quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

319- DEZ COISAS QUE TODA CRIANÇA COM AUTISMO GOSTARIA QUE VOCÊ SOUBESSE


Por Ellen Nottohm (tradução livre - Andréa Simon)

1) Antes de tudo eu sou uma criança. Eu tenho autismo. Eu não sou somente "Autista". O meu autismo é só um aspecto do meu caráter. Não me define como pessoa. Você é uma pessoa com pensamentos, sentimentos e talentos. Ou você é somente gordo, magro, alto, baixo, míope. Talvez estas sejam algumas coisas que eu perceba quando conhecer você, mas isso não é necessariamente o que você é. Sendo um adulto, você tem algum controle de como se auto-define. Se quer excluir uma característica, pode se expressar de maneira diferente. Sendo criança eu ainda estou descobrindo. Nem você ou eu podemos saber do que eu sou capaz. Definir-me somente por uma característica, acaba-se correndo o risco de manter expectativas que serão pequenas para mim. E se eu sinto que você acha que não posso fazer algo, a minha resposta naturalmente será: Para que tentar?

2) A minha percepção sensorial é desordenada. Interação sensorial pode ser o aspecto mais difícil para se compreender o autismo. Quer dizer que sentidos ordinários como audição, olfato, paladar, toque, sensações que passam despercebidas no seu dia a dia podem ser doloridas para mim. O ambiente em que eu vivo pode ser hostil para mim. Eu posso parecer distraído ou em outro planeta, mas eu só estou tentando me defender. Vou explicar o porquê uma simples ida ao mercado pode ser um inferno para mim: a minha audição pode ser muito sensível. Muitas pessoas podem estar falando ao mesmo tempo, música, anúncios, barulho da caixa registradora, celulares tocando, crianças chorando, pessoas tossindo, luzes fluorescentes. O meu cérebro não pode assimilar todas estas informações, provocando em mim uma perda de controle. O meu olfato pode ser muito sensível. O peixe que está à venda na peixaria não está fresco. A pessoa que está perto pode não ter tomado banho hoje. O bebê ao lado pode estar com uma fralda suja. O chão pode ter sido limpo com amônia. Eu não consigo separar os cheiros e começo a passar mal. Porque o meu sentido principal é o visual. Então, a visão pode ser o primeiro sentido a ser super-estimulado. A luz fluorescente não somente é muito brilhante, mas ela pisca e pode fazer um barulho. O quarto parece pulsar e isso machuca os meus olhos. Esta pulsação da luz cobre tudo e distorce o que estou vendo. O espaço parece estar sempre mudando. Eu vejo um brilho na janela, são muitas coisas para que eu consiga me concentrar. O ventilador, as pessoas andando de um lado para o outro... Tudo isso afeta os meus sentidos e agora eu não sei onde o meu corpo está neste espaço.

3) Por favor, lembre de distinguir entre não poder (eu não posso fazer) e eu não posso (eu não consigo fazer). Receber e expressar a linguagem e vocabulário pode ser muito difícil para mim. Não é que eu não escute as frases. É que eu não o compreendo. Quando você me chama do outro lado do quarto, isto é o que eu escuto "BBBFFFZZZZSWERSRTDSRDTYFDYT João". Em vez disso, venha falar comigo diretamente com um vocabulário simples: "João, por favor, coloque o seu livro na estante. Está na hora de almoçar". Isso me diz o que você quer que eu faça e o que vai acontecer depois. Assim é mais fácil para compreender.
4) Eu sou um "pensador concreto" (CONCRETE THINKER). O meu pensamento é concreto, não consigo fazer abstrações. Eu interpreto muito pouco o sentido oculto das palavras. É muito confuso para mim quando você diz "não enche o saco", quando o que você quer dizer é "não me aborreça". Não diga que "isso é moleza, é mamão com açúcar" quando não há nenhum a mamão com açúcar por perto e o que você quer dizer é que isso e algo fácil de fazer. Gírias, piadas, duplas intenções, paráfrases, indiretas, sarcasmo eu não compreendo.

