As pesquisas, conduzidas no Kennedy Krieger Institute, em Baltimore, e no Cincinnati Children´s Hospital Medical Center, e publicadas no número mais recente de Neurology, a revista da American Academy of Neurology, descobriram que crianças com TDAH mostram menor habilidade para controlar os movimentos musculares voluntários e involuntários do que as crianças sem o TDAH.
Esses achados fornecem mais evidências para a causa neurológica do transtorno, e podem também fornecer o primeiro modo objetivo de prever a gravidade dos sintomas de uma criança, o que pode levar a uma identificação e tratamento mais acurados para o TDAH, que é o transtorno de comportamento da infância mais diagnosticado. Crianças com TDAH demonstram atrasos do desenvolvimento do equilíbrio, do controle motor e do comportamento, e frequentemente mostram dificuldade em se concentrar, em ficar sentadas quietas em classe e em se comportar de maneira adequada à idade em outras situações.
“O problema atual é que o TDAH é algo diagnosticado com base em sintomas... mas não é algo diagnosticado fisiologicamente”, disse o chefe da equipe de pesquisadores Dr. Stewart Mostofsky, neurologista pediátrico e diretor do Laboratory for Neurocognitive and Imaging Research no Kennedy Krieger Institute. A maioria das avaliações atuais sobre o TDAH é baseada em medidas qualitativas, tais como listas de checagem de comportamento preenchidas por pais e professores. “Isso é subjetivo. Em muitos diagnósticos médicos, idealmente, você é capaz de medir fisiologicamente”.
No primeiro estudo, os pesquisadores pediram a 50 crianças destras, com idade entre 8 e 14 anos, metade delas com diagnóstico de TDAH, para fazer uma sequência de toques de dedos em que elas tocavam cada dedo no polegar em uma ordem, alternando as mãos em 10 repetições dos exercícios. Durante o exercício, os pesquisadores seguiam os movimentos musculares na mão oposta da criança.
Os pesquisadores estavam procurando por movimentos excessivos, não intencionais e desnecessários que acompanham os movimentos voluntários. Entre estes, está o excesso em espelho, que é uma forte tendência que a pessoa tem de se movimentar bilateralmente. É um estágio normal do desenvolvimento, disse o Dr Mostofsky, e “é por isso que as crianças pequenas têm dificuldade de bater na cabeça com uma das mãos e esfregar sua barriga com a outra, ao mesmo tempo”.
As crianças típicas começam a perder este espelhamento por volta da pré-adolescência, mas, como os pesquisadores verificaram, crianças com TDAH ainda mostram o dobro dos movimentos espelhados. Em meninos com TDAH, movimentos espelhados eram quatro vezes mais intensos do que nos meninos típicos, o que, disse o Dr. Mostofsky, poderia apontar para um maior desenvolvimento das habilidades motoras nas meninas.
Em um segundo estudo relacionado a esse, os pesquisadores usaram a estimulação magnética transcraniana para fornecer pulsos eletromagnéticos ao córtex motor de 49 crianças destras com e 49 sem TDAH, todas da mesma faixa de idade do primeiro grupo. “Se você estimula o córtex motor com um pulso forte, você obtém uma fisgada na mão”, explicou o Dr Mostofsky, mas um estímulo mais fraco poderia ativar a resposta cerebral para inibir os movimentos involuntários. Assim, eles compararam esta atividade à atividade causada por um único pulso forte. A diferença entre ambas as medidas é a “inibição cortical de curto intervalo”, ou SICI, e ele mede quão bem a criança pode interromper movimentos não intencionais.
Como ficou aparente, as crianças com TDAH tiveram medidas médias da SICI 40%mais baixas do que seus pares, e quanto menor sua inibição neurológica, mais graves os seus comportamentos.
“Esta diminuição na SICI era altamente previsível” no TDAH, disse o Dr Mostofsky. ”Ela sugere que o problema que as crianças com TDAH têm no controle de suas ações, do seu comportamento e de sua concentração, aparece até mesmo no nível do controle motor básico... Agora temos algum tipo de medida quantitativa desta desinibição.”
A ligação entre o controle mental e o físico tem sentido, ele disse. “Pensa-se que as crianças com TDAH têm dificuldade de inibirem-se a si mesmas para prestar atenção a coisas mais interessantes do seu ambiente”, ele disse. “Quando você presta atenção, sua habilidade de controlar a atenção é relacionada muito de perto com sua habilidade de controlar suas ações. Vamos em direção a coisas que nos interessam e nos engajamos nelas, mesmo movendo nossos olhos na direção de coisas em que estamos interessados”.
A medida SICI, ele disse, pode eventualmente ajudar os pesquisadores a determinar maneiras de identificar crianças com TDAH precocemente e verificar se as diferentes intervenções são mais eficazes para diferentes grupos de crianças com TDAH.
Sarah D. Sparks
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