domingo, 1 de setembro de 2013

294- Uma Abordagem Mais Receptiva, Mais Gentil e Mais Suave Para o Início do Ano Escolar


Por Pernille Ripp

Nenhum professor começa a carreira com más intenções. Mesmo assim, alguns de nós fazemos nosso maior erro justamente no primeiro dia da escola. Comigo não foi diferente, nove anos atrás. Escolhi fazer tudo do jeito como me foi ensinado na faculdade - o jeito que o famoso livro de conselhos para os novos professores dizia que deveria ser.

Claro, eu ri com os alunos e falei bastante sobre nossa "comunidade em classe". Porém, conforme transcorria a importante primeira semana de escola, eu fui ditar regras, estabelecendo quem estava no controle, e estabelecendo os limites para o ano.

Como resultado, perdi a oportunidade de criar o tipo de relacionamento com meus alunos que leva não somente à motivação e engajamento, mas à verdadeira apropriação do aprendizado e, por consequência, ao maior sucesso. Nessa época eu não percebi a perda - demorou vários anos, de fato. Se você é um professor novato, prestes a começar sua carreira, talvez as lições que eu aprendi possam ajudá-lo a evitar as armadilhas de uma falsa relação com seus alunos.

O Fazedor de Regras a Postos

No meu primeiro dia de trabalho como professor (logo em seguida às instruções no dia anterior), fiquei sorrindo na porta da minha sala, apertando a mão de cada um dos alunos do quarto grau que entravam em minha classe. Estava ansiosa para começar nossa primeira conversa: "Como Entramos na Sala de Aula". Conforme os alunos tomavam seus lugares, pedi sua atenção e comecei a explicar a eles exatamente como eu queria que eles entrassem na sala. Disse a eles o que precisavam trazer e quais as consequências por virem despreparados.

Então, passei para a segunda conversa mais importante: Minhas regras e as consequências por quebrá-las. Aqui eu me baseei em um auxiliar para o professor novato, "The First Six Weeks of School" (Os primeiros seis dias de escola), de Paula Denton e Roxann Kriete. Os autores propunham a atraente ideia de fazer parecer que seus alunos  estivessem vindo com suas próprias regras e procedimentos em classe, facilitando assim a aceitação conforme você os levasse à inevitável conclusão. De fato, eu já tinha as regras em um cartaz: "Respeitem um ao outro, cuide de si mesmo, e tome conta de suas coisas".

Minha intenção era nobre. Queria que meus alunos sentissem que fossem parte do manejamento da classe. Mas eu estava criando uma falsa noção. Eu não tinha nenhuma intenção de deixar que eles estabelecessem as regras. Eu sabia, por todo o meu treinamento e leitura, que meu trabalho número um era ser o líder desse espaço de aprendizagem. E os líderes fazem as regras.

Oportunidades Perdidas

O resto daquela primeira semana de escola foi um verdadeiro caos. A maioria dos professores (veteranos e novatos) estava confusa pelo final da primeira semana, abatidos pela ansiedade de iniciar o curriculum, mas também ocupados em descobrir  quem eram seus alunos e como guiá-los ao longo do ano.

Eu estava maravilhada pela gentileza que meus alunos demonstraram para mim, mas também muito agarrada aos comandos de direção de todo o nosso aprendizado. Não era a hora de parecer muito fraco ou muito amigável. Estabeleci numerosas atividades para quebrar o gelo, e pensei que tínhamos nos conhecido bem uns aos outros. De fato, eu sabia muito pouco a respeito de cada aluno, definitivamente nada que pudesse me guiar em meu ensino. Achava que aquelas coisas viriam mais tarde (e algumas vieram), mas em realidade eu tinha perdido completamente a maior oportunidade que teria para verdadeiramente conhecer meus alunos.

Em essência, eu tinha medo de que se não tivesse firmado minha autoridade desde o primeiro dia de aula, o resto do ano ficaria fora de controle. Fui durona - naquele ano e nos vários anos em seguida. Fomos bem. Eu achava. Meus alunos aprendiam. Mas eu não podia perceber o quanto de potencial foi desperdiçado sob a minha mão de ferro.

Devolvendo a Classe

Como fui ensinada a pensar em como organizar a primeira semana de escola para firmar minha autoridade e controle, foi difícil deixar aquelas noções de lado. Foi uma jornada que eu descrevi em um livro que foi publicado no ano passado, "The Passionate Learner: Giving Our Classrooms Back to Our Students Starting Today" (O Aprendiz Zeloso: Devolvendo Nossas Classes aos Nossos Alunos Iniciantes).

Deixem-me somente dizer aqui que eu agora sei que o que fazemos na primeira semana de aulas para sermos ouvidos, para nos comunicarmos e para compartilhar o genuíno interesse uns com os outros, estabelece o tom para o resto do ano de modo mais consciente do que qualquer lista de regras ou expectativas conseguirão.

Se você vier em minha sala agora, no primeiro dia de aula, verá uma abordagem muito diferente - mais suave, calma e mais de acordo com o que entendo ser o que meus alunos realmente precisam: respeito e um lugar seu.

Agora, no início de cada ano escolar, eu relembro a mim mesmo para me segurar - para não por muita pressão com as regras de comportamento e de procedimentos dos gurus. Sei, agora, por experiência, que se eu tomar meu tempo com meus alunos, o investimento se pagará pelo ano todo.

