As
dificuldades associadas ao TDAH são extensivamente documentadas. De fato, esses
estudos representam uma parte substancial da pesquisa publicada sobre o TDAH.
Este tipo de trabalho ajuda a aumentar a consciência sobre as dificuldades
sofridas por muitos indivíduos com TDAH e evidencia a importância de receber o
tratamento correto.
O que foi
perdido – ou ao menos ignorado – na maioria das pesquisas sobre o TDAH é a
possibilidade de que o TDAH possa também trazer alguns benefícios. Certamente,
muitos indivíduos com TDAH tentam progredir e não é incomum ouvir indivíduos
discutindo como o TDAH os tem beneficiado. Eu, com certeza, me lembro de vários
dos meus clientes contando que “ficar perdido em seus pensamentos”, ter ideias
diferentes girando em sua mente quando era esperado que estivessem prestando
atenção em uma coisa, e ter sua atenção facilmente dirigida para coisas em sua
volta contribuiu para sua criação de muitas ideias interessantes e para juntar
as coisas de maneiras interessantes.
Há alguma
evidência de que o TDAH pode realmente predispor o indivíduo a se tornar mais
criativo? Russel Barkley, um dos mais importantes pesquisadores e especialistas
em TDAH, argumentou contra a noção de que o TDAH confere benefícios assim como
problemas, dizendo em recente artigo no New York Times que “Não há nenhuma
evidência de que o TDAH seja uma ´benção´ ou que traga quaisquer vantagens além
das que outras pessoas da população em geral possam ter. As pessoas com TDAH
são indivíduos, como qualquer outro, e podem ter sido abençoadas com talentos
particulares que estejam em nível mais alto do que o visto em outras pessoas.
Mas esses talentos não têm nada a ver com ter TDAH – eles os teriam de qualquer
modo.” Entretanto, um estudo publicado no último ano na
revista Personality and Individual Differences [White & Shah (2011),
Creative style and achievement in adults with Attention-deficit/hyperactivity
Disorder. Personality
and individual Differences, 50, 673-677.] sugere que isto não é necessariamente
verdadeiro e que pessoas com TDAH podem realmente produzir mais trabalho
criativo.
Os
participantes foram 60 estudantes de faculdade, 30 dos quais tinham sido
diagnosticados com TDAH e 30 estudantes para comparação. Tanto homens quanto
mulheres estavam representados e sua criatividade foi avaliada por 3 modos
diferentes.
Em primeiro
lugar, os participantes fizeram o Creativity Achievemente Questionnaire (CAQ),
um teste em que os indivíduos relatam sua capacidade criativa em 10 domínios:
drama, humor, música, artes visuais, escrita criativa, invenção, descoberta
científica, artes culinárias, dança e arquitetura. Um exemplo de um item do CAQ
seria “Meu trabalho ganhou um premio no show de arte”. Assim, a avaliação fornece
um indicador da verdadeira realização criativa. As notas são obtidas para cada
domínio e para o desempenho geral. A pesquisa indica que esta medida fornece
uma avaliação confiável e verdadeira das realizações criativas.
Os
estudantes também fizeram o FourSight Thinking Profile, uma auto-avaliação do
estilo preferido de cada um quando lida com a resolução de problemas no mundo
real. Quatro estilos de resolução de problemas foram identificados: 1. Os
esclarecedores – os que têm preferência por definir e estruturar o problema a
ser resolvido; 2. Os idealizadores – os que preferem criar ideias para a
solução do problema em causa; 3. Os desenvolvedores – os que preferem elaborar
ou refinar as ideias que foram inicialmente sugeridas; e, 4. Os implementadores
– Os que preferem por em ação uma ideia refinada.
Claramente,
todos esses aspectos são importantes para a solução criativa de problemas e um
estilo não é inerentemente melhor ou pior do que qualquer um dos outros. Os
escritores previsivelmente mostrariam maior preferência para serem geradores de
ideias, isto é, do tipo idealizadores, enquanto os estudantes mostrariam maior
preferências pelos estilos Esclarecedor e Desenvolvedor.
Finalmente,
os participantes fizeram o Abbreviated Torrance Test for Adults (ATTA); esta é
uma medida padronizada e amplamente utilizada do pensamento criativo
divergente. O pensamento divergente ocorre quando geramos muitas ideias
possíveis de como resolver um problema particular. Quando nos engajamos no
pensamento divergente, múltiplas abordagens para a resolução de um problema são
identificadas rapidamente; no processo, conexões inesperadas e criativas entre
ideias diferentes podem surgir.
As tarefas
no ATTA cuidam das habilidades criativas verbais e não verbais. A seção Verbal
examina a habilidade de cada um pensar criativamente com palavras, enquanto os
testes Não Verbais avaliam a habilidade individual de pensar criativamente com
figuras. Exemplos de tarefas verbais incluem fazer sugestões para melhorar um
brinquedo e pensar em quantos usos diferentes podem ser possíveis para um item
comum, por exemplo, um tijolo. Exemplos de tarefas de criatividade não verbal
incluem a construção de um retrato ou uma figura, por exemplo, os participantes
usam formas básicas para criar uma figura e para terminar uma figura já
começada, por exemplo, terminar e dar nome a desenhos incompletos.
