O Mau Uso e o Abuso de Medicamentos Para o TDAH – Uma
Revisão Atualizada. Por David Rabiner, Ph.D.
O mau uso e o abuso de medicamentos receitados é uma
preocupação crescente. Lembro-me de falar com colegas médicos há 15 ou 20 anos
atrás, quando os relatos sobre o uso não médico de medicamentos estimulantes
utilizados no tratamento do TDAH estavam começando a aparecer na mídia (o uso
não médico é definido como o uso por indivíduos sem a receita médica). Naquele
tempo, pensava-se que eram incidentes isolados que estavam sendo
superdramatizados pela imprensa.
Entretanto, tornou-se claro que esse não é o caso atualmente
e que o uso não médico de medicamentos para o TDAH, assim como o mau uso pelos
indivíduos aos quais o medicamento foi receitado, é um problema importante. A
seguir, uma breve revisão e resumo da pesquisa sobre estes assuntos.
O quanto é comum o uso não médico de medicamentos
estimulantes?
Entre 2000 e 2011, a prevalência anual do uso não médico de
anfetaminas – que inclui drogas usadas para tratar TDAH, mas não se limita aos
medicamentos para o TDAH – declinou de 6,5% para 3,5% entre os alunos do oitavo
grau, de 11,7% para 6,6% para os do décimo grau, e de 10,5% para 8,2% para os
do décimo segundo grau. Entre os estudantes de faculdade, entretanto, a taxa
cresceu de 6,6% para 9,3%. Para os adultos fora da faculdade, com idades de 19
a 28 anos, a taxa também cresceu – de 5,4% para 7,2%. Esses dados são do
Monitoring the Future Study, uma avaliação anual do uso de drogas e de álcool,
conduzida com uma amostra nacionalmente representativa. Você pode achar os
resultados da avaliação de 2011 online em www.monitoringthefuture.org/pubs/monographs/mtfoverview2001.pdf
Esses dados podem subestimar o uso não médico de estimulantes
para o TDAH porque a avaliação do MTF não perguntou sobre todos os medicamentos
amplamente receitados e os indivíduos que usavam medicamentos não mencionados
podem inadvertidamente deixar de mencionar o uso não médico.
Com que frequência os indivíduos fazem o uso não médico?
A pesquisa publicada sobre a frequência do uso não médico
focalizou os estudantes de faculdade. Os resultados obtidos das bases de dados
representativas nacionais de estudantes de faculdade indicam que 32% de
usuários não médicos usaram somente uma vez no ano anterior, 45% usaram de 2 a
10 vezes, e 19% usaram mais de 11 a 15 vezes. Em um estudo na população em
geral, 30% dos usuários não médicos disseram ter usado somente de 1 a 2 vezes
por ano, enquanto 70% disseram ter usado 3 ou mais vezes.
Embora a maioria dos indivíduos que fizeram uso não médico
usou somente a via oral de administração, relatos de amassamento e aspiração
não são incomuns. De fato, isso foi relatado por aproximadamente 20% dos
usuários não médicos em um estudo recentemente publicado sobre estudantes
universitários.
Onde conseguem medicamentos os que não têm receita?
A grande maioria dos usuários não médicos entre os
estudantes de faculdade obtém medicação de um amigo com receita. Os resultados
de vários estudos indicam que os estudantes com receitas são geralmente
abordados por colegas solicitando seus medicamentos. Pesquisa com estudantes da
escola média e do colegial torna claro que os estudantes mais jovens são também
abordados por causa dos seus medicamentos, embora no que pareça ser uma taxa
menor do que para os estudantes de faculdade.
Fingir TDAH para obter medicação é também uma preocupação
crescente. Estudos com estudantes universitários sugerem que muitos que se encaminham
para uma avaliação sobre TDAH exageram seus sintomas, talvez para obter a
medicação estimulante. Em um estudo com adultos não universitários, 20% dos que
fizeram uso não médico relataram que fingiram TDAH para obter uma receito do médico.
Quais são as características dos usuários não médicos de
medicamentos para o TDAH?
Reportagens na imprensa popular algumas vezes implicam que
tomar medicação para o TDAH sem uma receita médica tornou-se um comportamento
quase normal entre os estudantes universitários, parte de um estilo de vida
“trabalhe duro, divirta-se a valer”. Entretanto, a pesquisa não confirma essa
visão.
