irmãos. Embora eu pudesse inicialmente gostar de bater o pé e dizer “Isso não é correto”, eu acho que realmente seja. Com professora e mãe – como ser humano – tenho aderido à noção de que o correto não é todos terem o mesmo tratamento, mas todos terem o que precisam.

O comportamento dos irmãos de Edgar geralmente não está sob o microscópio de ninguém porque eles não estão atravessando um processo de desaprender e aprender. Antes do diagnóstico de TDAH do Edgar, e o subsequente tratamento médico, suas transgressões não respondiam às correções. Você podia dizer para ele na segunda-feira que ele não podia se comportar daquele modo em certos locais. Na quarta-feira, ele já teria esquecido a conversa ou repetiria impulsivamente o comportamento indesejável.

Depois que a medicação foi iniciada, repentinamente Edgar, pela primeira vez, parecia entender seu comportamento e como ele atingia os outros. Ele usava palavras tais como “reação exagerada” para explicar por que ele atirava longe o lápis quando ficava sabendo que teríamos frango, em vez de macarrão, no jantar. Ele, finalmente, parecia entender o propósito por trás das consequências.

A despeito do sucesso do tratamento medicamentoso, sua prescrição está longe de ser uma panaceia. É errado pensarmos, nós e Edgar, que seja. A medicação é uma ferramenta que abre as portas para ele, mas isso não livra, ele e seus pais, do trabalho que tem de ser feito.

Recentemente, um membro da família pediu a Edgar que parasse de jogar um videogame que tomava sua atenção a ponto de fazê-lo ignorar a existência de todos os outros. Foi solicitado que ele arrumasse a bagunça que havia deixado em outro cômodo. Era um pedido simples, razoável, mas naquele instante Edgar não entendeu assim. Ele explodiu verbalmente, e, em vez de arrumar a bagunça, tornou-a pior.

Eu o tirei da situação, arrumei a bagunça eu mesma, e me despedi. No carro, expliquei a Edgar as consequências do seu comportamento. Enquanto eu fazia isso, seu irmão de quatro anos disse, em um momento de solidariedade fraternal, “Mas, mãe, Edgar tem TDAH”. Minha resposta foi simples: “O TDAH do Edgar é uma explicação, mas nunca uma desculpa”.

Edgar cumpriu sua consequência, e, por causa da medicação que usa, foi capaz de entender por que seu comportamento não era aceitável. Haverá transgressões no futuro – talvez outra amanhã? Claro que sim. Mas ele, assim como todos nós, está aprendendo.

ADDitude.

sábado, 5 de outubro de 2013

299- Entendendo o Déficit de Atenção: O Novo TDAH


O que há de novo sobre o TDAH? Muita coisa, de acordo com Thomas Brown, professor em Yale, Estados Unidos. Você vai pensar de modo diferente depois que souber de todos os fatos.

Por Thomas Brown, Ph.D.

TDAH 2.0

Descobertas das neurociências, as imagens do cérebro e a pesquisa clínica mudaram dramaticamente o velho entendimento sobre o TDAH como um transtorno essencialmente do comportamento. Agora, os especialistas veem o TDAH como um transtorno de desenvolvimento do sistema de autocontrole do cérebro, suas funções executivas. Há muitos outros mitos sobre o TDAH, como você verá. Assim, atualize seu pensamento sobre o transtorno com os fatos.

Novo Modelo versus Velho Modelo

O novo modelo do TDAH difere por várias maneiras do modelo anterior desse transtorno como um conjunto de problemas de comportamento das crianças pequenas. O novo modelo é um paradigma de mudança para o entendimento do TDAH. Ele se aplica às crianças, adolescentes e adultos. Ele focaliza uma ampla faixa de funções de autocontrole ligadas a complexas operações do cérebro, e essas não estão limitadas aos comportamentos facilmente observáveis. Mas, há uma sobreposição substancial entre os modelos novo e velho do TDAH.

O Foco que Liga e Desliga

Os dados clínicos indicam que os problemas de função executiva são variáveis de acordo com a situação; cada pessoa com TDAH tende a ter algumas atividades ou situações específicas nas quais ela não tem nenhuma dificuldade em usar as funções executivas que estão significativamente prejudicadas para ela na maioria das outras situações. De modo típico, essas atividades são as em que o portador de TDAH tem um forte interesse pessoal ou as em que ele acha que algo de muito desagradável acontecerá se ele não fizer a tarefa já.

Sinais na Infância

As pesquisas recentes mostraram que muitos com TDAH funcionam bem durante a infância e não manifestam sintomas significativos até a adolescência, ou mais tarde, quando grandes mudanças são encontradas nas funções executivas. Na década passada, as pesquisas mostraram que os sintomas prejudiciais do TDAH geralmente persistem até a idade adulta. Entretanto, os estudos também mostraram que alguns indivíduos com TDAH durante a infância experimentam redução significativa de seus prejuízos conforme envelhecem.

QI Alto e TDAH

A inteligência, medida pelos testes de QI, não tem virtualmente nenhuma relação sistemática com os prejuízos das funções executivas descritos no modelo novo do TDAH. Os estudos mostraram que até mesmo crianças e adultos com inteligência extremamente alta podem sofrer os prejuízos do TDAH. Isso causa problemas para eles usarem suas fortes habilidades cognitivas de maneira consistente e eficaz em muitas situações da vida.

Conexão Emocional

Pesquisa recente mostrou o papel importante das emoções no TDAH. Algumas pesquisas focalizaram somente os problemas de regulação das emoções sem a inibição necessária. A pesquisa também mostrou que um déficit crônico das emoções, que compromete a motivação, é um prejuízo para a maioria dos indivíduos. Isso torna difícil para eles despertar e sustentar a motivação para atividades que não dão reforço imediato e contínuo.

