sexta-feira, 15 de junho de 2012

217- Ter menos idade ao entrar na escola aumenta a chance de ter o diagnóstico de TDAH - Continuação da 215 e 216


Resumo e considerações

Os resultados de três estudos independentes, que empregaram amostras grandes e representativas, indicam que as crianças que são mais jovens para o ano escolar são significativamente mais propensas do que suss colegas a serem diagnosticadas com TDAH e a serem tratadas com medicação estimulante. Com base em análise adicional conduzida em um desses estudos, o efeito relativo à idade é primariamente relacionado à percepção dos professores e não se estende a outras dificuldades de aprendizagem. Entretanto, esses dois últimos tópicos foram examinados em somente um dos três estudos, e, por isso, precisam ser replicados.

Por que ser mais jovem para o ano escolar aumenta as chances de uma criança ser diagnosticada com TDAH? Uma explicação plausível é que focalizar a atenção e controlar o comportamento são habilidades que se desenvolvem com o tempo. Na entrada para a escola, ser até 12 meses mais jovem que os colegas representa uma porção substancial da idade total de uma criança, e essas capacidades tiveram menos tempo para se desenvolver. Como resultado, crianças relativamente mais jovens serão em geral menos capazes do que suas colegas de classe para regular sua atenção e seu comportamento, e mais provavelmente serão identificadas pelos professores como portadoras de dificuldades nesses itens. Então, elas serão encaminhadas para avaliação e diagnóstico de TDAH em taxas mais elevadas.

É importante notar que nenhum dos pesquisadores sugeriu que seus dados originassem questões sobre a validade do TDAH como um transtorno “real”, com fundamentos neurobiológicos. Em minha opinião, usar esses achados para questionar a validade da condição seria altamente problemático.

Em vez disso, esses achados sugerem que muitas crianças que são jovens para o ano são diagnosticadas não porque têm o transtorno mas porque são do ponto de vista do desenvolvimento menos avançadas do que a maioria das suas colegas. Pelo mesmo motivo, crianças que são relativamente mais velhas para o ano escolar podem ser menos diagnosticadas porque sua desatenção e hiperatividade não parecem excessivas em relação às suas colegas mais jovens. Ambos os resultados são potencialmente perigosos e falam sobre as complexidades envolvidas em diagnosticar o TDAH, mas não sobre a validade do TDAH como um transtorno legítimo.

Os resultados desses estudos acentuam a importância das avaliações diagnósticas cuidadosas e acuradas. Esses estudos trazem uma contribuição importante para o campo por meio do aumento da consciência do risco de receber um diagnóstico de TDAH. Embora não haja nenhuma maneira fácil de corrigir este fator complicador, há vários passos a serem adotados que podem ser úteis.

Em primeiro lugar, os clínicos que avaliam crianças pequenas deveriam ser extremamente cuidadosos quando estas crianças também forem relativamente jovens para o ano escolar. Para crianças nascidas perto da data de corte para entrada na escola, consideração especial deve ser dada para a idade relativa, que pode ser um importante fator no comportamento escolar da criança.

Em segundo lugar, deve ser bom estreitar as faixas de idade usadas em muitas escalas de comportamento amplamente utilizadas. Os resultados desses estudos sugerem que há diferenças normativas significantes nos sintomas de desatenção e de hiperatividade entre as crianças nascidas durante meses diferentes do mesmo ano, para não citar de anos diferentes. O que é “normal” para uma criança de 6 anos e 1 mês difere do que é típico para uma criança de 6 anos e 11 meses de idade.

Entretanto, as escalas de comportamento geralmente têm categorias de idade que abarcam vários anos. Assim, em vez de comparar se os comportamentos de desatenção que um professor encontra em uma criança de 6 anos são excessivos em relação a outra criança de 6 anos, a nota da criança será determinada em relação ao “grupo normativo”, que inclui crianças que são vários anos mais velhas. Como resultado, crianças na ponta inferior da faixa de idade podem ser mais propensas a receberem notas altas na escala de sintomas do TDAH do que crianças na ponta superior da faixa de idade. Isto é muito diferente de como o QI padronizado e os testes de desempenho são construídos, nos quais as notas são calculadas em relação a grupos de idade que abrangem somente alguns meses.