Múltiplos estudos conduzidos com populações de
universitários indicam que comparados a seus colegas, os usuários não médicos:
• têm taxas mais altas de uso de drogas e de
álcool.
• têm desempenho acadêmico inferior.
• relatam significativamente mais problemas com
atenção.
Taxas mais altas de uso de substâncias também foram
encontradas entre os usuários não médicos de medicamentos para o TDAH na
população adulta em geral.
Assim, mesmo não sendo o comportamento normal,
parece que muitos indivíduos que aderem ao uso não médico também fazem mau uso
de outras substâncias e, ou, sentem que os problemas de atenção estão
prejudicando sua capacidade para ter sucesso.
Quais são as principais motivações para o uso não
médico dos medicamentos para o TDAH?
A maioria das pesquisas sobre os motivos para o uso
não médico foi conduzida com estudantes universitários. Entre os estudantes, a
principal motivação para os usuários não médicos é o aumento do desempenho
acadêmico, especialmente a capacidade de prestar atenção e focar enquanto está
estudando. Entretanto, outros motivos também são relatados por uma minoria
significativa de indivíduos, incluindo o “para ficar ligadão”.
Quais são as consequências do uso não médico da
medicação para o TDAH?
A vasta maioria dos estudantes universitários que se
envolveram com o uso não médico para aumentar seu desempenho acadêmico acredita
que isso seja útil. Em um estudo, 70%
classificou o impacto geral do uso não médico como sendo “positivo” ou
“muito positivo” e somente 5%
classificou o impacto geral como “negativo” ou “muito negativo”.
Isso é surpreendente porque não há nenhum dado que
indique que o uso não médico realmente melhore o desempenho acadêmico. Uma
revisão recente concluiu que “... os efeitos cognitivos de estimulantes em
adultos sadios não podem ainda ser caracterizados definitivamente...”.
Além disso, a maioria dos trabalhos sobre esse assunto é
conduzida em situação de laboratório e examina o impacto da medicação
estimulante em pesquisa de medidas do desempenho cognitivo. Não se sabe se
tomar estimulantes para varar a noite estudando melhora o desempenho no exame
no dia seguinte. De fato, uma hipótese plausível é que os estudantes, que
atrasam os estudos porque acham que os estimulantes os ajudarão a aprender na
noite anterior, terão desempenho pior do que se tivessem se preparado usando
uma estratégia mais razoável.
Consequências adversas
Efeitos colaterais – Embora muitos estudantes no estudo
mencionado acima relataram efeitos gerais positivos do uso não médico, os
efeitos adversos também foram frequentemente relatados. Esses incluíam
dificuldades de sono (relatadas por
72%), irritabilidade (62%), tonturas e sensação de cabeça oca (35%), cefaleias
(33%), dor no estômago (33%) e tristeza (25%).
Além disso, cerca de 5% acreditam que o uso não médico tenha
contribuído para seu uso de outras medicações e de drogas ilícitas.
Aproximadamente 10% relataram preocupações ocasionais sobre a obtenção da
medicação estimulante e sobre tornar-se dependente dela. Acima de 10%
acreditavam que precisavam de estimulantes para melhorar seu desempenho
acadêmico. Essa não parece ser uma boa opinião para se ter.
Abuso e dependência – O abuso potencial de estimulantes
quando feito por indivíduos sem TDAH foi documentado em vários estudos, embora
isso seja reduzido com as formulações de longa-ação. Embora seja limitada a
informação de quão frequentemente o uso não médico de estimulantes para o TDAH
preencha os critérios para abuso de estimulantes ou para a dependência, dados
do 2002 National Survey on Drug Use and Health mostrou que aproximadamente 5%
dos indivíduos que relataram uso de medicação para TDAH no ano anterior
atingiam os critérios de triagem para essas desordens.
Reações adversas – Entre 2005 e 2010 o número de visitas ao departamento
de emergência resultante de uso não médico de drogas estimulantes
aproximadamente triplicou, de 5.212 para 15.585. O número de visitas ao
departamento de emergência relacionado a reações adversas a estimulantes para
TDAH receitados praticamente dobrou, de 5.085 visitas para 9.181 visitas.
Trinta e sete por cento de todas as visitas ao departamento
de emergência relacionadas a medicação estimulante envolviam medicamentos
exclusivamente estimulantes; o restante envolvia o uso de combinações com
outras drogas – frequentemente outros medicamentos farmacêuticos – e álcool.
E sobre o mau uso e uso recreativo de medicação receitada?
