domingo, 29 de janeiro de 2012

175- Vencendo a desorganização do TDAH com criatividade

Uma mulher TDAH combate a desorganização com um sistema altamente personalizado de controle da bagunça – e vence. Por Linda Roggli.

Érica, a mulher que eu, em desespero, pedi que me ajudasse a resolver minha desorganização, pegou um pedaço de papel amarelado e eu me encolhi de vergonha. Eu tinha deixado essa nota no fundo de uma cesta de roupas cheia de papéis que eu recolhi no escritório do meu marido. O papel ficou escondido lá por dois anos.
Nós, mulheres com o transtorno de déficit de atenção, precisamos das nossas pilhas de trastes. Temos tanto medo de perder alguma coisa numa gaveta ou numa pasta – “longe dos olhos, longe da mente TDAH” – que conservamos tudo à vista, onde podemos achar. Mas, depois de um par de dias, não conseguimos ver mais a “coisa importante”. Ela está enterrada debaixo de novas coisas que não queremos perder.
O preço de ser desorganizado
A desorganização me custa caro. Perdi, duas vezes, o contrato para um artigo de revista que escrevi, e fiquei muito envergonhada para pedir uma terceira via. Quando limpei meu carro, uma semana antes de vendê-lo, encontrei um cheque não descontado que já tinha oito meses de idade.
A bagunça também me causa ferimentos. Estava tentando achar o caminho no meio de uma estreita faixa entre as coisas na garagem e tropecei num vaso que estava no meio do caminho. Cai no concreto, fraturei duas costelas e o punho. Ainda dói quando penso nisso. E há o agravo de não ser capaz de encontrar as coisas quando preciso delas. Um pesquisador, que estuda tais assuntos, diz que se gastamos cinco minutos procurando a chave do carro a cada dia, gastamos nisso 30 horas por ano. Multiplique por uma expectativa de vida de 80 anos e dará 13 semanas de nossas vidas tentando encontrar as malditas chaves do carro.
A verdade é que a desordem me deixa maluca. Eu juro, as coisas de casa gritam silenciosamente para que eu as arrume conforme passo por elas: “Me ponha na lava-louças!”, “Chame o técnico, para que eu pare de vasar!”. Eu não paro para fazer essas coisas no momento porque meu cérebro está sobrecarregado de milhares de outras chamadas: “Será que você não pode ser pontual ao menos uma vez?”, “Estas calças estão muito justas; você precisa de uma dieta”. Érica tentou me organizar do jeito dela. Encontramos no sótão um arquivo rotatório com muitas gavetas fininhas. Nós arrumamos o arquivo e o colocamos na cozinha – a central da bagunça da minha casa – e etiquetamos cada gaveta. O arquivo teria ajudado se eu o usasse. Não conseguimos usar sistemas que funcionam para as outras pessoas. Precisamos de sistemas que sejam nossos.
Maluco mas prático
Achei meu sistema. Uma amiga com TDAH me falou sobre um organizador plástico rotatório que ela usa com grande sucesso. Funcionou como uma luva para mim. Meus documentos mais importantes estão guardados, e posso sempre achar a correspondência não aberta.
Érica chama meu sistema de arquivamento de “criativo”. Ela faz careta e franze a testa porque eu não arquivo em ordem alfabética. Eu arquivo por assunto. Às vezes, as associações na minha cabeça são esquisitas. Se meu cérebro pensa que apólices de seguro e garantias de bicicletas são a mesma coisa, então eu as arquivo assim. Quando voltar àquela pasta, encontrarei as duas.
Outro sistema que eu uso é o que chamo “Pense uma vez”, também conhecido como “Pense muito uma vez e então não pense mais novamente”. Pego um problema chato e persistente – lidar com a correspondência que chega, por exemplo – e o vejo por todos os ângulos. Gasto um bocado de tempo trabalhando em todos os desafios e em minhas soluções para eles, então, eventualmente, descubro um sistema prático que me permitirá não pensar mais nisso novamente.
Uma estratégia que funciona para mim é ter duplicatas das coisas que uso com frequência, como óculos de leitura. Há provavelmente 15 pares espalhados pela minha casa, escritório e carro, a qualquer hora, cada par com um colar, para que eu não os perca. Tenho quatro estojos de maquiagem: um para casa, outro para o carro, um para o trabalho e um para viagem. Medicamentos, canetas e copos de medida são algumas das coisas que tenha duplicadas.
Embora eu duvide que me torne uma organizadora profissional, penso realmente que ganhei outro título. Que tal “Desorganizadora profissional”? Este é um rótulo que uma mulher com TDAH pode usar com simpatia e bom humor.
Agora, onde foi que eu enfiei o meu rotulador Brother novinho?
(Extraído de Confessions of an ADDiva, por Linda Roggli). ADDitude 2012.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

174- TDAH (ADHD) - Dar remédio para meu filho de 4 anos?

