sábado, 10 de março de 2012

192- TDAH – Eu não sou o meu diagnóstico

Conforme os médicos aprendem mais sobre o TDAH, eles provavelmente nos aplicarão mais rótulos. Minha sugestão: “gênio mal compreendido”.

Por Rick Hodges, escritor e professor em Arlington, Virgínia, USA.

Rick Hodges é um adulto com TDAH que rejeita os rótulos associados com seu diagnóstico.

"Saber sobre o meu diagnóstico me ajudou a entender de que planeta eu sou. Agora me aplico em melhor comunicação com os terráqueos."

Sou um gênio mal compreendido. Ou é assim que penso. Às vezes é necessária alguma superioridade para superar os dias em que não vejo estar fazendo qualquer progresso ou em que me sinto um fracasso. Não sou o que tem o transtorno, digo para mim mesmo. Meu cérebro trabalha melhor do que a média. Se os outros não podem ver isso, é problema deles.

É um jeito egoísta de pensar, certamente e, embora me faça sentir-me melhor, não me ajuda a fazer meu trabalho. Mas isso está longe do alvo? Afinal, os dois lugares em que você vai ter mais chance de encontrar adultos com déficit de atenção (TDAH) são as posições mais altas de liderança – empresários visionários, artistas brilhantes, comediantes famosos – e os sofás da nação, desempregados e desencorajados. O TDAH pode ser uma enorme vantagem se a situação for a certa. Infelizmente, o mundo está cheio de situações erradas.

Tentei evitar muitas dessas situações na maior parte de minha vida, sem saber direito como. Entretanto, foi uma situação muito equivocada – um empregador fez mudanças repentinas e radicais em meu emprego, somando tarefas administrativas e muitas minúcias – o que me levou ao diagnóstico de TDAH, tipo desatento, com a idade de 36 anos. Fiquei espantado (isso não é só coisa de crianças hiperativas?), mas quando li a lista de sintomas, dei uma risada enorme e gritei com os outros. Eu podia ter escrito essa lista.

Meu diagnóstico ajudou-me a encontrar a melhor situação de trabalho – sou o meu próprio patrão, agora – mas também renovou minha luta para achar meu lugar no mundo. Sempre senti que vivia num universo um pouco diferente do das outras pessoas, meu pequeno planeta girando num eixo um pouco mais inclinado do que o da Terra. Saber do meu TDAH me ajudou a entender de que planeta eu sou. Agora, trabalho na melhor comunicação com os terráqueos.

Aprendi a ter uma segunda opinião sobre minhas percepções, a parar e pensar sobre se ouvi tudo o que alguém me disse e se percebi isso da maneira como era para ser. Aprendi a ler as instruções duas vezes, a me conter antes de falar algo que estrague uma conversa, a fazer perguntas em vez de deixar meu cérebro preencher automaticamente os brancos. Num restaurante barulhento, eu fixo meus olhos nos lábios da minha companhia e tento captar cada palavra em vez de ouvir as pessoas da mesa ao lado (quando eu digo, “não consigo te ouvir”, quero dizer que realmente não consigo mesmo).

Também estou descobrindo como gostar de viver no meu planeta natal e a ter algum orgulho disso. Aprendi que as pessoas com TDAH têm enorme poder de observação. Isto é parte do nosso problema – estamos observando tudo a nossa volta em vez do que está na nossa frente. Mas ao fazer isso, vemos coisas que os outros não veem. Num passeio pela natureza, sou o primeiro que escuta o chamado do pica-pau, ou que nota o fungo estranho e diminuto, ou que descobre o urso no meio do mato enquanto as outras pessoas passam ao largo.

Há mais coisas do que observar a simples realidade. Muitas pessoas com TDAH podem descobrir uma beleza não aparente e um valor nas coisas comuns. Geralmente nos descrevemos como “sempre entediados”, mas não acho que o tédio seja tanto quanto as altas expectativas por toda coisa pequena num mundo explodindo de coisas fascinantes.

Agora tenho a coragem de apreciar e de usar outras habilidades, também, como a habilidade de ver o quadro geral e de fazer as coisas do meio próprio jeito – o que usualmente significa surtos produtivos entre longos períodos de paradeira. Tenho mais confiança a respeito de trabalhar de modo independente, fazendo o que sei fazer melhor, e construindo minha própria carreira em vez de copiar a de outra pessoa. Atualmente sou um escritor freelance, assessor e professor substituto – e eu apenas comecei.

O controle de nossa condição ainda está a caminho. Os médicos primeiro a denominaram “Defeito Mórbido do Controle Moral” (às vezes isso se aplica a mim). Por uns tempos os pesquisadores pensaram que era uma lesão cerebral e a chamaram de “Disfunção Cerebral Mínima”. TDA tornou-se o nome oficial em 1980, mudando para TDAH em 1994. Mas eu não acho que o processo já tenha terminado. Novas pesquisas estão descobrindo ligações com outras condições, tais como o autismo, e ampliando o entendimento do que causa o TDAH e o que ele é. Conforme os pesquisadores começam a reunir toda a gama de dons que o TDAH traz, penso que eles vão procurar outro rótulo, novamente.

Posso sugerir “Gênio Mal Compreendido”?

Este artigo apareceu no número de Junho/Julho de 2004, de ADDitude.

Nota do Dr Menegucci: Infelizmente, não é essa a opinião de uma das maiores autoridades no assunto, Dr. Russel Barkley, que diz “O TDAH não é nenhum dom, é uma sina”. O seu livro TDAH no Adulto, fruto de sua experiência ao longo de 30 anos, apresenta os dados numéricos que provam sua assertiva.

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