Maior estudo já realizado no mundo revela novas alterações cerebrais no Transtorno do Déficit de Atenção
ESCRITO POR ABDA - Associação Brasileira de Deficit de Atenção
JAMA
PSYCHIATRY, fevereiro de 2017
Os resultados revelam que a doença compromete o desenvolvimento de regiões cerebrais importantes, como aquelas responsáveis por emoções, motivação e sistema de recompensa.
O
transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é uma
condição muito comum que afeta cerca de 5% das crianças, e na
maioria dos casos, os sintomas persistem na vida adulta. Ainda muito
estigmatizado, o transtorno se manifesta como desatenção, agitação
e impulsividade. No maior estudo já conduzido, médicos e cientistas
de 23 centros de pesquisaao redor do mundo observaram atraso no
desenvolvimento do cérebro dos pacientes com TDAH.
Para o Dr.
Paulo Mattos,
representante brasileiro do único centro de pesquisa da América
Latina do estudo, o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino no Rio de
Janeiro,“esses
achados são importantes para médicos e pais, pois demonstram
claramente que o TDAH não é “uma doença inventada”, não é
meramente um “rótulo” para crianças difíceis e não se deve a
falhas na educação pelos pais".
Até
então, estudos anteriores também haviam identificado algumas
alterações, mas devido ao pequeno número de pacientes estudados,
era difícil generalizar os resultados. Mais ainda, devido a
diferentes metodologias, grupos de pesquisa em diferentes países
obtinham resultados diferentes.
Neste
estudo, mais de 3 mil pessoas (pacientes com TDAH e indivíduos
saudáveis) entre 4 e 63 anos, foram submetidos a exames de
neuroimagem estrutural por Ressonância Magnética, técnica que
permite estudar com precisão a estrutura do cérebro. Em seguida,
cada região cerebral foi avaliada através de um mesmo protocolo
padronizado de análise em todos os diferentes centros, obtendo-se
informações específicas, como o tamanho e volume de cada região.
Desse modo, os pesquisadores puderam comparar cada uma das estruturas
cerebrais de indivíduos com e sem o transtorno.
Os
resultados revelaram que estruturas como a amígdala cerebral,
acúmbens e hipocampo, responsáveis pela regulação das emoções,
motivação e o chamado sistema de recompensa (que modifica nosso
comportamento através de recompensas) são menores nos pacientes com
TDAH. Quando se levou em conta a idade dos pacientes, observou-se que
estas alterações são mais leves em pacientes adultos, o que sugere
que existe uma compensação ao menos parcial com o passar dos anos.
Esses resultados são a sustentação mais sólida até o momento que
o TDAH é um transtorno relacionado ao atraso na maturação de
regiões cerebrais reguladoras das emoções, pois essas estruturas
estão menos desenvolvidas, principalmente nas crianças.
Outro
achado muito importante foi destacado no estudo: tais alterações
não se devem ao uso de medicamentos para tratamento do TDAH e nem à
presença de outros problemas que podem surgir associados ao
transtorno, como ansiedade e depressão.
“É
preciso deixar claro que o TDAH é um transtorno do desenvolvimento
associado a alterações no nosso cérebro, e que precisa perder o
estigma e ser tratado de modo apropriado”,
completa
Dr.
Paulo Mattos,
que é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e
pesquisador do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR).
Nenhum comentário:
Postar um comentário