Por Laura Flynn McCarthy

A revisão de protocolos dá aos médicos a permissão para diagnosticar e tratar as crianças mais novas com TDAH, mas os pais estão confiantes em avaliar os pré-escolares em relação ao TDAH?

Ann Marie Morrison suspeitou que seu filho tivesse TDAH quando ele tinha três anos.

“As crises de birra do John eram mais intensas do que as dos outros meninos de três anos, e apareciam sem motivo algum”, diz Morrison, de Absecon, New Jersey. “Demorava uma eternidade tirar ele da porta do apartamento. Ele tinha de se vestir no corredor, onde não havia quadros ou brinquedos que o distraíssem. Ele não ficava sentado quieto, e quebrava todos os brinquedos. Eu tinha cartões de presentes na minha bolsa, de modo que, quando ele quebrava um brinquedo na casa de um amigo, eu pudesse dar à mãe do amigo um cartão de presente para que ela o substituísse.”

Quando Morrison discutia a hiperatividade e o comportamento impulsivo de John com os seus médicos, suas preocupações eram rechaçadas. “Ele é somente um menino ativo”, eles diziam. “Um pediatra disse, `Mesmo que ele tenha TDAH, não há nada que se possa fazer até que ele tenha cinco anos de idade`”,  lembra-se Morrison. “Isto é como dizer: ´Seu filho tem uma doença grave, mas não podemos tratá-lo por ainda dois anos´. O que poderemos fazer  enquanto isso?”. A família mudou-se para outra região do estado quando John tinha cinco anos de idade, e, por acaso, sua nova pediatra era uma especialista em TDAH. Ela mesma tinha sido diagnosticada com TDAH e criou um filho com esse transtorno.

“Durante o exame, ela estava anotando a história médica do John e ele, como sempre, incapaz de parar sentado quieto. Ela parou e perguntou ´Você já fez nele um teste para TDAH? ´. Eu comecei a chorar. Pensei: Oh, obrigado Deus. Alguém mais percebeu isso”. “Depois de anos de escutar os parentes dizendo que eu tinha de dar mais disciplina a ele, depois de anos de me sentir física e mentalmente exausta, e de pensar que eu era uma péssima mãe, alguém viu com o que estávamos lidando”.

Uma avaliação completa de John, que incluiu informações dos professores dele e da família, levou ao diagnóstico de TDAH. Logo em seguida ele recebeu medicação, que o ajudou a focalizar a atenção e melhorou  seu controle do impulso. O tratamento mudou a vida dele e de sua família. “Se John tivesse sido diagnosticado mais cedo, teria ajudado muito,” diz Morrison. “Não sei se lhe daria medicação quando ele tinha três ou quatro anos, mas teria aprendido as técnicas para mantê-lo organizado, disciplinado e teria ajudado a estabelecer uma rotina, sem ter de descobrir tudo por mim mesma. Se eu soubesse mais cedo que ele tinha TDAH, teria me cuidado melhor, também. Eu não estava preparada. Não é somente a criança que é atingida pelo TDAH. É toda a família,”

Hoje, é provável que crianças como John sejam diagnosticadas e auxiliadas mais cedo na vida, graças a novos protocolos da American Academy of Pediatrics (AAP). Os achados incluem recomendações para a avaliação e o tratamento de crianças pré-escolares e adolescentes com idades de 4 a 18 anos. Os protocolos anteriores a 2001 atingiam somente crianças de 6 a 12 anos.

“A AAP tem um comité que revisou as pesquisas sobre TDAH feitas nos últimos 10 anos e concluiu que há benefícios em diagnosticar e tratar crianças de idade inferior a seis anos com TDAH”, diz Michael Reiff, M.D., professor de pediatria na Universidade de Minnesota, que atuou no comité que desenvolveu os novos protocolos.

domingo, 1 de janeiro de 2012

173- Aprender ou passar no vestibular?

Joca Levy (advogado,  pai de três adolescentes) - O Estado de S.Paulo

Discute-se muito a baixa qualidade do ensino público, com efeitos sobre as classes de menor poder aquisitivo. Deveriam também causar aflição sérios tropeços das escolas privadas, inclusive as que obtêm as melhores notas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Esses problemas, que passam despercebidos pela maioria dos pais e educadores, afetam jovens das classes mais altas, supostos candidatos mais prováveis à elite intelectual do País.
Os pais precisam desde cedo decidir se o plano para seu filho é aprender ou passar no vestibular. É possível aprender e passar no vestibular, mas é limitada e frustrante a trajetória intelectual da criança cujos pais estabelecem como meta o vestibular, não o aprendizado.