Em terceiro lugar, esses achados evidenciam o valor dos esforços correntes para desenvolver medidas objetivas confiáveis do TDAH, que não sejam afetadas pelos efeitos relacionados à idade. Com foi discutido em um número anterior de Attention Research Update,  o Quantitative EEG (qEEG), pode ser muito útil nesse sentido – veja www.helpforadd.com/2008/november.htm

Finalmente, a associação entre idade relativa e risco de diagnóstico evidencia a importância de se reavaliar sistematicamente as crianças a cada ano. Conforme as crianças se desenvolvem, a importância da idade relativa sobre a capacidade de regular a atenção e o comportamento provavelmente diminui. Por exemplo, é de se esperar menor diferença na capacidade de manter a atenção entre adolescentes de 15 anos mais jovens e os de 15 anos mais velhos, quando comparados a crianças de 6 anos mais jovens e de 6 anos mais velhas. Assim, se uma criança foi diagnosticada incorretamente com TDAH porque ela era relativamente mais jovem no ano de entrada na escola, e portanto menos capaz do que seus colegas de controlar a atenção e o comportamento, as reavaliações anuais identificarão isto conforme a criança passar para os anos seguintes.

Eu (Dr. David Rabiner) o convido a aprender mais sobre este novo modo de abordagem, que tem obtido crescente suporte na pesquisa, ao visitar www.helpforadd.com/cogmed.htm  e solicitar o pacote de informações para profissionais. Creio que você encontrará a informação do seu interesse.

David Rabiner, Ph.D. – Associate Research Professor – Dept. of Psychology & Neuroscience – Duke University – Durham, NC 27708 - USA

216-Ter menos idade ao entrar na escola aumenta a chance de ter o diagnóstico de TDAH - Continuação da 215


Três estudos recentemente publicados fornecem evidências convincentes de que a idade de uma criança em relação à de seus colegas de classe é um fator importante se ela for diagnosticada com TDAH. Os resultados desses estudos estão resumidos a seguir.

Estudo 1

O primeiro estudo sobre este assunto [Evans, et al. (2010). Avaliação do diagnóstico e tratamento médico errado em dados de revisão: A situação do TDAH entre crianças de idade escolar, Journal of Health Economics, 29, 657-693] utilizou dados do National Health Interview Survey (NHIS), uma avaliação anual de lares nos Estados Unidos que colhe dados a respeito de transtornos, doenças e incapacidades na população civil. A informação recolhida inclui dados sobre o diagnóstico de TDAH na população e sobre o uso de medicação estimulante que tenha sido receitada.

Os autores usaram os dados recolhidos de 1997 a 2006 e somente incluíram crianças de estados com margem ampla de corte para a idade de início escolar quando a criança tivesse cinco anos. Com base neste limite, que variou de estado para estado, eles examinaram as taxas de diagnóstico e de tratamento do TDAH de 37.000 jovens de 7 a 17 anos que nasceram até 120 dias antes (isto é, relativamente jovens para a escola) ou até 120 dias depois (isto é, relativamente velhos para a escola) da data de corte do estado.

Os resultados indicam que 9,7% de crianças jovens para a escola foram diagnosticadas com TDAH comparadas a 7,6% daquelas relativamente velhas para a escola, uma diferença de aproximadamente 27%. As taxas de uso de estimulantes também foram significativamente diferentes, 4,5% contra 4%,

Estudo 2

Um segundo estudo [Elder (2010). A importância dos padrões relativos para o diagnóstico do TDAH:Evidência baseada em datas de nascimento exatas. Journal of Health Economics, 29, 641-656] usou dados de outra grande avaliação nacional – o The Early Childhood Longitudinal Study – para examinar este assunto. Os dados inicialmente incluíram 18.600 estudantes de jardim de infância, de 1.000 programas de jardins de infância dos Estados Unidos, no outono de 1998;  as crianças foram seguidas periodicamente até 2007, quando a maioria estava no oitavo ano. A informação disponível incluiu as notas dos pais e dos professores sobre os sintomas de TDAH das crianças, os diagnósticos e os tratamentos com medicação estimulante; os resultados finais foram baseados em 11.750  crianças.