Mapeando os Déficits

As funções executivas são complexas e envolvem não somente o córtex pré-frontal, mas também muitos outros componentes do cérebro. Indivíduos com TDAH diferem, conforme foi achado, na taxa de maturação de áreas específicas do córtex, na espessura do tecido cortical, nas características das regiões parietais e cerebelares, assim como nos gânglios da base e nos tratos substância branca que ligam e fornecem comunicação criticamente importante entre várias regiões do cérebro.

Desequilíbrio Químico

Os prejuízos do TDAH não são devidos ao excesso global ou à falta de uma substância química específica dentro ou ao redor do cérebro. O problema primário é relacionado às substâncias químicas fabricadas, liberadas e recaptadas ao nível das sinapses, as junções entre certos circuitos neuronais que controlam o sistema de gerenciamento do cérebro. Pessoas com TDAH tendem a não liberar o suficiente dessas substâncias químicas essenciais, ou a liberar e recaptá-las muito rapidamente. A medicação para o TDAH ajuda a melhorar esse processo.

O Gene do TDAH

Não foi identificado nenhum gene como a causa dos prejuízos conhecidos como TDAH. A pesquisa recente identificou dois grupamentos diferentes que juntos estão associados com o TDAH, embora não definitivamente causadores. Nesse ponto, a complexidade do transtorno é provavelmente associada a muitos genes, cada um dos quais, por si mesmo, tem somente um pequeno efeito sobre o aparecimento do TDAH.

TDAH e TOD

A incidência do transtorno de oposição e desafio (TOD) em crianças com TDAH varia de 40 a 70%. As taxas mais altas são geralmente para as pessoas com o tipo combinado de TDAH.  O TOD é caracterizado pelos problemas crônicos de comportamento negativista, desobediente, desafiador e/ou hostil contra as figuras de autoridade. Tipicamente, o TOD é aparente ao redor dos 12 anos de idade e persiste por cerca de seis anos, para gradualmente desaparecer. Mais de 70% das crianças diagnosticadas com o TOD nunca desenvolvem Transtorno de Conduta.

TDAH e Autismo

A pesquisa demonstrou que muitos indivíduos com TDAH têm traços significantes relacionados ao Transtorno do Espectro Autista (TEA), e que muitas pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista também preenchem os critérios para o TDAH. Os estudos também mostraram que os medicamentos para o TDAH podem ser úteis para aliviar sintomas de TDAH em indivíduos com Transtorno do Espectro Autista. Os medicamentos para TDAH também podem ajudar os que têm TEA com TDAH a melhorar alguns dos seus problemas.

Medicamentos e Mudanças Cerebrais

Os estudos e os testes clínicos mostraram que as medicações para o TDAH dão os seguintes benefícios para algumas crianças e adultos:

melhora da memória de trabalho, do comportamento em sala de aula, da motivação para fazer as tarefas e para prosseguir na tentativa de resolver problemas.

diminuição do aborrecimento e da distração quando faz as tarefas, e diminuição das crises emocionais.

aumento do desempenho nas provas, nas notas e outras conquistas que podem ter efeitos duradouros.

normalização das anormalidades estruturais de regiões específicas do cérebro.

Medicamentos para Idades Diferentes

O ajuste fino da dose e dos horários dos estimulantes é importante porque a dose mais eficiente depende de quão sensível é o organismo do paciente àquela medicação específica. Geralmente os médicos começam com uma dose muito baixa e aumentam gradualmente até que uma dose eficaz seja encontrada, que um efeito colateral importante ocorra, ou que seja atingido o máximo recomendado. Alguns adolescentes e adultos precisam de doses menores do que as tomadas por crianças; algumas crianças pequenas precisam de doses maiores do que as dos seus colegas.

Pré-escolares e Medicamentos

As pesquisas mostraram que a maioria das crianças de 3 a 5 e meio anos de idade, com TDAH de moderado a grave, tem melhora significativa dos sintomas quando tratada com estimulantes. Os efeitos colaterais são ligeiramente mais comuns do que usualmente vistos nas crianças maiores, mas ainda mínimos. Em 2012, a Associação Pediátrica Americana recomendou que as crianças de 4 a 5 anos de idade, com TDAH que cause problemas significativos, devem ser tratadas com terapia comportamental. Se não for eficaz depois de nove meses, a medicação estimulante é recomendada.

Impulsivo para Sempre?

Muitos  com  TDAH nunca manifestam níveis excessivos de hiperatividade ou de impulsividade na infância ou depois. Entre os que são mais hiper e impulsivos na infância, uma porcentagem substancial supera os sintomas na metade da infância ou no início da adolescência. Mas os prejuízos em focalizar e em manter a atenção, em organizar as tarefas, controlar as emoções e em usar a memória de trabalho podem persistir e se tornar problemáticos, conforme a pessoa entra na adolescência e na idade adulta.

TDAH é Diferente

O TDAH difere de muitas outras doenças no que ele cruza com outras doenças. O prejuízo das funções executivas que constitui o TDAH também é presente em outras doenças. Muitas dificuldades de aprendizado e doenças psiquiátricas poderiam ser comparadas a problemas com um programa de computador que, quando não está funcionando bem, interfere com algumas funções. O TDAH deve ser comparado a um problema com o sistema operacional do computador que vai interferir com o funcionamento de muitos programas diferentes.

ADDitude.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

298- Eu queria que os não TDAHs...


Leitores imaginam um mundo no qual o déficit de atenção fosse mais bem compreendido e aceito. ...só isso!

Eu queria que os não TDAHs...

Acreditassem que o TDAH é de verdade. Eu queria que o nosso mundo acreditasse que a falta de substâncias químicas no cérebro não é diferente de ter deficiência de substâncias químicas em outras partes do corpo, como a falta de insulina no diabetes. D. S., Arkansas.

