AUTISMO E TRATAMENTO COM MACONHA.
Há ciência por trás disso?
Há ciência por trás disso?
Por Kelley L. Harrison, MA, BCBA, LBA-KS; Thomas Zane, PhD, BCBA-D
Departamento de Ciência Aplicada do Comportamento, Universidade de Kansas.
Departamento de Ciência Aplicada do Comportamento, Universidade de Kansas.
Nos últimos anos, houve um aumento do número de Estados que aprovaram leis que tornam legal o uso da maconha, tanto para fins medicinais quanto recreacionais. Coincidindo com essa tendência é o crescente número de relatos que sugerem que essa droga pode ser usada para tratar os sintomas do TEA – Transtorno do Espectro Autista, e outros problemas do desenvolvimento. Entretanto, não há nenhum estudo controlado que avalie os efeitos da maconha no TEA. Atualmente, o governo federal classifica a maconha e seus produtos derivados como droga “CLASSE I”, significando que não há nenhum reconhecimento formal de seu uso médico, e que há um alto potencial para o abuso (Academia Americana de Neurologia, 2017).
Estatísticas recentes mostram que a maconha é a segunda substância mais popular entre os adolescentes, depois do álcool. Uma crença popular é que a maconha seja relativamente inofensiva. Os usuários da maconha relatam euforia, aumento das interações sociais, aumento do apetite, aumento da insensibilidade à dor e ao desconforto, e aumento do relaxamento. Infelizmente, os pesquisadores identificaram vários efeitos adversos do uso da maconha, especialmente quando usada por adolescentes. Por exemplo, os adolescentes são mais susceptíveis à adicção. De fato, um em seis adolescentes que usam maconha se tornará viciado. A maconha também tem efeitos no desenvolvimento cerebral de qualquer um antes dos 21 anos, e está correlacionada a um QI mais baixo, a maior abandono da escola, a diminuição da satisfação e das conquistas, e ao aumento do risco de desenvolvimento de doenças mentais (esquizofrenia). Além disso, Ellison (2009) relatou que o tetraidrocanabinol (THC), o ingrediente ativo da cannabis, interfere com a memória, a concentração e a atenção, que são os principais indicadores para o diagnóstico do Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
Composição da maconha e a lei atual.
A maconha é derivada da cannabis sativa, planta que contém mais de 60 compostos chamados canabinoides. O efeito euforizante associado ao uso da maconha é ativado pelo THC, que é considerado a maior substância psicoativa (Academia Americana de Neurologia, 2017). Outros compostos na maconha não têm uma influência psicoativa similar. A maconha pode ser fumada, ingerida e vaporizada como os e-cigarettes. Óleo de haxixe, que é uma forma altamente concentrada de maconha, contém concentração muito alta de canabinoides, e é de uso ilegal no presente.
Conforme o governo federal relaxa as leis relacionadas à legalidade da maconha, mais Estados têm autorizado o seu uso medicinal ou recreativo. Inicialmente, as leis permitiam que somente os adultos recebessem a droga. Entretanto, mais recentemente a FDA (United States Food and Drug Administration) aprovou canabinoides sintéticos derivados do THC para uso em crianças como estimulante do apetite, enquanto recebessem quimioterapia. Entretanto, é importante notar que essas versões sintéticas da droga não possuem propriedades psicoativas, e, por isso, acredita-se que sejam mais segurar para serem usadas.
Qual a ligação racional entre maconha e TEA?
Há algumas pesquisas publicadas que sugerem que a maconha pode aliviar a espasticidade e a dor generalizada em adultos, e alguns médicos estão começando a recomendar a maconha para crianças com problemas outros que não físicos (por exemplo, síndrome de Tourette, epilepsia, distonia, convulsões. Relatos isolados sugerem que a maconha pode aumentar a sociabilidade, intensificar a percepção, dar uma sensação de alentecimento do tempo, diminuir a agressividade e aumentar o apetite. Assim, em princípio, a maconha parece ser apropriada para uma série de comportamentos tipicamente associados a indivíduos com TEA (por exemplo: diminuição do apetite graves problemas de comportamento, incluindo agressão a outros ou a si mesmo, carência de habilidades sociais, incapacidade de manter a atenção. Autism Support Network, 2016).
Adicionalmente, os que propõem o uso da maconha argumentam que ela seja mais segura e que tenha menos efeitos colaterais que as outras medicações para controle de comportamento. Por exemplo, a Ritalina, medicação comumente receitada para o TDAH, que está associada a aumento dos tiques faciais, inibição do crescimento, depressão e insônia.
Adicionalmente, os que propõem o uso da maconha argumentam que ela seja mais segura e que tenha menos efeitos colaterais que as outras medicações para controle de comportamento. Por exemplo, a Ritalina, medicação comumente receitada para o TDAH, que está associada a aumento dos tiques faciais, inibição do crescimento, depressão e insônia.
Qual a evidência científica do uso da maconha no Autismo?
