terça-feira, 24 de maio de 2016

TDAH EM MENINAS E MULHERES - 425

Sábado, 14 Maio 2016 00:00

TDAH EM MENINAS E MULHERES

Escrito por  
A maior parte da literatura sobre TDAH é tradicionalmente direcionada ao gênero masculino, pois em tese somariam 80% dos portadores. Entretanto, há algum tempo, pesquisadores têm chamado a atenção, quanto à expressão do transtorno, para as diferenças entre homens e mulheres. Alguns autores vêm se dedicando ao estudo específico do TDAH em meninas e mulheres.
Atualmente mais mulheres estão sendo diagnosticadas, com a melhor identificação do tipo predominantemente desatento (SEM hiperatividade). Meninas e mulheres com TDAH lutam com uma variedade de problemas que são diferentes daqueles que os homens enfrentam.
Nem todos os pais ou professores ouviram falar em TDAH. E não devemos esquecer que a maioria deles, quando ouve esse termo, lembra com freqüência de um menino pequeno e agitado.overwhelmed-woman-juggling
A maior parte dos meninos com TDAH é mais facilmente identificável, seja na sala de aula seja no lazer, e com mais frequencia são levados para uma avaliação. A maior parte das escalas e questionários de avaliação enfatizam os aspectos da hiperatividade, da impulsividade e do comportamento desafiador. E apenas as poucas meninas que são parecidas com esses meninos é que são levadas a alguma avaliação. Com isso continuamos com a taxa enganosa de 4 : 1.
Pode-se traçar um paralelo entre as formas tradicionais (tipo misto, tipo predominantemente hiperativo-impulsivo e tipo predominantemente desatento) e a maneira como os sintomas se expressam nas meninas e nas mulheres. Esse paralelo é bastante útil para compreender as variações sobre esses três tipos.
O que se percebe agora é que muitas meninas não foram diagnosticadas porque seus sintomas se mostram diferentes. Uma grande diferença é que as meninas são menos rebeldes, menos desafiadoras, em geral menos " difíceis " que os meninos. Mas " ser menos difícil " em vez de ajudar, só dificultou o reconhecimento do problema. Enquanto meninos causam frequentes problemas com a disciplina, em casa ou na escola, e rapidamente se procura uma orientação, as meninas, por serem mais cordatas, dificilmente são identificadas, e vão passando ano após ano na escola sem usar todo o seu potencial.
No entanto, meninas com TDAH não são todas iguais. Quando seu comportamento é parecido com o TDAH em meninos o reconhecimento é mais fácil. Mas mesmo as que são do tipo Misto ou do tipo Predominantemente Hiperativo-Impulsivo, nem sempre são tão parecidas com os meninos. E é aí que elas ficam sem diagnóstico.
As meninas e mulheres que apresentam sintomas de Hiperatividade e Impulsividade mais marcantes, os expressam de forma diferente da dos meninos. São frequentemente menos rebeldes, menos opositivas, e a Hiperatividade se expressa através da fala e da ação. Como a comorbidade com os Transtornos de Ansiedade e Depressão são os mais frequentes, costumam ter uma instabilidade emocional importante, com frequentes mudanças de humor.
As meninas com o tipo Predominantemente Desatento se mostram sonhadoras e tímidas. Se esforçam para não chamar a atenção sobre si mesmas. Aparentam estar ouvindo enquanto suas mentes divagam. Podem parecer ansiosas em relação a escola, esquecidas e desorganizadas com o dever de casa e atrasar a entrega de trabalhos. Costumam ter um ritmo lento e a sensação de sobrecarga. Algumas são ansiosas ou depressivas e vistas erradamente como menos inteligentes do que realmente são.
No tipo Misto apesar de terem um nível de atividade muito mais alto que as desatentas, elas não são necessariamente hiperativas. A agitação se mostra através da fala mais intensa. O discurso pode ser confuso pela dificuldade em organizar seus pensamentos, e tentam disfarçar a desorganização e o esquecimento. Na adolescência podem tentar compensar a pobre performance acadêmica se expondo a riscos com fumar, beber e iniciar vida sexual ativa, precocemente.
adhd-women-different
Quanto mais inteligente, mais tarde os problemas acadêmicos tendem a aparecer. Muitas meninas com QI acima da média podem progredir até chegar ao nível secundário , ou mesmo à faculdade. À medida que a vida escolar se torna mais exigente e complicada, nos níveis superiores, a dificuldade com a concentração, organização e conclusão tem maior probabilidade de aparecer. As disfunções executivas ficam mais visíveis a medida que as exigências sociais progridem.
As pesquisas atuais já demosntram que a proporção de mulheres com TDAH é de 1 para 1 com relação aos homens, o que, portanto, significa, que o TDAH não faz distinção de sexo, e que tantos homens quanto mulheres são igualmente passíveis de sofrer do transtorno.
Neste sentido, é fundamental observar as meninas, especialmente se há ocorrências de casos de TDAH prévios na família, para que não cheguem a idade adulta sem diagnóstico, e acabem colhendo mais prejuízos.
Texto de Katia Beatriz – psiquiatra e membro da diretoria da ABDA
- See more at: http://www.tdah.org.br/br/artigos/textos/item/137-tdah-em-mulheres.html#sthash.J9HwY8sq.dpuf

quarta-feira, 4 de maio de 2016

O Impacto do TDAH no Casamento - 424

O Impacto do TDAH no casamento.