5) Por favor, tenha paciência com o meu vocabulário limitado. Dizer o que eu preciso é muito difícil para mim, quando não sei as palavras para descrever o que sinto. Posso estar com fome, frustrado, com medo e confuso, mas agora estas palavras estão além da minha capacidade, do que eu possa expressar. Por isso, preste atenção na linguagem do meu corpo (retração, agitação ou outros sinais de que algo está errado). Por um outro lado, posso parecer como um pequeno professor ou um artista de cinema dizendo palavras acima da minha capacidade na minha idade. Na verdade, são palavras que eu memorizei do mundo ao meu redor para compensar a minha deficiência na linguagem. Por que eu sei exatamente o que é esperado de mim como resposta quando alguém fala comigo. As palavras difíceis que de vez em quando falo podem vir de livros, TV, ou até mesmo serem palavras de outras pessoas. Isto é chamado de ECOLALIA. Não preciso compreender o contexto das palavras que estou usando. Eu só sei que devo dizer alguma coisa.

6) Eu sou muito orientado visualmente porque a linguagem é muito difícil para mim. Por favor, me mostre como fazer alguma coisa em vez de simplesmente me dizer. E, por favor, esteja preparado para me mostrar muitas vezes. Repetições consistentes me ajudam a aprender. Um esquema visual me ajuda durante o dia-a-dia. Alivia-me do stress de ter que lembrar o que vai acontecer. Ajuda-me a ter uma transição mais fácil entre uma atividade e outra. Ajuda-me a controlar o tempo, as minhas atividades e alcançar as suas expectativas. Eu não vou perder a necessidade de ter um esquema visual por estar crescendo. Mas o meu nível de representação pode mudar. Antes que eu possa ler, preciso de um esquema visual com fotografias ou desenhos simples. Com o meu crescimento, uma combinação de palavras e fotos pode ajudar mais tarde a conhecer as palavras.

7) Por favor, preste atenção e diga o que eu posso fazer ao invés de só dizer o que eu não posso fazer. Como qualquer outro ser humano não posso aprender em um ambiente onde sempre me sinta inútil, que há algo errado comigo e que preciso de "CONSERTO". Para que tentar fazer alguma coisa nova quando sei que vou ser criticado? Construtivamente ou não é uma coisa que vou evitar. Procure o meu potencial e você vai encontrar muitos! Terei mais que uma maneira para fazer as coisas.

8) Por favor, me ajude com interações sociais. Pode parecer que não quero brincar com as outras crianças no parque, mas algumas vezes simplesmente não sei como começar uma conversa ou entrar na brincadeira. Se você pode encorajar outras crianças a me convidarem a jogar futebol ou brincar com carrinhos, talvez eu fique muito feliz por ser incluído. Eu sou melhor em brincadeiras que tenham atividades com estrutura começo-meio-fim. Não sei como "LER" expressão facial, linguagem corporal ou emoções de outras pessoas. Agradeço se você me ensinar como devo responder socialmente. Exemplo: Se eu rir quando Sandra cair do escorregador não é que eu ache engraçado. É que eu não sei como agir socialmente. Ensine-me a dizer: "você esta bem?".

9) Tente encontrar o que provoca a minha perda de controle. Perda de controle, "chilique", birra, mal-criação, escândalo, como você quiser chamar, eles são mais horríveis para mim do que para você. Eles acontecem porque um ou mais dos meus sentidos foi estimulado ao extremo. Se você conseguir descobrir o que causa a minha perda de controle, isso poderá ser prevenido - ou até evitado. Mantenha um diário de horas, lugares pessoas e atividades. Você encontrar uma seqüência pode parecer difícil no começo, mas, com certeza, vai conseguir. Tente lembrar que todo comportamento é uma forma de comunicação. Isso dirá a você o que as minhas palavras não podem dizer: como eu sinto o meu ambiente e o que está acontecendo dentro dele.

