sábado, 23 de julho de 2011

117- Transtornos do processamento auditivo central (TPAC) e TDAH

Tudo que você precisa saber sobre os transtornos do processamento auditivo central (CAPD – Central Auditory Processing Disorders)(TPAC em potuguês) – incluindo uma lista de checagem de sintomas e informação sobre diagnóstico e tratamento. Mais, como adultos com TPAC e TDAH podem usar atividades de processamento auditivo e estratégias para melhorar a comunicação. Por Gina Pera – ADDitude

“Deturpada”. É assim que Diane descreve a comunicação com seu noivo George. Uma vez ela o encontrou na porta de entrada com um sorriso caloroso, viu que tinha lama nos sapatos, e pediu a ele que os deixasse nos degraus (stairs). Confuso, ele disse, “Seu terno encara? O quê? (Your suits stare? What?)”.
Apesar da explicação de Diane, George insistiu que ela tinha dito exatamente aquilo – e em tom de voz desaprovador.
Diante da conversa confusa, e do costume de George de ver TV a todo volume, Diane pensou que ele tivesse um problema de audição, mas os testes afastaram esta hipótese. O terapeuta do casal sugeriu que George tinha uma sólida resistência em ouvir Diane, então ele bloqueava a sua fala. Diane não aceitou essa explicação: “Não é que ele não ouvisse ou que não quisesse ouvir. Ele estava olhando direto para mim, prestando atenção. Mas a mensagem foi picada e repicada no trajeto da minha boca até a sua compreensão do que eu tinha falado.” Diane estava certa.
Quando a comunicação entre eles atingiu um estado febril, George foi diagnosticado com TDAH. O casal ficou aliviado quando o terapeuta cognitivo explicou a eles que o TDAH tem uma condição comórbida comum, chamada Transtorno do Processamento Auditivo Central (Central Auditory Processing Disorder) (TPAC). Simplesmente dito, o TPAC faz com que a pessoa interprete mal o que alguém está dizendo e o tom de voz em que está falando.
Transtorno do Processamento Auditivo Central e TDAH
O terapeuta deu a Diane e George estratégias para melhorar a comunicação. O casal também descobriu que a medicação estimulante podia corrigir o desentendimento por meio do “reforço do sinal” da via neuroquímica do ouvido (onde o som penetra) até o córtex processador auditivo cerebral (onde os sons são interpretados e ganham significado). “Nunca mais tivemos alguma mensagem deturpada depois que George começou a tomar a medicação para o TDAH”, conta Diane.
“Não há nenhum pequeno alto-falante dentro do seu cérebro que transmita as mensagens do exterior”, explica o neurologista Martin Kutscher. M.D., autor de “Kids in the Syndrome Mix of ADHD, LD, Asperger´s, Tourette´s, Bipolar, and More! “O que você pensa que ouve é uma recriação virtual da realidade de sons que atingem seu tímpano e, daí em frente, existem como impulsos elétricos silenciosos.”
Eis aqui o que acontece numa troca entre quem fala e quem escuta:
As pregas vocais do falante produzem uma sequência de vibrações que viajam invisivelmente pelo ar e batem no tímpano do ouvinte.
O tímpano do ouvinte vibra, causando a movimentação de três pequenos ossinhos que, por sua vez, estimulam a cóclea e o nervo coclear. É aqui que o som termina
Deste ponto em diante, o que o ouvinte pensa que escuta é na verdade uma série de estímulos elétricos silenciosos transportados pelos fios neuronais.
“O cérebro processa esses impulsos elétricos em som, daí em palavras, e então em sentenças e ideias com significado”, diz Kutscher. “A maioria de nós faz isso sem esforço. Alguns adultos têm problemas na conversão desses impulsos elétricos neuronais em significado. Nós chamamos esses problemas de Transtornos do Processamento Auditivo Central”.
TDAH ou Transtorno do Processamento Auditivo?
Ouvimos muita coisa sobre crianças de têm TPAC ou Transtorno do Processamento Auditivo (APD). Mas os psicólogos e os psiquiatras raramente usam esses termos, que são originados nas profissões da fala e da linguagem. Evidência limitada sugere que o TPAC é, às vezes, uma condição separada do TDAH. Ainda, como um trabalho de revisão resumiu: “Para a criança (ou adulto) receber o diagnóstico de TPAC ou de TDAH, pode depender dela ter sido avaliada primeiro por um audiólogo ou um psicólogo”.
Uma leitura rigorosa da literatura aponta um “vício de disciplina” – a condição é diagnosticada de maneira diferente, dependendo da especialidade do profissional. A diferença reside no tipo de tratamento disponível – uma importante distinção, porque a pesquisa nesta área sugere que o metilfenidato (nome genérico dos medicamentos Ritalina e Concerta) pode melhorar os sintomas do TPAC, geralmente de modo dramático.
Em contraste, as intervenções não médicas para o TPAC são limitadas a estratégias tais como o uso de aparelhos eletrônicos e a mudança no ambiente de aprendizado (menos barulho no ambiente).