Escrito por  
O Impacto do TDAH no Casamento

shutterstock 110329328-e1441596315353Quem convive diariamente com pessoas que têm TDAH, sabe como essas relações podem se tornar difíceis e desgastantes. Estudos têm focado nas dificuldades que surgem em casamentos onde um ou ambos os cônjuges tem TDAH. Essas relações, usualmente, vivem sucessivas crises que em muitos casos, podem levar ao divórcio.
Alguns autores defendem a existência de um perfil consistente e previsível de casamentos prejudicados pelo TDAH e, que ao identificar esses aspectos é possível traçar uma estratégia de tratamento que permita que o casal se relacione melhor com as dificuldades impostas pela convivência com uma pessoa com TDAH.
Igual a todos os casamentos, os casamentos afetados pelo TDAH podem variar entre exemplos de grande sucesso ou de completo desastre, no entanto, os casamentos afetados negativamente pelo TDAH são especificamente mais problemáticos e com maiores chances de terminarem em divórcios e mais desgaste emocional.  
Existem muitas formas de se vivenciar os prejuízos do TDAH em um casamento. A primeira é que quando se está casado com uma pessoa com TDAH, muitas vezes, o cônjuge que não é TDAH se sente ignorado e solitário no relacionamento. Por ourto lado, o cônjuge que tem TDAH tem sempre a sensação de nunca conseguir corresponder às expectativas do seu parceiro(a). O cônjuge que convive com uma pessoa com TDAH frequentemente experimenta o sentimento de estar lidando “com mais uma criança em casa”, de que está sempre se queixando e cobrando que o outro cumpra com as suas obrigações, o que gera insatisfação e frustrações intermináveis. A médio prazo, o efeito deste ciclo na relação é extremamente negativo uma vez que pode suscitar no cônjuge que tem TDAH a sensação de estar sendo controlado justamente pela pessoa (seu marido/esposa) que deveria ocupar um lugar de parceria. 
Não importa o quanto o indivíduo com TDAH tente, ele nunca consegue satisfazer minimamente as expectativas do cônjuge, sempre responde com um desempenho inferior ao esperado, se sente constantemente cobrado, mas nunca satisfaz as demandas do outro. A sensação que ele experimenta é de estar vivendo continuamente um interminável ciclo de cobranças.
Se alguma dessas descrições parecerem familiares, é porque provavelmente o casamento está sofrendo com o efeito nocivo dos sintomas do TDAH. Vidas emocionais estão em risco. Os  estudos científicos mostram como as pessoas que tem TDAH são duas vezes mais suscetíveis a divórcios do que as pessoas que não tem TDAH (Bierderman et al. in 1993). Esses dados não significam que os que tem TDAH são incapazes de estabelecer bons relacionamentos afetivos. Nesses casamentos, na maioria das vezes o fracasso se deve ao fato de ambos os cônjuges serem vítimas de uma combinação de sintomas de TDAH não compreendidos e, portanto, interpretados como comportamento voluntário do outro.
cartoon-couple-arm-wrestlingO desencadeamento de uma série de respostas negativas previsíveis em ambos os cônjuges cria uma espiral descendente no casamento. As características destrutivas em um relacionamento não são exclusividade dos sintomas do TDAH, mas as consequências de um padrão de relacionamento que incluem os sintomas do TDAH e as respostas equivocadas a estes sintomas, geram crises conjugais, muitas vezes insolúveis. Esse padrão é conhecido como ciclo sintoma-resposta, que é a base da má comunicação que se instala no casamento com indivíduos com TDAH.
            Em casamentos que se encontram em situações extremas, onde a esperança parece ter desaparecido e onde um não reconhece mais no outro aquela pessoa por quem se apaixonou, existem estratégias que podem ser adotadas pelo casal para que juntos conseguam construir uma relação que possa coexistir com a presença do TDAH.

Para reconstruir com sucesso um casamento prejudicado pela presença do TDAH é necessário, primeiramente, que ambos os cônjuges estejam dispostos a buscar tratamento especializado e dispostos a fazer mudanças. A responsabilidade pelo casamento não pode recair somente sobre aquele que tem TDAH. Se o casamento se encontra em crise, é possível que seja consequência do comportamento do casal. Somente mudando a forma com que ambos interagem emocionalmente é que pode ser feita uma mudança na qualidade do relacionamento.
Em segundo lugar, ao entender qual o papel que o TDAH desempenha na dinâmica da relação, é possível com ajuda de um profissional especializado melhorar a comunicação entre o casal e evitar que as mesmas respostas que levaram o casal ao conflito permanente continuem se repetindo. Nesses casos, o conhecimento sobre o TDAH e seus efeitos no casamento é uma ferramenta fundamental e permite que o casal resignifique comportamentos que antes eram vistos como sendo “má vontade” e “preguiça”, possam ser vistos como sintomas do TDAH.
Algumas estratégias benéficas que o casal pode tentar estabelecer tendo como objetivo a melhora na comunicação do casal.
pop-art-gift 1. Restabelecer e cultivar a empatia pelo cônjuge, tentar entender o porquê do outro apresentar comportamentos específicos sem antecipar a intenção do outro. Olhar para si mesmo e para as suas responsabilidades e refletir de que maneira as suas ações reverberam no outro e quais as consequências delas.
 2. Evitar que as mesmas emoções acarretem nas mesmas respostas. Identifique onde o padrão se repete e trabalhe exaustivamente para ter uma reação diferente da comum, que você já sabe que não funciona.
3. Responder agressivamente à distração do(a) seu(sua) marido(esposa) é muito menos eficaz do que tentar apoiá-lo e motivá-lo a mudar o seu comportamento. Mesmo que pareça que seu cônjuge com TDAH mereça as suas reclamações, entenda que, na verdade, com esta atitude agressiva ele vai se sentir cada vez mais desmotivado e cada vez menos amado e compreendido.
4. A busca de tratamento especializado é fundamental para que as estratégias de convivência sejam eficazes a longo prazo;  frequentemente ambos os cônjuges precisam de algum tipo de tratamento (psicoterapia). Os anos de convívio dentro de um casamento com uma pessoa com TDAH podem desenvolver ou agravar outras condições psicológicas do cônjuge, como:  depressão, ansiedade, desesperança e outras questões subjetivas.
5. Finalmente, após todo um trabalho no sentido de melhorar a má comunicação que se instalou no casamento, o casal poderá resgatar uma posição positiva no relacionamento e empreender uma caminhada em direção à reconstrução de uma relação saudável.
Para maiores informações leia o livro:
ORLOV, M. The ADHD Effect on Marriage: Understand and Rebuild Your Relationship in Six Steps. Florida: Specialty Press, 2010.
- See more at: http://tdah.org.br/br/artigos/textos/item/319-o-efeito-do-tdah-no-casamento.html#sthash.3JGxdQm0.dpuf

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

O TDAH pode mascarar o Autismo em crianças pequenas (423)

O TDAH pode mascarar o Autismo em crianças pequenas
Os sintomas que se atribuem ao transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) poderiam mascarar um transtorno do espectro autista (TEA) em crianças muito pequenas, o que pode criar um significativo atraso no diagnóstico do autismo.
Para verificar se um diagnóstico precoce de TDAH interferiria na detecção de um TEA, os investigadores observaram os dados de 1.496 crianças com autismo recolhidos em uma enquete nacional americana de saúde infantil, de 2011 a 2012. Nessa enquete, perguntou-se aos pais se haviam diagnosticado de seu filho com um TDAH ou um TEA, e lhes solicitaram a idade em que receberam o diagnóstico. A 43% dos pais foi dito que os filhos sofriam dos dois transtornos.
Os investigadores descobriram que mais do que duas de cada cinco crianças, que tinham sido diagnosticadas com TDAH e TEA, tinham recebido inicialmente um diagnóstico de TDAH. A maioria dessas crianças (81%) acabou recebendo o diagnóstico de autismo depois dos 6 anos de idade. De fato, as crianças que receberam primeiro o diagnóstico de TDAH tinham quase 17 vezes mais probabilidade de serem diagnosticadas com autismo depois dos 6 anos de idade, quando comparadas com as crianças que foram diagnosticadas unicamente com autismo. Também tinham 30 vezes mais probabilidade de receber um diagnóstico de TEA depois dos 6 anos de idade do que as crianças nas quais se diagnosticou TDAH e TEA juntos ou inicialmente o autismo e, mais tarde, o TDAH.
Segundo os autores, esses resultados indicam que os médicos talvez estejam se precipitando ao diagnosticar TDAH em uma idade muito baixa (3 a 4 anos). Nesse caso, talvez devessem pensar em um transtorno do desenvolvimento, que é mais habitual para esse grupo de idade, como por exemplo o autismo.
Pediatrics 2015
Miodovnik A, Harstad E, Sideridis G, Huntington N