Parassem de ser tão críticos sobre o uso de medicação para tratamento do TDAH. Não sabem como doeu o coração meu e do meu marido quando tivemos de decidir tomar essa atitude para nosso filho. Não é como acordar de manhã cedo e dizer "Ei, não temos nada melhor para fazer do que medicar nosso filho. Vamos lá!" Houve milhares de lágrimas derramadas, antes dessa decisão, minhas, do meu marido e do meu filho. Michelle, Ohio.

Engolissem as queixas sobre a necessidade de me focalizar nas tarefas  e por não responder aos e-mails. Aos 52 anos de idade, já estou um pouco cansada disso. Andrea, New York.

Parassem de ser tão críticos em relação a mim. Luto com a constante falta de compreensão da minha mulher. Também sofro no trabalho. Muitas vezes sinto que, devido à minha falta de capacidade para acertar, sou ignorado e mal compreendido. George, Louisiana.

Entendessem que não é o fim do mundo se meu filho quer ficar de pé enquanto faz o trabalho na escola ou se tira os sapatos quando fica sentado. É porque não é com eles... - Jeanette, Virginia.

Calassem, em vez de dizer "Tive um momento TDA". Tais comentários depreciam os desafios que o TDAH nos impõe todos os dias. Erin, Florida.

Perdoassem mais. Todos temos um lado bom e nossas fraquezas. Diana, Maine.

Evitassem dizer que meu TDAH vai sumir  e que eu vou ficar ótimo quando ficar mais velho. Um leitor de ADDitude.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

297- Lista dos 100 Primeiros Artigos Publicados no Blog


Se já leu algum, leia novamente, com mais atenção. Se não leu, aproveite o conteúdo de algum que lhe interesse. Procure no arquivo do blog, mais abaixo e à sua direita.

1- Saudações.
2- O TDAH e os professores.
3- TDAH - Dicas para a sala de aula.
4- Listas de checagem do TDAH - Sandra Rief
5- TDAH - Cartilha do Educador.
6- TDAH - Preocupado? Leia isto:
7- Novas diretrizes para o tratamento do Déficit de Atenção/Hiperatividade.
8- Quais são as características ideais de um professor para crianças e adolescentes com TDAH?
9- O que os professores devem esperar do desempenho acadêmico dos alunos com TDAH?
10- Acomodações em classe e auxílios para os alunos com TDAH.
11- O que acontece com quem herda a predisposição para o TDAH?
12- O comportamento dos pais em relação aos filhos pode agravar o TDAH?
13- O TDAH não pode pura e simplesmente ser secundário ao modo como as crianças são educadas pelos pais?
14- Focalizando a atenção das crianças desatentas com TDAH.
15- Crianças com o transtorno de oposição e desafio.
16- Crianças com o transtorno de oposição e desafio - Dados para as famílias.
17- Os sintomas do TDAH.
18- TDAH - Sintomas em adultos.
19- Dicas para ajudar os pais com TDAH a se manterem organizados.
20- Quando o seu filho é o culpado pelo bullying.
21- O que os pais podem fazer para ajudar no tratamento?
22- Dicas para os pais.
23- Vinte e cinco coisas boas do TDAH.
24- Doze dicas para ajudar crianças com TDAH a ler, escrever e em matemática.
25- Pai de criança com TDAH? Cinco segredos para uma disciplina melhor.
26- Minimize as brigas sobre trabalhos de casa e estudo criando rotinas para seu filho com TDAH.
27- Estratégias amigáveis, aprovadas pelos pais, para ajudar crianças com TDAH a fazerem seu trabalho de casa.
28- Acabe com a distração: Melhorando o foco do TDAH em casa e na escola.
29- Vinte e sete acomodações que funcionam para o TDAH.
30- Risco de depressão e suicídio no TDAH de adolescentes.
31- Dicas de comportamento escolar: controle do impulso para crianças com TDAH.
32- Para os pais de crianças com TDAH.
33- TDAH - Sugestões para intervenções do professor.
34- Como falar com uma criança ou adolescente sobre o TDAH?
35- Falta conhecimento sobre o TDAH. Isso é grave!
36- Quando mudar de médico.
37- Álcool e medicamentos para o TDAH. O que é seguro?
38- Evite a destruição das festas de Natal: Auxílio para as crianças com TDAH.
39- Medicamentos ou tratamento alternativo para o TDAH?
40- TDAH é uma doença inventada?
41- Melhorando o comportamento em classe: Ajude as crianças com TDAH a parar a inquietação.
42- Dez ou mais ferramentas de relacionamento do TDAH para o amor duradouro.
43- Sete soluções para problemas de sono.
44- Reduza a ansiedade naturalmente.
45- Memória de trabalho e memória de curto prazo.
46- Estatísticas relacionadas ao TDAH em crianças e adolescentes sem tratamento.
47- Simplifique sua vida com o TDAH aprendendo a dizer "não".
48- Seis maneiras para o adulto com TDAH interromper a procrastinação.
49- A instabilidade na carreira mostra o pior do meu TDAH.
50- Cecília Meireles - Motivo.
51- Modificação das tarefas acadêmicas no TDAH.
52- Você ouve os outros? Como brilhar em situações sociais com o TDAH.
53- 10 maneiras de arruinar um bom relacionamento.
54- Como ajudar estudantes com TDAH no ensino médio a se preparar para a faculdade.
55- Seis truques para a memória de estudantes com TDAH.
56- Lição de casa.
57- A perspectiva das crianças que vivem com TDAH.
58- TDAH em adultos.
59- Disciplina (Professor João Marcello Almeida).
60- Repensar o TDAH a partir de uma perspectiva cognitiva.
61- TDAH e dificuldades com matemática: Semelhanças cognitivas e intervenções.
62- Quando os professores culpam os pais pelo TDAH e pelas dificuldades de aprendizagem do aluno.
63- Lista dos artigos já publicados no blog.
64- Crianças e adolescentes desafiadores e violentos: programa de treinamento de pais que auxiliam a mudar o comportamento.
65- Bullying: colégio terá que indenizar família de aluna.
66- Crianças e adolescentes desafiadores e violentos (segunda parte).
67- Crianças e adolescentes desafiadores e violentos (terceira parte).
68- Ajude seu filho a controlar o humor.
69- Déficits das funções executivas em crianças.
70- Os dez piores terapeutas para adultos com TDAH.
71- Dicas para as mães sobre o tratamento do TDAH.
72- Técnicas de gerenciamento do tempo: 9 dicas DR Hallowell para poupar o seu tempo.
73- Desafios podem tornar prazeroso para a criança o dever de casa.
74- Levando a sério o controle dos sintomas do TDAH.
75- Crianças e adolescentes desafiadores e violentos: Um treinamento de disciplina para refrear comportamento violento e desafiador.
76- Picking ou conduta auto-lesiva ou escoriação neurótica.
77- Conduta auto-lesiva (skin picking). Qual é a causa, como podemos prevení-la?
78- Soluções para o sono das crianças com TDAH: Sicas experimentadas pelos pais.
79- Ansiedade? Depressão? Algumas mudanças simples de estilo de vida podem melhorar a saúde mental dos adultos com TDAH.
80- O TDAH falsificado.
81- Alguns dados sobre dislexia. Veja mais em www.dilexia.com.br
82- Autismo ou TDAH?
83- TDAH e dificuldades com a matemática: Semelhanças cognitivas e intervenções no ensino.
84- O que é dificuldade com a matemática?
85- Dificuldades com a matemática e TDAH.
86- Tudo é memória de trabalho?
87- TDAH e dificuldades com a matemática - A melhor prática em sala de aula.
88- Uso do computador ainda assusta professores.
89- O tratamento do TDAH.
90- Medicações utilizadas no tratamento do TDAH.
91- O que as crianças necessitam para aprender e crescer?
92- Problemas com a medicação do TDAH: Por que a receita pode não ser eficiente.
93- Decida com facilidade.
94- TDAH - Dificuldade de aprendizagem. o que as pesquisas mostram.
95- TDAH do adulto - motivação no trabalho: a chave para superar a procrastinação.
96- TDAH e Sexo - Redescobrindo o romance em seu casamento.
97- Dificuldades de concentração no ambiente escolar - com foco nas crianças com TDAH, Autismo, Síndrome de Down.
98- Pesquisadores investigam as causas da ansiedade com matemática.
99- Quantificação e análise da concordância entre pais e tutores no diagnóstico do TDAH.
100- TDAH do adulto - Sempre atrasado?