O mau uso de medicação estimulante pelos que têm uma receita
também é uma preocupação.
Embora a maior parte dos indivíduos use seus medicamentos
estimulantes de maneira correta, o uso de modo que se desvia do previsto pelo
médico que deu a receita não é incomum. Isso geralmente assume a forma de tomar
o medicamento em doses mais altas ou mais frequentemente do que o receitado, o que
tem sido relatado por entre 27% e 36% dos estudantes universitários em vários
estudos. Entretanto, até 25% dos estudantes universitários relatam o uso de
medicamentos para o TDAH para se sentirem mais “ligados” e até 30% têm relatado
o uso em conjunto com álcool e/ou outras drogas.
Semelhante ao que foi encontrado para os usuários não
médicos, o melhor desempenho acadêmico foi o motivo mais frequentemente citado
e a maioria dos estudantes universitários que o fazem por esse propósito sentem
que foi útil. Razões não acadêmicas para o mal uso, isto é, para se sentir
melhor ou para emagrecer, foram relatadas como frequentes para o mal uso por
relativamente pouso estudantes. Dados sobre os motivos para o mal uso de
medicamentos receitados fora das amostras universitárias são limitados.
Como foi notado acima, o uso recreativo de medicação
estimulante receitada é um problema significativo. Em estudos de estudantes
universitários, doar ou vender medicamentos para os colegas foi relatado por
26% nos primeiros seis meses, 35% nos primeiros doze meses, e por 62% durante
todo o curso. O desvio da medicação estimulante receitada – geralmente para
amigos e parentes – também foi relatado por uma minoria significativa de
adultos não universitários.
Conclusões
Preocupações a
respeito do uso não médico de drogas estimulantes para tratar o TDAH são
confirmadas, com aproximadamente 10% dos estudantes universitários relatando
isso em uma recente pesquisa de âmbito nacional; em alguns estudos, as taxas
são ainda mais elevadas.
Embora o uso relativamente infrequente seja o mais comum,
talvez 20% dos usuários “não médicos” o façam regularmente e se envolvem com o
uso por via intranasal de administração. Grosseiramente, 5% dos usuários podem
preencher os requisitos para abuso de estimulantes ou dependência de
estimulantes, e visitas ao departamento de emergência associadas ao uso não
médico estão aumentando.
Além do uso não médico, muitos indivíduos com receitas de
medicamentos para o TDAH ocasionalmente fazem mau uso de sua medicação,
tomando-a em doses mais altas ou com maior frequência do que a receitada;
alguns fazem uso intranasal para ficarem “ligados” e em conjunto com outras
drogas ou bebidas alcoólicas. Do mesmo modo que com o uso não médico, isso está
associado a taxas mais altas de uso de outras substâncias. Medicação desviada
para amigos e membros da família não é fato incomum e muitos são abordados para
isso, colocando-os em risco repetido de se engajar em comportamento ilegal.
Para solucionar esses problemas, os médicos devem instruir
seus pacientes sobre o abuso potencial de seus medicamentos, a necessidade de
guardá-los em local seguro, e obter um compromisso de não doá-los a ninguém. As
crianças e adolescentes podem precisar de tutoramento sobre como responder se
abordadas por colegas pedindo sua medicação.
As faculdades devem considerar a revisão de suas polícias de
conduta para controlar o mau uso e o desvio de medicação para o TDAH, propiciar
aos estudantes locais seguros de guarda dos remédios e educar os alunos sobre
os perigos em potencial associados ao uso não médico, especialmente quando
usados com álcool e outras substâncias.
Referências – As informações fornecidas foram retiradas das
seguintes fontes, entre outras:
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Sincerely, David Rabiner,
Ph.D. Research Professor - Dept.
of Psychology & Neuroscience - Duke University Durham, NC 27708
bom dia , gostaria de saber se tem algum caso que algum portador de TDAH tenha conseguido largar uso de drogas , minha amiga TDAH nao consegue largar a maconha, mesmo querendo parar. obrigado
ResponderExcluirNão disponho de dados para responder. Imagino que é possível ao portador de TDAH, sob tratamento adequado e supervisão psiquiátrica, abandonar o uso ou abuso de drogas. Sua amiga está sob tratamento adequado? O simples desejo de abandonar as drogas não é suficiente. É necessário o apoio de profissionais habilitados (psiquiatra, psicólogo, terapeuta ocupacional)
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