Quando eu estava na quarta série, nos meados dos anos
setentas, minha professora avisou a classe de que eu seria um artista. A
verdade era que ela achava que eu não tinha nenhum talento acadêmico que
pudesse elogiar. Eu era “um menino TDAH” que não conseguia obedecer as ordens,
descobrir em que página do livro nós estávamos ou entregar minha tarefa no
prazo certo. Com um conhecimento do cérebro muito limitado, minha professora
simultaneamente superestimava meu talento artístico e subestimava meus dotes intelectuais.
A escola, especialmente a escola elementar, não era para
meninos como eu. E, 25 anos mais tarde, mesmo as melhores escolas mudaram
somente um pouco. Igual a muitos outros que se desviaram da norma, eu aprendi
mais explorando minhas paixões do que através da escola estruturada. Com a
ajuda de inúmeros mentores, aprendi a escrever artigos rebatendo editoriais,
dirigir equipes, discursar e advogar. Cuidei das ideias, não principalmente por
causa da escola, mas apesar dela. A região de Washington, viva com o discurso
político, era o local perfeito para exercer minhas paixões, e eu me mudei para
lá quando tinha vinte anos, para assumir um emprego em escritório de advocacia.
Nossas Escolas Funcionam Realmente?
Agora, tenho dois filhos, nenhum dos quais tem um estilo
comum de aprendizado. Meu adolescente vai a uma escola que é considerada uma
excelente escola particular da região, com professores maravilhosos e
dedicados. Mas, como qualquer outra instituição educacional nos Estados Unidos,
é baseada em modelo ultrapassado.
Comecei a questionar o modelo corrente de educação quando o
diretor da escola do meu filho mostrou um videoclipe de cerimônia de graduação
em que Ken Robinson, orador, autor e consultor internacional em educação em
artes, discutia como a educação mata a criatividade. Robinson, autor de “The Element:
How Finding Your Passion Changes Everything” (O Elemento: Como o Encontro de
Sua Paixão Muda Tudo), afirma que estamos usando um modelo de educação, herdado
da revolução industrial, no qual as escolas são organizadas como linhas de
montagem. “Educamos as crianças em grupos, como se a coisa mais importante
sobre elas fosse sua data de fabricação”, afirma ele em outro vídeo sobre o
assunto.
Influenciado por Robinson, o autor de best-sellers Seth Godin
publicou recentemente um manifesto, “Stop Stealing Dreams” (Pare de Roubar
Sonhos), sobre a necessidade de uma reforma radical da educação. Ele aponta a
necessidade de um modelo pós-industrial de educação que abranja os vários
estilos de aprendizagem, a paixão pelas ideias, e o que os estudantes gostam.
Em uma escola assim, os professores são “coaches” que ajudam os estudantes em
uma jornada do autodescobrimento. Os estudantes têm muitas chances de
determinar o que estudam e como estudam, em evidente contraste com o modelo “um
tamanho para todos” dos dias atuais.
Seu filho está certo quando diz que nunca usará
trigonometria (a não ser que seja um entusiasta disso). Expô-lo a variedade é
uma coisa, mas, forçar o mesmo assunto por 13 anos é outra coisa. No mercado
moderno, a profundidade é tão importante, se não mais, que a amplitude. As
escolas são dedicadas à amplitude.
A Escola Revela a Grandeza dos Nossos Filhos?
Nas escolas atuais, os “bons” estudantes obedecem,
diminuindo suas expectativas de grandeza, e os restantes terminam em batalhas
excruciantes contra si mesmos, seus pais (acreditem em mim quanto a isso), seus
professores e uma fila de tutores. Minha função como pai, sou avisado pela
escola, é reforçar o absurdo que é o sistema corrente – para fazer meus filhos
entregarem tudo pontualmente - o que faço religiosamente porque parece não
haver outra maneira.
Meu filho mais novo, que está no segundo ano, espirituoso e
inquieto como qualquer outra criança que você crie, “ficou para trás” em
leitura. Como nos disseram, ele “não é suficientemente capaz para a leitura”.
Seus professores e conselheiros, amáveis e bem intencionados, insistem que ele
tome medicamentos para o TDAH, para que melhore sua leitura e se iguale aos
colegas de classe. Ele é um menino criativo, brilhante e independente, que,
conforme minha crença, sem dúvida irá aprender a ler bem e ser bem sucedido.
Ele somente não está no tempo certo para fazer isso.
Somos forçados, para usar as palavras de Ken Robinson, a “anestesiar”
nosso filho para que ele possa se adaptar a um esquema antiquado na classe. A
Ritalina não fará nada para que ele seja um ser humano bem sucedido, um melhor
pensador ou um membro da sociedade mais produtivo. Ele vai ajudá-lo a competir
com a massa, e, potencialmente, drenar seu potencial criativo. Ao forçá-lo, e a
muitas crianças, a tomar esses poderosos medicamentos, as escolas privam a
economia futura e a sociedade do talento criativo de que elas mais precisam.
Greg Selkoe, o CEO de 36 anos da Karmaloop – uma empresa que
fica em Boston e que é uma das maiores empresas de venda a varejo online de
roupas do tipo streetwear, com faturamento de mais de 130 milhões de dólares ao
ano, disse em recente entrevista na “Inc. magazine”: “Fui diagnosticado com
TDAH na escola primária e expulso de várias escolas antes de chegar a uma
escola para crianças com problemas de aprendizagem. O que fazia com que eu não
me desse bem na escola tem sido muito útil nos negócios, porque eu posso
prestar atenção intensamente em algo por um curto tempo e, então, mudar o foco para
a próxima coisa”.
Ainda hoje as escolas insistem que usemos medicamentos para
os nossos filhos para que eles se livrem do seu útil hiperfoco.
Falei com vários educadores que percebem os problemas do
sistema educacional corrente. Eles sabem que a realidade econômica exige
mudanças nas escolas. Mas eles também sabem que os pais reagirão a essas
mudanças, temerosos de que elas possam diminuir as chances dos seus filhos de
entrarem em uma boa faculdade.
Será necessária uma liderança com ampla visão para mudar o
modelo e os objetivos do sistema educacional corrente. Enquanto isso, meus
filhos continuarão brigando com a escola, machucados ao longo da jornada e,
como seu pai, forçados a descobrir a maioria dos seus talentos e paixões por si
mesmos, fora da escola.
David Bernstein é um executivo não assalariado que mora em Gaithersburg,
Maryland. Ele tem dois filhos, com sete e quinze anos.
Este artigo foi publicado no exemplar de verão de ADDitude.
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