As taxas de diagnóstico e de tratamento do TDAH foram calculadas para crianças nascidas um mês antes (jovens para a escola) e um mês depois (velhas para a escola) da data de corte do estado, que foi 01 de setembro para alguns estados e 01 de dezembro para outros estados. Para estados com data de corte de 01 de setembro, 10% das crianças nascidas em agosto foram diagnosticadas com TDAH, comparadas com 4,5% das nascidas em setembro. Taxas de uso de medicação estimulante foram de 8,3% contra 2,5%, respectivamente. Para estados com a data de corte em 01 de dezembro, a taxa de diagnóstico para crianças nascidas em novembro foi de 6,8%, mais do que o triplo da taxa de 1,9% para as crianças nascidas em dezembro; as taxas de uso de estimulantes foram de 5,0% e 1,5%  respectivamente.

O autor examinou o impacto da idade relativa em que a criança foi diagnosticada com problemas de aprendizagem diferentes do TDAH, incluindo atrasos do desenvolvimento, autismo, dislexia, transtorno sócio emocional do comportamento, e outras dificuldades de aprendizagem. Para esses outros problemas de aprendizagem nenhum efeito relacionado com a idade foi encontrado.

O autor também demonstrou que a idade de entrar na escola tinha efeito muito mais forte na percepção do professor a respeito dos sintomas de TDAH das crianças do que na percepção dos pais. Ele sugeriu que isto poderia ser porque os professores avaliam o comportamento das crianças em relação a outras crianças da classe e as crianças relativamente mais jovens são menos capazes de controlar sua atenção e seu comportamento. Os pais, em contraste, podem usar padrões mais absolutos desde que estão menos capazes de observar seu filho em relação a uma classe cheia de colegas.

Estudo 3

O último estudo [Morrow et al., (2012). Influence of relative age on diagnosis and treatment of Attention-deficit/hyperactivity Disorder in children. Canadian Medical Association Journal, DOI:10.1503/cmaj.11619] examinou a associação entre idade de início e diagnóstico de TDAH em um estudo sobre 935.000 jovens da British Columbia, que tinha entre 6 e 12 anos de idade em qualquer época entre dezembro de 1997 e novembro de 2008. Assim, o valor deste estudo é que a amostra vem de um país diferente e de um sistema de saúde inteiramente diferente do sistema dos Estados Unidos.

O corte de entrada na escola na British Columbia durante este tempo foi 31 de dezembro. Semelhante aos resultados revistos acima, meninos nascidos em dezembro eram 30% mais propensos a ser diagnosticados com TDAH do que meninos nascidos em janeiro; meninas nascidas em dezembro eram 70% mais propensas a serem diagnosticadas com TDAH do que meninas nascidas em janeiro. Meninos eram 41% mais propensos e meninas eram 77% mais propensas a serem tratados com medicação se tivessem nascido em dezembro, comparados com os que tivessem nascido em janeiro.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

215- Ter menos idade ao entrar na escola aumenta a chance de ter o diagnóstico de TDAH


O TDAH é o transtorno neurocomportamental mais comumente diagnosticado nas crianças e evidências substanciais indicam que fatores biológicos têm papel importante em seu desenvolvimento. Por exemplo, embora permaneça desconhecido o mecanismo exato pelo qual os fatores genéticos promovem risco aumentado de TDAH, a importância da transmissão genética foi documentada em vários estudos publicados.

