segunda-feira, 22 de setembro de 2014

364- O TDAH não é uma Dificuldade de Aprendizagem?


Uma nova maneira de avaliar o processamento neural de crianças com TDAH revela que, ao contrario do convencional, o transtorno não representa necessariamente um prejuízo do aprendizado, tanto quanto um prejuízo da tomada de decisões.

"Indivíduos com TDAH não devem ser caracterizados por um prejuízo do aprendizado per se, em contraste do que foi sugerido por modelos teóricos", escreveram os autores, liderados por Tobias U, Hauser, PhD., da University College London´s Wellcome Trust Centre for Neuroimaging.

"Na verdade, eles têm um processo de decisão menos preciso e avaliam mais vezes".

O estudo foi publicado online no dia 20 de agosto no JAMA Psychiatry.

Nova abordagem por imagem

O TDAH, afirmam os autores, tem sido ligado a fraca tomada de decisões e dificuldade de aprendizado. Modelos de TDAH sugerem que esses déficits "podem ser causados por deficiência no reconhecimento de 'erros na previsão de recompensa' (RPEs), que são sinais que indicam violação de expectativas, e sabidamente codificados pelo sistema dopaminérgico".
Entretanto, os investigadores afirmam que "o déficit preciso de aprendizado e de tomada de decisões, e seu correspondente neurobiológico no TDAH, não é bem conhecido".

Para o estudo, 20 adolescentes, com idade de 12 a 16 anos, com TDAH, e 20 indivíduos sadios, de controle, foram submetidos a testes psiquiátricos durante a realização simultânea de ressonância magnética funcional (fRMI) e eletroencefalograma (EEG).

A combinação das duas modalidades permite uma avaliação que supera as fraquezas de cada método, segundo Dr. Hauser.

A ressonância magnética funcional (fRMI), por exemplo, tem uma resolução temporal muito fraca, enquanto o EEG tem uma falta de resolução espacial. A combinação dos dois permite não somente localizar as deficiências mas, também, nos mostra em que instante a deficiência acontece. Isso nos informa se ela ocorre no início ou no final do "processo de pensamento".

Nos testes, os investigadores usaram uma nova comparação de dois modelos de computação psiquiátrica - um modelo Rescorla-Wagner avançado, que se mostra bem sucedido em demonstrar o aprendizado de um participante em tarefas de aprendizado com reversão probabilística, e um modelo de aprendizado Bayesiano mais flexível, que comanda um processo de aprendizado mais refinado.

É o primeiro estudo que utiliza esses modelos computacionais para entender as deficiências de tomada de decisão em combinação com imagem multimodal, segundo Dr. Hauser.

Por meio dessa abordagem, é possível entender os mecanismos por trás das dificuldades na tomada de decisões e seus correlatos neurais, no TDAH.
Os desafios enfrentados pelos participantes, enquanto eram submetidos às técnicas simultâneas de neuro-imagem, geralmente envolviam o aprendizado, por tentativa e erro, de qual de duas imagens resultava em melhor recompensa de dinheiro, com o objetivo de ganhar a maior quantidade de dinheiro possível. As probabilidades de recompensa eram mudadas ocasionalmente, requerendo que os participantes a elas se adaptassem.

Implicações clínicas ?

Os resultados não mostraram nenhuma diferença significativa entre os grupos quanto aos tempo médios de reação, à variabilidade do tempo de reação e ao número de erros. Entretanto, os participantes com TDAH ganharam menos dinheiro (P = 0,08).

Adolescentes com TDAH mostraram aprendizado mais simplista e também tiveram aumento do comportamento exploratório, quando comparados aos participantes sadios (P = 0,02).

Por sua vez, a ressonância magnética funcional mostrou deficiência no processamento dos RPEs, ou sinais que sugerem violações das expectativas, que foram ligadas ao TDAH em modelos prévios da condição. Deficiências de RPEs foram observadas no córtex pré-frontal medial - uma área largamente associada com a tomada de decisões - durante o estímulo assim como na apresentação do resultado.

Embora pesquisa anterior também tenha implicado o córtex pré-frontal no TDAH, a imagem mostrou o momento preciso do impacto, que ocorreu em um estágio inicial, aproximadamente meio segundo depois do feedback.
Não é somente a deficiência dos RPEs do córtex pré-frontal medial uma causa possível da seleção de escolhas sub-ótimas, refletidas no comportamento mais exploratório, mas a imagem também ajudou a apontar quais áreas do córtex pré-frontal medial são afetadas.

"As regiões do córtex pré-frontal medial que foram descobertas como deficientes são adjacentes às regiões principais sabidamente responsáveis pelo processamento dos RPEs", escreveram os autores.
"Isso sugere que indivíduos com TDAH podem não processar os RPEs de modo diferente nas regiões principais. Em vez disso, parece que os RPEs são processados em áreas menos extensas".

Considerando o comportamento, os achados oferecem uma possível explicação para os desafios de tomada de decisões e as potenciais estratégias para superá-los, disse o Dr. Hauser.

"Adolescentes com TDAH possivelmente tomam decisões mais fracas e mais impulsivas quando têm um tempo limitado para decidir, ou se estão sob a pressão de outros adolescentes", ele explicou.

"Essa fraqueza poderia ser superada se as pessoas com TDAH pudessem aprender a refletir profundamente sobre os ganhos potenciais e os custos de suas decisões".

Achados intrigantes

O estudo é importante ao somar para o entendimento dos mecanismos subjacentes ao TDAH, o que é importante para o desenvolvimento de intervenções para ajudar a combater e compensar os déficits, disse Cathryn A. Galanter. MD., diretora do programa psiquiátrico de treinamento de adolescentes no SUNY Downstate/Kings County Hospital Center, no Brooklyn, em Nova Iorque.

"Esses achados são intrigantes e precisam de replicação", ela disse ao Medscape Medical News.

"Embora seja muito cedo para tirar implicações clínicas desses resultados, eles contribuem muito para a evidência neurocientífica do que vemos clinicamente: que crianças com TDAH podem ter estilos diferentes de aprendizagem e, assim, podem se beneficiar de diferentes abordagens para ajudá-las a aprender".

"São necessários mais estudos para nos ajudar a entender os processo subjacentes do aprendizado e da tomada de decisões das crianças com TDAH, disse Dra. Galanter.


JAMA Psychiatry. Published online August 20, 2014.

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