quarta-feira, 21 de abril de 2021

 

O declínio cognitivo da idade não é inevitável? (Alzheimer, Demência, Parkinson)

Batya Swift Yasgur 20 de abril de 2021

Presume-se com frequência que o declínio cognitivo é parte inexorável do envelhecimento, mas um recente estudo com centenários sugere o oposto. Pesquisadores descobriram que, apesar de apresentarem neuropatologias relacionadas com a doença de Alzheimer, muitos centenários mantiveram altos níveis de desempenho cognitivo. "O declínio cognitivo não é inevitável", disse para o Medscape a autora sênior, Dra. Henne Holstege, Ph.D., professora assistente do Amsterdam Alzheimer Centre and Clinical Genetics no Amsterdam Universitair Medische Centar, na Holanda. "Aos 100 anos ou mais pode-se preservar um alto nível de desempenho cognitivo durante muitos anos, mesmo quando as pessoas são expostas a fatores de risco associados ao declínio cognitivo", disse a autora. O estudo foi publicado on-line em 15 de janeiro no periódico JAMA Network Open. Escapar do declínio cognitivo A Dra. Henne disse que seu interesse em pesquisar o envelhecimento e a saúde cognitiva foi inspirado pela "fascinante" história de Hendrikje van Andel Schipper, que morreu aos 115 anos de idade em 2015, "inteiramente sadia em termos cognitivos". Sua mãe, que morreu aos 100 anos, também teve a cognição preservada até o final de sua vida. "Eu queria saber como é possível que algumas pessoas possam escapar completamente de todos os aspectos do declínio cognitivo mesmo chegando a extremos de idades", disse a Dra. Henne. Para descobrir o segredo da saúde cognitiva dos anciãos mais longevos, a Dra. Henne iniciou o 100-Plus Study, feito com uma coorte de centenários plenos. Os pesquisadores fizeram uma grande bateria de testes neuropsicológicos e coletaram amostras de sangue e fezes para examinar "a miríade de fatores que influenciam a saúde física, como a genética, a neuropatologia, os marcadores séricos e o microbioma intestinal, a fim de explorar as constelações moleculares e neuropsicológicas associadas ao escape do declínio cognitivo". O objetivo da pesquisa foi investigar "até que ponto os centenários conseguiram preservar sua saúde cognitiva após a inclusão no estudo, e até que ponto isso estava associado a características genéticas, físicas ou neuropatológicas", disse a pesquisadora. O estudo contou com 330 centenários que completaram uma ou mais avaliações neuropsicológicas. Havia exames neuropatológicos disponíveis para 44 participantes. Para avaliar o desempenho cognitivo ao início do estudo, os pesquisadores fizeram vários testes neurocognitivos, bem como o miniexame do estado mental, a partir dos quais foram calculadas as médias de pontuação z para os domínios cognitivos. Outros fatores considerados na análise foram sexo, idade, estado do gene APOE, reserva cognitiva, saúde física e se os participantes eram autônomos. Na autópsia, foram avaliados os níveis de amiloide ß (Aß), os níveis de acúmulo intracelular da proteína tau fosforilada em emaranhados neurofibrilares e a quantidade de placas neuriticas. Resiliência e reserva cognitiva Ao início do estudo, a mediana de idade dos centenários (N = 330; 72,4% de mulheres) foi de 100,5 anos (intervalo interquartílico de 100,2 a 101,7). Pouco mais da metade (56,7%) vivia com autonomia e a maioria tinha boa visão (65,0%) e audição (56,4%). A maioria (78,8%) caminhava sozinha e 37,9% alcançaram o mais alto nível da International Standard Classification of Education do ensino superior. Os pesquisadores encontraram "graus variados de neuropatologia" nos cérebros de 44 doadores, como Aß, emaranhados neurofibrilares e placas neuríticas. O tempo de acompanhamento da análise das trajetórias cognitivas variou de 0 a 4 anos (mediana de 1,6 anos). As avaliações de todos os domínios cognitivos não apresentaram declínio, com exceção de uma "discreta" diminuição da função da memória (ß - 0,10 desvio padrão, DP, por ano; intervalo de confiança, IC, de 95% de - 0,14 a - 0,05 DP; P < 0,001).

