Por Rick
Hodges, escritor e professor em Arlington, Virgínia, USA.
Rick Hodges
é um adulto com TDAH que rejeita os rótulos associados com seu diagnóstico.
"Saber sobre
o meu diagnóstico me ajudou a entender de que planeta eu sou. Agora me aplico
em melhor comunicação com os terráqueos."
Sou um gênio
mal compreendido. Ou é assim que penso. Às vezes é necessária alguma
superioridade para superar os dias em que não vejo estar fazendo qualquer
progresso ou em que me sinto um fracasso. Não sou o que tem o transtorno, digo
para mim mesmo. Meu cérebro trabalha melhor do que a média. Se os outros não
podem ver isso, é problema deles.
É um jeito
egoísta de pensar, certamente e, embora me faça sentir-me melhor, não me ajuda
a fazer meu trabalho. Mas isso está longe do alvo? Afinal, os dois lugares em
que você vai ter mais chance de encontrar adultos com déficit de atenção (TDAH)
são as posições mais altas de liderança – empresários visionários, artistas
brilhantes, comediantes famosos – e os sofás da nação, desempregados e
desencorajados. O TDAH pode ser uma enorme vantagem se a situação for a certa. Infelizmente,
o mundo está cheio de situações erradas.
Tentei
evitar muitas dessas situações na maior parte de minha vida, sem saber direito
como. Entretanto, foi uma situação muito equivocada – um empregador fez
mudanças repentinas e radicais em meu emprego, somando tarefas administrativas
e muitas minúcias – o que me levou ao diagnóstico de TDAH, tipo desatento, com
a idade de 36 anos. Fiquei espantado (isso não é só coisa de crianças
hiperativas?), mas quando li a lista de sintomas, dei uma risada enorme e
gritei com os outros. Eu podia ter escrito essa lista.
Meu
diagnóstico ajudou-me a encontrar a melhor situação de trabalho – sou o meu
próprio patrão, agora – mas também renovou minha luta para achar meu lugar no
mundo. Sempre senti que vivia num universo um pouco diferente do das outras
pessoas, meu pequeno planeta girando num eixo um pouco mais inclinado do que o
da Terra. Saber do meu TDAH me ajudou a entender de que planeta eu sou. Agora,
trabalho na melhor comunicação com os terráqueos.
Aprendi a
ter uma segunda opinião sobre minhas percepções, a parar e pensar sobre se ouvi
tudo o que alguém me disse e se percebi isso da maneira como era para ser.
Aprendi a ler as instruções duas vezes, a me conter antes de falar algo que
estrague uma conversa, a fazer perguntas em vez de deixar meu cérebro preencher
automaticamente os brancos. Num restaurante barulhento, eu fixo meus olhos nos
lábios da minha companhia e tento captar cada palavra em vez de ouvir as
pessoas da mesa ao lado (quando eu digo, “não consigo te ouvir”, quero dizer
que realmente não consigo mesmo).
Também estou
descobrindo como gostar de viver no meu planeta natal e a ter algum orgulho
disso. Aprendi que as pessoas com TDAH têm enorme poder de observação. Isto é
parte do nosso problema – estamos observando tudo a nossa volta em vez do que
está na nossa frente. Mas ao fazer isso, vemos coisas que os outros não veem. Num
passeio pela natureza, sou o primeiro que escuta o chamado do pica-pau, ou que
nota o fungo estranho e diminuto, ou que descobre o urso no meio do mato
enquanto as outras pessoas passam ao largo.
Há mais
coisas do que observar a simples realidade. Muitas pessoas com TDAH podem
descobrir uma beleza não aparente e um valor nas coisas comuns. Geralmente nos
descrevemos como “sempre entediados”, mas não acho que o tédio seja tanto
quanto as altas expectativas por toda coisa pequena num mundo explodindo de
coisas fascinantes.
Agora tenho
a coragem de apreciar e de usar outras habilidades, também, como a habilidade
de ver o quadro geral e de fazer as coisas do meio próprio jeito – o que
usualmente significa surtos produtivos entre longos períodos de paradeira.
Tenho mais confiança a respeito de trabalhar de modo independente, fazendo o
que sei fazer melhor, e construindo minha própria carreira em vez de copiar a
de outra pessoa. Atualmente sou um escritor freelance, assessor e professor
substituto – e eu apenas comecei.
O controle
de nossa condição ainda está a caminho. Os médicos primeiro a denominaram “Defeito
Mórbido do Controle Moral” (às vezes isso se aplica a mim). Por uns tempos os
pesquisadores pensaram que era uma lesão cerebral e a chamaram de “Disfunção
Cerebral Mínima”. TDA tornou-se o nome oficial em 1980, mudando para TDAH em
1994. Mas eu não acho que o processo já tenha terminado. Novas pesquisas estão
descobrindo ligações com outras condições, tais como o autismo, e ampliando o
entendimento do que causa o TDAH e o que ele é. Conforme os pesquisadores
começam a reunir toda a gama de dons que o TDAH traz, penso que eles vão
procurar outro rótulo, novamente.
Posso
sugerir “Gênio Mal Compreendido”?
Este artigo
apareceu no número de Junho/Julho de 2004, de ADDitude.
Nota do Dr
Menegucci: Infelizmente, não é essa a opinião de uma das maiores autoridades no
assunto, Dr. Russel Barkley, que diz “O TDAH não é nenhum dom, é uma sina”. O
seu livro TDAH no Adulto, fruto de sua experiência ao longo de 30 anos,
apresenta os dados numéricos que provam sua assertiva.
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