terça-feira, 21 de março de 2023

TDAH e emoções exageradas. Como e por que o TDAH desencadeia sentimentos intensos

“Os desafios com o processamento das emoções começa no cérebro. Algumas vezes, a dificuldade de memória de trabalho do TDAH permite que uma emoção momentânea se torne muito forte, inundando o cérebro com uma intensa emoção.” Thomas Brown, Ph.D., explica por que e como o TDAH desencadeia raiva, frustração e sofrimento tão intensos.

Por Thomas E. Brown, PH.D.

1- As Emoções Comandam
Poucos médicos levam em conta os desafios emocionais, quando fazem o diagnóstico de TDAH. De fato, os critérios de diagnóstico atuais para o TDAH não incluem nenhuma menção a “problemas com as emoções”. Entretanto, pesquisas recentes revelam que os que têm TDAH apresentam significativamente muito maior dificuldade que o grupo controle, para lidar com a tolerância às frustrações (muito baixa no TDAH), maior impaciência, temperamento “esquentado” e maior excitabilidade.

2- Processamento de Emoções: Uma coisa do cérebro
Os desafios com as emoções começam dentro do cérebro. Às vezes a dificuldade com a memória de trabalho do TDAH permite que emoções momentâneas se tornem muito fortes, inundando o cérebro com uma intensa emoção. Outras vezes, a pessoa com TDAH parece insensível ou não cientes das emoções dos outros. As redes de conexões cerebrais que carregam as informações ligadas às emoções parecem, de algum modo, mais limitadas nos indivíduos com TDAH.

3- Fixação Em Um Sentimento
Quando um adolescente com TDAH fica enraivecido quando o pai se recusa a lhe dar a chave do carro, por exemplo, sua resposta extrema pode ser causada pela inundação, uma emoção momentânea que pode tomar todo o espaço do seu cérebro, do mesmo modo que um vírus de computador pode tomar todo o espaço do disco rígido. Esse foco em uma emoção emperra outras informações importantes que poderiam ajudá-lo a controlar sua raiva e a regular seu comportamento.

4- Extrema Sensibilidade à Desaprovação
Pessoas com TDAH geralmente se tronam rapidamente imersas em uma emoção saliente e têm dificuldade para mudar a sua atenção para outros aspectos da situação. Ouvir uma pequena incerteza na reação de um colega de trabalho a uma sugestão, pode levar à interpretação de que isso é uma crítica e causar um surto de autodefesa imprópria, sem ter ouvido cuidadosamente a resposta do colega de trabalho.

5- Dominados Pelo Medo
Ansiedade social significativa é uma dificuldade crônica sentida por mais de um terço dos adolescentes e adultos com TDAH. Eles vivem em quase constante medo exagerado de estarem sendo vistos pelos outros como incompetentes, não atraentes ou “caretas”.

6- Dominados Pela Evasão e Negação
Algumas pessoas com TDAH não sofrem de falta de consciência de emoções importantes, mas de uma falta de habilidade em tolerar essas emoções o suficiente para lidar eficientemente com elas. Elas se tornam presas em padrões de comportamento para evitar as emoções dolorosas, que parecem devastadoras, por exemplo: véspera de prazos de entrega de trabalhos; encontrar-se com um grupo de pessoas estranhas.

7- Levados Pela Emoção
Para muitas pessoas com TDAH, o mecanismo de comporta do cérebro para controlar as emoções não distingue entre ameaças perigosas e problemas menores. Essas pessoas são frequentemente levadas ao pânico por pensamentos e percepções que não merecem tal reação. Como resultado disso, o cérebro TDAH não pode lidar mais racionalmente e realisticamente com eventos que sejam estressantes.

8- Tristeza e Baixa Autoestima
Pessoas com o TDAH não tratadas podem sofrer de distimia – um transtorno leve porém prolongado do humor – ou de tristeza. Geralmente são desencadeados por conviver com frustrações, fracassos, opiniões negativas e estresses da vida devido ao não tratamento, ou tratamento inadequado do TDAH. As pessoas distímicas sofrem quase todos os dias de falta de energia e de autoestima.

9- Emoções e Entrar em Ação
As emoções motivam a ação – ação para se engajar ou ação para evitar. Muitas pessoas com TDAH não tratado podem rapidamente mobilizar o interesse somente para atividades que oferecem gratificação imediatas. Elas tendem a ter severa dificuldade em ativar e sustentar o esforço para tarefas que oferecem recompensas a longo prazo.

