quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

268- Sobre o Transtorno de Processamento Sensorial (TPS)




Processamento sensorial (às vezes chamado de “integração sensorial”) é um termo que se refere ao modo como o sistema nervoso recebe mensagens dos sentidos e as transforma em respostas motoras e comportamentais adequadas. Se você estiver comendo um sanduíche  ou andando de bicicleta, ou lendo um livro, a realização bem sucedida dessas atividades necessita do processamento das sensações ou da “integração sensorial”.

O Transtorno do Processamento Sensorial (antigamente denominado de “disfunção da integração sensorial”) é uma condição que existe quando os sinais sensoriais não são organizados em respostas adequadas. Pioneiro da terapia ocupacional e neurocientista, A. Jean Ayres, Ph.D., ligou o TPS a um congestionamento do tráfego neurológico que impede que certas partes do cérebro recebam a informação de que precisam para interpretar a informação corretamente. Uma pessoa com TPS tem dificuldade de processar e de agir com a informação recebida por meio dos sentidos, o que cria desafios na realização das inúmeras tarefas do dia-a-dia. Incoordenação motora, problemas de comportamento, ansiedade, depressão, fracasso escolar e outros impactos podem resultar desse transtorno, se não for tratado corretamente.

Um estudo (Ahn, Miller, Milberger, McIntosh, 2004) mostrou que ao menos uma em 20 crianças tem sua vida afetada pelo TPS. Outra pesquisa, feita pelo Sensory Processing Disorder Scientific work Group (Bem-Sasson, Carter, Briggs-Gowen, 2009) sugere que uma em cada seis crianças apresentam sintomas sensoriais que podem ser suficientes para afetar aspectos das funções de sua vida diária. Os sintomas do TPS, como os da maioria dos transtornos, ocorrem em um amplo espectro de gravidade. Enquanto muitos de nós temos dificuldades ocasionais em processar a informação sensorial, para as crianças e adultos com TPS, essas dificuldades são crônicas e perturbam sua vida diariamente.

Com o que se parece o TPS

O Transtorno de Processamento Sensorial pode atingir as pessoas em um único sentido – por exemplo, somente o tato ou o movimento – ou em múltiplos sentidos. Uma pessoa com TPS pode responder exageradamente às sensações e achar que as roupas, o contato físico, a luz, o som, os alimentos ou outros estímulos sensoriais sejam insuportáveis. Outra pode responder pouco e mostrar pequena ou nenhuma reação à estimulação, mesmo a dor ou calor e frio extremos. Em crianças cujos processamentos sensoriais das mensagens dos músculos e das articulações estejam prejudicados, a postura e as habilidades motoras podem ser afetadas. Essas são as “floppy babies” (bebês hipotônicos, “moles”), que assustam os pais e as crianças que no pátio da escola são chamadas de desajeitadas ou imbecis. Outras crianças, em contraste, exibem um grande e inesgotável apetite por sensações. Essas crianças geralmente são diagnosticadas erradamente – e medicadas indevidamente – como TDAH.

O TPS geralmente é mais diagnosticado em crianças, mas pessoas que chegam à idade adulta sem tratamento também apresentam sintomas e continuam a ter suas vidas atingidas por sua incapacidade de interpretar corretamente as mensagens sensoriais.
Esses adultos podem ter dificuldade em realizar as rotinas e as atividades necessárias para o trabalho, para os relacionamentos pessoais e para a recreação. Como os adultos com TPS já lutaram muito tempo em suas vidas com essas dificuldades, eles podem apresentar depressão, insucesso profissional, isolamento social e outros efeitos secundários.
Infelizmente, o diagnóstico errado é muito comum porque os profissionais da saúde não são treinados para reconhecer os problemas sensoriais.

As causas do TPS

As causas exatas do TPS – como as causas do TDAH e de tantos outros transtornos do neurodesenvolvimento – ainda não foram identificadas. Entretanto, os estudos e as pesquisas preliminares sugerem alguns principais elementos.
O que provoca o TPS é uma pergunta que pressiona cada pai de uma criança com o transtorno. Muitos se preocupam  se são de alguma forma culpados pelos problemas de seus filhos.

“Foi algo que eu fiz?”, eles querem saber.