Embora os fatores biológicos sejam amplamente considerados como importantes no desenvolvimento do TDAH, nenhum teste médico ou biológico é recomendado para uso de rotina no diagnóstico do TDAH. Em vez disso, como virtualmente todas as doenças psiquiátricas, o TDAH é definido por uma constelação de sintomas comportamentais que são geralmente relatados pelos pais ou professores de uma criança. Ainda, em quase todos os casos, é a preocupação dos pais ou dos professores sobre a capacidade de uma criança prestar atenção e de controlar seu comportamento que leva a criança a ser avaliada para o TDAH em primeiro lugar.

Embora algumas crianças mostrem comportamento bastante desatento ou hiperativo e impulsivo para serem diagnosticadas como TDAH na idade pré-escolar, geralmente é somente após a criança entrar na escola que as preocupações relacionadas com a atenção e a hiperatividade aparecem. Isto pode ser especialmente verdadeiro para os sintomas de desatenção, conforme as exigências para a atenção sustentada se tornam maiores quando a criança começa a ir à escola. Os professores podem observar como a capacidade de uma criança controlar a atenção e o comportamento se compara com toda a classe – algo que os pais tipicamente não podem fazer – e seu julgamento pode, então, ser de particular influência em como uma criança é avaliada para o TDAH e ser diagnosticada com o transtorno.

Vários fatores podem contribuir para as diferenças na habilidade das crianças em prestar atenção e a controlar seu comportamento quando começam a escola. Um fator certamente é o TDAH, porque as crianças com o transtorno serão observadas pelos professores como mais desatentas e/ou hiperativas. Outro fator – e que é frequentemente esquecido – é a idade da criança em relação à idade dos seus colegas de classe. Este é o assunto investigado nos estudos que estão resumidos abaixo.

O sistema de escolas públicas tem datas específicas em que uma criança precisa ter nascido para começar o jardim de infância. Considere duas crianças em um sistema escolar em que a data de corte seja 31 de dezembro.
José nasceu em 31 de dezembro de 2007 e, assim seria admitido no jardim de infância no outono de 2012 (nos Estados Unidos). Comparado aos demais colegas de classe que nasceram mais cedo, como 01 de janeiro de 2007, ele seria relativamente jovem. Na média, de fato, José seria 6 meses mais jovem que seus colegas.

João nasceu em 01 de janeiro de 2008 e não estaria, então, apto a entrar na escola no outono. Em vez disso, ele teria de esperar até o outono de 2013, antes de começar o jardim de infância. Assim, comparado à maioria de sua classe que teriam nascido mais tarde, até 31 de dezembro de 2008, ele seria relativamente mais velho; na média seria cerca de 6 meses mais velho.

Embora uma diferença de idade de 6 meses dificilmente possa fazer uma diferença na capacidade de prestar atenção, de responder e de controlar o comportamento crianças mais velhas e adolescentes, essa quantia faz uma grande diferença em crianças de 5 a 6 anos de idade. E, diferenças próximas de um ano, que podem existir entre as crianças mais velhas e mais novas em uma classe, poderiam estar associadas com grandes diferenças nestas dimensões (prestar atenção, responder e controlar o comportamento). Isto sugere que crianças relativamente jovens para o primeiro ano no início das aulas serão, na média, menos aptas para controlar sua atenção e seu comportamento do que os seus colegas. Como resultado, crianças jovens para o grau podem mais provavelmente serem vistas pelos professores como tendo dificuldades, que serão relatadas aos pais. Em muitos casos, isto pode levar os pais a fazer uma avaliação de seus filhos para o TDAH e potencialmente aumentar a taxa de diagnóstico e de tratamento do TDAH em crianças jovens para iniciar a escola. Há evidências de que este seja o caso?

(Nota do tradutor: nas próximas postagens veremos as respostas obtidas pelos estudos já realizados – Dr. Menegucci)

sábado, 2 de junho de 2012

214- Novas evidências de que o TDAH pode aumentar a criatividade.