Publicado em Revista de Neurologia - Barcelona - Espanha - Outubro/2015



quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Por que os estudantes universitários utilizam ilegalmente medicações para o TDAH? (422)

Por que os estudantes universitários utilizam ilegalmente medicações para o TDAH?
O uso de medicação para o TDAH sem uma receita médica, isto é, o uso ilegal, é um grande e, talvez, crescente problema nos campos universitários dos Estados Unidos. A porcentagem de estudantes que fazem uso ilegal de medicações para o TDAH varia muito entre as faculdades, mas taxas de 30% foram encontradas em alguns campi.
Além dos riscos à saúde para os estudantes que fazem uso ilegal, esse comportamento também cria problemas para os estudantes com receita médica. Eles são frequentemente abordados pra vender ou compartilhar seu medicamento, o que é ilegal. Se eles fazem isso, acabam não usando as doses de que necessitam. As preocupações com esse desvio contribuem para que alguns centros universitários de saúde e de aconselhamento estejam decidindo não mais proporcionar serviços de avaliação ou tratamento para o TDAH, tornando mais difícil para os estudantes obter a ajuda de que necessitam.
Mitos sobre o uso não médico dos medicamentos para TDAH
A mídia fala frequentemente de estudantes universitários fazendo uso ilegal de medicação para o TDAH. Geralmente isso é descrito como parte de um estilo de vida universitário do tipo “trabalhe duro, jogue duro”, implicando em que isso seja um comportamento típico ou obrigatório entre os universitários.
Isso não é verdade. Pesquisas anteriores, incluindo um trabalho meu, mostraram que os estudantes que usam ilegalmente medicações para o TDAH são diferentes dos que não usam em importantes aspectos. Especificamente, eles têm nota média de avaliação acadêmica (GPA) mais baixa, são mais preocupados com seu rendimento acadêmico, consomem mais álcool, têm mais probabilidade de se envolver em uso de drogas ilícitas, mais probabilidade de fumar, e relatam mais sintomas de depressão e de ansiedade. Assim, como um grupo, eles estão tendo dificuldades em uma variedade de áreas. Para uma revisão desse assunto, veja www.helpforadd.com/2013/march.htm
Problemas de atenção e o uso não médico
Um achado particularmente interessante é o de que os usuários ilegais também relatam taxas significativamente mais elevadas de problemas de atenção. Em meu próprio trabalho, veja www.helpforadd.com/2007/december.htm , problemas de atenção relatados espontaneamente eram não somente mais elevados nos universitários que não faziam uso ilegal, mas, também, indicavam quem seria um usuário ilegal nos primeiros dois anos de faculdade. Os relatos espontâneos de maiores problemas de atenção pelos estudantes que usavam medicação para o TDAH ilegalmente foram, atualmente, replicados em vários estudos, sugerindo que, ao que parece, alguns estudantes estão tentando “tratar” as dificuldades de atenção que eles percebem que boicotam seu sucesso acadêmico.
Uma limitação importante desses estudos é que eles se baseiam em dificuldades de atenção relatadas espontaneamente e que não incluem nenhuma avaliação objetiva. Como resultado, não sabemos se os estudantes que fazem uso ilegal de medicações para o TDAH realmente têm dificuldade de atenção em relação aos seus colegas, ou se eles apenas pensam que têm.
Esse problema foi resolvido em recente estudo publicado, intitulado “Attention, motivation, and study habits in users of unprescripted ADHD medication” [Illieva and Farah (2015). Journal of Attention Disorders, DOI: 10.1177/1087054715591849]. Os participantes foram 128 universitários, 61 dos quais relataram uso ilegal anterior de medicação para TDAH e 67 que não usaram. Esses universitários foram comparados quanto às dificuldades de atenção relatadas espontaneamente, assim como quanto às medidas computadorizadas de um teste de atenção chamado TOVA (Test of Vigilant Attention).
Além de verificar como esses grupos se comparavam nessas variáveis importantes, os pesquisadores também examinaram se eles diferiam na qualidade dos hábitos de estudo e em sua motivação para se engajar nas tarefas cognitivas, duas características adicionais que podem contribuir para o uso ilegal entre os universitários que procuram aumentar seu desempenho acadêmico.
Para replicar os achados de outros estudos anteriores, os participantes também foram solicitados a relatar seu nível de uso de drogas e sintomas de depressão e ansiedade.
Resultados
Problemas de atenção relatados espontaneamente – De modo consistente com trabalho anterior, universitários que tinham usado medicação para o TDAH ilegalmente relataram taxas significativamente mais altas de ansiedade e de depressão. Entre os usuários ilegais, quanto maior a dificuldade de atenção relatada, mais frequente era o uso.
Problemas de atenção medidos objetivamente – Como notado acima, um teste computadorizado chamado TOVA, foi usado para obter uma medida objetiva da atenção. Os usuários ilegais tiveram as medidas de atenção, por esse método, significativamente mais fracas do que os não usuários, embora a diferença não tenha sido tão grande quanto à atenção relatada espontaneamente.
Motivação para tarefas cognitivas – A motivação para se engajar em tarefas cognitivas foi medida com os participantes relatando seu nível de aborrecimento e de motivação durante o TOVA; esse teste é uma tarefa repetitiva de 22 minutos, que certamente pode ser sentida como aborrecedora e monótona. Os usuários ilegais relataram níveis significativamente mais baixos de motivação durante a tarefa e também a sentiram como mais aborrecida.
Hábitos de estudo – A medida dos hábitos de estudo avaliou práticas conhecidas como relacionadas a um desempenho acadêmico melhor, por exemplo, o uso de auto-teste para avaliar a compreensão da matéria, o aprendizado da matéria ao longo do tempo, em vez de decoração, a frequência regular às aulas e o tempo gasto para estudar, etc. Os usuários ilegais relataram hábitos de estudos mais fracos que os dos outros estudantes. E, entre os usuários ilegais, quanto mais fracos os hábitos de estudo, mais frequentemente eles tinha usado medicações para o TDAH no ano anterior.
Uso de drogas, depressão, e ansiedade – Consistente com trabalho anterior, os usuários ilegais relataram níveis mais altos de uso de drogas, assim como mais sintomas de depressão e de ansiedade.
Resumo e implicações
Os resultados desse estudo evidenciam que o uso ilegal de medicações para o TDAH pelos estudantes universitários não deve ser tido como um comportamento típico de estudantes universitários e parte do estilo de vida “trabalhe duro, jogue duro” que caracteriza muitos estudantes.
Com base em trabalho anterior, os usuários ilegais foram descobertos não somente como tendo mais dificuldades relatadas espontaneamente com a atenção, mas também mostraram atenção mais fraca em avaliação objetiva. Também relataram maior aborrecimento durante tarefa cognitiva repetitiva e menor motivação para fazê-la. E eram menos propensos a empregar hábitos de estudo associados ao sucesso acadêmico. Como foi visto várias vezes, eles também eram mais propensos a abusar do álcool e de outras drogas, e relataram mais sintomas de ansiedade e de depressão. Assim, em vez de serem “estudantes típicos”, eles estavam provavelmente tendo muito mais dificuldades que seus colegas, por várias maneiras.
Os resultados desse estudo sugere que alguns estudantes procuram o uso ilegal de medicação para corrigir dificuldades de atenção, para aumentar sua motivação para se engajar no trabalho acadêmico e, talvez, para compensar os fracos hábitos de estudo. Infelizmente, embora os estudantes possam perceber que o uso de medicação para o TDAH desse jeito os ajude, não há nenhuma evidência que isso seja verdadeiro. De modo claro, seria de longe preferível que esses estudantes procurassem assistência profissional para suas dificuldades, que podem ou não ter algo a ver com o TDAH.
Embora não tenha sido especificamente um foco desse estudo, é importante enfatizar que o uso recreativo disseminado de medicação para o TDAH nos campi universitários põe em risco os estudantes com receitas legítimas. Eles estão em risco por serem abordados para desviar sua medicação para uso ilegal. Ao fazer isso, falharão doses que seriam necessárias. Não fazer isso significa desagradar um amigo que esteja pedindo ajuda, o que pode ser difícil.
Pais e médicos devem se assegurar de que jovem com receita para TDAH esteja ciente de que será abordado dessa maneira e que entenda que os problemas associados com o desvio da medicação. Não é suficiente dizer a eles para que não façam isso. O jovem deve ser instruído a manejar essas situações de modo que ele se sinta mais confortável e capaz de lidar corretamente com elas por si mesmo. As escolas deveriam também ser mais vigilantes e desenvolver e pôr em prática políticas relacionadas ao desvio de medicamentos receitados em seus campi.

