Fernando LópeSeco, Adela Masana-Marín, Elisabet Vilella -
Hospital Universitário, Instituto Pere Mata, IISPV. Universidade Rovira i
Virgili. CIBERSAM. Reus, Tarragona, Espanha.
© 2014 Revista de Neurología (Espanha)(Cartas à Redação)
Estamos totalmente de acordo com Aragonès et al [1], na
necessidade de determinar a verdadeira prevalência desse transtorno na
população em geral, mas, também, em populações de risco, como é o caso dos
adultos com filhos com o diagnóstico de TDAH. Os autores haviam identificado,
em um estudo prévio, uma prevalência do TDAH adulto de 0,04% na Catalunha [2].
A prevalência global do TDAH adulto se estima em 3-5% [3]. Em seu trabalho
recente, havia até uns 12% de pacientes com possível TDAH. Esses pacientes
tinham maior prejuízo laboral, social e familiar, maior nível de estresse, mais
frequente comorbidade com transtorno afetivo e consumo de substâncias e um
maior consumo de psicofármacos.
Em amostra de 146 adultos com filhos em tratamento para
TDAH, em nossos centros de saúde mental infantil e juvenil de Reus e Tarragona,
encontramos 21,9% de homens e 17,8% de mulheres que superavam o ponto de corte do
questionário ASRS para o TDAH (ASRS ≥ 12) [4]. Em 53,4% das mulheres e em 46,6%
dos homens havia psicopatologia atual, segundo o questionário SCL-90-R [5]. Em
37% das mulheres e em 23% dos homens havia informação de terem sido tratados
devido a algum distúrbio psiquiátrico. Na mulheres, a depressão (17,8%) e a ansiedade
(13,7%) eram os antecedentes mais habituais, e, nos homens, os transtornos de
adaptação (4,1%). Entretanto, somente 0,7% de toda a amostra informava ter
recebido diagnóstico de TDAH como adulto.
A presença de sintomas de TDAH se associou de maneira
estatisticamente significativa à presença de psicopatologia atual em ambos os
sexos. Todas as mulheres que apresentavam sintomas de TDAH tinham
psicopatologia atual, enquanto que, entre as que não superavam a pontuação da
ASRS para TDAH, a porcentagem de mulheres com psicopatologia atual foi de 48,3%
(c² =
11,6; p <
0,001). Também os homens que apresentavam sintomas de TDAH, tinham, com mais
frequência, psicopatologia atual, que os
que não apresentavam sintomas de TDAH (87,5% contra 35,1%; c² = 2,3 p < 0,1).
Segundo o questionário construído para a obtenção de
antecedentes psiquiátricos, as mulheres com sintomas de TDAH tinham, com mais
frequência, antecedentes psiquiátricos que as que não mostravam esses sintomas
(76,9% contra 28,3%; c² =
10,8; p <
0,003). Também havia maior número de homens com antecedentes psiquiátricos
entre os que tinham sintomas de TDAH do que entre os que não tinham sintomas,
mas essa diferença não foi estatisticamente significativa (37,5% contra 19,3%; c² = 2,3; p < 0,1).
A detecção e o tratamento do TDAH do adulto seria
importante para prevenir a deterioração social associada ao transtorno no
adulto em áreas tão importantes como a adaptação no trabalho, a sinistralidade
e as relações interpessoais e de casais, além de detectar e tratar a elevada
comorbidade psiquiátrica e a presença de dependência de drogas (drogadicção)
[3].
Além disso, tendo em conta a importante base genética do transtorno
[6], no caso dos adultos com filhos com TDAH diagnosticado, seria muito
importante a detecção do transtorno nos pais, para dar atenção mais específica
e intensiva às famílias nas quais o filho e ao menos um dos pais tenham o
transtorno. O TDAH em um dos pais se associa a maior disfunção e maior
gravidade sintomática do TDAH do filho [7]. O TDAH do progenitor dificultará
mais o exercício das funções paternas [8].
Em resumo, a detecção e o tratamento do TDAH na etapa
adulta da vida, em nosso país [Espanha], estão muito abaixo das cifras que se acham na
literatura mundial [3]. Entretanto, pode tratar-se de um problema relativamente
comum, que gera mal estar nas famílias, provoca disfunção familiar e social, e
problemas de saúde adicionais.
Bibliografía
1. Aragonès E, Cañisá A, Caballero A, Piñol-Moreso JL. Cribado
para el trastorno por déficit de atención/ hiperactividad en pacientes adultos
de atención primaria. Rev Neurol 2013; 56: 449-55.
2. Aragonès E, Piñol JL, Ramos-Quiroga JA, LópezCortacans G,
Caballero A, Bosch R. Prevalencia del déficit de atención e hiperactividad en
personas adultas según el registro de las historias clínicas informatizadas de
atención primaria. Rev Esp Salud Publica 2010; 84: 415-20.
3. Ramos-Quiroga JA, Chalita PJ, Vidal R, Bosch R, Casas M,
Palomar G, et al. Diagnóstico y tratamiento del trastorno por déficit de
atención/hiperactividad en adultos. Rev Neurol 2012; 54 (Supl 1): S105-15.
4. Ramos-Quiroga JA, Daigre C, Valero S, Bosch R, Gómez-Barros
N, Nogueira M, et al. Validación al español de la escala de cribado del
trastorno por déficit de atención/hiperactividad en adultos (ASRS v. 1.1): una nueva
estrategia de puntuación. Rev Neurol 2009; 48: 449-52.
5. Derogatis L. SCL-90-R. Cuestionario de síntomas. Adaptación
española. Madrid: TEA
Ediciones; 2002.
6. Thapar
A, Cooper M, Eyre O, Langley K. What have we learnt about the causes of ADHD? J
Child Psychol Psychiatry 2013; 54: 3-16.
7. Agha SS,
Zammit S, Thapar A, Langley K. Are parental ADHD problems associated with a
more severe clinical presentation and greater family adversity in children with
ADHD? Eur Child Adolesc Psychiatry 2013; 22: 369-77.
8. Johnston
C, Mash E, Miller N, Ninowski JE. Parenting in adults with attention-deficit/hyperactivity
disorder (ADHD). Clin Psychol Rev 2012; 32: 215-28.
Nenhum comentário:
Postar um comentário