As causas do TPS estão entre os assuntos que os pesquisadores da “Sensory Processing Disorder Foundation” e seus colaboradores em vários lugares estão estudando. A pesquisa preliminar sugere que o TPS geralmente é herdado. Se for assim, as causas do TPS são codificadas no material genético da criança. Complicações pré-natais e do parto também foram implicadas, e fatores ambientais podem estar envolvidos.

Naturalmente, como acontece com qualquer transtorno do desenvolvimento e do comportamento, as causas do TPS são provavelmente o resultado de fatores que tanto são genéticos quanto ambientais. Somente com mais pesquisa será possível identificar o papel de cada um deles.
Um resumo das pesquisas sobre a causa e a prevalência se encontra em “Sensational Kids: Hope and Help for Children With Sensory Processing Disorder” (New York: Perigee, 2006).

Impacto emocional e outros impactos do TPS

Crianças com TPS geralmente têm problemas com as habilidades motoras e com outras habilidades necessárias para o sucesso escolar e para os eventos da infância. Como resultado, elas geralmente se tornam socialmente isoladas e sofrem de baixa autoestima e de outros problemas sociais e emocionais.
Essas dificuldades colocam as crianças com TPS em alto risco de muitos problemas emocionais, sociais e educacionais, incluindo a capacidade de fazer amigos e de ser parte de um grupo, ter fraco autorrespeito,  de fracasso acadêmico, de ser rotuladas de desajeitadas, não cooperativas, beligerantes, briguentas e fora de controle. Ansiedade, depressão, agressão ou outros problemas de comportamento podem surgir. Os pais podem ser acusados pelo comportamento dos seus filhos pelas pessoas que não estão cientes das dificuldades “escondidas” das crianças.

O tratamento eficaz para o TPS está disponível, mas muitas crianças com sintomas sensoriais são mal diagnosticadas e não corretamente tratadas. O TPS não tratado que persiste até a vida adulta pode afetar a capacidade de o indivíduo ser bem sucedido no casamento, no trabalho e no ambiente social.

Como o TPS é tratado

Muitas crianças com TPS são tão inteligentes quanto os colegas. Muitas são intelectualmente bem dotadas. Seus cérebros são simplesmente organizados de modo diferente. Elas precisam  ser ensinadas de modo adaptado ao jeito com que elas processam a informação, e precisam de atividades de lazer que sejam adequadas às suas necessidades próprias de processamento sensorial.
Depois de devidamente diagnosticadas com TPS, elas se beneficiam de um programa de tratamento de terapia ocupacional (TO) com abordagem de integração sensorial (IS). 
Quando correta e aplicada por um clínico bem treinado, a terapia auditiva (como o Sistema Auditivo Integrado) ou outras terapias complementares podem ser combinadas eficazmente com a TO-IS.
A terapia ocupacional com a abordagem da integração sensorial tipicamente se torna um ambiente sensorialmente rico, algumas vezes chamado de “OT gym”. Durante as sessões de TO, o terapeuta guia a criança em meio a atividades divertidas que são sutilmente estruturadas de modo que a criança seja constantemente desafiada, mas sempre de modo bem sucedido.
O objetivo da TO é de criar respostas apropriadas à sensação de modo ativo, com significado e divertido, para que a criança seja capaz de se comportar de uma maneira mais funcional. Com o tempo, as respostas corretas se generalizam para o ambiente além da clínica, incluindo o lar, escola e toda a comunidade. A terapia ocupacional eficaz permite, assim, que crianças com TPS tomem parte nas atividades normais da infância, tais como brincar com os amigos, gostar da escola, comer, vestir-se e dormir.
Idealmente, a terapia ocupacional para o TPS é centrada na família. Os pais são envolvidos e trabalham com o terapeuta para aprender mais sobre os desafios sensoriais dos seus filhos e os métodos de engajamento nas atividades terapêuticas (algumas vezes chamadas de “dieta sensorial”) em casa e nos outros locais. O terapeuta da criança pode propor ideias aos professores e outras pessoas fora da família e que interajam regularmente com a criança. As famílias têm a oportunidade de comunicar suas próprias prioridades para o tratamento.
O tratamento do TPS ajuda os pais e outras pessoas que vivem e trabalham com as crianças atingidas a entenderem que o TPS é real, mesmo que fique “escondido”. Com essa confirmação, eles se tornam melhores advogados dos seus filhos na escola e na comunidade.
Fonte:
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