David Rabiner, Ph.D.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

O que se sente ao viver com o TDAH não diagnosticado (421)

O que se sente ao viver com o TDAH não diagnosticado
Você se sente envergonhada com a sua casa bagunçada, seus compromissos esquecidos e sua mente divagante… até que descobre que não são falhas pessoais; são sintomas. As leitoras de ADDitude compartilham o que sentiam ao viver com o transtorno invisível do TDAH, antes do diagnóstico. Os editores e leitoras de ADDitude.
Um Transtorno Invisível
Mulheres com TDAH frequentemente são negligenciadas. Os sintomas mais notáveis, como a hiperatividade, se manifestam de modo diferente nos meninos e muito frequentemente são desconsiderados como comportamento tolo das meninas. Além disso, os sintomas de desatenção são mais comumente vistos nas meninas e, geralmente, são tidos como outra coisa.
Viver com um transtorno não reconhecido pode levar a anos de baixa autoestima e vergonha, até que um diagnóstico despeje uma luz sobre tudo o que tinha sido tão duro por tanto tempo. As leitoras de ADDitude e os especialistas compartilham o que se sente ao viver com um transtorno não diagnosticado como o TDAH do adulto. Você se identifica com algum desses relatos?
1- Como viver no vazio
Por toda minha vida tenho lutado com uma vaga sensação de que há algo de diferente comigo. Eu me sinto inferior, inadequada, indisciplinada e, desesperadamente, desorganizada – todos sentimentos que têm sido, vez ou outra, reforçados pelas pessoas de minha convivência… Eu costumava me sentir cansada antes mesmo de sair da cama, temendo o novo dia e suas várias obrigações. Ficava exausta, lutando no trabalho e em casa, com meus filhos. Garimpava cada bocadinho de força espiritual, física, emocional e mental para viver minha vida – até que, finalmente, encontrei alguém que me escutou, entendeu minha história e me deu uma chance de fazer algo a respeito” - Donna Surgenor Reames.
2- Como se você fosse de Marte
Você se sente diferente. Dizem que você é preguiçosa, que não se esforça o bastante, uma avoada, e que não está aproveitando o seu potencial. Que você perderia a cabeça se ela não estivesse grudada no seu pescoço. Por 30 anos. Um bom tempo.” - Sarah C.
3- Como se todo mundo risse de você pelas costas
Viver com o TDAH sem diagnóstico me condicionou a me sentir inepta. Em situações importantes, nunca esperei ser levada a sério. Sempre tinha medo que alguém estivesse fazendo troça de mim pelas costas. O medo estava todo na minha cabeça.” - Zoë Kessler
4- Como se você estivesse usando tapa-olhos
Alguns com TDAH não diagnosticado pensam que vivem uma vida normal. Então, descobrem que não há nada normal em ler 350 livros de romances em três anos enquanto suas finanças, suas casas e suas vidas desabam ao seu redor.” - Uma blogueira de ADDitude.
5- Sempre tropeçando
Eu fui uma das pessoas com TDAH que falhava em pequenas coisas. Não tive problemas na escola e os problemas que surgiram mais tarde na minha vida não eram óbvios para os outros. Nunca me senti preguiçosa ou burra. Sempre soube que era talentosa, mas tropeçava em tudo. Parecia que eu não conseguia fazer as coisas. Me sentia frustrada. O diagnóstico de TDAH mudou minha vida. Chamo o diagnóstico de minha pedra da Rosetta, porque comportamentos que eu nunca conseguia entender, de repente, fizeram sentido.” - Sally Harris
6- Mais quieta que os outros
Cresci em uma grande e espalhada família cubana. Igual a muitas crianças com TDAH do tipo desatento, não fui uma criança alegre, sortuda e cheia de amigos. Era introvertida, ansiosa, mimada, descoordenada e distraída, mas o fato de que eu era quieta era uma benção em minha casa. Geralmente eu era a única pessoa, em nossa casa lotada de gente, que não estava falando.” - Tess
7- Improvisando o tempo todo
Aos 35 anos de idade, me avaliei de verdade. Ser mãe era um problema. Não podia continuar improvisando. O diagnóstico oficial foi um alívio enorme. Finalmente eu tinha uma explicação! Os medicamentos mudaram a minha vida; agora eu dou conta! Sim, minha casa pode parecer desorganizada, mas ao menos eu posso dar conta de todas as coisas básicas e não me sentir completamente oprimida o tempo todo, só às vezes.” - Jodi H.
8- Como peça de quebra-cabeças que não se encaixa
Já na escola primária, escrevi um trabalho que se intitulava A Criança Diferente. Passei minha vida perguntando ´Por que as peças não se encaixam?` Sempre me perdia no meio de conversas. Quando alguma coisa importante, como instruções ou algo que tivesse que ver com uma sequência, eu não conseguia acompanhar. Eu não conseguia ouvir a informação e guardá-la.” - Debbie Young
9- Sempre aborrecida
Fui contratada, promovida e, então, demitida, ou eu me demiti por frustração ou aborrecimento. Agora compreendo que fico facilmente aborrecida e parei de culpar a todo mundo pelo meu aborrecimento. Aprendi a ficar ligada nas conversas fingindo que é um primeiro encontro.” - Eva Peltinato
10- Parece que você quer correr e se esconder
Minhas aulas eram tão devastadoras que me lembro de ficar olhando para a porta da sala, querendo sair de lá correndo. Então eu fiz isso. Um dia, saí da escola e fui andando para casa.” - Joanne Griffin
11- Envergonhada
Assim como muitas mães, sempre acreditei que seria capaz de dar conta de cuidar da casa, tomar conta das crianças, cozinhar e assim por diante. Mas não dei conta e me senti envergonhada.” - Terry Mallen
12- Como uma desmiolada
Nunca fui capaz de guardar dinheiro o suficiente. Eu gastava de modo impulsivo e pagava minhas contas quando me lembrava. Sentia que nunca seria capaz de ter uma taxa de crédito decente ou comprar uma casa. É duro para qualquer pessoa nos dias de hoje, ainda mais para uma desmiolada (assim minha mãe costumava me chamar) como eu.” - Cindy H.