As dificuldades associadas ao TDAH são extensivamente documentadas. De fato, esses estudos representam uma parte substancial da pesquisa publicada sobre o TDAH. Este tipo de trabalho ajuda a aumentar a consciência sobre as dificuldades sofridas por muitos indivíduos com TDAH e evidencia a importância de receber o tratamento correto.

O que foi perdido – ou ao menos ignorado – na maioria das pesquisas sobre o TDAH é a possibilidade de que o TDAH possa também trazer alguns benefícios. Certamente, muitos indivíduos com TDAH tentam progredir e não é incomum ouvir indivíduos discutindo como o TDAH os tem beneficiado. Eu, com certeza, me lembro de vários dos meus clientes contando que “ficar perdido em seus pensamentos”, ter ideias diferentes girando em sua mente quando era esperado que estivessem prestando atenção em uma coisa, e ter sua atenção facilmente dirigida para coisas em sua volta contribuiu para sua criação de muitas ideias interessantes e para juntar as coisas de maneiras interessantes.

Há alguma evidência de que o TDAH pode realmente predispor o indivíduo a se tornar mais criativo? Russel Barkley, um dos mais importantes pesquisadores e especialistas em TDAH, argumentou contra a noção de que o TDAH confere benefícios assim como problemas, dizendo em recente artigo no New York Times que “Não há nenhuma evidência de que o TDAH seja uma ´benção´ ou que traga quaisquer vantagens além das que outras pessoas da população em geral possam ter. As pessoas com TDAH são indivíduos, como qualquer outro, e podem ter sido abençoadas com talentos particulares que estejam em nível mais alto do que o visto em outras pessoas. Mas esses talentos não têm nada a ver com ter TDAH – eles os teriam de qualquer modo.” Entretanto, um estudo publicado no último ano na revista Personality and Individual Differences [White & Shah (2011), Creative style and achievement in adults with Attention-deficit/hyperactivity Disorder. Personality and individual Differences, 50, 673-677.] sugere que isto não é necessariamente verdadeiro e que pessoas com TDAH podem realmente produzir mais trabalho criativo.

Os participantes foram 60 estudantes de faculdade, 30 dos quais tinham sido diagnosticados com TDAH e 30 estudantes para comparação. Tanto homens quanto mulheres estavam representados e sua criatividade foi avaliada por 3 modos diferentes.

Em primeiro lugar, os participantes fizeram o Creativity Achievemente Questionnaire (CAQ), um teste em que os indivíduos relatam sua capacidade criativa em 10 domínios: drama, humor, música, artes visuais, escrita criativa, invenção, descoberta científica, artes culinárias, dança e arquitetura. Um exemplo de um item do CAQ seria “Meu trabalho ganhou um premio no show de arte”. Assim, a avaliação fornece um indicador da verdadeira realização criativa. As notas são obtidas para cada domínio e para o desempenho geral. A pesquisa indica que esta medida fornece uma avaliação confiável e verdadeira das realizações criativas.

Os estudantes também fizeram o FourSight Thinking Profile, uma auto-avaliação do estilo preferido de cada um quando lida com a resolução de problemas no mundo real. Quatro estilos de resolução de problemas foram identificados: 1. Os esclarecedores – os que têm preferência por definir e estruturar o problema a ser resolvido; 2. Os idealizadores – os que preferem criar ideias para a solução do problema em causa; 3. Os desenvolvedores – os que preferem elaborar ou refinar as ideias que foram inicialmente sugeridas; e, 4. Os implementadores – Os que preferem por em ação uma ideia refinada.

Claramente, todos esses aspectos são importantes para a solução criativa de problemas e um estilo não é inerentemente melhor ou pior do que qualquer um dos outros. Os escritores previsivelmente mostrariam maior preferência para serem geradores de ideias, isto é, do tipo idealizadores, enquanto os estudantes mostrariam maior preferências pelos estilos Esclarecedor e Desenvolvedor.

