“Queria que você pudesse se ouvir”. Quando criança, eu
escutava isso frequentemente da minha mãe não-TDAH. Eu achava que ela era
maluca; minha audição era perfeita.
Depois do diagnóstico do meu TDAH, aos 47 anos de idade,
descobri que as pessoas com o transtorno de déficit de atenção são observadores
fracos. Demorou 40 anos, mas, finalmente, fiquei sabendo o que minha mãe queria
dizer com aquilo.
Minhas palavras e ações estavam contra minhas intenções. Até
o meu tratamento, essa confusão estragava meus relacionamentos, deixando-me
perplexa e ferida. Desde então, descobri a Psicoterapia com Assistência Equina
– que usa a estranha habilidade dos cavalos para espelhar as emoções e atitudes
dos seus condutores. Conforme você interage com um cavalo, você aprende a
observar e a responder aos comportamentos dele, em vez de ficar amarrado aos
seus padrões de comportamento. Depois de uma sessão, conselheiros falam com
seus clientes sobre o que aprenderam. Essa terapia tem me ajudado a me tornar
atenta ao modo como os outros me veem e a ter certeza de que minhas palavras e
ações refletem minhas intenções.
Muitas crianças e adultos com TDAH se apaixonam pela terapia
equino-assistida porque ela é estimulante e divertida. Embora as crianças e os
adultos amem trabalhar com cavalos, o foco da terapia equino-assistida não está
em cavalgar ou tornar-se um cavaleiro - os participantes permanecem no chão -
mas em seguir as instruções da equipe de terapia: um especialista com
certificado em terapia equino-assistida, um profissional de saúde mental e um
cavalo.
Sue Bass, especialista em terapia equino-assistida no Hope
Ranch, em Rochester, Minnesota, e sua equipe, atendem três jovens irmãs de uma
família mista. As duas mais velhas ficavam frustradas pela irmã mais nova que,
segundo Bass, “não tinha nenhum limite, invadia o quarto delas e geralmente as
provocava”. Bass notou que quando a irmã mais nova entrou na arena, um
cavalinho começou a perturbar os cavalos grandes. “Ele ia para cima deles e
mordia”, diz Bass. “Então ele começou a mordiscar os sapatos da menina. Ele não
a machucou; mas foi uma peste total”. Isso incomodou a menina, que tentou fugir
dele.
“As irmãs mais velhas olharam uma para a outra e perguntaram
para a menor quem o cavalo lhe lembrava”. “O foco da sessão mudou, num
relâmpago, para o comportamento da irmã mais nova”. A irmã mais nova teve uma
imediata noção do que suas irmãs tinham de aturar o dia todo. “Não poderíamos
ter planejado algo melhor!” acrescenta Bass.
Como Funciona a Terapia Equino-Assistida
Cavalos são grandes, poderosos e, às vezes, amedrontadores.
Eles chamam a nossa atenção, mas não nos julgam quando refletem nosso
comportamento. Isso permite que os clientes aprendam sobre seus comportamentos
sem se tornarem defensivos. Por meio de questões dirigidas, o terapeuta ajuda
os participantes a analisar suas interações com o cavalo e com os outros
participantes.
Com base nas necessidades do cliente, a equipe terapêutica
dá ao cliente um conjunto de instruções, tais como: “Observe os cavalos para
ver qual seja adequado para você” ou “Construa um caminho de obstáculos
escolhendo itens que representem coisa que o distraiam no decorrer do dia;
então, puxe o cavalo pelas rédeas e o leve através do caminho de obstáculos”.
Não são dadas outras instruções, e o cliente completa o processo (ou não) como
achar apropriado. “Não é a tarefa que é importante”, diz Bass, “mas o que o
cliente descobre sobre seus pensamentos e emoções, conforme lide com o cavalo”.
Não há muita pesquisa que confirme a eficácia desse tipo de equoterapia. Um estudo,
conduzido pela pesquisadora Kay Trotter, mostrou que a terapia com o cavalo
melhorou a hiperatividade e impulsividade em crianças e adolescentes com o
problema.
Conselheiro com certificado nacional, Trotter seguiu dois
grupos. Um grupo participou do tratamento de aconselhamento em grupo com
terapia equino-assistida, enquanto o outro grupo recebeu uma intervenção
“prêmio ao vencedor” de aconselhamento baseado no currículo escolar.