domingo, 29 de setembro de 2013

296- TDAH (ADHD) - Os adolescentes sabem dizer se estão tomando medicação estimulante?


Embora a medicação estimulante ajude a aliviar os sintomas de muitos adolescentes com TDAH, muitos deles se recusam a tomar a medicação ou preferem descontinuá-la. De fato, calcula-se que, por volta dos 18 anos, menos de 10% dos jovens que iniciaram a medicação continuam a recebê-la. 

As razões comumente citadas pelos adolescentes para a interrupção da medicação incluem "que não precisam dela", "que ela não ajuda", "que não gostam do jeito que ela os faz sentir". A verdade dessas declarações depende, ao menos em parte, de se assumir que eles podem realmente dizer se estão tomando a medicação. De maneira surpreendente, virtualmente nada se sabe sobre essa questão básica.

Um estudo publicado online recentemente, no Journal of Attention Disorders [Pelham et al., (2013): Attributions and Perception of Methylphenidate Effects in Adolescents With ADHD. Journal of Attention Disorders, 26 de julho de 2013] foi planejado para responder a essa questão e para incrementar a pesquisa mostrando que crianças com TDAH são incapazes de realmente diferenciar quando estão recebendo medicação estimulante de quando estão recebendo placebo (substância inerte). Como os adolescentes têm muito mais habilidades cognitivas do que as crianças, e muitos têm maior experiência com medicação estimulante, os autores sugeriram que os adolescentes poderiam ser mais capazes de distinguir a medicação real do placebo.

Os participantes desse estudo foram 46 adolescentes de 12 a 17 anos de idade, que estavam submetidos a um programa de verão de tratamento intensivo para jovens com TDAH. Como parte do programa, cada adolescente recebeu um período controlado com placebo e medicação estimulante (o medicamento utilizado foi o metilfenidato) durante o qual foram utilizadas três dosagens ou um placebo em dias diferentes.
Ao final de cada dia, os participantes conversavam com seus conselheiros sobre como atingiram as expectativas para o dia. Os jovens classificaram a importância de diferentes razões para seu desempenho naquele dia, incluindo seus nível de esforço, sua habilidade, a dificuldade do que foram solicitados a fazer, como foram apoiados, o quanto foram ajudados pela medicação e o fato de que tinham TDAH. Também foi perguntado se eles tomaram a medicação verdadeira ou um placebo e, se eles respondiam "medicação verdadeira", se tinham recebido uma dose pequena, média ou grande. Por meio desse procedimento os pesquisadores procuravam examinar três questões básicas. Primeira, os jovens podem realmente distinguir a medicação do placebo? Segunda, isso depende da dose que receberam? E, finalmente, quais razões os adolescentes invocam para explicar seu comportamento nos dias "bons" e "maus"? Os pesquisadores estavam particularmente interessados no quanto os adolescentes explicavam seu comportamento em termos de ter TDAH e tomar medicação versus seu esforço, habilidade, e em quão bem tinham sido tratados.

Resultados

Questão 1 - Os adolescentes podem seguramente distinguir medicação de placebo?