10- Emoções e Entrar em Ação 2
As pesquisas de imagem cerebral demonstram que substâncias químicas que ativam circuitos que reconhecem a recompensa tendem a se ligar a menos locais receptores, nas pessoas com TDAH, comparadas às pessoas do grupo controle. Pessoas com TDAH são menos capazes de antecipar o prazer ou de registrar satisfação com tarefas cuja recompensa seja distante.

11- Emoções e Memória de Trabalho
A memória de trabalho faz entrar em jogo, consciente ou inconscientemente, a energia emocional necessária para nos ajudar na organização, manutenção do foco, para monitorar e se controlar. Muitas pessoas com TDAH, entretanto, têm memória de trabalho inadequada, o que pode explicar por que são geralmente desorganizadas, perdem o controle ou procrastinam.

12- Emoções e Memória de Trabalho 2
Algumas vezes, as deficiências de memória de trabalho do TDAH permitem que uma emoção momentânea se torne muito forte. Outras vezes, as deficiências de memória de trabalho deixam a pessoa com sensibilidade insuficiente para reconhecer a importância de uma emoção em particular, porque ela, pessoa, não manteve informação relevante na mente.

13- Tratamento dos Desafios Emocionais

Tratar os desafios emocionais do TDAH requer uma abordagem multimodal. Começa com uma avaliação cuidadosa e precisa do TDAH, que explique o TDAH e seus efeitos nas emoções. As medicações para o TDAH podem melhorar as redes emocionais do cérebro. A terapia pode ajudar a pessoa a controlar o medo e a baixa autoestima. Um treinador (coach) pode ajudar uma pessoa com TDAH a superar os problemas de completar tarefas aborrecidas.

ADDitude

Por que os estudantes universitários não usam regularmente seus remédios para TDAH? David Rabiner, Ph.D. Professor Pesquisador Universidade Duke    março/2023

A transição para a faculdade é desafiadora para muitos alunos e pode ser especialmente difícil para aqueles com TDAH. As razões para isso incluem o seguinte:

  • Muitos que confiaram nos pais para ajudá-los na organização e no gerenciamento do tempo lutam quando essa ajuda é menos disponível.

  • Em comparação com o que eles estavam acostumados no ensino médio, a vida da maioria dos estudantes universitários é menos estruturada e muitas vezes há grandes lacunas entre os prazos de entrega das tarefas de classe.

  • Muitas aulas não têm política de frequência e cabe exclusivamente aos alunos chegarem consistentemente às aulas.

Esses fatores valorizam as habilidades de autorregulação, uma área em que muitos jovens com TDAH costumam ter dificuldades.

Por esses motivos, faz sentido que os alunos que se beneficiam do uso regular de medicamentos para TDAH continuem a usá-los regularmente durante a transição para a faculdade.

No entanto, esse não é frequentemente o caso e um estudo recente descobriu que os estudantes universitários aderiram a apenas 53% das doses prescritas, com as taxas mais baixas entre os alunos do primeiro ano.

Desenvolver uma compreensão mais completa do motivo pelo qual muitos novos estudantes universitários não aderem ao regime de medicação prescrito pode ajudar a promover uma adesão mais consistente.

Esse foi o objetivo de um estudo publicado no Journal of Adolescent Health [Schaefer et al., (2017). Adesão à medicação para TDAH durante a transição para a faculdade. Journal of Adolescent Health, 60, 706-713.]. Embora o estudo seja um pouco antigo, acredito que os resultados permanecem informativos.

Os participantes foram 10 estudantes universitários do primeiro ano com prescrições pedindo o uso diário de medicamentos para o TDAH. Eles foram entrevistados para saber com que regularidade tomavam seus medicamentos e por que se desviavam do uso prescrito.

Embora seja um número pequeno de participantes, isso não é incomum em pesquisas qualitativas; neste estudo, os autores encerraram o recrutamento quando ficou evidente que as entrevistas recentes renderam pouca ou nenhuma informação nova.

Esta abordagem se destina a identificar temas importantes, em vez de precisão quantitativa.

Aqui estão os 5 principais temas que surgiram.

