Por Daniel G. Amen,
double-board certified psychiatrist
"Um
tratamento não serve para todo mundo"
Como fundador de seis clínicas (Amen Clinics), trago uma
abordagem multidisciplinar para o diagnóstico e o tratamento de transtornos com
base cerebral, incluindo o TDA e as condições coexistentes. Durante cerca de
vinte anos tenho usado as imagens cerebrais obtidas pelo SPECT, junto com
outras técnicas de diagnóstico, para desenvolver planos de tratamento individualizados
para cada paciente. Logo no início, descobri por meio de padrões do SPECT que o
déficit de atenção não é um transtorno único ou simples.
Meu TDA
não é o seu TDA
TDA, ansiedade, depressão, transtorno bipolar, autismo e
outras condições não são transtornos simples ou únicos. Eles são de vários
tipos. O TDA afeta muitas áreas do cérebro - o córtex pré-frontal e o cerebelo,
principalmente, mas também o cíngulo anterior, os lobos temporais, os gânglios
da base e o sistema límbico. Os sete tipos de TDA que eu estudei são baseados
em três neurotransmissores: dopamina, serotonina e GABA.
1- O
TDA clássico
Esse é o tipo mais fácil de identificar: os sintomas
principais são desatenção, distratibilidade, hiperatividade, desorganização e
impulsividade. As imagens do cérebro mostram atividade cerebral normal em
repouso e atividade diminuída especialmente no córtex pré-frontal durante uma
tarefa que exija concentração. As pessoas com esse tipo de TDA têm diminuição
do fluxo sanguíneo cerebral no córtex pré-frontal, cerebelo e gânglios da base
(estes últimos ajudam a produzir o neurotransmissor dopamina).
Tratamento
do TDAH clássico
Aqui, o objetivo é aumentar os níveis de dopamina, que
aumenta o foco. Eu faço isso com medicação estimulante (Ritalina, Adderal,
Venvanse, Concerta) ou com suplementos estimulantes como rhodiola, chá verde,
ginseng e o amino-ácido L-tirosina. Muita atividade física também ajuda a
aumentar a dopamina, assim como o óleo de peixe, que é mais rico em EPA (ácido
eicosapentaenóico) que em DHA (ácido
docosaexaenóico), ambos componentes do ômega 3.
2- O TDA Desatento
Esse tipo, assim como o tipo
clássico de TDA, foi descrito no DSM (The Diagnostic and Statistical Manual of
Mental Deseases) desde 1980. Esse tipo é associado a baixa atividade no córtex
pré-frontal e baixos níveis de dopamina. Os sintomas são baixa capacidade de
atenção, distratibilidade, desorganização, procrastinação. As pessoas com esse
tipo não são hiperativas ou impulsivas. Elas podem ser introvertidas e sonharem
acordadas bastante. As meninas têm esse tipo tanto quanto, ou mais ainda que,
os meninos
Tratamento do TDA desatento
O TDA desatento geralmente
responde ao tratamento. Geralmente é possível mudar o curso da vida de uma
pessoa se ela for tratada de modo conveniente. A meta, assim como com o tipo
clássico, é aumentar os níveis de dopamina. Eu utilizo os suplementos como o
aminoácido L-tirosina, que é um dos formadores da dopamina. Tomado em jejum dá
um efeito melhor. Geralmente receito um estimulante como Adderal, Venvanse ou
Concerta. Indico dieta rica em proteínas e com pouco hidrato de carbono, e
exercitar-se regularmente.
3- O TDA superfocalizado
Os pacientes com esse tipo
têm todos os sintomas principais do TDA, além de grande dificuldade de mudar o
foco da atenção. Eles ficam presos em padrões de pensamentos ou comportamentos
negativos. Há uma deficiência em serotonina e em dopamina no cérebro. Quando o
cérebro é escaneado, você vê que há muita atividade na área denominada giro
cingulado anterior, que é a caixa de câmbio do cérebro. Essa superatividade
torna difícil ir de pensamento em pensamento, de tarefa em tarefa, e ser
flexível.
Tratamento do TDA superfocalizado
A meta é aumentar os níveis
de serotonina e de dopamina no cérebro. O tratamento é complicado. Pessoas com o
TDA superfocalizado se tornam mais ansiosas e preocupadas quando tomam
medicação estimulante. Eu uso em primeiro lugar os suplementos - L-triptofano,
5-HTP, açafrão e inositol. Se os
suplementos não ajudam os sintomas, receito Effexor, Pristiq ou Cymbalta. Evito
a dieta rica em proteína nesse tipo de TDA, que pode piorar esses pacientes. O
treinamento com neurofeedback é outra arma útil.
