sexta-feira, 14 de outubro de 2022

 

TDAH e Enxaquecas: A conexão esquecida com as dores de cabeça


Por Sarah Cheyette, M.D. - Atualizado em 23 de setembro de 2022.


Enxaquecas e TDAH são comorbidades – mas poucos médicos levam em conta a dor de cabeça (cefaleia) como uma conexão quando tratam os paciente com TDAH. Os estudos continuam a sondar a ligação subjacente entre as condições, mas os resultados mostram que os sintomas incapacitantes das enxaquecas podem agravar os sintomas do TDAH e que a evolução dos pacientes melhora quando os médicos evitam separar as duas entidades.


Embora poucos conectem as duas coisas, o transtorno de deficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e as enxaquecas podem estar ligados de modo importante. A pesquisa mostra que as pessoas com TDAH têm maior risco de sofrer de dores de cabeça (incluindo a migrânea, um tipo de dor de cabeça primária) quando comparadas às pessoas sem TDAH. Além disso, as dores de cabeça são mais comuns em outras manifestações psiquiátricas, muitas das quais ocorrem junto com o TDAH.


Embora as conexões subjacentes entre o TDAH e as dores de cabeça não estejam completamente entendidas, as dores de cabeça causam dor e estresse indevidos nos pacientes, conforme eles tentam lidar com os sintomas e desafios existentes no TDAH. Mais, a comunidade médica geralmente esquece ou ignora a associação, para a desgraça dos pacientes.

Quando os provedores de cuidados de saúde reconhecem que essas condições estão conectadas – e abordam o tratamento de modo holístico – a qualidade dos cuidados melhora e os pacientes se sentem melhor.


A conexão TDAH - Dor de Cabeça - Enxaqueca


Como o TDAH pode causar dores de cabeça


Crianças com TDAH pode sentir duas vezes mais dores de cabeça do que as crianças sem TDAH. Crianças com TDAH têm também maior risco de enxaqueca do que as crianças sem TDAH e a frequência das dores de cabeça da enxaqueca pode estar diretamente ligada ao risco de TDAH. O problema alcança a idade adulta, também.


Um estudo avalia que a enxaqueca ocorre junto com o TDAH em cerca de 35% em pacientes adultos. As dores de cabeça, incluindo as da enxaqueca, parecem ser desencadeadas pelo TDAH. Os pesquisadores pensam que as dores de cabeça podem estar biologicamente ligadas ao TDAH, e sua coocorrência se origina em parte dos mecanismos patofisiologicamente compartilhados, potencialmente relacionados à disfunção dopaminérgica.


O TDAH em si mesmo, especialmente se não tratado, afeta a qualidade de vida, o que pode criar ambientes e cenários estressantes que desencadeiam dores de cabeça. A seguir, alguns exemplos de como sintomas, desafios e outras características do TDAH podem levar a dores de cabeça:


. Dificuldades no gerenciamento do tempo e da autorregulação podem levar

a problemas para aderir ao ritmo vigília sono. Um padrão irregular de sono

é o maior fator por trás das dores de cabeça.


. A desorganização pode causar hábitos irregulares (má alimentação, pouca

hidratação etc.), que podem desencadear dores de cabeça e enxaquecas.


. O TDAH está ligado a maior risco de concussão e traumatismo de crânio,

que podem causar, também, dores de cabeça. Cefaleias pós-concussão

estão ligadas a problemas cognitivos e de concentração persistentes.


. Cefaleias (dores de cabeça) são efeito comum de medicamentos para o

TDAH. Perda de apetite e dificuldades de sono também são causas por trás

de cefaleias e são, também, comumente relatadas como efeitos colaterais

dos medicamentos.


. O TDAH frequentemente ocorre junto com ansiedade e transtornos do

humor, que são, também, ligados a cefaleias e enxaquecas. Além disso, as

cefaleias tendem a ser mais severas e mais demoradas quando coexistem

com a ansiedade.


. Problemas e transtornos do sono são altamente prevalentes no TDAH, e

também são ligados a cefaleias e migrâneas.


Migrâneas (enxaquecas) e Cefaleias podem agravar os sintomas de TDAH


Dores de cabeça criam obstáculos estressantes e adicionais aos pacientes com TDAH e, geralmente, pioram os sintomas e desafios existentes.


. As dores de cabeça da enxaqueca podem promover faltas à escola ou ao

trabalho, causando problemas com as dificuldades de gerenciamento do

tempo.