Os resultados do estudo de Trotter sugerem que o tratamento
equino-assistido foi estatisticamente mais eficaz na melhora da habilidade das
crianças em focalizar e de permanecer na tarefa. A terapia também melhorou
significativamente os sintomas de agressão, depressão e ansiedade do grupo. Os
participantes do tratamento equino-assistido se ajustaram melhor às novas
rotinas e professores, e facilmente mudaram de uma tarefa para outra. A
autoestima e o autorrespeito aumentaram, e as amizades foram menos
estressantes.
Feedback instantâneo é parte do porque essa terapia com
“seres poderosos e interessantes” é tão eficaz, diz Kit Muellner, fundadora do
Hope Ranch e trabalhadora clínica e social independente, licenciada. “Além de
tudo, os clientes sentem que alcançaram algo por sua própria conta, em vez de
fazer alguma coisa ordenada pelos pais ou por um professor. Um animal de mais
de 500 quilos responde do modo que você quer que ele faça porque você foi capaz
de prestar atenção. Então, você conquistou algo que queria fazer, contra o
fazer algo que alguém queria que você fizesse”.
Como a terapia equino-assistida me ajudou
Tive uma lição num workshop de terapia equino-assistida para
mulheres. Fomos reunidas aos pares para segurar um cavalo e leva-lo a certa
área. Sem problemas, eu pensei, já tendo lidado com cavalos anteriormente.
Então, o conselheiro disse, “Não é permitido falar”. Entrei em pânico.
Primeiro, estava em um lugar estranho. Segundo, estava
trabalhando com alguém que não conhecia. Terceiro, não podia falar. De repente,
descobri o quanto dependo das palavras, e como estava perdida sem minha voz.
Por outro lado, desde a infância, minhas palavras me colocam em situações
complicadas porque eu as digo sem pensar.
Para realizar essa tarefa, tive de usar a comunicação não
verbal. Tive de acreditar em alguém que assumiu o papel de líder. Meu estômago
retorceu, e comecei a suar. Nunca me esqueci daquela lição, e a visão que ela
me deu de minha vida com TDAH. Suzi Landolphi, terapeuta com certificado, em
Big Heart Ranch, em Malibu, California, mestre em psicologia, diz que, para
trabalhar eficazmente com cavalos, “seu pensamento, emoções e a linguagem
corporal têm de concordar. E não é justamente isso que o TDA impede que
aconteça?”
Muellner me contou como a terapia equino-assistida ajudou um
adulto jovem com grave TDAH. No Hope Ranch, os cavalos eram livres para ir e
vir. Enquanto trabalhava um-a-um com um cliente, Muellner notou que “em alguns
dias entrávamos no celeiro e os cavalos estavam por lá. Em outros dias, eles
tinham saído”. Muellner diz que os cavalos ficavam no celeiro porque se sentiam
ansiosos ao lado do seu tenso cliente, e que ele aprendeu a acalmar sua mente
antes de entrar no celeiro.
Katherine, cuja filha Sarah foi diagnosticada com TDAH na
idade de 12 anos, descobriu que a terapia equino-assistida ajudou a trazer
muitas mudanças positivas para sua filha. Sarah estava no segundo grau quando
foi encaminhada para a terapia. “Sarah teve um monte de mudanças”, diz
Katherine. “Ela era rebelde, suas notas estavam caindo e tinha problemas
sociais”.
Sarah foi encaminhada para um grupo de sete meninas que tinham
sessões o dia todo por toda uma semana. Cada menina tinha um cavalo e um
conselheiro. Como muitos participantes, Sarah nunca tinha ficado perto de um
cavalo. Antes da terapia, diz Katherine, “A timidez de Sarah e seu comportamento
reservado afastaram as outras meninas, e ela não conseguia fazer amigas”.
Katherine observou sua filha durante uma sessão, e ficou impressionada com a
bondade e compaixão de Sarah para outra menina que estava tendo muita
dificuldade com o grupo.
“Ela também mostrava respeito em relação aos terapeutas e
aos outros conselheiros em épocas em que não respeitava muito os adultos”, diz
Katherine. “Eu vi uma criança diferente, assim como os professores de Sarah”. O
melhor de tudo, é que muitas dessas mudanças permaneceram com ela muito depois
de ter parado de fazer a terapia equino-assistida.
Nota do tradutor: Isso não é “Legal”? “Bacana”? “Massa”? “Jóia”?
E no Brasil? Qual é a experiência dos que lidam com
equoterapia? Aguardo respostas. Dr Menegucci.
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