Correntemente, existem somente depoimentos testemunhais que apoiam o uso da maconha para tratar o Autismo. Por exemplo, há grupos que advogam seu uso, tais como: “Mothers for Medical Marijuana Treatment for Autism”, “Mothers Advocating Medical Marijuana for Autism (MAMMA)” e “Pediatrics Cannabis Therapy”. Eles afirmam que a maconha pode reduzir a chance de graves episódios comportamentais e tornar o indivíduo mais sociável e mais receptivo ao aprendizado. Entretanto, esses grupos não citam nenhum estudo controlado que possa apoiar essas afirmações. Além disso, eles afirmam que a maconha melhora os padrões de sono e permite que os indivíduos estejam mais presentes em seus contextos imediatos, também sem nenhuma pesquisa substancial.
Na internet podem ser encontrados vídeos que sugerem uma relação entre o uso da maconha e significativas melhoras do comportamento, sociabilidade e de outras áreas do desenvolvimento (por exemplo, https://www.youtube.com/watch?v=ISJ0fsCacMA). [é: i esse jota zero efe esse…]. Uma revisão das pesquisas da internet retornará centenas de histórias e de testemunhos apoiando a hipótese de que a maconha foi a causa da melhora dos indivíduos com autismo. Entretanto, a realidade é simplesmente de que não há nenhuma evidência científica de que essa droga seja relacionada a qualquer melhora no desenvolvimento, no comportamento ou nas avaliações acadêmicas. Quer dizer, não há nenhum estudo controlado, que use os métodos científicos aceitos, que avalie o impacto da maconha em nenhum dos sintomas do autismo. Assim, fica claro que nesse momento, não se demonstrou que a maconha seja um tratamento eficaz para o autismo.
Quais são os riscos associados ao uso da maconha para tratar o TEA?
Mais preocupante que a falta de evidência para apoiar o uso da maconha no tratamento do autismo, são as grandes dúvidas sobre a maconha ser considerada segura ou não. A casuística contra o uso dessa droga é muito convincente. Muitos relatos médicos descrevem em detalhes o conhecido perigo da maconha e os possíveis danos físicos e psicológicos que ela pode causar. É tão grande a preocupação em relação à falta de pesquisas que apoiem uma influência positiva no autismo, nas dificuldades do desenvolvimento e em outros transtornos pediátricos do comportamento, e o potencial para dano físico e psicológico, que várias organizações profissionais publicaram declarações de posicionamento afirmando que a maconha deve ser considerada uma preocupação para a saúde pública, e recomendando que futura legalização da droga seja postergada até que mais pesquisas sejam concluídas (por exemplo: American Academy of Neurology, 2017; American Academy of Pediatrics, 2016; American Medical Association, 2008; American Society of Addictive Medicine, 2014; American Academy of Child and Adolescent Psychiatry, 2017). Por exemplo, a Academia Americana de Neurologia, em sua declaração de posicionamento de 2017, sobre o uso da maconha nas doenças neurológicas, deixa claro que não há nenhum estudo formal que apoie o uso da maconha e de seus derivados para melhorar várias condições neurológicas.
Além disso, há potenciais efeitos colaterais documentados, incluindo tonturas, ideação suicida, sensação de intoxicação, alucinações e mudanças de humor (algumas potencialmente irreversíveis).
Ademais, o uso crônico de maconha fora da área de necessidade médica,mtambém foi associado com perda de memória e dificuldades de aprendizado (American Academy of Neurology, 2017). Finalmente, a interação entre as drogas de receituário médico e a maconha não foram ainda muito bem estudadas e podem representar mais um risco.
Ademais, o uso crônico de maconha fora da área de necessidade médica,mtambém foi associado com perda de memória e dificuldades de aprendizado (American Academy of Neurology, 2017). Finalmente, a interação entre as drogas de receituário médico e a maconha não foram ainda muito bem estudadas e podem representar mais um risco.
Qual é o fim da linha?
No momento, não há nenhuma evidência que apoie o uso da maconha como um tratamento para o autismo. Isso, junto com os possíveis efeitos colaterais negativos, sugere fortemente que não devamos usar a maconha para o tratamento do TEA, ao menos até que a comunidade médica primeiro entenda que seja seguro. Entretanto, mesmo que se prove seguro, os profissionais vão precisar de pesquisas bem controladas, de alta qualidade, que usem a maconha como tratamento para o autismo. Esses estudos precisam avaliar os efeitos da maconha em comportamentos claramente definidos e cuidadosamente avaliados, para determinar qualquer impacto positivo e causal. Até que isso ocorra, está claro que o uso da maconha e de outros produtos relacionados com a cannabis está contraindicado para o tratamento do autismo. Por não haver nenhuma evidência científica de que a maconha seja benéfica para indivíduos com autismo, os pais e cuidadores de crianças com TEA devem pensar seriamente nos efeitos colaterais que podem ocorrer com o uso da maconha como um tratamento.
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