sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

169- Como tratar a depressão em crianças com TDAH

A depressão é muito comum entre as crianças com TDAH. Felizmente, os tratamentos medicamentosos estão mais eficazes e seguros. Por Larry Silver, M.D. (ADDitude magazine).

Depressão é mais do que tristeza. É uma doença grave, e atinge mais pessoas jovens do que os pais pensam. A cada ano, 4% dos adolescentes se tornam gravemente deprimidos. Na idade adulta, um de cada cinco adolescentes já sofreu de depressão.
A depressão é especialmente comum entre os adolescentes e adultos com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).

Em muitos casos, os problemas relacionados ao TDAH na escola e com a família e amigos desencadeiam a depressão pela queda da autoestima da criança. Isto é chamado de depressão “secundária”, porque aparece como uma consequência de outro problema, incluindo o TDAH.
A depressão também pode ser secundária às dificuldades de aprendizagem ou ao abuso de substâncias. A depressão secundária é tipicamente desencadeada num ponto específico e pode estar diretamente ligada a experiências de vida específicas.

A depressão “primária” aparece independentemente das experiências de vida. Ela tipicamente ocorre em crianças que têm uma família com história de depressão, e tende a recorrer. Cerca de metade de todas as crianças que têm TDAH tem dificuldade de controlar suas emoções, e este problema também pode estar na raiz da depressão primária.
A boa notícia é que existe tratamento eficaz. Como pai, você deve estar a par dos sentimentos e comportamentos do seu filho. Se um professor, amigo, ou qualquer outra pessoa sugerir que seu filho está deprimido, não se ofenda. Aja. Consulte seu médico de família. Se ele não puder recomendar um psiquiatra, psicólogo ou um assistente social que seja treinado para tratar de crianças e adolescentes, procure indicações de seus amigos, do conselheiro escolar, ou do seu diretor de seguros.

A escolha do tratamento
O melhor remédio para a depressão depende da causa do problema. Vou falar sobre três crianças que tratei de depressão (os nomes foram trocados) e mostrar a vocês como o tratamento foi diferente para cada uma delas.

Jimmy sempre teve problemas na escola. Sua professora tinha de constantemente falar para ele ficar sentado quieto, e para erguer a mão antes de falar. Em casa não era melhor. “Odeio minha vida”, ele falou para sua mãe. Uma vez ele disse “Sou tão mau, talvez vocês devessem me mandar embora”.
Na minha primeira avaliação de Jimmy, ficou claro que ele estava deprimido. Também ficou claro que ele tinha um TDAH não tratado. Percebi que sua depressão era secundária – resultado de anos de sofrimento de reações negativas à sua hiperatividade, impulsividade e desatenção não tratadas.

Depois que ele começou a tomar o estimulante receitado, o comportamento de Jimmy melhorou. Ele ficou mais feliz. Parou de falar coisas negativas e começou a brincar novamente com os amigos. Tudo o que ele precisava era do tratamento para o TDAH.
Outro paciente meu, Louise, de 13 anos de idade, já estava tomando medicação para o TDAH. Com a ajuda do Plano 504 (uma lei americana que garante as acomodações e modificações curriculares para os TDAH) e de um tutor, ela estava tirando notas boas. Mas parecia infeliz. Ela estava se afastando dos amigos e das atividades de que gostava, segundo sua mãe me disse.

Vi que Louise estava deprimida. Seus pais tinham se separado recentemente e eu suspeitei que isto poderia ser a causa do seu problema. Receitei um antidepressivo e iniciei a terapia. Em nossas sessões, ela falava de sua tristeza a respeito do rompimento de sua família – e do fato de seu pai ter ido morar com a mulher com a qual estava tendo um caso.
Com o tempo, conforme falava sobre sua família, a depressão de Louise sumiu. Ela parou a terapia, mas ficou usando o antidepressivo por seis meses. Quando ele foi retirado, ela não mostrou mais nenhum sinal de depressão.