As seguintes características do TPAC, segundo o National Institute on Deafness and Other Communication Disorders (Instituto Nacional de Surdez e Outros Transtornos da Comunicação), parecem semelhantes às do TDAH:
Tem dificuldade de prestar atenção e de lembrar-se da informação apresentada oralmente
Tem problemas de seguir ordens com várias etapas
Tem fraca capacidade de ouvir
Precisa de mais tempo para processar a informação
Tem problemas de comportamento
Tem dificuldade com a leitura, compreensão, soletração e com o vocabulário.
Crianças com TDAH podem ser mal diagnosticadas com CAPD, mas se um adulto tem capacidade auditiva menor do que um parceiro, ele pode ser visto como passivo-agressivo, oposicionista, emocionalmente introvertido, ou briguento, em vez de ser visto como um indivíduo com déficit de atenção.
Identificando os sintomas do TPAC
E sobre o tom de voz que George se queixou de ter ouvido de Diane? O problema pode começar no lobo temporal direito, de acordo com o neurocientista clínico Dr. Charles Parker, fundador do CorePsych Blog. O lobo temporal não dominante (geralmente o direito) processa as expressões faciais, os tons verbais e as entonações dos outros, assim como a audição de ritmos e de música.
Parker cita o exemplo de um esquiador olímpico que sofreu uma grave queda durante o treinamento. Tendo sofrido um traumatismo craniano e uma concussão, seu lobo temporal direito mostrou uma função significativamente diminuída. Ele apresentava negação (também chamada de baixa consciência) em relação à comunicação deteriorada que tinha com sua mulher e colegas, afirmando firmemente que ele não tinha nenhum problema. Assim, ele tinha muito em comum com aqueles adultos com TDAH que não têm nenhuma  noção de seus desafios. Para essas pessoas, é importante saber que a terapia enfatizando estratégias de melhor comunicação pode não resolver os problemas.
Após ver o SPECT do esquiador, Parker disse a ele, “Você é o tipo de gente que não entende e não admite que não entenda”. O paciente deu um profundo suspiro e, com um ar confuso, respondeu rapidamente, “Não, eu entendo”. Parker apontou que ele tinha feito isso novamente – dado uma resposta correta que não refletia compreensão – e pediu ao paciente para repetir o que Parker havia acabado de dizer. Ele murmurou uma resposta inteligente, mas cheia de jargões. Sua esposa interrompeu: “É isso que acontece o tempo todo”.
Comenta Parker: “Ultimamente ele compreende, por causa do SPECT e dos problemas com os outros, que não podem ser negados. A medicação e suplementos dirigidos melhoraram suas habilidades de comunicação”.
Não é preciso que alguém tenha uma lesão cerebral para sofrer de TPAC, afirma Parker. “Muitos fatores contribuintes podem criar uma diminuição da função do lobo temporal”, ele diz, “de forma geral, de mudanças sutis na sensibilidade ao glúten até medicamentos para dormir. Qualquer dessas agressões ao cérebro, amplificadas pelo TDAH coexistente, trarão problemas de comunicação a um relacionamento”.
Estratégias de audição para o TPAC e TDAH
Os sinais centrais do TDAH – distração, desatenção e memória de trabalho fraca – além do TPAC, podem contribuir para uma Torre de Babel a dois. Estas práticas estratégias podem desatar os nós da comunicação.
Para os parceiros de adultos com TDAH:
Elimine os barulhos que distraem (desligue a TV ou o computador) antes de falar com seu par.
Toque seu par no braço ou no ombro antes de falar, permitindo a ele um tempo para mudar seu foco do que estava fazendo para a conversa que você está iniciando.
Peça ao seu par para que ele repita o que você disse, para ter certeza que ele entendeu.
Fale concisamente, eliminando os detalhes supérfluos.
Para adultos com TDAH:
Reconheça que ouvir de perto o seu par significa que você o valoriza.
Primeiro ouça, depois responda. Deixe de lado o que você estava fazendo ou pensando em fazer, quando seu par terminar de falar, ou mudar de assunto. Se você precisar de um tempo para dar uma resposta, peça-o.
Use técnicas de relaxamento para clarear sua mente antes de conversas importantes.
Para casais:
Para alguns assuntos, o e-mail funciona melhor. Um adulto com TDAH precisa de tempo para formular uma resposta, sem sentir a pressão de ter de responder imediatamente.
Não insista no contato pelo olhar quando estiver falando sobre algo importante.
O contato pelo olhar distrai alguns portadores de TDAH.
Fale e ande. O exercício reduz o estresse e aumenta o fluxo de sangue para o cérebro.
Quando essas estratégias fracassam, pense em tomar um estimulante, se você ainda não o estiver usando.  “Os estimulantes geralmente ajudam a transmitir as mensagens de maneira mais confiável”, diz Kutscher, “assim como permitem que a pessoa preste atenção na informação que estiver sendo passada”. Ambas são essenciais para manter um relacionamento.

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