10) Se você é um membro da família me ame sem nenhuma condição. Elimine pensamentos como "Se ele pelo menos pudesse…" ou "Porque ele não pode…" Você não conseguiu atender a todas as expectativas que os seus pais tinham para você e você não gostaria de ser sempre lembrado disso. Eu não escolhi ser autista. Mas lembre-se que isto está acontecendo comigo e não com você. Sem a sua ajuda a minha chance de alcançar uma vida adulta digna será pequena. Com o seu suporte e guia, a possibilidade é maior do que você pensa. Eu prometo: EU VALHO A PENA. E, finalmente três palavras mágicas: Paciência, Paciência, Paciência. Ajuda a ver o meu autismo como uma habilidade diferente e não uma desabilidade. Olhe por cima do que você acha que seja uma limitação e veja o presente que o autismo me deu. Talvez seja verdade que eu não seja bom no contato olho no olho e conversas, mas você notou que eu não minto, roubo em jogos, fofoco com as colegas de classe ou julgo outras pessoas? É verdade que eu não vou ser um Ronaldinho "Fenômeno" do futebol. Mas, com a minha capacidade de prestar atenção e de concentração no que me interessa, eu posso ser o próximo Einstein, Mozart ou Van Gogh. O que o futuro tem guardado para crianças autistas como eu, está no próprio futuro. Tudo que eu posso ser não vai acontecer sem você sendo a minha Base. Pense sobre estas "regras" sociais e se elas não fazem sentido para mim, deixe de lado. Seja o meu protetor, seja o meu amigo e nós vamos ver até onde eu posso ir. CONTO COM VOCÊ!!!

Retirado do site: http://www.autimismo.com.br/
http://img1.blogblog.com/img/icon18_wrench_allbkg.png


“O maior desafio (da educação) é conhecer cada criança como ela realmente é, saber o que ela é capaz de fazer e centrar a educação nas capacidades, forças e interesses dessa criança. O professor é um antropólogo, que observa a criança cuidadosamente, e um orientador, que ajuda a criança a atingir os objetivos que a escola – ou o distrito, ou a nação – estabeleceu".  (Howard Gardner)

318- Por que nós, com TDAH, agimos assim: Entendendo o comportamento TDAH.


Por William Dodson, M.D. 

Explicações para a compreensão dos nossos pensamentos e comportamentos - desde a preferência pela companhia de amigos TDAH até o hiperfoco durante toda a noite, e a duvidar de nossa capacidade de agir quando os outros querem nossa ação.

A vida dos TDAHs
A maioria dos TDAHs sempre soube que eles são diferentes. Os pais, professores, patrões e os amigos sempre disseram que eles não se ajustavam ao modelo normal. Disseram para que eles aprendessem e se tornassem iguais às outras pessoas. O principal obstáculo para entender o TDAH é a crença de que os TDAHs podem e devem ser como o resto das pessoas. Para os "normais" e para os TDAHs, aqui vai uma explicação do porquê dos TDAHs fazerem o que fazem.

Por que não nos damos bem em um mundo linear?
O mundo TDAH é curvo. Passado, presente e futuro nunca são separados e distintos. Tudo é agora. Os TDAHs vivem um presente permanente e têm muita dificuldade de aprender do passado ou de olhar para o futuro para ver as consequências de seus atos. "Agir sem pensar" é a definição de impulsividade, e uma das razões por que os TDAHs têm dificuldade de aprender pela experiência.

Problemas de A a Z
Os TDAHs não são bons em organização - planejar e fazer as etapas de uma tarefa em ordem certa. Trabalhos no mundo neurotípico ["normal"] têm um começo, um meio e um fim. Os TDAHs não sabem onde e como começar, porque não conseguem achar o início. Eles vão para o meio de uma tarefa e agem em todas as direções ao mesmo tempo. A organização se torna uma tarefa insustentável porque os sistemas organizacionais trabalham com linearidade, importância e tempo.

Por que ficamos oprimidos?
Os TDAHs sentem a vida de modo mais intenso do que os outros. O sistema nervoso do TDAH quer se envolver com algo interessante e desafiador. Atenção nunca é um déficit. Ela é sempre excessiva, constantemente ocupada com envolvimentos internos. Quando os TDAHs não estão na zona de conforto, no hiperfoco, eles têm muitas coisas rondando suas mentes, todas ao mesmo tempo, e por nenhuma razão aparente, como cinco pessoas falando entre si ao mesmo tempo. Nada consegue atenção sustentada e não dividida. Nada fica bem feito.

