O
TDAH da criança e o do adulto podem ser transtornos independentes.
Novas
pesquisas, polêmicas, sugerem que as pessoas, que não demonstram
nenhum sinal de TDAH na infância, podem desenvolver a condição
mais tarde na vida e, inversamente, crianças com o diagnóstico
podem superar no crescimento os seus sintomas.
Duas
novas pesquisas sugerem que o TDAH adulto não é uma simples
continuação do TDAH da infância, mas, na verdade, um transtorno
separado, com um desenvolvimento independente ao longo da vida. E,
além disso, o TDAH com início na idade adulta pode ser realmente
mais comum do que o de início na infância. Esses dois resultados
vão contra o que se acredita popularmente, e pedem para serem
confirmados com mais pesquisa.
Os
dois estudos, publicados no número de julho de 2016 do JAMA
Psychiatry, usaram metodologia semelhante e mostraram resultados
muito parecidos. O primeiro, conduzido por uma equipe da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, no Brasil, avaliou mais de 5 mil
indivíduos nascidos em 1993 na cidade de Pelotas. Aproximadamente 9%
deles foram diagnosticados como TDAH da infância – uma taxa bem
dentro da média. Doze por cento dos mais de 5 mil indivíduos
preencheram os critérios de TDAH quando adultos –
significativamente mais do que era esperado pelos pesquisadores –
mas havia superposição muito pequena entre os grupos. De fato,
somente 12,6% dos adultos com TDAH tinham sinais diagnosticados como
TDAH na infância.
O
segundo estudo, que avaliou 2.040 gêmeos nascidos na Inglaterra e no
País de Gales de 1994 a 1995, verificou que de 166 indivíduos que
preenchiam os critérios para TDAH do adulto, mais da metade (67,5%)
não tinham nenhum sintoma de TDAH na infância. Dos 247 indivíduos
que preenchiam os critérios para TDAH na infância, menos de 22%
retiveram tal diagnóstico como adultos.
Os
resultados desses dois estudos confirmam os achados de uma pesquisa
da Nova Zelândia, publicada em outubro de 2015, na qual foram
seguidos indivíduos desde o nascimento até a idade de 38 anos. Dos
pacientes que mostraram sinais de TDAH como adultos, naquele estudo,
um surpreendente índice de 90% não mostraram nenhum sinal do
transtorno na infância.
Os
resultados combinados desses dois estudos sugerem que a definição
mais amplamente aceita do TDAH (como um transtorno que se desenvolve
na infância e ocasionalmente se resolve com o crescimento do
paciente) pode estar precisando de uma revisão. Alguns especialistas
permanecem em dúvida, entretanto, e sugerem que os autores dos
estudos podem ter simplesmente ignorado os sintomas de TDAH na
infância nos casos em que ele aparentemente surgiu na idade adulta.
“Como
essas dúvidas sugerem que as pesquisas do Reino Unido, Brasil e Nova
Zelândia podem ter subestimado a persistência do TDAH e
superestimado a prevalência do TDAH de aparecimento no adulto, seria
um erro para os profissionais admitir que muitos adultos a eles
encaminhados com sintomas de TDAH não tiveram uma história de TDAH
na infância”, escreve Stephen Faraone, Ph.D., e Joseph Biederman,
M.D., em um editorial alertando a comunidade TDAH a interpretar os
dois mais recentes estudos como “um grão de sal”. Eles acham que
os resultados são “prematuros”.
Em
ambos os estudos, entretanto,os que tinham TDAH do adulto mostraram
níveis elevados de comportamento criminoso. Abuso de substâncias,
acidentes de tráfego e tentativas de suicídio. Essas preocupantes
correlações permaneceram mesmo após os autores terem ajustado a
análise para outros transtornos psiquiátricos – provando uma vez
mais que quer se desenvolva na infância ou na idade adulta, o TDAH
não tratado é um problema sério. Por Devon Frye. ADDitude.
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