ADDitude

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Com o quê o TDAH desatento realmente se parece? (420)

Com o quê o TDAH desatento realmente se parece?
Talvez a coisa mais notável sobre o TDAH desatento seja quão terrivelmente fácil é não identificá-lo, ou diagnosticá-lo erradamente, tanto em crianças quanto em adultos. Isso pode levar a uma vida de decepções, autoestima diminuída e vergonha. Por isso é tão importante aprender os sinais e sintomas. Os Editores de ADDitude.
O Problema do TDAH Desatento
Crianças com os sintomas do TDAH hiperativo são dificilmente ignoradas. As que ficam se balançando em suas cadeiras ou que ficam fazendo caretas por trás do professor são as primeiras a serem avaliadas e diagnosticadas com TDAH.
Entrementes, os estudantes com o TDAH desatento (predominantemente meninas) ficam tranquilamente olhando os passarinhos pela janela, enquanto sua tarefa permanece inacabada. De acordo com o National Institute of Health, seus sintomas têm muito menos chances de serem reconhecidos pelos pais, professores e profissionais da área médica, e eles raramente obtêm o tratamento de que necessitam. Isso leva à frustração acadêmica, apatia e vergonha indevida, que pode durar a vida toda. É um grande problema.
As Três Apresentações do TDAH
O paciente TDAH estereotípico é um menino de 9 anos de idade que adora pular perigosamente de coisas altas e nunca se lembra de levantar sua mão em classe. Na realidade, somente uma fração de pessoas com TDAH se encaixa nessa descrição. Aqui estão as três apresentações distintas do TDAH:
1- Predominantemente Hiperativo/Impulsivo – veja acima.
2- Predominantemente Desatento – falta de foco e de atenção são os
sintomas primários, não a hiperatividade.
3- Combinado – quando a desatenção e a impulsividade estão niveladas.
Como o TDAH Desatento é Diagnosticado
O Manual de Diagnóstico da American Psychiatric Association (DSM-V) lista nove sintomas do TDAH Desatento. Ao menos seis desses sintomas devem estar presentes e causar significativo transtorno na vida do paciente para merecer o diagnóstico.
Frequentemente deixa de prestar atenção a detalhes ou comete erros por falta de atenção.
Frequentemente tem dificuldade de manter a atenção.
Frequentemente parece não escutar quando se fala diretamente com ele
Frequentemente não segue instruções e deixa de terminar tarefas.
Frequentemente tem dificuldade de organizar as tarefas e atividades.
Frequentemente evita, não gosta, ou é relutante em se engajar em tarefas que requeiram esforço mental sustentado.
Frequentemente perde coisas necessárias para tarefas e atividades.
Geralmente é facilmente distraído por estímulos externos.
Geralmente é esquecido nas atividades diárias.
Em adultos, esses sintomas são facilmente confundidos com ansiedade ou depressão. Em crianças, Dificuldades de Aprendizagem são frequentemente consideradas, antes do TDAH.
Sintoma 1: Erros por falta de cuidado
Uma criança com TDAH desatento pode responder apressadamente a um questionário, deixando de responder a perguntas das quais sabe a resposta ou pular uma sessão inteira nessa correria. Um adulto pode falhar ao conferir um documento ou ao enviar um e-mail no trabalho, chamando atenção e causando embaraço indesejado. Se você disser a si mesmo para ir devagar e prestar atenção, mas sentir que isso é mentalmente doloroso e fisicamente desconfortável para ser feito, pode significar que seja um sinal do TDAH desatento. Seu cérebro estará ávido para pular para a próxima coisa e, ao final, você terá que ceder.
Sintoma 2: Tempo de atenção curto
Trabalhos de classe não terminados, trabalhos feitos pela metade, leituras incompletas, todos são importantes sinais de problemas de atenção dos estudantes. Adultos com TDAH desatento evitam as atividades aborrecidas de trabalho dez vezes mais que seus colegas e precisam mastigar chicletes, beber café ou mesmo ficar de pé durante as reuniões, para ficarem atentos. Se você está consistentemente frustrado por sua incapacidade de ler longos documentos, ficar atento durante as reuniões e seguir projetos até o fim, isso pode ser um sinal.
Sintoma 3: Fraca capacidade de escutar.
Estudantes com TDAH desatento tipicamente só escutam metade, se tanto, das instruções que lhes são passadas verbalmente. Seus cadernos contêm mais rabiscos que anotações, e eles precisam gravar e ler novamente as aulas, várias vezes, para absorver toda a informação. Adultos não se saem bem em coquetéis. Eles interrompem as histórias dos outros com suas próprias piadas, nunca se lembram dos nomes e no meio de cada conversa perdem a atenção. Se você constantemente ouve alguém lhe perguntando “Você está me escutando?” ou “Por que estou gastando minha saliva?”, isso pode ser um sinal de TDAH desatento.
Sintoma 4: Não dar continuidade.
Para crianças e igualmente para os adultos, o TDAH desatento pode se manifestar como um milhão de pequenos projetos – começados mas nunca terminados – espalhados pela casa, em estado de desarrumação. O jardim de hortaliças que foi plantado, mas nunca regado. O novo sistema de organização que foi montado mas nunca usado. O caderno de música para as lições de piano, iniciadas e abandonadas depois de alguns duros meses. Se você adora planejar e começar projetos, mas perde o rumo e deixa uma trilha de promessas não cumpridas em sua jornada, isso pode ser sinal de TDAH desatento.
Sintoma 5: Desorganização.
Perdeu seu celular novamente? Suas chaves? O trabalho que tinha de entregar amanhã? Com geralmente estamos pensando em outra coisa quando estamos fazendo coisas importantes, adultos desatentos são dados aos piores sintomas de desorganização do TDAH. Nossa casa, automóvel e local de trabalho geralmente se parecem como se um tornado os tivesse atingido, o que leva os adultos desatentos a se encherem de sentimentos de vergonha e de inferioridade quando se comparam às outras pessoas.
Sintoma 6: “Preguiça” ou “Apatia”
Ele poderia prestar atenção se tentasse.” “Ela simplesmente não se dedica, por isso perde tanto os prazos dos trabalhos.” Infelizmente, os sintomas da desatenção às vezes nos fazem parecer preguiçosos ou descuidados, especialmente se o TDAH não foi diagnosticado ou não foi revelado. Sem tratamento, estamos tendentes a perder empregos, amigos, ou a até mesmo desenvolver uma personalidade amarga e difícil como um mecanismo de defesa. Se todo mundo o acusa de ser preguiçoso a vida inteira, é fácil começar a também se ver como tal.
Sintoma 7: Síndrome do Triângulo das Bermudas
De vez em quando, todo mundo esquece onda colocou suas chaves ou o celular. As pessoas com o TDAH desatento trocam histórias sobre encontrar seus óculos no congelador e as ervilhas congeladas na bolsa. Elas tendem a extraviar as coisas essenciais que são necessárias para sua vida – chaves, carteira, pendrive, equipamento esportivo – diariamente. Se você descobriu que precisa de uma plataforma de lançamento perto da porta de sua casa, para garantir que você não vai se esquecer de levar seu celular, e não pode viver sem o aparelho localizador pendurado no seu chaveiro, isso pode ser um sinal.
Sintoma 8: Distração
Adultos com o TDAH desatento são sonhadores, brincando com suas anotações durante reuniões de serviço ou estudando uma mosca na parede enquanto o cônjuge está falando sobre o pagamento das contas. Geralmente apelidadas de “cadetes espaciais” ou descritas como excêntricas, muitas pessoas interpretam a falta de atenção dos TDAH desatentos como falta de interesse, e ficam frustradas por sua incapacidade de prestar atenção, especialmente quando é importante que o façam.
Sintoma 9: Esquecimento
Quantas vezes você se esqueceu da consulta marcada com o médico ou com o dentista no ano passado? Faltou, sem querer, a um almoço com amigos? Chegou atrasado 20 minutos em uma conferência porque esqueceu-se completamente dela? Essas ocorrências são comuns para adultos com o TDAH desatento, que lutam para pagar as contas no vencimento, responder às mensagens dos amigos e mandar cartões de feliz aniversário a tempo. Isso pode ser visto como se fosse falta de educação ou preguiça, mas esse comportamento raramente é de propósito.
Fazer o tratamento
Como o TDAH forma desatenta é geralmente negligenciado, ele pode permanecer anos sem tratamento. Mas o tratamento é muito importante, não importa em qual estágio da vida. A medicação pode ser a salvação para alguns, resolvendo os problemas subjacentes de atenção enquanto você trabalha as estratégias de compensação. Para os indivíduos que não podem, ou não querem, tomar os medicamentos para o TDAH, há muitas outras opções de tratamento disponíveis.
Treinamento
Treinamentos que visem a melhora da organização e da memória são particularmente úteis para os adultos com TDAH forma desatenta. Dependendo de sua capacidade, um treinador (coach) de TDAH pode ajudá-lo com tudo, desde o planejamento de um financiamento até as habilidades sociais – duas áreas comuns de problemas. Os treinadores podem ser caros, e não são para todo mundo. Entretanto, a longo prazo, é importante considerar o quanto um treinador pode fazer você economizar em juros por atrasos, comida estragada e outros custos ocultos do viver com o TDAH tipo desatento.
Alguns truques para os desatentos
Becca Colao, uma adulta com TDAH do tipo desatento, recomenda essas estratégias para viver melhor com o TDAH:
- Ajuste um despertador para iniciar uma tarefa tediosa.
- Toque uma música bastante movimentada para se preparar para uma longa reunião, um trabalho difícil, ou qualquer coisa que faça sua mente ficar devaneando.
- Arrume um amigo para avaliá--lo periodicamente durante um grande projeto. Se você não estiver trabalhando, ele poderá fazer você voltar à tarefa.
- Mude sua visão. Quando você perceber que está se distraindo, vá para um lugar diferente – ou para fora, ou pode ser ir até um café, na esquina do quarteirão. Mover as locações pode “reiniciar” seu cérebro quando você ficar entediado.
Vencendo a incerteza
Os TDAH desatentos nem sempre têm um nome para os problemas com que eles lidam – e têm de enfrentar muitos comentários maliciosos sobre serem preguiçosos, excêntricos, ou mesmo burros. Por causa disso, os que apresentam o tipo desatento geralmente sofrem de baixa autoestima. Mesmo depois do diagnóstico, resta uma dúvida persistente. É importante que você enfrente esses sentimentos com energia e procure ajuda, seja de um terapeuta, do seu cônjuge, ou de um amigo íntimo. O TDAH sozinho não o torna preguiçoso ou excêntrico, e, com tratamento adequado e autoaceitação, você poderá aprender a reconhecer suas potencialidades e realizações.

ADDitude

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Dor crônica ligada ao TDAH (419)

