segunda-feira, 25 de julho de 2011

118- É TDAH ou envelhecimento? (Is it ADHD or Aging?)

Por Linda Roggli
Foi a história das luvas de lã dela que me convenceu que minha velha mãe, de 85 anos, tinha TDAH não diagnosticado.
“Quando eu estava no colegial, queria fazer um suéter”, minha mãe me contou. “Então a tia Laura comprou uns lindos novelos de lã cor de rosa, com a condição de que eu tricotasse o suéter. Quando eu saí de casa para estudar na faculdade, ainda estava tricotando as luvas. O suéter e o resto dos novelos ficaram na cesta de vime por nove anos, até que eu engravidei de você. Eu provavelmente deveria ter feito um par de sapatinhos de lã, mas desmanchei o suéter e fiz um par de luvas para mim mesmo. Afinal, eu não mais precisava terminar o suéter!”
Ajuda para os idosos
Um psiquiatra reconheceria num instante os sintomas do TDAH de procrastinação, falta de continuidade e falta de gerenciamento. Porém, os critérios atuais de diagnóstico requerem que todos os sintomas estejam presentes antes dos sete anos de idade. Não tenho certeza de que minha mãe possa lembrar-se o suficiente da sua infância para poder ser diagnosticada. E não tenho certeza de que os médicos dela estão considerando a possibilidade de TDAH diante de problemas médicos mais urgentes: diabetes, colesterol alto, artrite, depressão crônica. Quanto mais ela vive, mais cresce a lista dos seus problemas.
Mesmo que pudéssemos por de lado os seus problemas médicos, é difícil definir se o seu esquecimento e desatenção são TDAH ou parte do “processo normal de envelhecimento”. (Detesto esta frase. Parece inevitável, como se a nossa cognição fosse determinada pela longevidade.)
O TDAH dela foi ignorado por todos esses anos? E se ela fosse diagnosticada agora, quais opções de tratamento haveria?
A resposta curta é que não há respostas. Há somente um estudo na literatura médica sobre o tratamento do TDAH na velhice. Foi publicado em 2008 e mostrou que o metilfenidato (Ritalina e Concerta) foi eficaz no tratamento de uma senhora de 67 anos. Uma mulher. Só isso.
Minha psiquiatra descreve a pesquisa em adultos idosos como “patética”, e eu concordo. Ela disse que os estudos e pesquisas excluem os sujeitos mais velhos do que 45 anos porque, como a minha mãe, eles não devem ter histórias da infância para suportar o diagnóstico de TDAH.
Pior, as opções de tratamento se estreitam significativamente na população  TDAH idosa. (Há uma população TDAH idosa? – ainda não sabemos.) Por exemplo, tome o exercício. Os estudos mostram que ele melhora significativamente os sintomas na criança e nos adultos. Mas minha mãe tem os joelhos tão doloridos, e o seu equilíbrio é tão difícil, que ela não pode fazer os exercícios aeróbicos que poderiam trazer os benefícios.
Tenho certeza de que os estimulantes ajudariam minha mãe; o médico dela prescreveu remédio para emagrecimento (anfetaminas) em 1970, e ela foi capaz de limpar a casa, de cima embaixo! Mas os estimulantes podem provocar ou piorar a pressão alta e os problemas cardíacos. E a Atomoxetina, um não estimulante, pode aumentar o risco de glaucoma.
O treinamento da memória de trabalho é eficiente para o TDAH e para as dificuldades de aprendizagem, e é promissor para as demências leves. Mas quase todos os treinamentos de memória são baseados no computador; muitos adultos acima dos 70 anos de idade não sabem lidar com computador, e muitos não têm acesso a um computador.
Abraçando uma nova causa
Estou frustrada porque não posso ajudar minha mãe, e não estou sozinha. Recentemente, recebi um e-mail de uma mulher com TDAH, que estava desesperada para encontrar auxílio para sua mãe de 80 anos, que exibia grave prejuízo das funções executivas. “Ela evita tomar decisões e fica satisfeita em  sentar-se na cama o dia todo e ser atendida”, disse sua filha. “Não sei o que fazer.”
A solução temporária, eu penso, é estabelecer estruturas para nossos parentes que estão envelhecendo, como eles fizeram por nós quando éramos crianças. Limpei e organizei o closet de minha mãe, de modo a que ela tenha menos roupas para lidar. Arrumei reposição automática das medicações receitadas. Comprei um timer barulhento para que ela vá ao banheiro a cada par de horas. Falei com seu médico para mudar o antidepressivo por um que melhorasse especificamente a sua dopamina.
Em seu benefício (e no meu, como a ligação genética do TDAH é um fato), assumi uma nova causa: advogar para a pesquisa do TDAH no idoso. Talvez um dia estaremos aptos a responder à pergunta: É TDAH, ou é a idade?
ADDitude – 2011 número de primavera (spring issue)

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