domingo, 29 de maio de 2011

105- 3o. Congresso Internacional do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade - Berlim

3o. Congresso Internacional do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade
(3rd. International Congress on ADHD)
Berlim, 27 de Maio de 2011

Começo esse “Direto de Berlim” com a mesma frase que iniciei o “Direto de Anaheim” em 2009: “Esse país parece ter nascido de novo!”. Naquela época me impressionou a indisfarçável esperança do povo americano em Barack Obama, dessa vez emociona ver o renascimento da Alemanha unida após a histórica queda do “muro da vergonha” em 1989. No auge da guerra fria, o muro não separava apenas a Berlim Ocidental da Oriental, mas simbolizava a divisão do mundo entre capitalistas e socialistas. A queda do muro foi o primeiro passo para a reunificação alemã em 1990. E que reunificação! Os alemães orientais foram recebidos com cerveja gratuita na Berlim ocidental, os alemães ocidentais finalmente puderam comemorar através das portas de Brandenburgo. O nacionalismo alemão deu fim à desigualdade socioeconômica até então vigente e, a despeito da crise mundial, continua crescendo, sendo hoje a maior economia da Comunidade Europeia.
Cheguei a Berlim após 3 horas de carro (Ribeirão Preto - São Paulo), 12 horas de avião (São Paulo - Frankfurt) e 4 horas de trem (Frankfurt - Berlim), esse trecho graças ao fechamento dos aeroportos alemães provocado pelas cinzas vulcânicas vindas da Islândia.

Ontem foi a abertura do congresso com a conferência magna da Professora Margeret Weiss do Canadá que mostrou resultados inéditos de um grande estudo observacional realizado ao longo de anos com crianças em tratamento de TDAH. O estudo traz contribuições importantes e evidências científicas inquestionáveis acerca da superioridade dos psicoestimulantes de longa ação sobre os de curta ação. Especialistas, pacientes e familiares observam isso também no dia a dia, no entanto, só agora estão chegando evidências científicas definitivas..

Qual a importância disso para todos nós? Essas medicações de ação prolongada, embora contenham o mesmo sal da de curta ação, o metilfenidato, apresentam melhor controle dos sintomas, menos efeitos indesejáveis e maior aderência ao tratamento, entretanto, são bem mais caras. Como não estão na lista de medicamentos de alto custo do SUS (exatamente pelas poucas evidências científicas de superioridade até então), os pais vinham sendo orientados a procurarem o Ministério Público para, através de processo com base no Estatuto da Criança e do Adolescente, conseguir a medicação de forma gratuita da Prefeitura de sua cidade. Aliás, felizmente, a maioria tem conseguido por conta do bom senso dos nossos juízes ao acatarem as referências até então disponíveis, baseadas em guias internacionais de prática clínica (os famosos guidelines). Esperamos que agora fique mais fácil. A Professora Weiss deu ênfase também à má higiene do sono das crianças e adolescentes nos dias de hoje. Ela apresentou dados que indicam claramente que crianças com TDAH frequentemente apresentam distúrbios do sono (54%! apresentam parassonias, ou seja, distúrbios do tipo falar dormindo, ranger os dentes, sonambulismo, etc.) independente do uso de psicoestimulantes e, ao terem seus maus hábitos de sono corrigidos, apresentam melhora nos sintomas do TDAH. Temos insistido nesse ponto, pois também existem evidências de que a privação do sono provoca sintomas de TDAH mesmo em crianças não portadoras do transtorno. No quadro abaixo reviso com vocês algumas orientações básicas de higiene do sono.
Hoje, quinta-feira, a sessão plenária do congresso foi aberta, para orgulho de todos nós, pelo Professor Luis Augusto Rohde da Universidade do Rio Grande do Sul. O Professor Rohde é uma das maiores autoridades mundiais na área, ele e seu grupo (PRODAH) têm uma vasta produção científica de alta qualidade e é ele, sem dúvida, o maior responsável pela formação de outros novos e promissores cientistas Brasileiros na área de Saúde Mental infantil. O Professor Rohde foi brilhante em sua apresentação e abordou os desafios atuais na elaboração dos novos critérios diagnósticos para o TDAH no DSM-V (Manual de Diagnóstico e Estatística em Transtornos Mentais). Ele faz parte do comitê que elabora a nova edição a ser lançada em 2013. Na sua fala fica claro o trabalho sério desse comitê, os enormes avanços na compreensão e diagnóstico desse transtorno, bem como as atraentes perspectivas de pesquisa na área.

Podemos observar nas várias sessões, especialmente nessa coordenada pelo Rohde, um quase consenso de que os subtipos do TDAH, ou seja, a combinação dos sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade sofrem modificações ao longo da vida e que a nova classificação deve contemplar esse aspecto. É bem comum vermos, por exemplo, um menino extremamente hiperativo na primeira infância que ao longo da primeira década de vida e início da puberdade torna-se menos agitado e muito mais desatento com consequente maior prejuízo acadêmico.
Outras possíveis mudanças no DSM-V são a retirada do critério referente à necessidade de os sintomas estarem presentes antes dos 7 anos de idade e o número de sintomas necessários segundo a fonte de informação (pais ou professor). Fica absolutamente claro que sem as informações do professor não é possível diagnosticar o TDAH, e isso finalmente vai constar no referido manual. Nesse momento tem início a sessão de temas livres, é um dos pontos altos de todo congresso. Qual o motivo de satisfação? Dos 452 trabalhos julgados e aceitos pelo comitê científico do congresso, 28 são de Brasileiros, 6,2% desse que é um parâmetro de produção científica mundial na área! Parabéns Brazucas! Amanhã, nós do PROJETO ATENÇÃO BRASIL estaremos lá com três estudos representando nossa COMUNIDADE APRENDER CRIANÇA. Você pode ver os estudos nos links enviados no Notícias do Cérebro dessa semana.

Grande abraço e amanhã tem mais!
Marco A. Arruda

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