Dor crônica ligada ao TDAH
Pauline Anderson, setembro de 2015
Las Vegas – Mais de um terço dos pacientes com dor crônica podem ter TDA, de acordo com um pequeno estudo piloto.
Os achados deverão encorajar mais médicos a ter um alto grau de suspeita de TDA em pacientes não aderentes com dor de origem central, disse o autor, Forest Tennant, MD, do Intractabel Pain Management, em West Covina, California.
Penso que isto é um pequeno e bom avanço em como cuidar de pessoas com dor.”
Ele apresentou seus achados aqui, em Las Vegas, durante a PAINWeek 2015.
Para o estudo, 45 pacientes consecutivos, com dor crônica, que procuraram uma clínica para tratamento, completaram um questionário de 16 itens. As perguntas eram destinadas a saber se o paciente tinha deficiências na concentração, problemas com atenção, distração, impulsividade, leitura e retenção, coordenação, temperamento e memória de curto prazo.
Uma resposta positiva a cinco ou mais questões era considerada como indicação da presença de TDA.
Os resultados mostraram que 37,8% dos pacientes preencheram esses critérios para TDA.
Muitos pacientes com dor de origem central têm excitabilidade aumentada do sistema nervoso autônomo. “No início, ele se torna deficiente em catecolamina, que é um dos compostos que alivia a dor”, explica o Dr. Tennant.
A dor provoca uma mudança no sistema nervoso simpático, que causa o TDA, ele acrescenta. “Assim, ele o põe nesse estado hiperativo e às vezes ele também esgota a dopamina tanto no sistema nervoso central quanto na glândula adrenal.”
Esse achado pode ajudar a explicar por que alguns pacientes com dor têm deficiente função em suas atividades da vida diária, disse o Dr. Tennant.
Durante anos, tenho visto nesses pacientes o mesmo tipo de TDA que se vê em crianças; eles não podem se lembrar de metade do tempo, não conseguem se concentrar”, ele disse. “É interessante quantos desses pacientes evitam ler ou fazer coisas, mas eles não vão lhe contar.”
Um grande problema para os pacientes com dor é a questão da aderência ao tratamento, segundo o Dr. Tennant. “Eles não fazem o que lhe dizem; eles vão embora e não seguem suas instruções, e uma parte disso se deve ao TDA.”
Porém, uma vez iniciado o tratamento medicamentoso para o TDA, como por exemplo o metilfenidato (Ritalina), “sua dor melhora e eles podem se lembrar e se concentrar.”
O Dr. Tennant acentua que isso somente se aplica a pacientes com dor de origem central, que têm inflamação no sistema nervoso, não àqueles que têm artrite ou dor neuropática. “São pacientes que têm dor constante, dor que nunca desaparece.”
Ele afirma que a conexão entre dor e TDA não é nova. “Médicos em 1895, em hospitais de Londres, diziam que se você tiver pacientes com dores intensas, que precisem de morfina, eles também vão precisar de um estimulante.”
Comentando esse estudo para Mediscape Medical News, Jack LeFrock, MD, um especialista em dor no Above and Beyond Pain Management and Laser Center, Clearwater, Florida, disse que os achados “fazem sentido.”
Concordo com ele, penso que ele está correto,” disse.
Em sua própria experiência, uma “alta porcentagem” de pacientes tem TDA e são ansiosos, acrescentou.
O Dr. Frock disse que está disposto a estudar esse assunto mais aprofundadamente.
PAINWeek 2015. Poster 133. Apresentado no dia 10 de setembro de 2015.



Medscape Medical News © 2015 WebMD. LLC

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

O TDAH do adulto começa na infância? (418)

