quinta-feira, 20 de setembro de 2012

229- Características de amizade das crianças com TDAH



Um achado consistente nos estudos que identificam crianças em risco de resultados negativos do desenvolvimento é que as dificuldades de relacionamento com os colegas permitem prever vários problemas consequentes.

Infelizmente, muitas crianças com TDAH têm dificuldade em seus relacionamentos com colegas e em estabelecer e manter amizades de alta qualidade e apoiadoras. Isto é problemático porque boas amizades ajudam em várias funções importantes para as crianças, incluindo a existência de companheirismo, o surgimento de sentimentos de valor pessoal, contribuindo para a segurança emocional, criando um contexto de autoestima, oferecendo direção e apoio, e servindo como um aliado confiável. Crianças cujos desenvolvimentos ocorrem na ausência de amizades apoiadoras não têm esses apoios importantes e podem experimentar, como resultado, um grande número de dificuldades de ajustamento.

Apesar da importância documentada de amizades saudáveis para o desenvolvimento positivo das crianças, e das dificuldades dos relacionamentos com colegas sentidas por muitas crianças com TDAH, questões importantes sobre as características de amizade em crianças com TDAH permanecem não respondidas. Assim, foi com prazer que li um estudo recentemente publicado no “Journal of Attention Disorders” [Marton et al., (2012). Características de amizade de crianças com TDAH. Journal of Attention Disorders. DOI: 10.1177/1087054712458971] que fornece informação nova sobre esse importante assunto.

Os participantes foram 92 crianças de 9 a 12 anos, 50 com TDAH e 42 para comparação, seus pais e seus professores. Sessenta e seis (66) dos participantes eram meninos e vinte e seis (26) eram meninas; a porcentagem de meninos e de meninas era semelhante entre o grupo TDAH e o grupo de comparação.

As crianças foram entrevistadas individualmente e solicitadas a identificar todos os seus “melhores amigos” na escola e fora dela, a indicar por quanto tempo mantinham amizade com cada criança identificada, com que frequência falavam com cada uma delas e com que frequência ficavam com cada uma fora da escola. Os pais e os professores foram submetidos a uma série de perguntas paralelas; isso permitiu que os pesquisadores verificassem se os “melhores amigos” identificados pelos participantes eram confirmados por outra fonte. Os pais e professores também foram questionados sobre a presença de dificuldades de aprendizagem e problemas de comportamento nos amigos identificados por seus filhos e se essas características poderiam ser comparadas entre as crianças com e sem o TDAH.

Resultados                 

Os achados mais importantes deste estudo são apresentados a seguir.

- O número de “melhores amigos” reportados pelas crianças com e sem TDAH não eram diferentes.

- O número de “melhores amigos” que eram corroborados pelos pais ou professores era menor para crianças com TDAH do que para as crianças do grupo de comparação. Em média, crianças com TDAH tinham 3 amigos confirmados, comparados a 4 amigos para as crianças do grupo de comparação.

- Entre os meninos, os que tinham TDAH tinham porcentagem substancialmente mais alta de amigos com problemas de comportamento e de aprendizagem em relação às crianças do grupo de controle (43% versus 16%). Nenhuma diferença foi encontrada entre as meninas.

- A duração média da amizade dos amigos confirmados era significativamente mais curta para as crianças com TDAH do que para as crianças do grupo controle – cerca de 10 meses a menos, com base nos relatos das crianças, e de 14 meses a menos, com base nos relatos dos pais.

- Embora a quantidade de contato telefônico com os melhores amigos fosse semelhante em ambos os grupos, as crianças com TDAH tinham significativamente menos contato direto com amigos fora da escola. Isto foi encontrado tanto no relato das crianças quanto no relato dos pais.

Resumo e implicações

Embora as crianças com TDAH não relatassem menos amigos que as outras crianças, elas podem ter superestimado seus amigos com base no fato de que seus pais e professores confirmaram menor número de amizades. Entretanto, mesmo assim, é positivo notar que elas tinham só um pouco menos de amigos em média do que as outras crianças, e que quase todas tinham amigos confirmados. De fato, nesta amostra, somente 3 das 50 crianças com TDAH não tinham nenhuma amizade.

Outros aspectos destes dados também eram notáveis. Em primeiro lugar, entre os meninos, uma porcentagem significativamente maior de amigos de crianças com TDAH tinha problemas de aprendizagem e de comportamento, de acordo com os pais e os professores. Isto não é necessariamente negativo, mas indica que meninos com TDAH são mais propensos a ter amigos que estejam de algum modo com dificuldades. Ter amigos com problemas significativos de comportamento pode promover ou exacerbar comportamentos negativos entre os meninos com TDAH e as crianças pode reforçar mutuamente essas tendências um no outro.

Também é importante que as amizades entre crianças com TDAH fossem de duração mais curta do que para as outras crianças em cerca de um ano. Para crianças dessa faixa de idade, isto é substancial e pode refletir maior renovação de amizades nas crianças com TDAH. É importante porque “... um ano a mais de amizades pode contribuir para maior cordialidade, proximidade, companheirismo, e melhor ajustamento escolar entre os amigos.” Este seria um assunto importante a ser examinado mais cuidadosamente em pesquisas subsequentes. Também seria interessante verificar se essa tendência em direção a amizades mais curtas em crianças com TDAH também é encontrada entre os adolescentes.

Também foi encontrado que as crianças com TDAH têm menos contato com seus amigos fora da escola. Isto pode ocorrer por uma variedade de razões. Por causa do seu humor desafiador, as crianças com TDAH podem requerer maior supervisão e assim serem menos propensas a serem convidadas às casas dos amigos. Os pais podem estar mais preocupados com o comportamento de seus filhos quando não podem monitorá-los, e, assim, serem mais relutantes em permitir os encontros fora de casa.

