Uma garota de 12 anos medita sobre equilibrar o TDAH com
suas habilidades especiais. Por Dana Olney-Bell
Tenho doze anos de idade e, pelo que me lembro, tenho
dois lados opostos dentro de mim. Disseram-me que tenho "dons" -
muito inteligente e criativa. Mas também tenho de trabalhar muito, muito
duramente em coisas que parecem muito mais fáceis para outras garotas, tal como
memorizar e prestar atenção.
Eis aqui um exemplo: Em matemática, ciência e artes sou
mais rápida que os outros alunos em descobrir as coisas. Como acontece quando o
nosso professor ensina uma nova maneira de subtrair frações. Parece óbvio para
mim, mas não para os outros alunos. Mas, quando estou tentando escutar alguém
falando ou lendo, minha mente começa a vaguear.
Uma vez, quando estávamos falando sobre plantas em
ciência, isso me fez pensar em meu jardim e no que iria plantar no próximo ano.
E isso me fez pensar em uma nova espécie de pimenta que eu queria plantar para
o meu pai, porque ele gosta de coisas apimentadas. E isso me fez pensar nos
pratos "quentes" que ele costumava comer quando vivia em Singapura.
Parece como os galhos de uma árvore, e logo eu já não sei
mais sobre o que era a discussão. Às vezes isso é bom quando eu estou falando
com alguém, porque me ajuda a variar nossa conversa. Se estou na aula, me ajuda
a trazer novas idéias que ninguém tinha imaginado. Mas também me machuca em
aula porque eu nem sempre entendo o que o professor está dizendo.
Algumas vezes eu tenho idéias complicadas que não consigo
explicar para os outros. Isso realmente me deixa frustrada e fico nervosa com a
pessoa porque ela não entendeu! Acho que você poderia dizer que eu choro muito
facilmente. Isso realmente afeta minha mãe. Às vezes tenho a mesma espécie de
problema quando preciso fazer uma pergunta. Fico empacada na pergunta porque
não consigo formulá-la. E tenho os mesmos problemas quando tento passar minhas
idéias para o papel.
Quando estou fazendo algo que é difícil para mim, como
escrever, eu fico vagando facilmente e acabo fazendo um trabalho rápido, de
modo que possa fazer algo em que eu me saia melhor. Mas quando não consigo uma
nota muito boa no meu trabalho, me sinto mal. O problema é que há tantas coisas
interessantes para fazer em minha casa; coisas que eu acho que sejam tão
educativas quanto escrever. Eu prefiro fazer experiências químicas e cozinhar
na cozinha, ou experimentar novas espécies de sementes e de misturas de solos
em meu jardim, ou assistir ao History
Channel ou a Popular Mechanics for
Kids, ou a resolver problemas de lógica e jogos. Eu estudo o comportamento
dos pássaros (com meus pássaros, é claro!), trabalho no meu Web site com meu
pai, e construo novas coisas com madeira ou qualquer coisa que estiver sobrando
em torno. Amo minha escola, mas odeio que as tarefas de casa me tomem tanto
tempo que eu poderia usar para fazer outras coisas. É assim que é ter dons e
TDAH.
Lições de Vida
Tentei alguns remédios para me ajudar a prestar atenção.
É tão esquisito que façam remédios para isso! Um me ajudava a me concentrar e a
ter mais disposição na escola. Agora, outro me ajuda a ser mais otimista, mas
quando o efeito some, me sinto menos alegre e me desligo mais. Meu remédio
ajuda alguma coisa, mas não resolve completamente o problema da atenção. Ainda
tenho de me esforçar para prestar atenção, e algumas vezes ainda fico vagando
mesmo com o remédio.
O remédio não ajuda nos problemas que tenho para
memorizar e estudar para as provas. Meu tutor sugere que eu faça desenho de
figuras quando tenho de memorizar fatos para a minha prova de história. Por
exemplo, quando estávamos estudando a Renascença, eu desenhei uma harpa pelo
renascimento da música e uma cruz pelo renascimento da cultura. Isso me ajudou
a lembrar dessas coisas para uma prova. Mas demora muito tempo estudar desse
jeito, então eu não conseguia estudar tudo e tirava notas baixas porque havia
muitas partes que eu não tinha visto. Às vezes isso me faz querer desistir
quando eu descubro o quanto tenho de estudar a mais coisas que não são tão
difíceis para os outros colegas.