O desempenho cognitivo foi associado a fatores da saúde física ou da reserva cognitiva, por exemplo, maior independência na realização das atividades da cotidianas, avaliados pelo índice de Barthel (ß 0,37 DP por ano; IC 95% de 0,24 a 0,49; P < 0,001) ou escolaridade de nível superior (ß 0,41 DP por ano; IC 95% de 0,29 a 0,53; P < 0,001). Apesar de terem sido encontrados os sinais neuropatológicos "oficiais" da doença de Alzheimer post-mortem nos cérebros dos centenários, estes sinais não comprometeram o desempenho cognitivo nem a velocidade do declínio cognitivo. Os alelos do gene APOE4 ou APOE3 também não foram significativamente associados ao desempenho ou ao declínio cognitivo, sugerindo que os "efeitos dos alelos do gene APOE ocorrem antes dos 100 anos de idade", observaram os autores. "Nossas observações sugerem que, após atingir os 100 anos de idade, o desempenho cognitivo permanece relativamente estável durante os anos subsequentes. Portanto, esses centenários podem ser resilientes ou resistentes a diferentes fatores de risco de declínio cognitivo", escreveram os autores. Os pesquisadores também levantaram a hipótese de a resiliência poder ser atribuível à existência de maior reserva cognitiva. "Nossos dados preliminares indicam que cerca de 60% da chance de chegar aos 100 anos de idade é hereditária, portanto, a fim de obter uma melhor compreensão de quais são os fatores genéticos associados à manutenção da saúde cognitiva, estamos buscando quais variantes genéticas ocorrem mais comumente nos centenários em relação às pessoas mais jovens", disse Dra. Henne. "É claro que é necessário realizar mais pesquisas para compreender melhor como estes elementos genéticos podem manter a saúde cerebral", acrescentou a autora. Divisor de águas Convidado pelo Medscape para comentar o estudo, o médico Dr.Thomas Perls, professor de medicina na Boston University School of Medicine, nos Estados Unidos, disse que o estudo é "um marco" na pesquisa da longevidade excepcional em seres humanos. O Dr. Thomas, que redigiu o editorial que acompanha o estudo e não participou da pesquisa, observou que "não se pode absolutamente presumir um certo nível de deficiência ou risco de doença somente porque uma pessoa chegou a um extremo de idade – na verdade, se for o caso, a sua capacidade de chegar a idades muito mais longevas provavelmente indica resistência ou resiliência aos problemas relacionados com o envelhecimento". Compreender o mecanismo da resiliência pode levar ao tratamento ou à prevenção da doença de Alzheimer, disse o editorialista. "As pessoas precisam ter cuidado com os mitos e as atitudes relacionados com o envelhecimento e não presumir que quanto mais você envelhece, mais doente fica, porque há muita gente mostrando que não é bem assim", advertiu o comentarista.

O estudo foi subsidiado pela Stichting Alzheimer Nederland e pela Stichting VUmc Fonds. A pesquisa do Amsterdam Universitair Medische Centar faz parte do programa de pesquisa de degeneração neural da Amsterdam Neuroscience. Dra. Henne Holstege e o Dr. Thomas Perls informaram não ter nenhum relacionamento financeiro relevante. Os conflitos de interesses dos outros autores estão descritos no artigo original. JAMA Netw Open.

Publicado on-line em 15 de janeiro de 2021. Texto completo, Editorial Siga o Medscape em português no Facebook, no Twitter e no YouTube Medscape Notícias Médicas © 2021 WebMD, LLC Citar este artigo: O declínio cognitivo da idade não é inevitável? - Medscape - 20 de abril de 2021.

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