Finalmente, os participantes fizeram o Abbreviated Torrance Test for Adults (ATTA); esta é uma medida padronizada e amplamente utilizada do pensamento criativo divergente. O pensamento divergente ocorre quando geramos muitas ideias possíveis de como resolver um problema particular. Quando nos engajamos no pensamento divergente, múltiplas abordagens para a resolução de um problema são identificadas rapidamente; no processo, conexões inesperadas e criativas entre ideias diferentes podem surgir.

As tarefas no ATTA cuidam das habilidades criativas verbais e não verbais. A seção Verbal examina a habilidade de cada um pensar criativamente com palavras, enquanto os testes Não Verbais avaliam a habilidade individual de pensar criativamente com figuras. Exemplos de tarefas verbais incluem fazer sugestões para melhorar um brinquedo e pensar em quantos usos diferentes podem ser possíveis para um item comum, por exemplo, um tijolo. Exemplos de tarefas de criatividade não verbal incluem a construção de um retrato ou uma figura, por exemplo, os participantes usam formas básicas para criar uma figura e para terminar uma figura já começada, por exemplo, terminar e dar nome a desenhos incompletos.

Resultados

Atividades criativas do mundo real – Estudantes com TDAH tiveram notas significativamente maiores no Creative Achievement Questionnaire do que os estudantes do grupo controle. Além disso, sua nota média era mais alta para cada um dos 10 domínios. Assim, não foi só nos domínios menos acadêmicos, como música e artes visuais, que os estudantes com TDAH tiveram atividades mais criativas, mas também em ciência, redação e arquitetura.

Um aspecto interessante desses achados foi o de que a faixa de notas era muito maior entre os estudantes com TDAH, assim como a quantidade de variação. Assim, não parece de a realização criativa tenha sido uniformemente mais alta entre estes estudantes; em vez disso, a média geral mais elevada parece refletir níveis muito altos de realização criativa por um subgrupo desses estudantes. FourSight Thinking Profile – Como foi dito acima, esta não é uma medida direta da capacidade criativa per se, mas, em vez disso, reflete o estilo de resolução de problemas preferido pelo indivíduo. Com previsto, os estudantes com TDAH mostraram preferência pelo estilo idealizador, isto é, eles preferiam gerar múltiplas ideias, enquanto outros estudantes preferiam os estilos esclarecedor e desenvolvedor.

Abbreviated Torrance Test for Adultos – Neste teste validado de pensamento criativo, os estudantes com TDAH não tiraram notas mais altas que os colegas em geral. Entretanto, como previsto, eles tiveram notas significativamente mais altas em tarefas que mediam a originalidade verbal.

Efeitos dos medicamentos – Metade dos estudantes com TDAH estavam sendo tratados com medicamentos e metade não. Nenhuma diferença entre esses grupos foi achada em qualquer dessas avaliações de criatividade. Como os autores notam, entretanto, sua habilidade de detectar qualquer diferença foi limitada pela pequena amostra.

Resumo e Implicações

Os resultados deste estudo interessante apoia a noção de que o TDAH esteja associado com aumento da criatividade em adultos jovens. Um aspecto importante deste estudo é que ele empregou medidas múltiplas da criatividade – realizações criativas do mundo real, estilos preferidos de solução de problemas e desempenho com medida baseada em provas da criatividade verbal. Como dito acima, estudantes com TDAH superaram seus pares nas realizações criativas do mundo real e nas medidas de avaliação da criatividade verbal. Eles também mostraram uma preferência para serem geradores de ideias em oposição aos clarificadores ou esclarecedores das ideias já existentes.