. Sonolência é um efeito colateral comum das medicações para cefaleia e

enxaqueca, o que pode prejudicar as funções executivas.


. Enxaquecas aumentam o risco de ansiedade e de transtornos do humor.


. Enxaquecas estão ligadas a baixa qualidade de sono.


TDAH e Cefaleias: Desafios e Diretrizes do Tratamento


Embora mais pesquisas sejam necessárias, as evidências ligam claramente o TDAH e suas comorbidades às cefaleias, incluindo a enxaqueca. Ainda, os médicos frequentemente não foram treinados para considerar a conexão, quando vão tratar os pacientes. O resultado é um cuidado incompleto e inadequado do paciente.


Um paciente com TDAH não diagnosticado e dores de cabeça debilitantes, por exemplo, provavelmente será encaminhado a um neurologista, muitos dos quais não são especializados em TDAH e podem não levar em conta sua conexão com as cefaleias. De modo semelhante, um clínico que trate de TDAH pode não se sentir confortável para tratar de cefaleias, ou mesmo para identificar condições concomitantes, ou outros fatores de complicação.


Conclusão: O melhor cuidado para um paciente virá quando um clínico for capaz de considerar cuidadosamente e manejar todas as comorbidades entre o TDAH e as cefaleias e enxaquecas.


Alívio da Cefaleia e Migrânea com TDAH: Abordagens e Tratamentos Recomendados


. Comece com a condição que veio primeiro.

Se um paciente, com uma longa (mas possivelmente não reconhecida)

história de TDAH, se apresenta com cefaleias, considere tratar primeiro o

TDAH. Se o TDAH não foi tratado adequadamente, é possível que novas

circunstâncias de vida estejam agravando o estresse dele e, assim,

desencadeando as cefaleias. Se há uma longa história de cefaleias e/ou

enxaquecas, e uma repentina agravação ou início de sintomas de TDAH,

considere que o primeiro possa estar piorando o segundo. Em pacientes

com TDAH, pergunte sobre a história familiar de dores de cabeça e

enxaquecas. Em pacientes com dores de cabeça ou enxaquecas, pergunte

sobre TDAH. Isso pode lhe dar uma pista sobre qual o risco biológico do

paciente.


. Determine o que precede as dores de cabeça.

Pergunte aos pacientes sobre o que desencadeia e os padrões das dores

de cabeça, incluindo a frequência, duração e em qual grau interfere com o

desempenho normal. Rotinas e hábitos de vida inconsistentes, por exemplo,

podem desencadear dores de cabeça e enxaquecas. Pergunte aos que

vivem com o paciente, como eles sentem o problema. (O paciente nem

sempre pinta um quadro objetivo.) Alguns gatilhos para as cefaleias, tais

como falta de dormir, ansiedade ou depressão, podem, também,

potencialmente afetar o TDAH.


. Leve em conta os efeitos da medicação.

Tratar o TDAH e, assim, diminuir as complicações que levam a dores de

cabeça, pode ser uma maneira eficaz de reduzir as cefaleias em algumas

pessoas. Entretanto, as medicações podem causar efeitos colaterais (tais

como a sonolência de algumas medicações para cefaleia, ou a falta de

apetite de algumas medicações para TDAH) que podem piorar a outra

condição. Veja quais foram as outras medicações que o paciente já utilizou

e procure por efeitos colaterais. Trocar as formulações e as dosagens, por

exemplo, pode reduzir as cefaleias.


. Procure por outras condições que podem causar cefaleias ou desencadear

migrâneas, tais como transtornos do humor ou transtornos do sono.


. Aconselhe hábitos e estilos de vida saudáveis.

Informe ao paciente sobre a importância de um sono correto, da nutrição e

hidratação, e dos exercícios na redução das cefaleias e enxaquecas e na

melhora de todo o funcionamento do organismo. Faça uma abordagem

individualizada; certos alimentos podem desencadear enxaquecas e alguns

pacientes podem ser beneficiados por exercícios de baixo impacto. Peça

para o paciente fazer um diário de suas dores de cabeça, para ajudar a

entender o que as desencadeia.


. Estimule os pacientes a adotarem técnicas de gerenciamento do estresse e

outras abordagens cognitivo comportamentais. O estresse é um dos mais

comuns desencadeadores de muitos tipos de dor de cabeça. Aprender a

lidar com o estresse, por meio de meditação, relaxamento muscular

progressivo e outras estratégias, pode aliviar a dor e ajudar os pacientes a

lidar antecipadamente e durante as dores de

cabeça.



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