Resultados
Atividades
criativas do mundo real – Estudantes com TDAH tiveram notas significativamente
maiores no Creative Achievement Questionnaire do que os estudantes do grupo
controle. Além disso, sua nota média era mais alta para cada um dos 10
domínios. Assim, não foi só nos domínios menos acadêmicos, como música e artes
visuais, que os estudantes com TDAH tiveram atividades mais criativas, mas
também em ciência, redação e arquitetura.
Um aspecto
interessante desses achados foi o de que a faixa de notas era muito maior entre
os estudantes com TDAH, assim como a quantidade de variação. Assim, não parece
de a realização criativa tenha sido uniformemente mais alta entre estes
estudantes; em vez disso, a média geral mais elevada parece refletir níveis
muito altos de realização criativa por um subgrupo desses estudantes. FourSight
Thinking Profile – Como foi dito acima, esta não é uma medida direta da
capacidade criativa per se, mas, em vez disso, reflete o estilo de resolução de
problemas preferido pelo indivíduo. Com previsto, os estudantes com TDAH
mostraram preferência pelo estilo idealizador, isto é, eles preferiam gerar
múltiplas ideias, enquanto outros estudantes preferiam os estilos esclarecedor
e desenvolvedor.
Abbreviated
Torrance Test for Adultos – Neste teste validado de pensamento criativo, os
estudantes com TDAH não tiraram notas mais altas que os colegas em geral.
Entretanto, como previsto, eles tiveram notas significativamente mais altas em
tarefas que mediam a originalidade verbal.
Efeitos dos
medicamentos – Metade dos estudantes com TDAH estavam sendo tratados com
medicamentos e metade não. Nenhuma diferença entre esses grupos foi achada em
qualquer dessas avaliações de criatividade. Como os autores notam, entretanto,
sua habilidade de detectar qualquer diferença foi limitada pela pequena
amostra.
Resumo e
Implicações
Os
resultados deste estudo interessante apoia a noção de que o TDAH esteja
associado com aumento da criatividade em adultos jovens. Um aspecto importante
deste estudo é que ele empregou medidas múltiplas da criatividade – realizações
criativas do mundo real, estilos preferidos de solução de problemas e
desempenho com medida baseada em provas da criatividade verbal. Como dito
acima, estudantes com TDAH superaram seus pares nas realizações criativas do
mundo real e nas medidas de avaliação da criatividade verbal. Eles também
mostraram uma preferência para serem geradores de ideias em oposição aos
clarificadores ou esclarecedores das ideias já existentes.
Por que o
TDAH poderia estar ligado ao desempenho criativo? Uma possibilidade sugerida
pelos autores – e que é consistente com o trabalho teórico recente sobre a
natureza do TDAH – é que os indivíduos com TDAH são caracterizados por um
controle inibidor mais fraco. Os déficits de inibição fazem mais difícil a
manutenção do foco em um único pensamento ou ideia e a eliminação dos estímulos
externos; isto pode resultar em ter mais pensamentos ao acaso e ideias, e gastar mais tempo com pensamentos múltiplos e
ideias fornece aumento da oportunidade de fazer conexões interessantes. Em
teoria, isto pode contribuir para o desenvolvimento de pensamento menos
convencional e para aumentar as habilidades de pensamento divergente. Também é
possível que a natureza da atividade criativa seja um complemento melhor para
as pessoas com TDAH do que as atividades em que o sucesso depende de ficar
rigidamente ligado a um plano ou a um trabalho para encontrar a solução
correta. Como resultado, elas podem gastar mais tempo em devaneios criativos e,
assim, se dar bem.
A
preferência que os indivíduos com TDAH mostram pelo estilo idealizador pode ser
importante em relação ao tipo de ambiente de trabalho em que eles provavelmente
se dão bem. Especificamente, este estilo sugere que eles podem ser
especialmente bem equipados para atividades e carreiras comerciais que premiam
as habilidades de pensamento divergente. Naturalmente, outros tipos de
habilidades de pensamento são também importantes porque mesmo o mais criativo e
motivado comerciante será menos destinado ao sucesso se ele for incapaz de
conduzir os planos de maneira disciplinada e consistente.
Outra
maneira desses achados serem aplicados é a de mostrar às crianças os benefícios
potenciais que o TDAH pode conferir em termos de pensamento criativo e de
realizações criativas. Isto pode eliminar a noção de ter um déficit ou
transtorno e contribuir para o desenvolvimento de talentos que acentuem a
autoestima.
