Muitas vezes é complicado afastar a criança das brincadeiras e das horas passadas na frente da televisão para que ela faça o dever de casa. Manhas e expressões emburradas podem ser comuns nos pequenos que não gostam do compromisso diário. Segundo especialistas, diminuir a cara feia é dever dos pais e professores, que devem tornar a lição sinônimo de criatividade e diversão para as crianças.
Para a psicóloga e mestre em psicologia escolar Luiza Elena Valle, o dever de casa não é somente importante para a criança, é uma oportunidade para a escola e a família trabalharem juntas. "Percebo a lição de casa como uma chance para os pais acompanharem o que acontece na escola. E também é essencial para os professores reforçarem o aprendizado dos pequenos e tirarem as dúvidas que possam surgir", diz.
A especialista defende, porém, que o trabalho só será produtivo se representar algo prazeroso para a criança. Para isso, ela defende que é preciso atiçar a curiosidade dos pequenos. "As crianças gostam de desafios e não é produtivo aquele tipo de lição de casa, repetitivo, desinteressante. Espera-se que a lição de casa permita um espaço criativo, de descoberta, de gostar de aprender. Se não for assim, perde a razão de ser", afirma.
Além disso, o interesse dos responsáveis nos exercícios escolares também serve para que a própria criança valorize as tarefas. "O empenho dos pais é importante, não apenas para desenvolver responsabilidades em relação às obrigações da criança, mas também para incentivar mais conhecimentos e valorizar a tarefa", afirma.
Luiza diz que o acompanhamento dos pais não significa fazer o dever pelo filho, e muito menos aproveitar para testar o conhecimento da criança e a repreender por errar. "Os pais devem ser o apoio da criança quando ela tem dúvidas, quando se sente insegura ou quando tem interesse em ir além daquilo que está no dever. Deixa de ser uma 'ajuda' quando se torna um momento de críticas ou ameaças. É sempre bom lembrar que a criança forma sua autoestima a partir das mensagens que recebe do ambiente".
A secretária gaúcha C. P., 28 anos, conseguiu encontrar o equilíbrio ideal na hora de ajudar a filha B. P. C., 6 anos. Ela conta que sempre fica por perto quando a filha começa a fazer as lições. "Eu não fico 'em cima', quero que ela esteja à vontade, mas sempre estou por perto para estimular e deixando claro que qualquer dúvida eu vou estar ali para tentar ajudar", conta.
Segundo a mãe, B. gosta de fazer lições mais dinâmicas e que atiçam sua criatividade. Deveres repetitivos costumam chatear a menina. "Ela não gosta de lições paradas, como de caligrafia, por exemplo. Nesses casos ela passa a tentar adiar o momento do dever".
A psicóloga explica que o horário da lição é outro fator determinante no despenho infantil. "O ideal é que a criança esteja descansada, porque o bom desempenho depende de um esforço cognitivo, quer dizer, de um processo neurológico em que as mensagens são levadas ao cérebro, onde se conectam com as experiências e conhecimentos existentes e formam-se novas conexões neurológicas. Não existe uma fórmula certa, o melhor horário vai depender dos hábitos da casa, porque não deve concorrer com outras atividades mais atrativas, nem deve ser a última opção, quando a criança já está com sono", diz.
C. conta que para a filha o melhor horário é de manhã, logo depois do café. "Ela estuda de tarde e chega em casa no final do dia. O melhor horário para ela é no dia seguinte de manhã, porque está bem descansada e já na expectativa pelo dia que vai ter no colégio", afirma.
Porém, se mesmo depois de se preocupar com todos estes fatores a criança ainda mostrar desinteressante e irritação, é sinal de que algo está errado. "É fácil saber se está tudo bem, basta observar os resultados. Se a criança gosta de aprender e de fazer suas atividades, é porque tudo está ocorrendo como esperado. Se as coisas não estiverem assim, é preciso buscar onde estão as falhas", afirma Luiza, ressaltando que a melhor forma de detectar o problema é conversando com a escola, ou ainda buscando um terapeuta.
"Vale a pena descobrir o que pode ser feito. É mais fácil atender às dificuldades do jovem estudante do que 'empurrar' o filho pelo resto de sua vida escolar", alerta
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