No primeiro dia, todos os anos, lembro-me do seguinte:

- Somos todos desconhecidos uns e outros
- Estamos cimentando nossas rotinas
- Estamos descobrindo nossas regras
- O currículo não significará nada se não ficarmos entusiasmados com ele
- Desfrutamos nossa liberdade
- Temos de construir a confiança

Fora Com o Que é Velho

Então, na prática, quando um professor tenta  usar esses princípios intuitivos, o que fica parecendo? Bem, primeiro deixem-me dizer o que não fica parecendo. Vai aqui algumas práticas de início de aulas contra as quais eu previno:

Não escreva suas regras antecipadamente. Nada diz "Esta é minha classe" como uma placa enorme com suas regras, pendurada na parede por anos seguidos.

Não gaste dias escrevendo a constituição da classe.Como lição de estudos sociais, penso que isso pode ser um projeto maravilhoso. Mas não é o modo de formar a comunidade de classe. Pense nisso com os olhos de uma criança - dias sendo gastos na discussão de regras para o resto do ano e, então, tentar segui-las, umas vinte ou mais regras, por esse tempo. Que modo "chato" de começar juntos o ano escolar.

Não "estabeleça fronteiras precisas" e dê nomes a elas. Eu fui um mestre em rótulos, certificando-me de fazer os alunos saberem exatamente quando tinham invadido meu território, quer fosse minha mesa, meus armários ou meus lápis. Com os nomes vêm as restrições, e as salas de aula já têm restrições suficientes; não precisamos acrescentar mais nenhuma.

Não invista muito tempo em quebrar o gelo. Nunca fiz um relacionamento por meio de atividade para quebrar o gelo, lamento. Em vez disso, invista em algo com significado para a comunidade, como um mapa de conexões, ou um passeio da classe planejado pelos estudantes, ou qualquer coisa em que os alunos possam trabalhar como um desafio par a equipe. Se eles puderem prestar atenção em uma tarefa, em vez do ato de conexão, a construção da comunidade se iniciará naturalmente.

Não anuncie que "agora vamos construir uma comunidade. " Gosto de estabelecer metas, e estabelecemos várias durante o ano, mas esta meta é melhor deixar não exposta. É como dizer às pessoas que você está tentando tornar-se seu amigo; o hiperfoco tende a fazer as coisas ficarem esquisitas e desconfortáveis. Em vez disso, diga aos alunos que você está contente em ser sua professora e, então, façam juntos alguma coisa que você sabe que realmente constrói a comunidade.

Não tenha um milhão de coisas planejadas. Algumas vezes, o melhor início de uma comunidade vem justamente do fato de gastar um tempo juntos, com calma. Quando você planeja muita coisa ou tem de fazer muitas coisas, não sobra tempo para simplesmente conhecer um ao outro, assim, seja seletiva com o que você vai usar seu tempo.

Um Novo Começo

Então, se você não está fazendo essas coisas, o que fará no seu primeiro dia de escola? A seguir, alguns conselhos para estimular uma comunidade criativa e engajada:

Seja você mesmo. Os alunos podem perceber qualquer hipocrisia e uma tal atitude é difícil de ser mantida por mais do que alguns dias. Assim, se você acha que tem a personalidade de um comediante, ou de um perfeccionista, ou de um panaca, como eu, deixe sua personalidade brilhar.

Compartilhe sua vida. Geralmente começo meu ano com um vídeo ou dois dos meus filhos ou com uma história divertida sobre um deles. Nada planejado ou longo, somente uma rápida história. Os alunos ficam sabendo de mim e de minha família, e contam suas histórias, também.

Ria bastante. Adoro sorrir, e acho que as crianças são muito engraçadas. Dê-lhes uma chance de falar de modo divertido.

Comece por decorar a sala de aula. Digo sempre que "esta é NOSSA sala de aula", de modo que os alunos podem fazer suas escolhas para a decoração, assim como o arranjo do mobiliário.

Comece educando. Sei que disse que é para "pegar leve" com o currículo na primeira semana, mas comece alguma coisa desde o início. Os alunos estão prontos para aprender porque não podem esperar para ver como serão as coisas nesse novo grau.

Decidam juntos sobre as expectativas. Gaste algum tempo fazendo os alunos discutirem o que esperam desse novo ano e, então, faça com que eles discutam o que isso significa para o seu ambiente de aprendizagem.

Dê um tempo. Uma grande comunidade não surge logo no primeiro dia de aula, mas você precisa planejar quais serão as primeiras sementes nesse dia. Assim, faça isso e cultive isso, e dê um tempo, necessário para que as sementes cresçam altas e fortes.

Ao final, a primeira semana, o primeiro dia, o primeiro momento de escola, carrega um peso maior do que pensamos. Sabemos que a primeira impressão tende a ser permanente. Não é impossível mudá-la mas, por que não começar direito? Informe os alunos de que essa é sala deles, de que esse é o ano deles, e aponte o caminho de aprendizagem que eles querem trilhar. Faça com que saibam que eles são importantes, que a palavra deles vale, e que esse ano é importante.

Eles descobrirão que esse ano, em sua classe, as coisas poderão ser um pouco diferentes do que estão acostumados que sejam. E serão muito melhores.


Pernille Ripp é uma professora do quinto grau em Middleton, Wisconsin, cofundadora de EdCampMadWI, e criadora de Global Read Aloud Project.  Siga-a em Blogging Through the Fourth Dimension e no Twitter @pernillerip. Seu primeiro livro, Passionate Learners: Giving Our Classrooms Back to Our Students Starting Today, será publicado neste outono por Powerful Learning Press.

Publicado em edweek.org

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