TDAH na pré-escola. Muito cedo para fazer o diagnóstico?
O TDAH é tradicionalmente diagnosticado após os 6 anos de idade. Mas se seu filho, pré-escolar, é anormalmente hiperativo ou impulsivo, novas evidências sugerem que ele pode merecer avaliação e tratamento para TDAH, ainda mais jovem.
Por ARLENE SCHUSTEFF – in ADDITUDE março/2022
TDAH em pré-escolares: Em crianças, quão cedo você pode diagnosticar TDAH?
Ann Marie Morrison suspeitou que seu filho tinha transtorno de déficit de atenção (TDAH ou ADD) quando ele tinha três anos. “Os acessos de raiva de John eram mais intensos do que os de outras crianças de três anos e surgiam do nada”, diz Morrison, de Absecon, Nova Jersey. “Demorava uma eternidade para sair de casa. Ele tinha de se vestir no corredor, onde não havia fotos ou brinquedos para distraí-lo. Ele não conseguia ficar parado e despedaçava todos os brinquedos. Eu carregava cartões de presente na minha bolsa, para que quando ele destruísse um brinquedo na casa de um amigo, eu pudesse entregar um cartão de presente para a mãe, para substituí-lo.”
Quando Morrison discutiu a hiperatividade e o comportamento impulsivo de John com seus médicos, suas preocupações foram descartadas. "Ele é apenas um menino ativo", disseram eles.
“Um pediatra disse: 'Mesmo que ele tenha TDAH, não há nada que possamos fazer para o TDAH em crianças menores de 5 anos'”, lembra Morrison. “É como dizer: 'Seu filho tem uma doença grave, mas não podemos tratá-la por mais dois anos'. O que eu deveria fazer nesse meio tempo?” A família mudou-se para outra parte do estado quando John tinha cinco anos e, por acaso, sua nova pediatra era especialista em TDAH. Ela havia sido diagnosticada com TDAH e criou um filho com a doença.
“No check-up de John, ela estava fazendo um histórico médico e John, como sempre, não conseguia ficar parado. Ela parou e perguntou: 'Você fez o teste de TDAH para ele?' Eu comecei a chorar. Eu pensei: 'Ah, graças a Deus. Alguém o vê'”, diz Morrison. “Depois de anos sendo dito por parentes que eu precisava discipliná-lo mais, depois de anos me sentindo física e mentalmente exausta e pensando que eu era uma mãe horrível, alguém percebeu com o que estávamos lidando.”
Uma avaliação completa de John, que incluiu informações de professores e familiares, levou a um diagnóstico de TDAH. Logo depois, ele foi medicado, o que o ajudou a se concentrar e melhorou seu controle de impulsos. O tratamento mudou a vida de John e de sua família. “Se John tivesse sido diagnosticado antes, teria ajudado muito”, diz Morrison. “Não sei se lhe daríamos remédio quando ele tinha três ou quatro anos, mas eu teria aprendido técnicas para organizá-lo, discipliná-lo e ajudá-lo a estabelecer uma rotina, sem ter que descobrir sozinho. Se eu soubesse antes que ele tinha TDAH, eu teria cuidado melhor de mim também. Eu não estava preparada. Não é apenas a criança que é afetada pelo TDAH. É toda a família.”
Mary K., de Hillside, Nova Jersey, suspeitava que seu filho, Brandon, também deveria ser diagnosticado com transtorno de déficit de atenção. Em casa, a vida era difícil – como é para muitas famílias com crianças com TDAH.
“Brandon desenhava nas paredes e não ouvia nada do que dizíamos. Ele jogava fotos ou talheres pela sala quando estava frustrado, o que acontecia o tempo todo. Nós vivíamos e morríamos pelos humores de Brandon. Se ele estava de bom humor, todos na casa estavam de bom humor e vice-versa. Eu tinha uma criança de três anos cuidando da minha casa”, diz Mary.
No início, Mary e seu marido atribuíram o alto nível de atividade de Brandon a 'meninos sendo meninos'. Mas quando a pré-escola que ele frequentava pediu que a criança de três anos saísse por causa de preocupações com seus comportamentos agressivos e impulsivos, ela começou a suspeitar que um diagnóstico de TDAH era necessário.
Depois que Brandon foi convidado a deixar uma segunda pré-escola – ele perseguiu uma garota pelo playground com uma faca de plástico, dizendo que a “cortaria” – Mary marcou uma consulta com o pediatra de seu filho para perguntar sobre o diagnóstico da pré-escola, com transtorno de déficit de atenção. A resposta de seu médico, no entanto, foi que Brandon era muito jovem para um diagnóstico de TDAH.
Conclusão: Isso simplesmente não é verdade. Em casos extremos como esses, um diagnóstico de TDAH na pré-escola é apropriado – e muitas vezes crítico.
Novas Diretrizes da Associação Americana de Pediatria sobre Diagnóstico e Tratamento de TDAH em Crianças
Hoje, crianças como John e Brandon estão sendo diagnosticadas e ajudadas mais cedo na vida, graças às diretrizes revisadas da Academia Americana de Pediatria (AAP). A AAP agora recomenda avaliar e tratar crianças com TDAH a partir dos 4 anos. As diretrizes anteriores, lançadas em 2001, cobriam crianças de 6 a 12 anos. As novas diretrizes de 2011, que se estendem até os 18 anos, também recomendam intervenções comportamentais, especialmente para crianças mais jovens.
“O comitê da AAP revisou as pesquisas sobre TDAH feitas nos últimos 10 anos e concluiu que há benefícios em diagnosticar e tratar o TDAH em crianças menores de 6 anos”, diz Michael Reiff, MD, professor de pediatria da Universidade de Minnesota, que atuou no comitê que desenvolveu as novas diretrizes.
As diretrizes atualizadas da AAP especificam que os diagnósticos devem descartar outras causas de comportamentos problemáticos ao avaliar condições coexistentes como ansiedade, transtornos de humor, transtorno de conduta ou transtorno de oposição desafiador. Um diagnóstico completo deve incluir informações de pessoas na vida da criança - professores, prestadores de cuidados e familiares imediatos - para garantir que os sintomas de TDAH estejam presentes em mais de um ambiente. Quando uma criança é diagnosticada com TDAH, com base nos critérios do DSM-5, a AAP oferece estas recomendações de tratamento específicas para a idade:
Para crianças de 4 a 5 anos, a primeira linha de tratamento deve ser a terapia comportamental. Se tais intervenções não estiverem disponíveis ou forem ineficazes, o médico deve pesar cuidadosamente os riscos da terapia medicamentosa em idade precoce contra aqueles associados ao diagnóstico e tratamento tardios.
Para crianças de 6 a 11 anos, recomenda-se medicação e terapia comportamental para tratar o TDAH, junto a intervenções escolares para acomodar as necessidades especiais da criança. As evidências indicam fortemente que as crianças nessa faixa etária se beneficiam ao tomar estimulantes.
Para adolescentes de 12 a 18 anos, os médicos devem prescrever medicamentos para TDAH com o consentimento do adolescente, de preferência em combinação com terapia comportamental.
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