Quando criança, com dislexia, fui repreendido por mexer muito com as mãos. Agora, minha inquietação é o segredo do meu sucesso.
Por Jonathan
Mooney
Fui um
daqueles meninos, desde o primeiro ano. Os professores sabiam disso e os meus
colegas de classe também: Jonathan Mooney era meio louco. Como um daqueles
meninos, fiz amizade com o coordenador, a única visita à minha mesa no corredor.
E eu era muito amigo da Shirley, a recepcionista na sala do diretor.
Não que eu
fosse totalmente maluco ou fora de controle. Mas eu sentia que eu era mau,
quase moralmente defeituoso. Este sentimento corroeu meu senso de caráter como
ácido de bateria. De fato, ele arruinou meu caráter. Conforme eu crescia, e via
meus anos escolares em perspectiva, a definição estreita de como os escolares
supostamente deveriam se comportar me tornava furioso.
O que os
bons meninos fazem na mesa da escola? Têm compaixão pelos outros alunos? Não.
São gentis com os outros? Não. Eles ficam sentados quietos! É inacreditável
isto, aos sete anos de idade, aprendemos que “bom” não significa ser gentil,
mas ser obediente. Isto é socialização, não educação.
Eu não
conseguia ficar sentado quieto.
A ideia de
que bons meninos se sentam quietos não combinava bem comigo. Quando eu me
sentava à mesa na escola – no primeiro ano e na Brown University – minhas mãos
começavam a suar e meu rosto ficava vermelho. Depois de cinco segundos, meus
pés começavam a bater; depois de 15 segundos, eu tocava os tambores. E depois
de cinco minutos, tudo tinha acabado. Eu era o menino que havia tentado por sua
perna atrás do pescoço. Mesmo agora, quando eu me sento à minha mesa de jantar
num restaurante de Nova Iorque, sou aquele menino novamente.
Algumas das
minhas piores memórias são da mesa de jantar, quando meu pai gritava “Jon,
pare, pare, Jon o que tem de errado com você?” Ele me ensinou que a
movimentação era algo vergonhoso. A mesma coisa acontecia na sala de aula. Minha
professora do segundo ano, Senhora C., fazia a classe parar, apontava para mim,
e dizia, “Jon, o que tem de errado com você?” Naquele instante, o mito de que
bons meninos sentam-se quietos – e que meninos maus não – marcou-me com o
rótulo de menino com um problema.
As pesquisas
sugerem que muitas crianças se mexem porque isso as ajuda a prestar atenção –
não porque são más ou querem fazer os professores e os pais ficarem bravos.
Pondo o jargão de lado: Se eu não me mexo, meu cérebro desliga. Gastei parte do
terceiro ano em cima de uma árvore observando os esquilos construindo um ninho.
Para mim, movimento era um auxiliar do aprendizado.
Outro mito
diz que o contato visual significa que você está prestando atenção. Todos nós sabemos
que é uma mentira descarada. Quantas vezes você já esteve em uma reunião
encarando o seu chefe, e não escutando o que ele está falando? Por que eu tenho
de olhar para alguém para entender o que ele está falando? Se a Sra. C. tivesse
alguma vez parado para me perguntar o que ela estava falando, eu poderia
responder palavra por palavra – mais as cinco coisas que ela disse antes, mais
o que Bobby e Janie estavam fazendo à minha esquerda, mais descrever a mancha
no carpete à direita, mais dizer a minha opinião sobre a horrível roupa amarela
que uma menina no fundo da sala estava usando.
TDAH não é
uma deficiência. Eu presto atenção a muitas coisas. Fora dos limites da sala de
aula, minha inquietação e minha atenção a detalhes são uma benção. Viajei por
todo o país, publiquei dois livros e formei uma família. Os que foram
diagnosticados com TDAH devem celebrar isso. A dádiva tem os seus desafios – e não temos de rodear
esses desafios – mas não é uma patologia. Este é um pensamento poderoso para uma
criança que sente que o TDAH a faz ser de segunda classe, ou pior.
Na minha
escola fundamental, toda a classe recebeu uma clara mensagem: Pare de ser você
mesmo ou saia da classe. Muitas crianças aprendem essa lição e saem da escola
para sempre. Você não pode mudar o que você é, e você não deve ser solicitado a
fazer isso.
Meus
advogados me encontraram
Meus
advogados me salvaram. Eu não sabia onde procurar por eles, ou mesmo se eu
precisava deles. Por sorte, eles vieram a mim. Primeiro, minha mãe lutou diariamente
para construir minha confiança e celebrar meu sucesso – e, acreditem, essas
vitórias não tiveram nada a ver com os testes de soletração ou com o sentar
quieto. Ela estimulava a marcação dos pontos importantes em casa e na escola, e
ficava sempre me defendendo quando os professores e os administradores
escolares implicavam que eu era um menino mau.
Mas, meus
professores não eram todos como a Sra. C. Vários deles reconheciam minhas
habilidades e criavam ambientes nos quais eu pudesse me realizar. Isso fez toda
a diferença. Um professor do terceiro ano, Sr. R., tornou válido meu real
desgosto com as experiências escolares prévias. Sua abordagem honesta sobre o
que realmente importava – minha educação – permitiu que ambos focalizássemos no
meu aprendizado em vez de impor a ideia da instituição sobre o “bem”.
Mais
importante, minha mãe e o Sr. R. me ensinaram que eu podia decidir sobre minha
educação. Eles me abordaram como uma pessoa, e me ensinaram as habilidades
fundamentais e a confiança de que eu precisava para começar a advogar para mim
mesmo. Eles me ajudaram a entender os benefícios das acomodações acadêmicas e a
saber que eu podia desempenhar um papel importante no meu próprio sucesso.
Foi uma
longa e dura jornada para chegar onde hoje estou, mas estou aqui – duas vezes
publicado, autor disléxico, orador público agitado, pai – por causa do meu
entusiasmo, da minha consciência dos outros, e a responsabilidade de fazer o
mundo um lugar melhor para aquele menino.
Este artigo
foi publicado no número outubro/novembro/2010 de ADDitude
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