Japonês foi mais fácil para eu aprender porque quando
você escreve em japonês, é arte, e eu adoro desenhar. A escrita japonesa é
cheia de detalhes, e eu gosto de ficar por um tempo longo em alguma coisa e
fazer tudo exato. Mas a lentidão é um outro problema que eu tenho e que frustra
as pessoas. E o meu tutor diz que eu às vezes tenho muita dificuldade em
decidir quando caprichar nos detalhes vai fazer meu trabalho ficar melhor ou
quando vai prejudicá-lo porque "eu não consigo ver a floresta pelas árvores".
Há uma parte do japonês que tem sido muito difícil para mim. Estou atrasada em
relação à minha classe no que diz respeito à memorização dos caracteres
japoneses e nas combinações de caracteres.
No terceiro ano eu fui para uma escola especial para
crianças com dificuldades de aprendizagem, onde eu aprendi o método Singerland
para leitura. Aquilo foi realmente bom para mim. Agora eu leio livros que são
realmente difíceis, como o The Golden
Compass (A Bússola Dourada) e The
Amber Spyglass (A Luneta Âmbar).
Visualização e verbalização foram realmente úteis,
também, para descobrir a prosódia. Ainda sou má em leitura em voz alta, mas
estou melhor do que era! Mas as outras partes da escola eram tão fáceis para
mim, e eu ficava aborrecida porque eu já sabia o conteúdo. Quando voltei para
minha escola pública, as crianças me perguntavam, "Dana, você vai para a
escola especial no terceiro ano?" A Educação Especial não é uma coisa
popular. Você tem de ser normal para ser legal.
Algumas pessoas idolatram os estudantes bem dotados
porque pensam que eles são bons em todos os assuntos, mas isso não é verdade.
Não somos superinteligentes em tudo, como um computador. Sou boa em algumas
áreas. Meu tutor diz que sou uma aprendiz visual. Por exemplo, em história,
quando minha professora estava falando sobre a segunda guerra mundial, ela
mostrou fotos das trincheiras em que eles lutavam. Sempre vou me lembrar
daquelas cenas.
Ser superdotado é uma coisa má em algumas das escolas em que
eu estive. No cinema, os geniosinhos não são geralmente bons nos esportes. As
pessoas pensam que se você é superinteligente, então você será provavelmente
fraco. É muito bom ser um mago em matemática, mas é bem mais legal se você for
realmente atlético. Foi o que descobri em minha velha escola pública.
Agora frequento uma escola para alunos superdotados e
temos muito atletismo aqui. Fazemos exercícios, dança e artes marciais quase
todos os dias. Fico feliz por ver que os meus colegas de escola não ligam muito
para a moda e não estão nem aí para o tipo de roupa que você usa. Para mim, é
muito mais confortável desse jeito.
Estamos juntos nessa
Qual a melhor maneira de ajudar crianças como eu?
Precisamos de muito apoio dos pais e não de gritos quando tiramos notas baixas.
A melhor coisa que os pais podem fazer é ajudar seus filhos a superar suas
dificuldades. Me ajudou muito quando minha mãe me mostrou novas maneiras de
estudar para uma prova. Me ajudou a encontrar amigos que sejam honestos e que
não me critiquem pelas costas. Ajudou-me a achar uma escola onde os professores
vejam que há coisas em que eu sou muito boa. Uma vez minha mãe me contou uma
história sobre os nerds de computador que terminaram por tomar conta do mundo,
e às vezes eu penso nessa história e isso faz com que eu me sinta melhor,
também.
Espero que outras crianças que sejam superdotadas e que
tenham TDAH saibam que não estão sós. Espero que isso ajude as crianças a falar
com seus pais e professores sobre as coisas que as aborrece e que as fazem se
sentir menos esquisitas e solitárias. Falar com eles sobre coisas em que você é
bom e sobre coisas que são difíceis para você - e por que elas são difíceis
para você - podem ajudar as crianças a descobrir como fazer a escola um pouco
melhor. Além de tudo, falar sobre coisas também pode ajudar as crianças a se
sentirem melhor a respeito de si mesmas.
ADDitude
Nenhum comentário:
Postar um comentário