Por Pernille Ripp
Nenhum professor começa a carreira com más intenções. Mesmo
assim, alguns de nós fazemos nosso maior erro justamente no primeiro dia da
escola. Comigo não foi diferente, nove anos atrás. Escolhi fazer tudo do jeito
como me foi ensinado na faculdade - o jeito que o famoso livro de conselhos
para os novos professores dizia que deveria ser.
Claro, eu ri com os alunos e falei bastante sobre nossa
"comunidade em classe". Porém, conforme transcorria a importante
primeira semana de escola, eu fui ditar regras, estabelecendo quem estava no
controle, e estabelecendo os limites para o ano.
Como resultado, perdi a oportunidade de criar o tipo de
relacionamento com meus alunos que leva não somente à motivação e engajamento,
mas à verdadeira apropriação do aprendizado e, por consequência, ao maior
sucesso. Nessa época eu não percebi a perda - demorou vários anos, de fato. Se
você é um professor novato, prestes a começar sua carreira, talvez as lições
que eu aprendi possam ajudá-lo a evitar as armadilhas de uma falsa relação com
seus alunos.
O Fazedor de Regras a Postos
No meu primeiro dia de trabalho como professor (logo em
seguida às instruções no dia anterior), fiquei sorrindo na porta da minha sala,
apertando a mão de cada um dos alunos do quarto grau que entravam em minha
classe. Estava ansiosa para começar nossa primeira conversa: "Como
Entramos na Sala de Aula". Conforme os alunos tomavam seus lugares, pedi
sua atenção e comecei a explicar a eles exatamente como eu queria que eles
entrassem na sala. Disse a eles o que precisavam trazer e quais as
consequências por virem despreparados.
Então, passei para a segunda conversa mais importante:
Minhas regras e as consequências por quebrá-las. Aqui eu me baseei em um
auxiliar para o professor novato, "The First Six Weeks of School" (Os
primeiros seis dias de escola), de Paula Denton e Roxann Kriete. Os autores
propunham a atraente ideia de fazer parecer que seus alunos estivessem vindo com suas próprias regras e
procedimentos em classe, facilitando assim a aceitação conforme você os levasse
à inevitável conclusão. De fato, eu já tinha as regras em um cartaz:
"Respeitem um ao outro, cuide de si mesmo, e tome conta de suas coisas".
Minha intenção era nobre. Queria que meus alunos sentissem
que fossem parte do manejamento da classe. Mas eu estava criando uma falsa
noção. Eu não tinha nenhuma intenção de deixar que eles estabelecessem as
regras. Eu sabia, por todo o meu treinamento e leitura, que meu trabalho número
um era ser o líder desse espaço de aprendizagem. E os líderes fazem as regras.
Oportunidades Perdidas
O resto daquela primeira semana de escola foi um verdadeiro
caos. A maioria dos professores (veteranos e novatos) estava confusa pelo final
da primeira semana, abatidos pela ansiedade de iniciar o curriculum, mas também
ocupados em descobrir quem eram seus
alunos e como guiá-los ao longo do ano.
Eu estava maravilhada pela gentileza que meus alunos
demonstraram para mim, mas também muito agarrada aos comandos de direção de
todo o nosso aprendizado. Não era a hora de parecer muito fraco ou muito
amigável. Estabeleci numerosas atividades para quebrar o gelo, e pensei que
tínhamos nos conhecido bem uns aos outros. De fato, eu sabia muito pouco a
respeito de cada aluno, definitivamente nada que pudesse me guiar em meu
ensino. Achava que aquelas coisas viriam mais tarde (e algumas vieram), mas em
realidade eu tinha perdido completamente a maior oportunidade que teria para
verdadeiramente conhecer meus alunos.
Em essência, eu tinha medo de que se não tivesse firmado
minha autoridade desde o primeiro dia de aula, o resto do ano ficaria fora de
controle. Fui durona - naquele ano e nos vários anos em seguida. Fomos bem. Eu
achava. Meus alunos aprendiam. Mas eu não podia perceber o quanto de potencial
foi desperdiçado sob a minha mão de ferro.
Devolvendo a Classe
Como fui ensinada a pensar em como organizar a primeira
semana de escola para firmar minha autoridade e controle, foi difícil deixar
aquelas noções de lado. Foi uma jornada que eu descrevi em um livro que foi
publicado no ano passado, "The Passionate Learner: Giving Our Classrooms
Back to Our Students Starting Today" (O Aprendiz Zeloso: Devolvendo Nossas
Classes aos Nossos Alunos Iniciantes).
Deixem-me somente dizer aqui que eu agora sei que o que fazemos
na primeira semana de aulas para sermos ouvidos, para nos comunicarmos e para
compartilhar o genuíno interesse uns com os outros, estabelece o tom para o
resto do ano de modo mais consciente do que qualquer lista de regras ou
expectativas conseguirão.
Se você vier em minha sala agora, no primeiro dia de aula,
verá uma abordagem muito diferente - mais suave, calma e mais de acordo com o
que entendo ser o que meus alunos realmente precisam: respeito e um lugar seu.
Agora, no início de cada ano escolar, eu relembro a mim
mesmo para me segurar - para não por muita pressão com as regras de
comportamento e de procedimentos dos gurus. Sei, agora, por experiência, que se
eu tomar meu tempo com meus alunos, o investimento se pagará pelo ano todo.