Por que sentimos o mundo todo?
Muitos TDAHs não conseguem selecionar os estímulos sensoriais. Às vezes isso está relacionado somente a um reino sensorial, como a audição. De fato, o fenômeno é chamado de hiperacusia (audição amplificada), mesmo quando a atrapalhação vem de um dos cinco outros sentidos. Por exemplo, o menor barulho na casa impede que pegue no sono. Os TDAHs têm seus mundos constantemente perturbados por sensações que os neurotípicos não percebem.

Por que gostamos de uma crise?
Às vezes, um TDAH pode atingir o limite de um prazo e produzir muito trabalho em pouco tempo. Os "mestres do desastre" podem lidar facilmente com a crise e perder o controle quando as coisas voltam a ser rotina. Balançando de crise em crise, entretanto, é uma dura maneira de viver a vida. Alguns portadores de TDAH usam a raiva para ter a descarga de adrenalina que precisam para serem produtivos. O preço que pagam por sua produtividade é tão alto que eles podem ser considerados como portadores de transtornos de personalidade.

Por que nem sempre terminamos as coisas?
Os portadores de TDAH  são iludidos e frustrados por sua intermitente habilidade de serem super-homens quando interessados, e desafiados e incapazes de iniciar e manter projetos que os aborreçam. Nunca estão confiantes de que podem se engajar quando for necessário, quando os outros esperam que o façam, quando os outros dependem de que o façam. Quando os portadores de TDAH se vêm como independentes, eles começam a duvidar de seus talentos e a sentir vergonha de não serem confiáveis.

Por que nossos motores estão sempre ligados?
Quando a maioria dos portadores de TDAH fica adolescente, sua hiperatividade se esconde. Mas ela está lá e ainda prejudica a capacidade de se ligar no ato, de ouvir as pessoas e de relaxar o suficiente para dormir. Mesmo quando tomam suas medicações, podem não ser capazes de fazer uso de seu estado acalmado. Ainda são acelerados. Na adolescência, muitos portadores de TDAH já adquiriram as habilidades sociais necessárias para disfarçar que eles não estão ligados no aqui e agora.

Por que a organização nos confunde?
A mente do TDAH é uma enorme e desorganizada biblioteca. Ela contém vasta quantidade de informação, em pedaços, não em livros completos. A informação existe em muitas formas - como artigos, vídeos, audioclipes, páginas da internet. Mas não há cartões de catalogação. Cada portador de TDAH tem sua própria maneira de guardar essa enorme quantidade de material. Itens importantes (Deus nos acuda, importantes para mais alguém) não têm nenhum lugar fixo, e podem muito bem estarem invisíveis ou completamente perdidos.

Por que podemos nos esquecer?
Para o portador de TDAH, a informação e as memórias que estiverem fora da vista estarão fora da mente. Sua mente é uma memória RAM de computador, sem nenhum acesso confiável à informação no disco rígido. A mente do TDAH está cheia de minúcias da vida ("Onde estão minhas chaves?"), então, há pouco lugar para novos pensamentos e memórias. Algo tem de ser descartado ou esquecido para dar lugar a informação nova. Geralmente a informação de que os portadores de TDAH precisam está em sua memória, mas não está disponível quando solicitada.

Por que não nos vemos claramente?
Os portadores de TDAH têm pouca autopercepção. Enquanto podem frequentemente entender bem os outros, para a média dos TDAHs é difícil saber, de momento a momento, como eles mesmos estão se saindo. Os neurotípicos interpretam isso de modo errado, como sendo insensibilidade, narcisismo, descuido ou inaptidão social. A vulnerabilidade dos TDAHs ao feedback negativo dos outros e a falta de habilidade de se avaliar no momento, pioram as coisas.

Por que somos desafiados pelo tempo?
Como os portadores de TDAH não têm uma avaliação real do tempo, tudo acontece agora ou nunca. Junto ao conceito de ordenação (o que deve ser feito em primeiro lugar; o que vem em segundo lugar) também deve haver o conceito de tempo. Oitenta e cinco por cento dos meus pacientes com TDAH não têm ou não usam um relógio de pulso. Para os TDAHs, o tempo é uma abstração sem significado. Ele é importante para as outras pessoas, mas os TDAHs nunca têm noção dele.


ADDitude

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