sexta-feira, 1 de agosto de 2014

354- A ESCOLA IDEAL: UM CONCEITO EM CONSTANTE DESENVOLVIMENTO

Dr. Mauro de Almeida
A inclusão só será completa no dia em que deixar de existir.
Essa frase resume o propósito deste trabalho.
Quando, em 2.008, no ”Congresso Aprender Criança” começamos a falar em inclusão, não tínhamos ideia do que isso representaria para a nossa Comunidade depois de seis anos.
Apresentamos, naquela oportunidade, o que chamamos de “Manifesto Vinícius”, uma abordagem de questionamento à forma em que a inclusão é feita em nosso país, dando a todas as crianças e adolescentes o direito de frequentar a escola normal, mas sem estratégias para lidar com as diferenças. A base daquela apresentação mostrava um relatório de aproveitamento expedido pela escola para um aluno com diagnóstico de TDAH idêntico ao documento de outro aluno com baixo aproveitamento advindo de problemas familiares e ambiente hostil.
Hoje, temos a certeza da necessidade de trabalhar o tema da inclusão escolar de forma ampla, total e irrestrita, mesmo que isso gere – e gerará – uma série de polêmicas entre acadêmicos, legisladores, autoridades científicas e educacionais.
Não se tem notícia de nada parecido como esta cartilha NO MUNDO INTEIRO. Então, pelo ineditismo, pela coragem e pela revolução nos hábitos e costumes, somos, todos nós, desbravadores em pleno Século XXI, de um dos temas mais antigos da Humanidade: as diferenças entre as pessoas e o respeito à individualidade.
O tema do Aprender Criança 2.012 foi, justamente, a inclusão escolar.
Tivemos a grande oportunidade de ver e ouvir grandes especialistas que, além de palestras memoráveis, colaboraram conosco na elaboração de proposições para aplicação nas escolas e salas de aula.
A nosso pedido, essas proposições não foram limitadas a essa ou àquela dificuldade econômica, arquitetônica, profissional ou instrumental que uma localidade qualquer possa ter e – evidentemente – todas têm. Por que? Para que pensemos em soluções amplas, em consecução de ideais de preparação dos profissionais, em captação de recursos, em crescimento contínuo. Incluir requer esforços de mudança de paradigmas, a começar por limitações já culturais do tipo “isso é utópico”, “minha escola não tem nem giz”, “vocês estão loucos”, etc e tal. Em nossa primeira cartilha, o Projeto Atenção Brasil, falamos muito sobre a questão da RESILIÊNCIA: precisamos adotar esse conceito como prioridade em nossa caminhada. Lembrem-se disso a cada dificuldade, a cada barreira.
Afinal: a escola ideal existe?
Não, não existe. Mas podemos nos aproximar de algo melhor a cada dia.
Basta observar nossa proposta número 7: “Incluir alunos com NEE em classe regular envolve mudanças pedagógicas e na estrutura curricular que devem ser individualizadas dentro de um projeto escolar que atenda às demandas de singularidade frente às limitações do pensamento (concretude); além do desenvolvimento de habilidades frente às limitações de participação e atividade, dada a diversidade dos alunos incluídos.”
Uma vez atendida em sua plenitude, essa proposta resume o conceito atual de “escola ideal”.  Mas será que, de fato, estamos construindo uma escola que se aproxime disso?
Propusemos uma discussão entre especialistas em educação com formações diferentes e atividades diversas.
A Professora Camila Pestana (atuando em escola particular), a Psicopedagoga Mirella Jorge (de instituição para alunos com necessidades especiais de aprendizagem), a Psicóloga Paula Stipp (de uma instituição voltada para deficientes mentais) e a profissional de sustentabilidade e responsabilidade socioambiental Giuliana Preziosi.
As quatro são unânimes ao aprovar a proposta número 7 desta cartilha. O que elas dizem: para Giuliana, “precisamos extrapolar a barreira física, que é premissa, e pensar na metodologia, com raízes sistêmicas onde tudo deve estar conectado. A escola ideal é pautada no respeito e na empatia. É uma escola que acompanha as mudanças do mundo e constrói soluções em conjunto para lidar com suas adversidades”.
Para Mirella, “a escola ideal é a que acolhe todas as crianças diante de suas diversidades, respeitando particularidades, medos e anseios, com a ampla visão que o professor pode ser o sujeito a fazer toda a diferença na vida escolar de cada criança, juntamente com uma equipe disposta a incluir e a ter um olhar de respeito e afeto. Oferecendo meios significativos de aprendizagem real a todos”.
Paula afirma que “a escola ideal é a que proporciona uma educação de qualidade para todos, analisando dificuldades e potencialidades de cada aluno de forma a atender necessidades individuais. Deve ter, acima de tudo, o objetivo de formar cidadãos solidários e valorizar as diferenças”.
Camila acredita que “a escola ideal não deveria ser inclusiva, pois a escola é para todos. Educar não é tarefa fácil e lidar com diferenças, menos ainda. O espaço escolar é o ambiente mais rico para se trabalhar as relações sociais e de saberes. Hoje, as escolas pretendem que os alunos se adaptem a ela, ao invés de mudar seus procedimentos e atender as necessidades de cada aluno. O nosso desafio em quebrar esses paradigmas, se inicia em nossa formação enquanto educadores e se reflete em nossa prática. Incluir um aluno em educação formal é fazê-lo pertencer àquilo que tem por direito”.
Mas, como transformar esses conceitos em práticas?
Giuliana diz que “Além de capacitação e treinamentos adequados, o professor aprende junto com os alunos a superar dificuldades. As aulas, além de conteúdo, ganham vivências e experiências compartilhadas”.
Para Mirella, “é preciso priorizar a criança na escola comum, mas os que apresentam NEE devem ser acompanhados por uma equipe multiprofissional, seja na própria escola ou numa instituição em período oposto, desde que haja troca entre educadores e especialistas”.
Para Paula, “a complementação para os que apresentam NEE deve ser feita numa escola especial, auxiliando com procedimentos especializados, terapias diversas, estimulação precoce e preparação para o mercado de trabalho”.
Camila afirma que “há necessidade de formar professores com excelência, com rotinas e currículo escolar muito bem planejados e reais ao grupo pertencente, com práticas sociais como assembleias e parceria com a família.”
Essas profissionais são pessoas ideais para embasar essa proposta porque são educadores do dia a dia, gente que enfrenta as dificuldades reais da educação voltada para o direito de todos.
A essas afirmações acrescentamos a visão de que estamos em pleno processo de mudança, de que a escola não é algo estático e de que, a cada momento, nos deparamos com situações novas e inesperadas.
É fato que, quanto mais o planejamento for eficaz, menor a chance de errar, mas isso não nos garante uma fórmula imutável de sucesso.
O objetivo desta cartilha, seus indicadores de desempenho e a avaliação constante dos progressos obtidos em cada escola participante nos dão a certeza de que nos aproximaremos SEMPRE de algo melhor.
É assim que iremos construir a “escola ideal”, com adaptações e aperfeiçoamento constantes, com participação de todos os agentes envolvidos e contando com a participação efetiva de profissionais de saúde engajados nas rotinas pedagógicas.

COMUNIDADE APRENDER CRIANÇA - Dr. Marco Antônio Arruda
Diretor do Instituto Glia

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