No primeiro dia, todos os anos, lembro-me do seguinte:
- Somos todos desconhecidos uns e outros
- Estamos cimentando nossas rotinas
- Estamos descobrindo nossas regras
- O currículo não significará nada se não ficarmos
entusiasmados com ele
- Desfrutamos nossa liberdade
- Temos de construir a confiança
Fora Com o Que é Velho
Então, na prática, quando um professor tenta usar esses princípios intuitivos, o que fica
parecendo? Bem, primeiro deixem-me dizer o que não fica parecendo. Vai aqui
algumas práticas de início de aulas contra as quais eu previno:
Não
escreva suas regras antecipadamente. Nada diz "Esta é minha classe" como uma placa enorme
com suas regras, pendurada na parede por anos seguidos.
Não
gaste dias escrevendo a constituição da classe.Como
lição de estudos sociais, penso que isso pode ser um projeto maravilhoso. Mas
não é o modo de formar a comunidade de classe. Pense nisso com os olhos de uma
criança - dias sendo gastos na discussão de regras para o resto do ano e,
então, tentar segui-las, umas vinte ou mais regras, por esse tempo. Que modo
"chato" de começar juntos o ano escolar.
Não
"estabeleça fronteiras precisas" e dê nomes a elas. Eu fui
um mestre em rótulos, certificando-me de fazer os alunos saberem exatamente
quando tinham invadido meu território, quer
fosse minha mesa, meus armários ou meus lápis. Com os nomes vêm as restrições,
e as salas de aula já têm restrições suficientes; não precisamos acrescentar
mais nenhuma.
Não
invista muito tempo em quebrar o gelo. Nunca fiz um relacionamento por
meio de atividade para quebrar o gelo, lamento. Em vez disso, invista em algo
com significado para a comunidade, como um mapa de conexões, ou um passeio da
classe planejado pelos estudantes, ou qualquer coisa em que os alunos possam
trabalhar como um desafio par a equipe. Se eles puderem prestar atenção em uma
tarefa, em vez do ato de conexão, a construção da comunidade se iniciará
naturalmente.
Não
anuncie que "agora vamos construir uma comunidade. "
Gosto de estabelecer metas, e estabelecemos várias durante o ano, mas esta meta
é melhor deixar não exposta. É como dizer às pessoas que você está tentando
tornar-se seu amigo; o hiperfoco tende a fazer as coisas ficarem esquisitas e
desconfortáveis. Em vez disso, diga aos alunos que você está contente em ser
sua professora e, então, façam juntos alguma coisa que você sabe que realmente
constrói a comunidade.
Não
tenha um milhão de coisas planejadas. Algumas vezes, o melhor início
de uma comunidade vem justamente do fato de gastar um tempo juntos, com calma.
Quando você planeja muita coisa ou tem de fazer muitas coisas, não sobra tempo
para simplesmente conhecer um ao outro, assim, seja seletiva com o que você vai
usar seu tempo.
Um Novo Começo
Então, se você não está fazendo essas coisas, o que fará no
seu primeiro dia de escola? A seguir, alguns conselhos para estimular uma
comunidade criativa e engajada:
Seja
você mesmo. Os alunos podem perceber qualquer hipocrisia e
uma tal atitude é difícil de ser mantida por mais do que alguns dias. Assim, se
você acha que tem a personalidade de um comediante, ou de um perfeccionista, ou
de um panaca, como eu, deixe sua personalidade brilhar.
Compartilhe
sua vida. Geralmente começo meu ano com um vídeo ou dois dos meus
filhos ou com uma história divertida sobre um deles. Nada planejado ou longo,
somente uma rápida história. Os alunos ficam sabendo de mim e de minha família,
e contam suas histórias, também.
Ria
bastante. Adoro sorrir, e acho que as crianças são muito engraçadas.
Dê-lhes uma chance de falar de modo divertido.
Comece
por decorar a sala de aula. Digo sempre que "esta é NOSSA sala de
aula", de modo que os alunos podem fazer suas escolhas para a decoração,
assim como o arranjo do mobiliário.
Comece
educando. Sei que disse que é para "pegar leve" com o currículo
na primeira semana, mas comece alguma
coisa desde o início. Os alunos estão prontos para aprender porque não podem
esperar para ver como serão as coisas nesse novo grau.
Decidam
juntos sobre as expectativas. Gaste algum tempo fazendo os
alunos discutirem o que esperam desse novo ano e, então, faça com que eles
discutam o que isso significa para o seu ambiente de aprendizagem.
Dê um
tempo. Uma grande comunidade não surge logo no primeiro dia de
aula, mas você precisa planejar quais serão as primeiras sementes nesse dia.
Assim, faça isso e cultive isso, e dê um tempo, necessário para que as sementes
cresçam altas e fortes.
Ao final, a primeira semana, o primeiro dia, o primeiro
momento de escola, carrega um peso maior do que pensamos. Sabemos que a
primeira impressão tende a ser permanente. Não é impossível mudá-la mas, por que
não começar direito? Informe os alunos de que essa é sala deles, de que esse é
o ano deles, e aponte o caminho de aprendizagem que eles querem trilhar. Faça
com que saibam que eles são importantes, que a palavra deles vale, e que esse
ano é importante.
Eles descobrirão que esse ano, em sua classe, as coisas
poderão ser um pouco diferentes do que estão acostumados que sejam. E serão
muito melhores.
Pernille
Ripp é uma professora do quinto grau em Middleton, Wisconsin, cofundadora de
EdCampMadWI, e criadora de Global Read Aloud Project. Siga-a em Blogging Through the
Fourth Dimension e no Twitter @pernillerip. Seu primeiro livro, Passionate
Learners: Giving Our Classrooms Back to Our Students Starting Today, será publicado neste
outono por Powerful Learning Press.
Publicado em edweek.org