A resposta a essa questão foi claramente que eles não podem. Eles identificaram corretamente os dias de medicação "verdadeira" em somente 61% do tempo. Eles identificaram corretamente os dias de placebo em somente 59% do tempo. Esses números tornam-se mais expressivos quando levamos em conta que os participantes estariam corretos em algum tempo simplesmente "chutando"; de fato, seus índices de acerto na verdade não diferem de respostas ao acaso. Depois de se corrigir para respostas ao acaso, eles detectaram corretamente a medicação verdadeira em somente 38% do tempo e o placebo em somente 23% do tempo.

Questão 2 - A habilidade dos adolescentes em detectar a medicação depende da dose que eles receberam?

De modo geral, os adolescentes tinham maior tendência a indicar que tinham tomado a medicação verdadeira quando recebiam uma dose mais alta do que quando recebiam uma dose menor. Entretanto, mesmo para a maior dose utilizada no estudo, eles não acertaram mais do que por acaso.

Questão 3 - Ao que os adolescentes atribuíam seu comportamento nos dias bons e nos dias ruins?

Nos dias bons, isto é, aqueles nos quais os participantes tinham claramente atingido suas expectativas de comportamento, eles tendiam a atribuir isso ao seu próprio esforço e habilidade. Tomar medicação ou ter TDAH foi tido como muito importante em menos do que 1% do tempo.
Nos dias ruins, a explicação mais citada foi ter sido tratado mal. Ter TDAH foi uma explicação em menos do que 5% do tempo.
Não houve diferença nas atribuições dos adolescentes baseadas em se receberam a medicação real ou um placebo.

Resumo e implicações

Os resultados indicam que os adolescentes não são mais exatos do que as crianças em diferenciar quando estão recebendo medicação ativa de quando estão recebendo placebo, e sua habilidade geral em fazer essa diferenciação não foi melhor do que por acaso. Eles tendiam a explicar seu comportamento nos dias bons como um reflexo de seu próprio esforço e nível de habilidade; nos dias ruins, eles tendiam a citar, como a razão, fatores externos, por exemplo, ser maltratado,. Assim, houve pouca evidência de que eles sejam mais aptos a invocar o TDAH ou a medicação como explicação para o efeito positivo ou negativo em seu comportamento.

Qual a relevância clínica desses achados? Uma implicação importante é que muitos adolescentes podem ser incapazes de julgar corretamente se estão ou não se beneficiando pelo uso da medicação. Então, o pedido para interromper a medicação porque "ela não está ajudando" precisa ser considerado cuidadosamente e não ser tido como a expressão da verdade, logo de "cara".

Em tais circunstâncias, um procedimento usual pode ser monitorar cuidadosamente o comportamento do adolescente com e sem a medicação - incluindo a informação dos professores, quando possível - de modo que o comportamento e o rendimento escolar com e sem a medicação possa ser avaliado. Quando eu clinicava, descobri que alguns adolescentes que pressionavam para interromper a medicação podiam ser orientados a fazer esse teste, para obter uma evidência consistente sobre a utilidade ou não da medicação. Em casos nos quais os dados indicavam que a medicação estava fazendo uma diferença positiva - apesar do que eles haviam pensado - algumas vezes concordavam em continuar o tratamento.

Há várias limitações nesse estudo, que devem ser notadas. Primeiro, a medicação usada era o metilfenidato de efeito curto, e não pode ser determinado se os adolescentes são igualmente capazes ou incapazes de detectar as medicações atuais de efeito mais prolongado. O quanto esses achados podem ser estendidos para situações fora do programa de tratamento intensivo de verão, no qual os dados foram colhidos, também não pode ser determinado com certeza.

Não obstante essas limitações, os resultados desse estudo são interessantes e, para mim, um tanto surpreendentes. Dado o impacto significante que a medicação estimulante tem sobre o comportamento de muitos adolescentes com TDAH, esperar que eles pudessem ser capazes de realmente detectar sua presença não é estranho. Como foi discutido acima, entretanto, isso não parece ser o caso e pode ter implicações importantes quando se lidar com os pedidos para descontinuar o tratamento.


David Rabiner, Ph.D. - Research Professor, Dept. of Psychology & Neuroscience - Duke University, Durham, NC, USA.

sábado, 21 de setembro de 2013

295- Eu e o TDAH


 
Uma menina de 12 anos comenta sobre o equilíbrio entre o TDAH e suas habilidades especiais. Por Dana Olney-Bell

Tenho 12 anos de idade e pelo tempo que posso me lembrar, tive lados opostos dentro de mim. Alguém me disse que eu era “dotada” – muito inteligente e criativa. Mas eu tinha que trabalhar de verdade, realmente muito, com coisas que pareciam muito mais fáceis para outras meninas, tais como memorizar e prestar atenção.

Veja um exemplo: em matemática, ciência e artes, sou mais rápida em imaginar coisas do que outras garotas. Como quando minha professora nos mostra uma nova maneira de subtrair frações, parece óbvio para mim e não para as outras garotas. Mas, quando estou tentando ouvir alguém falando ou lendo, minha mente começa a vagar.

Uma vez, quando estávamos falando sobre plantas, em ciência, isso me fez pensar em meu jardim e no que iria plantar no ano seguinte. E isso me fez pensar sobre uma nova espécie de pimenta que eu tentava plantar para o meu pai, porque ele gosta de coisas apimentadas. E isso me fez pensar sobre as comidas apimentadas que ele costumava comer quando vivia em Singapura.

Parece uma espécie de galho de árvore, e logo eu não sei mais sobre o que é a discussão. Às vezes, isso é bom quando alguém está falando comigo, porque me ajuda a desenvolver a conversação. Se estou em aula, me ajuda a ter novas ideias que ninguém tinha pensado antes. Mas isso também me prejudica em aula, porque eu não capto sempre o que o professor está dizendo.