As transições para a independência são muitas vezes abruptas e muitos adolescentes carecem de habilidades de autogestão de medicamentos.

A maioria dos participantes relatou que seus pais assumiram um papel de liderança no gerenciamento do uso de medicamentos durante o ensino médio e eles não estavam preparados para administrar essa responsabilidade por conta própria.

Crenças imprecisas sobre a doença, demandas acadêmicas percebidas e efeitos colaterais de medicamentos foram relatados como influenciadores da não adesão voluntária.”

A não adesão deliberada, além do simples esquecimento de tomar os remédios, era comum. Muitos expressaram a crença de que a medicação não deveria mais ser necessária, que eles poderiam controlar seu TDAH apenas com autodisciplina e que precisavam se "desmamar".

Muitos acreditavam que só precisavam de remédios para estudar à noite e poderiam se concentrar sozinhos nas aulas.

Outros sentiram que poderiam/deveriam ajustar quando usaram medicamentos em resposta a mudanças em suas demandas acadêmicas. Todos esses fatores contribuíram para o não uso regular conforme prescrito.

A má autogestão percebeu implicações negativas no desempenho escolar.”

Quase todos os participantes se arrependiam do primeiro semestre e acreditavam que não conseguir administrar adequadamente o TDAH contribuiu para as dificuldades acadêmicas.

"A pressão dos colegas para compartilhar a medicação foi percebida como frequente e pode afetar negativamente o funcionamento social e a adesão”.

Quase todos os alunos mencionaram espontaneamente pressão significativa sobre medicamentos para vender ou compartilhar seus remédios; eles se preocupavam em perturbar os colegas se não o fizessem.

As pressões para compartilhar/vender aumentaram na época dos exames, o que não é algo com que os alunos devam lidar durante um período que já é estressante.

"O apoio social foi expresso como uma necessidade percebida."

A maioria dos alunos sentiu seu TDAH isolado dos outros e expressou o desejo de se conectar com alunos mais avançados com TDAH. Alunos mais velhos com TDAH poderiam ter orientado sobre a importância do uso regular da medicação e como lidaram com a pressão dos colegas para compartilhá-la.

Eles também expressaram o desejo de ter um conselheiro acadêmico especializado em ajudar alunos com TDAH.

Outros achados dignos de nota - Apenas 4 dos 10 participantes se inscreveram para acomodações acadêmicas, por exemplo, recebendo tempo prolongado nos exames, a oportunidade de fazer os exames em um ambiente livre de distrações.

Os motivos para não se registrar incluíam não estar ciente das acomodações disponíveis, sentir vergonha e acreditar que seu TDAH não era grave o suficiente para merecer qualquer acomodação.

Resumo e implicações - Este estudo fornece informações importantes sobre por que tantos alunos não tomam a medicação prescrita durante a transição para a faculdade. As descobertas produzem implicações claras para ações que podem ser úteis.

Primeiro, os pais poderiam começar a transferir a responsabilidade de levar remédios para os alunos antes de irem para a faculdade. Muitos alunos precisam praticar o desenvolvimento dessa habilidade e estar sozinho na faculdade não é o melhor momento para começar a desenvolvê-la.

Em segundo lugar, os pais e os profissionais de saúde podem falar com os alunos sobre a importância da adesão à medicação e discutir as crenças imprecisas sobre o TDAH que funcionam contra isso. Isso incluiria uma discussão sobre as preocupações que os alunos têm sobre continuar a usar seus medicamentos na faculdade e a importância de usá-los conforme prescrito.

Em terceiro lugar, os alunos precisam ser treinados sobre como lidar com pedidos de colegas para compartilhar seus medicamentos e as possíveis consequências negativas graves de fazê-lo.

Em quarto lugar, as escolas poderiam desenvolver programas nos quais novos alunos com TDAH fossem acompanhados por um mentor de colegas mais velhos. Esses pares mentores com TDAH precisariam de um treinamento cuidadoso, mas poderiam fornecer um apoio importante.

Por fim, os alunos precisam estar cientes dos recursos em seu campus que podem auxiliá-los e solicitar/registrar-se para acomodações acadêmicas que podem ser úteis.

Attention Research Update attentionresearchupdate@helpforadd.com



 O tratamento do autismo se distancia do “conserto” da condição Existem diferentes maneiras de ser feliz e funcionar bem, mesmo que seu cér...