Dois recentes encontros na farmácia me convenceram: Se você
não pode gritar "Fogo!" em um teatro lotado, você não deveria gritar
"Droga" quando eu peço remédio para o TDAH.
Por Samantha Hines
O Merriam-Webster
Dictionary define a palavra droga como "uma substância (como cocaína,
heroína ou maconha) que afeta o cérebro e geralmente é perigosa e ilegal".
Se você é pai de uma criança com TDAH, que, depois de consultas minuciosas e
geralmente opressivas com profissionais médicos, foi informado de que seu filho
poderia ser ajudado pelo uso de doses pequenas de medicação estimulante, DROGA (ou
ENTORPECENTE) será uma palavra que você terá de assimilar quando ela for
lançada contra você no local onde você menos esperaria: a farmácia.
O primeiro dessa série de eventos infelizes ocorreu há 1
mês. A farmácia teve dificuldade de obter toda medicação do meu filho. Nós
estávamos esperando por muito tempo, então eu perguntei ao farmacêutico se ele
poderia dar para o meu filho algumas doses da medicação para que ele
melhorasse, enquanto aguardávamos que o restante da medicação chegasse. Isso
não me pareceu ser esquisito. A farmácia já tinha feito isso uma vez, quando
houve problemas com meu remédio para pressão alta. A pessoa a quem eu propus
minha idéia deu um passo para trás, olhou para mim com espanto e falou bem
alto, "Minha senhora, esta medicação é um entorpecente. Não podemos fazer
isso com drogas".
O segundo episódio ocorreu mais recentemente. A medicação do
meu filho precisou de uma pequena alteração, e houve complicações no
preenchimento da receita. Decidi falar com a farmácia antes da hora - e antes
de alguma tempestade de neve intensa - para garantir a quantidade que
precisaríamos ter em estoque. Uma vez mais, fui atingida com a mesma palavra
pela mesma pessoa: "Minha senhora, não podemos dar essa informação sobre
entorpecentes pelo telefone."
Gostaria de acreditar que o uso dessa palavra por essa
pessoa fosse puramente inocente - que talvez a palavra fosse a que ela tenha
sempre usado, que ela não entendesse suas nuances, que ela a usasse no seu
estrito sentido farmacêutico.
Para o leigo, entretanto, a palavra entorpecente, ou droga,
tem conotações - e preconceitos a respeito dela. Até a definição do dicionário
aponta para suas implicações menos simpáticas. Uma pequena leitura mais
aprofundada já revela os fatos mais repelentes: "Entorpecentes são drogas
ilegais. Drogas ilegais são usadas por viciados e criminosos. Assim,
entorpecentes devem ser abomináveis, e os que os utilizam devem ser igualmente
abomináveis."
Isso não é o professor de inglês que está falando ou uma
artífice da palavra dentro de mim que está falando. Não é também a mãe
protetora e defensora. Pergunte a qualquer um o que ele pensa quando ouve a palavra
entorpecente, e eu acho que imagens do meu querido filho e de sua mãe obediente
à lei virão à mente.
Há outros modos de descrever a medicação de que ele precisa:
"estimulantes", sim, mas também "substância controlada", ou,
possivelmente, a mais preferível "a receita do seu filho". Essas
alternativas mais gentis existem não para camuflar a verdade - tenho total
conhecimento dos produtos químicos que meu filho toma e porquê - mas para
mostrar respeito, especialmente para uma pessoa que precisa suportar o que
outros podem não entender completamente.
Para crédito da farmácia, quando eu falei sobre isso com a
gerente, ela foi profissional e cooperativa. Entretanto, pais de crianças com
TDAH, para não mencionar as pessoas com TDAH elas mesmas - embora acostumadas
com julgamentos - não são imunes a isso. Há algo particularmente rude em
descobrir isso na farmácia onde você obtém os itens que tendem a promover a
maioria dos mal entendidos e dos preconceitos.
Meu filho não é um viciado, e eu não sou uma traficante. Ele
é um meigo menino de oito anos com deficiência de dopamina, que foi
diagnosticado como portador de TDAH. Eu sou uma mãe que tem derramado mais
lágrimas do que posso contar em cada etapa do processo de diagnóstico. Trabalho
duro e a medicação que compramos todo mês na farmácia transformaram a vida do
meu filho. Ambos trouxeram a ele a paz e a estabilidade e permitiram que ele
progredisse academicamente e socialmente.
Essa jornada não tem sido fácil -
tremendamente gratificante, sim, mas ainda não é um caminho que eu deseje a
alguém.
Assim, se você me vir na farmácia, comprando a medicação do
meu filho, saiba que essa nossa história é mais complicada do que uma mãe
esgotada comprando alguma "droga" para acalmar seu filho agitado. É
mais complicada do que minhas palavras podem expressar e, portanto, mais
complicada do que a maioria das pessoas poderá imaginar.
ADDitude
Se o medicamento é um entorpecente, logo, quem vende é traficante. Essa senhora deveria ter questionado isso aos farmaceuticos.
ResponderExcluirMarcelo, entorpecente é um termo técnico usado em farmacologia, adotado pela ANVISA em sua classificação das drogas (sensu lato)(ou medicações, se quiser). A receita para a compra dos medicamentos estimulantes, no Brasil, é fornecida pelo governo de cada estado, em papel amarelo, numerada, com identificação do emitente e do comprador, com o seguinte cabeçalho na capa do receituário: "Controle de medicamentos entorpecentes e psicotrópicos". Portando, sua afirmação não é verdadeira. Quem vende entorpecente não é necessariamente traficante. Dr. Menegucci
ResponderExcluirIndependente da forma que se associa um remédio psiquiátrico/neurológico o preconceito e a desinformação são marcantes no que diz respeito a estas medicações.
ResponderExcluirPreconceito não tem tratamento. Desinformação tem. O objetivo deste blog é informar corretamente. Dr. Menegucci.
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