Às vezes tenho ideias complicadas que não consigo explicar para os outros. Isso realmente me frustra, e fico brava com a pessoa porque ela não está entendendo! Acho que você poderia dizer que eu choro facilmente. Isso realmente incomoda minha mãe. Às vezes, tenho a mesma espécie de problema quando preciso fazer uma pergunta. Fico travada com a pergunta porque não consigo formulá-la. E tenho os mesmos problemas quando estou tentando escrever minhas ideias em uma folha de papel.

Quando estou fazendo alguma coisa difícil para mim, como escrever, eu facilmente perco o foco e acabo fazendo um trabalho apressado, para que possa fazer alguma outra coisa na qual sou melhor. Mas, então, não ganho uma boa nota com o meu trabalho e me sinto mal. O problema é que há tantas coisas interessantes para eu fazer em minha casa; coisas que eu penso que sejam tão educativas quanto escrever. Eu realmente faço química e experimentos com alimentos na cozinha, ou tento usar outras misturas de sementes e solos em meu jardim, ou assisto ao History Channel ou Popular Mechanics for Kids, ou resolvo problemas e jogos de lógica. Eu prefiro estudar o comportamento dos pássaros (com meus pássaros, naturalmente!), trabalho no meu Web site com meu pai, e faço projetos de engenharia com madeira ou o que estiver sobrando por perto. Gosto da minha escola, mas odeio que o trabalho de casa tire o tempo para fazer essas coisas. Isso é o que ser dotada e ter TDAH.

Lições de vida

Tentei alguns remédios para me ajudar com o déficit de atenção. É tão esquisito que façam remédio para isso! Um me ajudou a me concentrar e a ter mais ânimo com a escola. Agora, outro me ajuda a ser mais otimista, mas, quando o efeito acaba, eu me sinto menos feliz e fico mais distraída. Meu remédio ajuda um pouco, mas ele não resolve completamente o problema da atenção. Ainda tenho de fazer esforço para manter a atenção, e, às vezes, fico distraída mesmo com o remédio.

Os remédios não resolvem os problemas que eu tenho com a memorização e com o estudo para as provas. Meu tutor sugeriu que eu desenhasse figuras quando estivesse memorizando fatos para minha prova de história. Por exemplo, quando estivesse estudando a Renascença, eu desenhasse a figura de uma harpa para o renascimento da música e uma cruz para o renascimento da cultura. Isso me ajudou a lembrar dessas coisas para uma prova. Mas demora muito estudar desse jeito, então eu não consegui estudar tudo e tirei uma nota baixa porque houve um monte de coisas que eu não consegui estudar. Às vezes, isso me faz querer desistir, quando verifico quão difícil é ter de estudar muito mais coisas que não são tão difíceis para os outros alunos.

Para mim, foi mais fácil aprender japonês porque quando você escreve em japonês, é arte, e eu adoro desenhar. A escrita japonesa é cheia de precisão, e eu gosto de ficar gastando um longo tempo com alguma coisa e torná-la exata. Mas a lentidão é outro problema que eu tenho e que frustra as outras pessoas. E o meu tutor diz que eu às vezes tenho dificuldade para decidir quando entrar em detalhes  torna melhor o meu trabalho ou quando isso realmente prejudica meu trabalho porque “eu não consigo ver a floresta pelas árvores”. Há um lado do japonês que tem sido difícil para mim. Estou atrasada em relação à minha classe no que diz respeito a decorar os caracteres japoneses e as combinações de caracteres.

No terceiro ano fui para uma escola para crianças com dificuldade de aprendizado, onde aprendi o método Slingerland de leitura. Isso realmente foi muito bom para mim. Agora leio livros que são difíceis de verdade, como The Golden Compass e The Amber Spyglass.

A visualização-verbalização foi realmente útil, também, para descobrir como soletrar. Ainda sou uma má soletradora, mas estou melhor do que era. Porém, as outras coisas da escola foram muito fáceis para mim, e eu ficava aborrecida porque já sabia ciência e matéria. Quando voltei para minha escola pública, os garotos me perguntavam, “Dana, você foi a uma escola especial no terceiro ano?” A Educação Especial não é uma coisa popular. Você precisa ser normal para ser legal.

Algumas pessoas idealizam os estudantes dotados porque pensam que eles são bons em todas as matérias, mas isso não é verdade. Não somos superinteligentes em tudo, como um computador. Sou dotada em algumas coisas. Meu tutor disse que sou um aprendiz visual. Por exemplo, em história, quando minha professora estava falando sobre a segunda guerra mundial, ela nos mostrou fotos das trincheiras em que eles lutavam. Sempre nos lembraremos daquelas cenas.

Ser dotada é uma coisa ruim em algumas das escolas em que estudei. No cinema, alunos espertalhões geralmente não são bons em esportes. As pessoas acham que se você é superesperto, então provavelmente você é fraco. É muito legal ser um gênio em matemática, mas é muito mais legal ser realmente atlético. Foi isso que eu descobri em minha escola pública.

Agora vou a uma escola para alunos dotados, e somos muito atléticos por lá. Fazemos movimentos e dança, e artes marciais, quase todos os dias. Fico feliz que os alunos da minha escola não ligam muito para o estilo e quão legais sejam suas roupas. Assim, para mim, é muito mais confortável.

Estamos juntos nessa

Qual é a melhor maneira de ajudar garotas como eu? Precisamos de muito apoio de nossos pais e não ser reprendidos por tirar notas baixas. A melhor coisa que os pais podem fazer é ajudar seus filhos a superar suas dificuldades. Ajudou-me muito quando minha mãe me mostrou novas maneiras de estudar para uma prova. Ajudou-me a encontrar amigos honestos, que não ficam falando mal pelas costas. Ajudou-me a encontrar uma escola onde os professores viram que eu tenhos coisas em que sou muito boa. Uma vez minha mãe me contou uma história sobre nerds de computador que acabam conquistando o mundo, e algumas vezes penso nessa história e me sinto muito melhor.