4- O TDA do lobo temporal
Esse tipo de TDA tem os
sintomas principais do TDA mais os sintomas do lobo temporal (TL). O lobo
temporal está localizado sob a nossa têmpora, e está envolvido com a memória,
aprendizagem, estabilidade do humor e o processamento visual dos objetos.
Pessoas com esse tipo têm dificuldades de aprendizagem, de memorizar e
problemas de comportamento, tais como raiva súbita, agressividade e leve
paranóia. Quando o cérebro é escaneado, há anormalidades nos lobos temporais e
atividade diminuída no córtex pré-frontal.
Tratamento do TDA do lobo temporal
Eu utilizo o ácido
gama-aminobutírico (GABA) para diminuir a atividade neuronal e inibir as
células nervosas de dispararem demais ou erraticamente. Tomar magnésio - cerca
de 80% da população tem níveis baixos desse mineral - ajuda na ansiedade e na
irritabilidade. Medicamentos anticonvulsivantes geralmente são receitados para
auxiliar na instabilidade do humor. Para os problemas de memória e de
aprendizagem, eu uso gingo ou vinpocetina.
5- O TDA límbico
Esse tipo parece uma
combinação de distimia ou tristeza crônica de baixo nível com o TDA. Os
sintomas são mau humor, baixa energia, frequentes sentimentos de desamparo ou
de culpa excessiva, e crônica baixa autoestima. Não é depressão. Esse tipo é
causado por muita atividade no sistema límbico do cérebro (o centro de controle
do humor), e baixa atividade no córtex pré-frontal, seja concentrado em uma
tarefa ou em repouso.
Tratamento do TDA límbico
Os suplementos que funcionam
melhor para esse tipo de TDA são DL-fenil-alanina (DLPA), L-tirosina, e SAMe
(s-adenosil-metionina). Wellbutrin é o medicamento de minha preferência nesse
tipo de TDA. Os pesquisadores acham que ele funciona por aumento da dopamina.
Imipramina é outra opção para esse tipo. Exercício, óleo de peixe e a dieta
correta auxiliarão uma pessoa com TDA límbico a melhor controlar os sintomas.
6- O TDA anel de fogo
Pacientes com esse tipo não
têm um córtex pré-frontal hipoativo, como no TDA clássico e no desatento. Todo
o cérebro é hiperativo. Há muita atividade em todo o córtex cerebral e em
muitas outras partes do cérebro. Eu o denomino de "TDA plus". Os
sintomas incluem sensibilidade ao barulho, à luz, ao tato (como no autismo);
períodos de comportamento maldoso, incomodativo; comportamento imprevisível;
fala rápida; ansiedade e medo. Nos escaneamentos cerebrais, parece um anel de
hiperatividade ao redor do cérebro.
Tratamento do TDA anel de fogo
Os estimulantes, por si
mesmos, podem piorar os sintomas. Eu começo com uma dieta de eliminação, se
suspeito de que uma alergia esteja em jogo, e aumento os neurotransmissores
GABA e serotonina por meio de suplementos e medicamentos, se for necessário.
Receito suplementos de GABA, 5-HTP e L-tirosina. Quando receito medicação,
começo com um dos anticonvulsivantes. Os medicamentos para pressão alta,
guanfacina e clonidina, podem ser úteis, acalmando toda a hiperatividade geral.
7- TDA ansioso
As pessoas com esse tipo têm
os sintomas principais do TDA e são ansiosas, tensas, têm sintomas de estresse
físico como dor de cabeça e dor de estômago, prevêem o pior e ficam paralisadas
em situações que provocam ansiedade, especialmente quando podem ser objeto de
crítica. Quando o cérebro é escaneado, há alta atividade nos gânglios da base,
grandes estruturas na profundidade do cérebro, que ajudam a produzir dopamina.
Esse é o oposto da maioria de tipos de TDA, nos quais há baixa atividade nessa
região.
Tratamento do TDA ansioso
A meta do tratamento é
promover o relaxamento e aumentar os níveis de GABA e de dopamina. Os
estimulantes para o TDA, tomados isoladamente, tornam os pacientes mais
ansiosos. Eu uso, primeiro, um conjunto de suplementos "calmantes" -
L-theanina, relora, magnésio e "holy basil" (Ocimum tenuiflorum).
Dependendo do paciente, receito os antidepressivos tricíclicos imipramina ou
desipramina, para diminuir a ansiedade. Neurofeedback também funciona para
diminuir os sintomas de ansiedade, especialmente para acalmar o córtex
pré-frontal.
Dr. Daniel G. Amen
- ADDitude