O TDAH do adulto começa na infância?
Recentes e interessantes dados sugerem outra coisa. O TDAH do adulto é tido como a continuidade de um transtorno da infância até a idade adulta, isto é, ele representa o mesmo transtorno que o TDAH das crianças. Assim, seria de se esperar que, mesmo quando o TDAH fosse diagnosticado na vida adulta, esses indivíduos teriam as mesmas características dos que foram diagnosticados na infância. De fato, o DSM-V requer evidência de TDAH na infância, quando estipula que ao menos alguns dos sintomas estejam presentes antes da idade de 12 anos.
Entretanto, apesar do entendimento de que o TDAH do adulto seja um transtorno neurobiológico que se inicia na infância, essa hipótese nunca foi testada adequadamente por causa das limitações nas pesquisas nas quais foram examinadas as características da infância de adultos com TDAH.
Em um tipo de pesquisa, indivíduos diagnosticados com TDAH na infância são seguidos até a vida adulta. Nesse esquema, todos os que preenchessem os critérios para TDAH do adulto teriam sido diagnosticados muito antes. Assim, não haveria nenhuma informação de como tinham sido na infância os indivíduos diagnosticados com TDAH já na idade adulta, ou em que extensão o TDAH do adulto representaria a continuação de uma condição anterior.
Em um segundo tipo de pesquisa, adultos com TDAH são identificados em amostras da comunidade e comparados aos adultos da amostra, não diagnosticados, em relação a características importantes da infância. Entretanto a informação sobre características da infância depende de avaliação retrospectiva que pode ser viciada e incompleta. Por isso, dados acurados sobre como eram esses adultos quando crianças também são, de algum modo, limitados.
Um artigo recentemente publicado no American Journal of Psychiatry [Is adult ADHD a childhood-onset neurodevelopmental disorder? Evidence from a four-decade longitudinal cohort study. Morritt, et al., (2015). American Journal of Psychiatry, doi: 10.1176/appi. ajp2015.14101266] resolve essas limitações ao seguir desde o nascimento um conjunto de 1000 indivíduos durante um período de 4 décadas.
Os participantes eram membros do Dunedin Multidisciplinary Health and Development Study, uma investigação longitudinal da saúde e do comportamento de todas as crianças nascidas em Dunedin, Nova Zelândia, entre abril de 1972 e março de 1973. Esses indivíduos foram avaliados múltiplas vezes durante seu desenvolvimento, até mais recentemente, com a idade de 38 anos, quando impressionantes 95% da amostra original participaram. O pesquisador líder desse estudo é a Dra. Terrie Moffitt, da Duke University. Ela e seus colegas lidaram com uma verdadeiramente incrível quantidade de dados que podem responder a um número de questões importantes, com dados de melhor qualidade do que a dos previamente disponíveis.
Nessa amostra, 61 indivíduos foram identificados com TDAH entre as idades de 11 e 15 anos, correspondendo a mais ou menos 6% de todos os indivíduos envolvidos no estudo. Quando os participantes completaram 38 anos de idade, o estado do diagnóstico do TDAH avaliado novamente por meio de entrevistas psiquiátricas estruturadas, com os entrevistadores “cegos” em relação ao diagnóstico prévio. Trinta e um indivíduos – cerca de 3% dos participantes – foram diagnosticados com TDAH dessa vez. Como o principal problema a ser resolvido nesse estudo era determinar as características da infância de adultos que atingiram os critérios de TDAH já adultos, a presença de sintomas antes dos 12 anos não foi requerida. Se isso fosse requerido, todos os que atingiram os critérios na vida adulta teriam mostrado altos níveis de sintomas de TDAH como crianças. Entretanto, todos os outros critérios exigidos pelo DSM-V foram atingidos.
RESULTADOS
Se o TDAH do adulto representa a continuidade do TDAH da infância, então todos os 31 indivíduos identificados na idade adulta deveriam vir dos 61 casos diagnosticados lá no início do estudo. Isso, entretanto, não foi o que ocorreu. Em vez disso, somente 3 dos 31 indivíduos diagnosticados já na idade adulta tinham sido diagnosticados lá no início, quando crianças. Assim, aproximadamente 90% dos adultos que atingiram os critérios de sintomas para o TDAH não atingiram os critérios de diagnóstico na infância. Outro dado interessante foi o de que os casos de TDAH com início na infância eram em 80% masculinos, enquanto no grupo com diagnóstico já na vida adulta eram 61% masculinos.
Como esses grupos se comparavam durante a infância?
Análises adicionais revelaram como esses dois grupos eram diferentes quando crianças.
As avaliações dos pais e dos professores coletadas nas idades de 5, 7, 9, 11 e 13 anos foram tratadas estatisticamente e tiradas as médias para os dois grupos e para os membros da amostra que nunca foram diagnosticados com TDAH. Os diagnosticados em torno dos 15 anos de idade tinham substancialmente níveis mais elevados de sintomas de TDAH na infância quando comparados aos indivíduos controle; os diagnosticados já como adultos, entretanto, não. De fato, poucos desses adultos tinham ao menos um sintoma taxado como definitivamente presente por seus professores da escola fundamental.
Os do grupo TDAH da infância também tinham taxas significativamente mais altas de problemas de comportamento, depressão e ansiedade na infância do que os indivíduos controle. Os do grupo TDAH adulto diferiam dos controles somente nos problemas de comportamento na infância, que eram modestamente mais altos.
Os testes cognitivos durante a infância mostraram que o grupo TDAH da infância tinha déficits cognitivos significantes quando crianças em comparação aos controles. Seu QI era 10 pontos menor e eles exibiam déficits significantes na aquisição da leitura. Em contraste, os do grupo TDAH adulto não tinham nenhum déficit cognitivo na infância.