Por que o TDAH poderia estar ligado ao desempenho criativo? Uma possibilidade sugerida pelos autores – e que é consistente com o trabalho teórico recente sobre a natureza do TDAH – é que os indivíduos com TDAH são caracterizados por um controle inibidor mais fraco. Os déficits de inibição fazem mais difícil a manutenção do foco em um único pensamento ou ideia e a eliminação dos estímulos externos; isto pode resultar em ter mais pensamentos ao acaso e ideias, e  gastar mais tempo com pensamentos múltiplos e ideias fornece aumento da oportunidade de fazer conexões interessantes. Em teoria, isto pode contribuir para o desenvolvimento de pensamento menos convencional e para aumentar as habilidades de pensamento divergente. Também é possível que a natureza da atividade criativa seja um complemento melhor para as pessoas com TDAH do que as atividades em que o sucesso depende de ficar rigidamente ligado a um plano ou a um trabalho para encontrar a solução correta. Como resultado, elas podem gastar mais tempo em devaneios criativos e, assim, se dar bem.

A preferência que os indivíduos com TDAH mostram pelo estilo idealizador pode ser importante em relação ao tipo de ambiente de trabalho em que eles provavelmente se dão bem. Especificamente, este estilo sugere que eles podem ser especialmente bem equipados para atividades e carreiras comerciais que premiam as habilidades de pensamento divergente. Naturalmente, outros tipos de habilidades de pensamento são também importantes porque mesmo o mais criativo e motivado comerciante será menos destinado ao sucesso se ele for incapaz de conduzir os planos de maneira disciplinada e consistente.

Outra maneira desses achados serem aplicados é a de mostrar às crianças os benefícios potenciais que o TDAH pode conferir em termos de pensamento criativo e de realizações criativas. Isto pode eliminar a noção de ter um déficit ou transtorno e contribuir para o desenvolvimento de talentos que acentuem a autoestima.

Enquanto os achados deste estudo sugerem que a criatividade aumentada pode ser um benefício real associado ao TDAH, a replicação desses achados com um amostra maior, com crianças e adolescentes, seria um importante próximo passo. Também é importante não perder de vista as dificuldades muito reais que estão associadas ao TDAH e a reconhecer que para muitos, esta é uma condição muito prejudicial, para a qual o tratamento contínuo é necessário.

Dito isto, é uma bela mudança que surge a partir de um estudo bem conduzido e que abriga uma mensagem esperançosa e otimista baseada no que parecem ser achados sólidos.
Personality and Individual Differences [White & Shah (2011), Creative style and achievement in adults with Attention-deficit/hyperactivity Disorder. Personality and individual Differences, 50, 673-677.]

David Rabiner, Ph.D.
Associate Research Professor
Dept. of Psychology & Neuroscience
Duke University
Durham, NC 27708

213- Comecem o jogo!


O conhecimento convencional diz que o videogame é uma distração que atrapalha o aprendizado. Mas, para os adolescentes com déficit de atenção, ele pode realmente oferecer um modo de auxiliar as funções executivas. Por Collin Guare

Se jogar videogame por horas a fio garantisse o sucesso futuro, eu seria hoje o presidente. Naturalmente, este não é o caso. Entretanto, muito da minha destreza mental e das minhas funções executivas aguçadas – habilidades cerebrais necessárias para executar tarefas – podem ser debitadas às minhas horas passadas na frente de uma tela. O jogo me ajudou a controlar as dificuldades relacionadas ao TDAH.

Embora os pais possam argumentar que o videogame causa distração, e é um obstáculo para a aprendizagem, a pesquisa mostra o contrário. Em seu livro, What Video Games Have to Teach Us About Learning and Literacy (O que o videogame tem a nos ensinar sobre aprendizagem e habilidade de leitura), James Paul Gee, Ph.D., diz que o que faz um jogo ser fascinante é sua capacidade de fornecer um ambiente coerente de aprendizado para os jogadores. Alguns videogames não são apenas uma experiência de aprendizagem, diz Gee, mas eles também facilitam a metacognição (resolução de problemas). Em outras palavras, bons jogos ensinam aos jogadores bons hábitos de aprendizagem.

Há muitos videogames que oferecem aos adolescentes a chance de ter diversão e de aperfeiçoar as habilidades executivas ao mesmo tempo. Aqui estão quatro exemplos que são populares, divertidos, mentalmente recompensadores e “maneiros”.