Espero que outros alunos dotados que tenham TDAH saibam que não estão sós. Espero que isso ajude os alunos a falar com seus pais e professores sobre coisas que os aborrecem e, assim, se sintam menos estranhos e solitários. Falar com eles sobre as coisas em que você é bom e quais são as coisas difíceis para você – e porque são difíceis para você – pode ajudar os alunos a descobrir como tornar a escola um pouco mais fácil. Acima de tudo, falar sobre coisas podem também ajudar os alunos a se sentir melhores sobre si mesmos.

Este artigo foi publicado no número de agosto-setembro de 2004 de ADDitude.

domingo, 1 de setembro de 2013

294- Uma Abordagem Mais Receptiva, Mais Gentil e Mais Suave Para o Início do Ano Escolar


Por Pernille Ripp

Nenhum professor começa a carreira com más intenções. Mesmo assim, alguns de nós fazemos nosso maior erro justamente no primeiro dia da escola. Comigo não foi diferente, nove anos atrás. Escolhi fazer tudo do jeito como me foi ensinado na faculdade - o jeito que o famoso livro de conselhos para os novos professores dizia que deveria ser.

Claro, eu ri com os alunos e falei bastante sobre nossa "comunidade em classe". Porém, conforme transcorria a importante primeira semana de escola, eu fui ditar regras, estabelecendo quem estava no controle, e estabelecendo os limites para o ano.

Como resultado, perdi a oportunidade de criar o tipo de relacionamento com meus alunos que leva não somente à motivação e engajamento, mas à verdadeira apropriação do aprendizado e, por consequência, ao maior sucesso. Nessa época eu não percebi a perda - demorou vários anos, de fato. Se você é um professor novato, prestes a começar sua carreira, talvez as lições que eu aprendi possam ajudá-lo a evitar as armadilhas de uma falsa relação com seus alunos.

O Fazedor de Regras a Postos

No meu primeiro dia de trabalho como professor (logo em seguida às instruções no dia anterior), fiquei sorrindo na porta da minha sala, apertando a mão de cada um dos alunos do quarto grau que entravam em minha classe. Estava ansiosa para começar nossa primeira conversa: "Como Entramos na Sala de Aula". Conforme os alunos tomavam seus lugares, pedi sua atenção e comecei a explicar a eles exatamente como eu queria que eles entrassem na sala. Disse a eles o que precisavam trazer e quais as consequências por virem despreparados.

Então, passei para a segunda conversa mais importante: Minhas regras e as consequências por quebrá-las. Aqui eu me baseei em um auxiliar para o professor novato, "The First Six Weeks of School" (Os primeiros seis dias de escola), de Paula Denton e Roxann Kriete. Os autores propunham a atraente ideia de fazer parecer que seus alunos  estivessem vindo com suas próprias regras e procedimentos em classe, facilitando assim a aceitação conforme você os levasse à inevitável conclusão. De fato, eu já tinha as regras em um cartaz: "Respeitem um ao outro, cuide de si mesmo, e tome conta de suas coisas".

Minha intenção era nobre. Queria que meus alunos sentissem que fossem parte do manejamento da classe. Mas eu estava criando uma falsa noção. Eu não tinha nenhuma intenção de deixar que eles estabelecessem as regras. Eu sabia, por todo o meu treinamento e leitura, que meu trabalho número um era ser o líder desse espaço de aprendizagem. E os líderes fazem as regras.

Oportunidades Perdidas

O resto daquela primeira semana de escola foi um verdadeiro caos. A maioria dos professores (veteranos e novatos) estava confusa pelo final da primeira semana, abatidos pela ansiedade de iniciar o curriculum, mas também ocupados em descobrir  quem eram seus alunos e como guiá-los ao longo do ano.

Eu estava maravilhada pela gentileza que meus alunos demonstraram para mim, mas também muito agarrada aos comandos de direção de todo o nosso aprendizado. Não era a hora de parecer muito fraco ou muito amigável. Estabeleci numerosas atividades para quebrar o gelo, e pensei que tínhamos nos conhecido bem uns aos outros. De fato, eu sabia muito pouco a respeito de cada aluno, definitivamente nada que pudesse me guiar em meu ensino. Achava que aquelas coisas viriam mais tarde (e algumas vieram), mas em realidade eu tinha perdido completamente a maior oportunidade que teria para verdadeiramente conhecer meus alunos.

Em essência, eu tinha medo de que se não tivesse firmado minha autoridade desde o primeiro dia de aula, o resto do ano ficaria fora de controle. Fui durona - naquele ano e nos vários anos em seguida. Fomos bem. Eu achava. Meus alunos aprendiam. Mas eu não podia perceber o quanto de potencial foi desperdiçado sob a minha mão de ferro.

Devolvendo a Classe

Como fui ensinada a pensar em como organizar a primeira semana de escola para firmar minha autoridade e controle, foi difícil deixar aquelas noções de lado. Foi uma jornada que eu descrevi em um livro que foi publicado no ano passado, "The Passionate Learner: Giving Our Classrooms Back to Our Students Starting Today" (O Aprendiz Zeloso: Devolvendo Nossas Classes aos Nossos Alunos Iniciantes).

Deixem-me somente dizer aqui que eu agora sei que o que fazemos na primeira semana de aulas para sermos ouvidos, para nos comunicarmos e para compartilhar o genuíno interesse uns com os outros, estabelece o tom para o resto do ano de modo mais consciente do que qualquer lista de regras ou expectativas conseguirão.

Se você vier em minha sala agora, no primeiro dia de aula, verá uma abordagem muito diferente - mais suave, calma e mais de acordo com o que entendo ser o que meus alunos realmente precisam: respeito e um lugar seu.