Enquanto os
achados deste estudo sugerem que a criatividade aumentada pode ser um benefício
real associado ao TDAH, a replicação desses achados com um amostra maior, com
crianças e adolescentes, seria um importante próximo passo. Também é importante
não perder de vista as dificuldades muito reais que estão associadas ao TDAH e
a reconhecer que para muitos, esta é uma condição muito prejudicial, para a
qual o tratamento contínuo é necessário.
Dito isto, é
uma bela mudança que surge a partir de um estudo bem conduzido e que abriga uma
mensagem esperançosa e otimista baseada no que parecem ser achados sólidos.
Personality and Individual Differences [White & Shah (2011), Creative style and achievement in adults with Attention-deficit/hyperactivity Disorder. Personality and individual Differences, 50, 673-677.]
David Rabiner, Ph.D.
Associate Research Professor
Dept. of Psychology & Neuroscience
Duke University
Durham, NC 27708
Sou Tdah tomo o remedio a 9 anos a Ritalina LA, sempre fui criativa porem nao terminava nada que criava, agora tratada istp esta sendo possivel, estou passando pela pre menopausa esta dificil os profissionais precisam se integrar sei que somos iguais p porem com sintomas bem mais exagerados gostaria de saber o que vai mudar nesta fase ai sei o que e normal e evitar ser medicada sem precisar.
ResponderExcluirNão há como saber o que vai acontecer nesta fase. Cada pessoa tem as suas manifestações. O TDAH é neurobiológico. Dura a vida toda. O climatério é uma fase em que 30% das mulheres sentem muitos problemas, 30% sentem quase nada e 30% nem percebem que isso existe. Quanto a ser medicada "sem necessidade", depende de quem está lhe tratando. É médico? Tem bons conhecimentos sobre o TDAH? Tem bom senso? Tem humildade para reconhecer que não entende do assunto e lhe encaminhar para quem entenda?
ExcluirEu sempre me fazia uma pergunta em relacão ao TDAH. Se é um transtorno maléfico que afeta uma grande fatia de 5% da populacao mundial, como a evolucão deixou passar desapercebido os genes do TDAH? Apos algumas pesquisas correlacionando evolucao genes do TDAH, descobri que o TDAH foi muito benéfico ao homem pré-histórico, principalmente no que se refere a imigracão de populacaoes. Pois pessoas com caracteristicas de TDAH se mostram mais "ligadas" no tudo, são mais curiosas e inquietas e isso desperta a necessidade de conhecer novos ambientes de se movimentar e de se sociabilizar. Nesses mesmos artigos que li, relatava que em populacoes nomades a incidencia do TDAH é de 25% em seus individuos. Ou seja ,talvez o TDAH explique o porquê o homem se espalhaou pelo mundo! Mas, pq o TDAH é visto como algo tão ruim, e os médicos o chamam de transtorno , certo? Infelizmente, o modo como as pessoas vivem atualmente é preciso que se tenha uma vida que exija bastante concentracão, estudo e trabalho, para tanto voce precisa absorver e processar informacöes não muito interessantes e necessariamente você nao pode ser inquieto para conseguir sentar numa cadeira e se concentrar, estudar ou trabalhar em algo que näo desperta seu interesse. Um prato cheio para taxar quem tem TDAH de doente. Pois quem não é capaz de sentar e estudar e chamado de burro de deficiente. O que uma grande inverdade, pois que tem TDAH não tem deficit nenhum no que se refere a cognicão, inteligencia, aprendizado. Em suma, TDAH é nada mais é que um traco de personalidade e não um trasntorno. E se vc ou seu filho tem TDAH, não tente forca-lo a se moldar nos moldes atuais de estilo de vida. Explore e adapte as suas qualidades ou a do seu filho que tem TDAH para trabalhar e estudar no que desperta seu interesse que com certeza terá sucesso.
ResponderExcluirMinha cara, infelizmente o TDAH não vem sozinho. Em 70% dos casos há comorbidades. E pode haver, sim, dificuldades de aprendizagem, deficiência intelectual, problemas de cognição etc. A população TDAH é muito heterogênea. Não se pode julgar apenas pelos que são bem sucedidos. A maioria não é. Uma grande falha desse artigo objeto da postagem 214 é que ele foi feito com APENAS 30 universitários com TDAH, comparados com 30 universitários sem patologia. Ora, as estatísticas mostram que menos de 30% dos que têm TDAH conseguem entrar para a faculdade. Então, esses 30 universitários com TDAH, objetos desses testes, não podem representar a população TDAH. São apenas uma pequena parte dos que tiveram mais sorte. O Dr Russel Barkley continua, a meu ver, com a razão. Ter TDAH não é nenhuma benção. E a neurociência mostra, cada vez mais precisamente, que é um transtorno da organização das vias neurais dos lobos frontais e de seus neurotransmissores. Mas, ainda assim, continuemos na luta e sejamos felizes. Obrigado pelo comentário. Dr. Menegucci.
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