Por fim, havia Gwen, de 16 anos de idade, que me contou que não tinha amigos desde a escola elementar. Ela parecia se dar bem com seus pais, embora preferisse ficar muito tempo sozinha, ouvindo música. Suas notas eram medíocres, e ela estava preocupada a respeito de ir para a faculdade. Tinha dificuldade de dormir à noite e tinha pouca energia.
Descobri que Gwen tinha uma história de desatenção e problemas de organização, assim como uma história familiar de depressão. Ela me contou que tinha depressão que vinha e ia desde o segundo anos de escola. Sua depressão não parecia estar relacionada com a escola; ela estava deprimida em todos os lugares.

Diagnostiquei Gwen como tendo TDAH, do tipo desatento. Suas notas melhoraram depois que ela começou a tomar o medicamento estimulante, mas ela permanecia deprimida. Trabalhei com ela para que entendesse o TDAH, e também para que usasse um antidepressivo. Seu humor brilhou em um mês, mas ela provavelmente ficará com o antidepressivo por mais um ano.
E os antidepressivos?

Se a depressão parece ser secundária, o problema primário (TDAH, discórdia familiar, abuso de drogas, ou algum outro fator desencadeador) precisa ser corrigido. A terapia geralmente ajuda. Se a depressão continuar a atingir a rotina diária do seu filho, mesmo com essa ajuda, provavelmente será melhor que seu filho tome um antidepressivo.
A maioria dos casos de depressão envolve uma deficiência do neurotransmissor serotonina. Por esta razão, os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs), que aumentam os níveis de serotonina, são tipicamente a primeira escolha. Se um ISRS se demonstra ineficaz, o psiquiatra poderá receitar uma droga que aumente os níveis do neurotransmissor norepinefrina. Se a segunda medicação também não funcionar, o psiquiatra poderá tentar uma droga que aumente os níveis de serotonina e de norepinefrina. Não há nenhum modo fácil de saber qual neurotransmissor está com nível baixo, então, encontrar a medicação inevitavelmente envolve tentativa e erro.

Depois que o antidepressivo estiver funcionando, um jovem provavelmente terá de tomá-lo por cerca de seis meses. Se a depressão sumir, o medicamento será retirado lentamente. Se a depressão não voltar, o medicamento não mais será necessário. Se a depressão retornar, a medicação será retomada por mais seis meses.
Preocupações com a segurança

Os antidepressivos podem causar uma gama de efeitos colaterais, incluindo constipação, irritabilidade, leves tremores das mãos, distúrbios do ritmo cardíaco e fadiga. Se algum desses tornar-se um problema, o psiquiatra poderá substituir o antidepressivo por outro. Medicamentos devem ser trocados vagarosamente, com uma droga sendo retirada enquanto a outra estiver sendo aumentada. O psiquiatra deverá monitorar o processo muito cuidadosamente
Você deve ter visto ou ouvido falar de relatos nos meios de comunicação indicando que os ISRSs aumentam o risco de pensamentos suicidas. Estes relatos são verdadeiros? No ano passado, um estudo da FDA revisou vários trabalhos sobre suicídio e concluiu que os ISRSs podem de fato aumentar o risco de ideação suicida (pensar sobre o suicídio) em crianças e adolescentes. Mas o estudo revelou que não havia nenhuma evidência de que essas drogas aumentassem o risco de que as crianças de fato cometessem suicídio.

Considerando os achados do estudo, a FDA notou que havia problemas com o modo como os dados tinham sido colhidos em alguns trabalhos e optou por não banir os ISRSs. Em vez disso, a agência (FDA Federal Drug Administration) decidiu alertar os médicos para o aumento do risco de ideação suicida . Minha impressão pessoal é de que qualquer risco associado ao uso dos ISRSs parece ser menor do que o risco de deixar a depressão sem tratamento – uma vez que a depressão, por si mesma, é sabidamente causadora de aumento do risco de ideação suicida e de suicídio.
A maioria dos adolescentes que estão deprimidos não tenta suicídio – mesmo se eles falam sobre fazer isso. Não obstante, pensamentos suicidas, comentários, ou tentativas devem sempre ser levados a sério. Compartilhe suas preocupações com o médico do seu filho. Se ele não levar a sério suas preocupações, procure outro médico de saúde mental.

Talvez você se lembre de um pai ou um avô que sofreram com depressão por anos. Não deixe que seu filho sofra do mesmo modo. Os tratamentos estão disponíveis, e muitos deles são bons.

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