Agora, no início de cada ano escolar, eu relembro a mim mesmo para me segurar - para não por muita pressão com as regras de comportamento e de procedimentos dos gurus. Sei, agora, por experiência, que se eu tomar meu tempo com meus alunos, o investimento se pagará pelo ano todo.

No primeiro dia, todos os anos, lembro-me do seguinte:

- Somos todos desconhecidos uns e outros
- Estamos cimentando nossas rotinas
- Estamos descobrindo nossas regras
- O currículo não significará nada se não ficarmos entusiasmados com ele
- Desfrutamos nossa liberdade
- Temos de construir a confiança

Fora Com o Que é Velho

Então, na prática, quando um professor tenta  usar esses princípios intuitivos, o que fica parecendo? Bem, primeiro deixem-me dizer o que não fica parecendo. Vai aqui algumas práticas de início de aulas contra as quais eu previno:

Não escreva suas regras antecipadamente. Nada diz "Esta é minha classe" como uma placa enorme com suas regras, pendurada na parede por anos seguidos.

Não gaste dias escrevendo a constituição da classe.Como lição de estudos sociais, penso que isso pode ser um projeto maravilhoso. Mas não é o modo de formar a comunidade de classe. Pense nisso com os olhos de uma criança - dias sendo gastos na discussão de regras para o resto do ano e, então, tentar segui-las, umas vinte ou mais regras, por esse tempo. Que modo "chato" de começar juntos o ano escolar.

Não "estabeleça fronteiras precisas" e dê nomes a elas. Eu fui um mestre em rótulos, certificando-me de fazer os alunos saberem exatamente quando tinham invadido meu território, quer fosse minha mesa, meus armários ou meus lápis. Com os nomes vêm as restrições, e as salas de aula já têm restrições suficientes; não precisamos acrescentar mais nenhuma.

Não invista muito tempo em quebrar o gelo. Nunca fiz um relacionamento por meio de atividade para quebrar o gelo, lamento. Em vez disso, invista em algo com significado para a comunidade, como um mapa de conexões, ou um passeio da classe planejado pelos estudantes, ou qualquer coisa em que os alunos possam trabalhar como um desafio par a equipe. Se eles puderem prestar atenção em uma tarefa, em vez do ato de conexão, a construção da comunidade se iniciará naturalmente.

Não anuncie que "agora vamos construir uma comunidade. " Gosto de estabelecer metas, e estabelecemos várias durante o ano, mas esta meta é melhor deixar não exposta. É como dizer às pessoas que você está tentando tornar-se seu amigo; o hiperfoco tende a fazer as coisas ficarem esquisitas e desconfortáveis. Em vez disso, diga aos alunos que você está contente em ser sua professora e, então, façam juntos alguma coisa que você sabe que realmente constrói a comunidade.

Não tenha um milhão de coisas planejadas. Algumas vezes, o melhor início de uma comunidade vem justamente do fato de gastar um tempo juntos, com calma. Quando você planeja muita coisa ou tem de fazer muitas coisas, não sobra tempo para simplesmente conhecer um ao outro, assim, seja seletiva com o que você vai usar seu tempo.

Um Novo Começo

Então, se você não está fazendo essas coisas, o que fará no seu primeiro dia de escola? A seguir, alguns conselhos para estimular uma comunidade criativa e engajada:

Seja você mesmo. Os alunos podem perceber qualquer hipocrisia e uma tal atitude é difícil de ser mantida por mais do que alguns dias. Assim, se você acha que tem a personalidade de um comediante, ou de um perfeccionista, ou de um panaca, como eu, deixe sua personalidade brilhar.

Compartilhe sua vida. Geralmente começo meu ano com um vídeo ou dois dos meus filhos ou com uma história divertida sobre um deles. Nada planejado ou longo, somente uma rápida história. Os alunos ficam sabendo de mim e de minha família, e contam suas histórias, também.

Ria bastante. Adoro sorrir, e acho que as crianças são muito engraçadas. Dê-lhes uma chance de falar de modo divertido.

Comece por decorar a sala de aula. Digo sempre que "esta é NOSSA sala de aula", de modo que os alunos podem fazer suas escolhas para a decoração, assim como o arranjo do mobiliário.

Comece educando. Sei que disse que é para "pegar leve" com o currículo na primeira semana, mas comece alguma coisa desde o início. Os alunos estão prontos para aprender porque não podem esperar para ver como serão as coisas nesse novo grau.

Decidam juntos sobre as expectativas. Gaste algum tempo fazendo os alunos discutirem o que esperam desse novo ano e, então, faça com que eles discutam o que isso significa para o seu ambiente de aprendizagem.

Dê um tempo. Uma grande comunidade não surge logo no primeiro dia de aula, mas você precisa planejar quais serão as primeiras sementes nesse dia. Assim, faça isso e cultive isso, e dê um tempo, necessário para que as sementes cresçam altas e fortes.

Ao final, a primeira semana, o primeiro dia, o primeiro momento de escola, carrega um peso maior do que pensamos. Sabemos que a primeira impressão tende a ser permanente. Não é impossível mudá-la mas, por que não começar direito? Informe os alunos de que essa é sala deles, de que esse é o ano deles, e aponte o caminho de aprendizagem que eles querem trilhar. Faça com que saibam que eles são importantes, que a palavra deles vale, e que esse ano é importante.

Eles descobrirão que esse ano, em sua classe, as coisas poderão ser um pouco diferentes do que estão acostumados que sejam. E serão muito melhores.


Pernille Ripp é uma professora do quinto grau em Middleton, Wisconsin, cofundadora de EdCampMadWI, e criadora de Global Read Aloud Project.  Siga-a em Blogging Through the Fourth Dimension e no Twitter @pernillerip. Seu primeiro livro, Passionate Learners: Giving Our Classrooms Back to Our Students Starting Today, será publicado neste outono por Powerful Learning Press.

Publicado em edweek.org

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