As escolas chamadas "convencionais" parecem ter por objetivo boas notas no Enem e no vestibular, não propriamente o aprendizado. Há crescente pressão dos pais nesse sentido. Não percebem que educação voltada para a competição e o vestibular é, acima de tudo, desinteressante para a criança. E sem interesse não há aprendizado.

A educação voltada para o vestibular busca prioritariamente habilitar o profissional a competir dentro de padrões estabelecidos por uma conveniência de massificação. Talentosos e ignorantes são, juntos, conduzidos como gado para uma mesma faixa de referência na vizinhança da média.
Os mais inteligentes (não necessariamente os mais bem treinados para tirar notas) não têm oportunidade de seguir seus processos próprios de exploração, retenção e desenvolvimento intelectual. São forçados a seguir método desenhado com requisitos mínimos para a compreensão dos medíocres.

A ideia de permitir que desponte uma elite intelectual sofre resistência, silenciosamente. Por séculos de tradição aristocrática, a elite, ainda que tivesse maior oportunidade de desenvolvimento intelectual, dominou pelos sobrenomes, não por méritos pessoais. A democracia trouxe o desprezo pela elite e a noção irrefletida de que todos devem ser iguais. Grande erro! Todos não devem ser iguais, mas devem, sim, ter iguais oportunidades de desenvolvimento de suas habilidades. E os mais talentosos devem ser estimulados e prestigiados.
Cada pai deve empenhar-se em livrar os filhos da cultura da comparação, que os aprisiona na mediocridade, e habilitá-los a usufruir plenamente seus talentos, tendo por referência apenas a excelência, não a concorrência.

O jovem deve, sim, ter disciplina, mas não aprender por disciplina. Equívoco corriqueiro é estabelecer que aprender e tirar boas notas são obrigações da criança. Só se aprende por interesse. Para uma criança, as obrigações são chatas e desinteressantes. Toda criança sadia, minimamente bem educada e com ambiente emocional estimulante é capaz de aprender. Basta que o aprendizado seja interessante. Se lhe for apresentado como obrigação, contudo, o melhor que uma criança disciplinada fará é decorar, o que ajuda a tirar notas e passar no vestibular, mas não a integrar o conhecimento ao processo mental, ou seja, aprender.
Notas não avaliam a criança, mas a capacidade de ensinar e de disciplinar das escolas e dos pais, que, portanto, exigem boas notas em benefício de sua própria imagem na sociedade, não em benefício da criança. Boas notas não preparam a criança para uma vida de realizações.

O típico adulto moderno dá prioridade ao cultivo de seu próprio sucesso, numa rotina, no mais das vezes, intelectualmente improdutiva. Mais fácil é não se envolver na formação intelectual dos filhos, não ler para eles sobre a História do homem, não explicar por que a Terra é redonda, o que são as estrelas, a origem da vida, a evolução e as diferenças das espécies, não ensinar a brincar com números (no lugar de videogames, que mantêm a criança abobalhada), não despertar logo cedo o interesse pelo conhecimento, a curiosidade pelas coisas da natureza.
Mais conveniente é terceirizar por completo a educação, entregar as crianças à escola e esperar que voltem com um diploma, que não diz que o filho se tornou uma pessoa instruída, mas apenas que os pais cumpriram o seu dever segundo a convenção dos nossos tempos. Para o filho pouco serve aquele canudo, senão, talvez, para arrumar um emprego. Para o pai o diploma do filho é uma sentença absolutória da negligência intelectual a que abandonou a cria.

Formam-se legiões de burros, rasos, ignorantes, imaturos com diplomas (muitos com boas notas!). Pessoas destituídas da oportunidade de desenvolver seus talentos individuais. Enlatadas, padronizadas, comoditizadas. Dirão os pais que bem preparadas para competir no mundo moderno, mas, na verdade, aleijadas de suas competências subjetivas e jogadas para competir na mediocridade a que foram rebaixadas.
Não é à toa que no curso da educação moderna pessoas brilhantes - de Winston Churchill, Albert Einstein e Warren Buffett a Bill Gates e Steve Jobs - em algum momento se desgarraram da educação convencional ou a deixaram ter influência secundária em sua formação intelectual. São pessoas que se recusaram a entrar na competição e se desenvolveram muito acima dela.

"Aprendizagem que privilegia apenas o intelecto dificilmente atinge o ser humano completo. O melhor exemplo disso são as informações formatadas exclusivamente para o vestibular. É um rio que passa na vida do vestibulando e que deságua no oceano do esquecimento… Quando a gente aprende algo e dele não se esquece nunca mais, é porque o coração e a alma também foram tocados… Quando o conhecimento é elaborado no intelecto, passa pelo sentimento e determina uma vontade, aí, sim, ele não desgruda mais da gente." (Helena Trevisan)
Extraído do Blog do Noblat em 01-01-12

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