Não importando a razão deste achado, níveis menores de contato direto sugere que as amizades entre crianças com TDAH podem fornecer menor companheirismo e menos oportunidades de desenvolvera espécie de aproximação entre amigos que encoraja autoafirmação e a criação de apoio emocional. Este é outro assunto a ser verificado mais cuidadosamente em pesquisa subsequente.

É importante notar que os achados discutidos acima refletem as diferenças encontradas em média entre crianças com e sem TDAH e as conclusões não se aplicam a todas as crianças com TDAH, muitas das quais podem atuar muito bem em seus relacionamentos sociais. Com em todos os estudos, seria importante replicar esses achados em nova amostra, para estabelecer melhor a confiabilidade desses resultados.

Quando crianças com TDAH estão tendo dificuldades em seus relacionamentos com os colegas, é importante saber se há alguma abordagem promissora para ajuda-las. Uma abordagem particularmente interessante envolve ter pais que assumam o papel de tutores de amizade para seus filhos, o que se baseia na noção de que os pais podem desempenhar um papel importante na criação de oportunidades sociais para seus filhos, organizando dias de encontros para eles e treinando seus filhos para que o encontro de brincadeiras corra bem.

Eu revisei um estudo com esta abordagem em um número anterior de Attention Research Update e o aconselho a vê-lo. Você pode encontrar o artigo em www.helpforadd.com/2010/november.htm

David Rabiner, Ph.D.
Research Professor
Dept. of Psychology & Neuroscience
Duke University
Durham, NC 27708

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

228- Carta do Dr Marco Antônio Arruda à Comunidade Aprender Criança

Caros Amigos,
nem precisa dizer, quem esteve lá viu!
         Para mim, essa edição do APRENDER CRIANÇA foi a melhor até aqui realizada, numa escalada de qualidade e público que começamos em 2006. Na verdade, por favor, deixando de lado qualquer obviedade narcisista, gostaria de lhes confessar que esse foi o melhor congresso da minha vida. Por que? Porque aprendi muito, mudei condutas, fiz reflexões sobre mim mesmo e me emocionei, me emocionei demais. Numa comparação grosseira com a culinária, uma das minhas paixões, a degustação foi diversa, alta culinária, os pratos além de muito saborosos tinham sabores complexos, picantes às vezes, comoventes sempre, por nos fazer lembrar de passagens que vivemos e que para sempre ficarão impressas em nossa memória. Dopamina pura como disse a Judy! Jamais vou esquecer o que ouvi nos corredores, pessoas que vinham me contar suas experiências, sua opinião e,muitas vezes, seus dramas pessoais. A ficha agora está caindo e mais comovido ainda estou. Tentando resumir:
         Primeiro, falar em INCLUSÃO é falar sobre todos e cada um de nós, sobre experiências atuais e passadas. Como disse o Mauro, o lema deveria ser ampliado para o “eu me incluo”!
Segundo, a COMUNIDADE APRENDER CRIANÇA comprova que Platão e os que hoje difundem a desinformação, estão errados em seu paradigma dicotômico de mente e corpo, algo como querer separar as Ciências do Homem e as Biológicas, opor o biológico ao cultural, a natureza à cultura, os genes à aprendizagem, ou o Neurocientista à Educação, ao Psiquismo e à Sociedade. Ao dicotomizar eles não têm conhecimento suficiente “de que o cultural (o social) não pode(m) ser pensado(s) sem o biológico e que o cerebral não existe sem uma impregnação poderosa do ambiente” 1. O verdadeiro processo de inclusão tem um só caminho, a autofagia, o banimento eterno da palavra INCLUSÃO. Explico. Se as robustas evidências científicas comprovam que o desenvolvimento da criança é diverso e que,portanto, todas devem ser incluídas, um dia o termo, por fim, deverá ser sepultado. E isso, definitivamente, não será mudado por decreto, nem será um processo de cima para baixo, mas baseado em evidências científicas.
         E, para finalizar, inspirado no discurso de inclusão ampla, total e irrestrita do grande “Mártir” Martin Luther King, gostaria de premeditar o breque: “Nós tivemos um sonho e, embora enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã, nós ainda temos um sonho. É um sonho profundamente enraizado na inclusão da criança com desenvolvimento atípico, na inclusão da deficiente, da portadora de transtornos mentais como o TDAH e de distúrbios específicos do aprendizado como a Dislexia, na inclusão da diversidade do desenvolvimento infantil, tendo em conta suas habilidades e dificuldades naturais. Nós temos um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado dessa crença - nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que as crianças devem ser tratadas iguais. Temos o sonhoque um dia, por fim, consigamos romper todas nossas barreiras atitudinais, sim, ocorrem sem percebermos e machucam demais. Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que nos prepararemos para o nosso dia a dia inclusivo. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, defender nossos ideais de liberdade juntos, e quem sabe sermos um dia livres. Este será o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo significado: "Livre afinal, livre afinal”. Abraço a todos e não percam o novo vídeo da série “Changing the Brains” sobre desenvolvimento da atenção.
         Grande abraço.
         Marco Antônio Arruda
         Diretor do Instituto Glia
1. Changeoux J-P. Prefácio. In: Dehane S, ed. Scliar-Cabral L, trans. Os neurônios da leitura - como a Ciência explica a nossa capacidade de ler. 1a. ed. ed. Porto Alegre - RS: Penso; 2012.

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