Como esses grupos se comparavam como adultos?
De acordo com informantes que conheciam bem os participantes, ambos os grupos de crianças TDAH e adultos TDAH mostraram altas taxas de sintomas de TDAH em comparação aos controles. Assim, mesmo que muitos indivíduos diagnosticados quando crianças já não mais preenchiam os critérios de diagnóstico como adultos, eles continuaram a mostrar altas taxas de sintomas.
Em temos de funcionamento de saúde mental, nenhum grupo teve taxas elevadas de mania, depressão ou transtorno de ansiedade como adultos. Os do grupo TDAH adulto, entretanto, tiveram taxas significativamente mais altas de problemas com drogas e álcool.
A avaliação cognitiva na idade adulta continuou a descobrir que os que tinham TDAH na infância tinham déficits em comparação aos controles em muitas medidas neuropsicológicas, incluindo o QI. Os do grupo TDAH adulto, em contraste, não mostraram nenhum déficit. Mesmo assim, eles relataram um grande número de queixas cognitivas subjetivas.
E sobre indicadores importantes de funcionamento na idade adulta? Os do grupo TDAH da infância tiveram menor probabilidade de obter grau universitário, ganhavam salários menores e tiveram mais problemas com dívidas e menos possibilidade de crédito financeiro do que os controles. O nível geral de satisfação com a vida foi mais baixo e eles foram mais prejudicados no todo. Os do grupo TDAH do adulto não diferiam dos controles quanto á educação e aos rendimentos, mas tinham os mesmos problemas de dívidas e crédito. Também relataram níveis maiores de prejuízo geral e taxas mais baixas de satisfação com a vida.
Finalmente, houve evidência de diferenças genéticas entre os dois grupos. Os que tinham TDAH da infância mostravam taxas mais altas de fatores de risco para o TDAH do que os indivíduos de comparação, enquanto os do grupo TDAH do adulto não apresentavam diferença.
RESUMO E IMPLICAÇÕES
Os resultados desse estudo longitudinal de quase quarenta anos lança forte dúvida sobre a suposição de que o TDAH do adulto representaria a continuidade do mesmo transtorno ao longo do desenvolvimento. Embora os diagnosticados com TDAH na infância continuem a ter dificuldades como adultos, muitos não preenchem mais os critérios de diagnóstico para TDAH. Por outro lado, os diagnosticados na vida adulta são um grupo muito diferente daqueles diagnosticados na infância. Tão diferente, de fato, que parece inverossímil que o TDAH da infância e o do adulto possam representar o mesmo transtorno.
Aproximadamente 90% dos diagnosticados na idade adulta não tinham sido diagnosticados anteriormente. Não havia nenhuma evidência, entre os desse grupo, de sintomas substancialmente elevados de TDAH na infância. Eles não mostraram os déficits cognitivos durante a infância ou idade adulta, que caracterizam aqueles com TDAH da infância, nem mostraram altas taxas de fatores genéticos de risco.
Entretanto, isso não implica que adultos que apresentem um quadro de sintomas de TDAH não necessitem de tratamento. Como grupo, eles relataram níveis diminuídos de satisfação com a vida, problemas cognitivos na vida diária e problemas com dívidas e crédito. Eles tendiam a acreditar que perdiam tempo por causa da desorganização, que tinham fracassado em atingir seu potencial e que estavam esgotando outras pessoas. Problemas com álcool e drogas também foram elevados. Assim, eles estavam sofrendo e necessitando de assistência.
Se esses indivíduos adultos não têm o transtorno neurodegenerativo do TDAH, o que eles têm? Não é provável que estivessem fingindo, porque não haveria nenhum motivo para isso. Também não é provável que seus sintomas de TDAH fossem mais bem explicados por outro transtorno – que eles tivessem sido erroneamente diagnosticados com TDAH – porque mais da metade não preenchiam critérios para nenhum outro transtorno. Por causa das altas taxas de uso de substâncias entre os desse grupo adulto, é tentador sugerir que isso poderia explicar seus sintomas de TDAH, Infelizmente, não foi possível esclarecer se o uso de substâncias levou aos sintomas de TDAH ou se esses sintomas apareceram antes do uso de substâncias.
Uma possibilidade interessante é que o TDAH do adulto é um transtorno real, porém distinto do TDAH que surge na infância. Por causa das semelhanças na apresentação dos sintomas, O TDAH nas crianças e nos adultos pode ter sido, incorretamente, tido como um mesma condição. Os autores notam que, ironicamente, ao exigir início na infância e origem no desenvolvimento neurobiológico, o DSM-V deixa esses resultados desencontrados fora do sistema de classificação. Como resultado, obter o tratamento necessário pode ser mais difícil.
A aceitação de que o TDAH da criança e do adulto seja um mesmo transtorno pode também limitar a pesquisa da etiologia do TDAH do adulto, já que um mesmo transtorno teria os mesmos fatores etiológicos. Assim, nosso entendimento do TDAH do adulto seria limitado, o que poderia também limitar a pesquisa de estratégias de prevenção e tratamentos mais eficientes.

Se esses achados forem apoiados por pesquisas subsequentes – a replicação é sempre importante – seria necessária uma importante mudança na maneira como o TDAH do adulto é conceituado, assim como mudanças nos critérios atuais de diagnóstico do TDAH.

David Rabiner, Ph.D.
Research Professor
Dept. of Psychology & Neuroscience
Duke University
Durham, NC 27708

 O tratamento do autismo se distancia do “conserto” da condição Existem diferentes maneiras de ser feliz e funcionar bem, mesmo que seu cér...