Portal e Portal 2

A série Portal é uma revolução na indústria do videogame. Ela privilegia o "jogar o jogo" em lugar de gráficos explosivos e narrativas complexas. Os jogadores navegam um personagem através de um centro de pesquisa abandonado usando um “canhão portal”. Ele abre as portas entre as câmaras pelas quais os jogadores ou objetos podem se mover. Portal é essencialmente um jogo de enigma situado num mundo tridimensional. O jogo é atraente e cognitivamente produtivo. Requer dos jogadores habilidades executivas como planejamento, gerenciamento do tempo e memória de trabalho, que as crianças com TDAH precisam aprimorar. Ganhadora de múltiplos prêmios de “jogo do ano” de várias publicações, a série Portal está disponível para Xbox, PS3 e usuários de computador. Classificada como T, para adolescentes.

Starcraft e Starcraft II: Asas da Liberdade

Pertencem à categoria conhecida como Jogos de Estratégia em Tempo Real (RTS), que são feitos com mapas e ambientes vistos do alto. Os jogadores constroem diversos tipos de unidades e colhem material, todos com o objetivo de se defender de um inimigo (um computador ou um ser humano) em uma batalha. As crianças precisam prestar a máxima atenção para garantir que estão produzindo unidades com eficiência mais alta, enquanto preveem os ataques e planejam os assaltos ao inimigo. Para ter sucesso, um jogador necessita do uso da metacognição, atenção sustentada e da memória de trabalho. Se você precisa de uma prova do prestígio deste jogo, veja os profissionais. Competições profissionais são realizadas para os dois jogos e rotineiramente oferecem prêmios de centenas de milhares de dólares. Disponíveis para Mac e Windows. Classificados como T, para adolescentes.

A Franquia Zelda

No reino dos “velhos, mas legais”, a série Zelda é soberana, especialmente a Ocarina do Tempo e a Majora´s Mask. Embora lançadas há mais de uma década, estes jogos estabeleceram o padrão industrial de como combinar narrativa, modo de jogar e estratégia. Os jogadores são desafiados por um enigma de palavras, que precisa de pensamento crítico e persistência dirigida a uma meta – em outras palavras, atingir uma meta apesar das distrações e dos interesses competitivos.

Estes jogos estão disponíveis para o sistema de jogo N64, embora versões novas tenham sido lançadas para Wii e Nintendo. Alguns adolescentes podem não gostar do N64 por causa da sua relativa pobreza gráfica, mas não foi sem uma razão que eu completei o Ocarina do Tempo no ano passado. O modo de jogar magnetizante e o desafio do Zelda são irresistíveis. Classificado como E, para todos.

Guitar Hero

Este é um jogo de exercício de foco e reflexo. Oferece aos adolescentes uma oportunidade de ajustar sua habilidade de prestar atenção e de transformar o estímulo visual em uma reação física. É preciso da memória de trabalho para dominar este jogo, porque ele se baseia na repetição de padrões complexos. Os jogadores usam controles de plástico com a forma de guitarra para seguir jogando com suas músicas preferidas. Disponível para PS2, PS3, Xbox 360, Wii, Windows e Mac, e Nintendo DS. Classificado como T, para adolescentes, embora algumas versões para Wii sejam classificadas como E, para todos.

Videogames não é apenas diversão. Eles oferecem às crianças com TDAH uma oportunidade, sem risco, de desenvolver as funções executivas que usarão na vida adulta. Então, eu digo aos pais, “Comecem o jogo!”. E se os seus filhos por acaso encontrarem um jogador chamado “gwhere?” nas suas jornadas online, diga-lhes para pegarem leve com ele. Na velhice, ele está um pouco enferrujado.

Este artigo saiu no número de verão de 2012 de ADDitude.

  Terapias emergentes para a doença de Alzheimer precoce Michael Rafii, MD, PhD O início da doença de Alzheimer (DA) é caracterizado po...