Blog do NOBLAT 01/03/14
É BOM PRESTAR ATENÇÃO
por Zuenir Ventura, O Globo
Dizem os entendidos que só se dará bem neste século quem conseguir resolver dentro de si a luta entre o foco e a desatenção, isto é, entre a capacidade de se concentrar e a dispersão a que estamos sujeitos por causa das “distrações” que nos assediam diariamente através dos vários meios de comunicação.
A velocidade e a insistência dessas mensagens estariam diminuindo nossa capacidade de fixá-las e de refletir sobre o que elas realmente significam. O bombardeio de informações produz entropia, confusão, já que o excesso delas é igual a ruído.
Preocupado com o fenômeno, o psicólogo americano Daniel Goleman escreveu o livro “Foco — A atenção e seu papel fundamental para o sucesso”, que acaba de ser lançado no Brasil, onde a palavra do título virou moda. Já comentamos aqui mesmo que o termo passou a frequentar os mais variados ambientes.
O governo Dilma não perdeu o rumo, “perdeu o foco”. Os partidos de oposição estão “desviando o foco”. A atriz prefere “focar no lado bom das coisas”. Um time venceu não porque jogou melhor, mas porque finalmente “encontrou o foco”.
Por meio de análises, depoimentos e pesquisas, Goleman mostra que essa recorrência é causada pela dificuldade de concentração, que se deve sobretudo à onipresença do celular e da internet em nossas vidas. “A tecnologia captura a nossa atenção e interrompe as nossas conexões”.
Algumas empresas do Vale do Silício chegaram a banir das reuniões laptops, iPads, iPhones e outras ferramentas digitais. Um casal confessou ao autor que teve de fazer um pacto de boa convivência: “Em casa, guardamos os telefones numa gaveta.”
Alguns anos atrás as pessoas ficavam indignadas quando alguém pegava o Blackberry para conversar com outra na nossa presença. “Hoje é a norma.” Estudos cerebrais revelam que a “recompensa neural” desses viciados é parecida com a dos dependentes de álcool e drogas. Um professor universitário admitiu que não consegue ler mais de duas páginas por vez. “Estou perdendo a capacidade de me concentrar em qualquer coisa séria.”
Ainda bem que o mal tem cura. Uma das lições do livro é que a atenção funciona como um músculo mental, que permite acompanhar uma história, concluir uma tarefa, aprender ou criar. “Pouco utilizada, ela definha; bem utilizada, ela melhora e se expande”, o que significa que é possível fortalecê-la e até mesmo reabilitar “cérebros carentes de foco”. Basta treiná-la. Um bom método é o exercício de memorização.
Mas, cuidado, foco não é ideia fixa, obsessão. Use com moderação. É preciso dar uma folga ao cérebro, deixar um tempo livre para a divagação. Muitas descobertas e invenções aconteceram durante momentos de “distração”. O espírito aberto e a imaginação solta permitem a entrada de boas ideias.
Zuenir Ventura é jornalista.
Blog destinado à divulgação dos diversos aspectos do TDAH e do que mais eu quiser. As opiniões são de responsabilidade dos autores e podem não ser compartilhadas por mim (Dr. Menegucci).. Todo mundo é gênio. Mas, se você julgar um peixe pela sua habilidade de subir numa árvore, ele vai passar a vida toda pensando que é burro..
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