quarta-feira, 12 de março de 2014

327- TDAH - Reduzindo a necessidade de doses altas de medicação com a terapia comportamental.


O tratamento medicamentoso e a terapia comportamental são considerados como tratamentos eficazes para o TDAH; a combinação desses tratamentos é geralmente vista como abordagem ideal para muitas crianças. Entretanto, no Estudo de Tratamento Multimodal do TDAH (MTA Study), o maior estudo de tratamento do TDAH já feito, o benefício do tratamento combinado comparado com o tratamento medicamentoso isolado, embora significativo para algumas medidas, não foi especialmente robusto. Isso levou alguns profissionais a questionar se a terapia comportamental era necessária quando uma criança fosse tratada eficazmente com a medicação, isto é, a terapia comportamental faria um diferença o bastante para valer à pena? (Para uma revisão do conjunto inicial de achados do MTA Study, veja www.helpforadd.com/mta-study/.

Uma das limitações de muitos estudos iniciais que examinavam o tratamento combinado - incluindo o MTA - foi a de que os benefícios adicionais da terapia comportamental foram examinados no contexto de uma dose otimizada de medicação. Por exemplo, cada criança do estudo MTA começou o tratamento medicamentoso com uma triagem intensiva, controlada por placebo, para determinar sua dose mais eficaz. Assim, os benefícios da adição do tratamento comportamental à medicação foram avaliados no contexto de um regime de dosagem otimizada. Falando de modo geral, os benefícios adicionais do tratamento comportamental, quando avaliados nesse contexto, são, no melhor dos casos, modestos.

Entretanto, o tratamento medicamentoso feito nas comunidades raramente é realizado em condições de otimizar os benefícios. E uma questão inteiramente diferente, mas importante, é saber se combinar a terapia comportamental com a medicação pode diminuir, de maneira significativa, a dose da medicação necessária para atingir o controle eficaz dos sintomas. 

Esse seria um resultado importante porque o tratamento prolongado com medicação estimulante pode estar associado a diminuição do crescimento. Doses mais baixas podem diminuir os efeitos de supressão do crescimento, estar associadas a diminuição dos efeitos colaterais, e serem mais bem aceitas por famílias preocupadas com o uso de medicamentos em seus filhos.

Um estudo publicado recentemente online no Journal of Abnormal Child Psychology [Pelham et al (2014) - A dose-ranging study of behavioral and pharmacological treatment in social settings for children with ADHD, DOI 10,1007/s10802-013-9843-8 ] avalia cuidadosamente esse importante aspecto. Os participantes foram 48 crianças com TDAH, de 5 a 12 anos de idade, que estavam participando de intensivo programa de tratamento de verão (STP). O SPT era de 9 horas ao dia e durou 9 semanas. As crianças passavam 2 horas todos os dias em atividades acadêmicas, e o restante de cada dia em grupos de atividades recreativas semelhantes às de um acampamento normal de verão (como é de costume nos Estados Unidos).

Tratamentos

Medicação -  Durante o STP, as crianças receberam três doses diferentes de medicação estimulante, isto é, baixa, média e alta, além de placebo. A medicação era metilfenidato de efeito curto (a forma genérica da Ritalina) e foi administrada 3 vezes ao dia. A dose da medicação era mudada diariamente e o pessoal do STP não sabia o que a criança havia tomado a cada dia.

Terapia comportamental - A terapia comportamental foi realizada com duas variantes: baixa intensidade e alta intensidade. Em ambos os casos, o tratamento incluía um sistema de pontuação para promover o comportamento desejado, regras e expectativas claramente estabelecidas, treinamento para desenvolver habilidades sociais e resolver problemas sociais, elogio social e reforço, treinamento de habilidades atléticas, e o uso de recompensas diárias e semanais.

A principal diferença foi que, na condição de baixa intensidade, cada elemento foi modificado para que necessitasse de menor esforço para ser fornecido. Por exemplo, na condição de alta intensidade, as crianças ganhavam e perdiam pontos durante o dia com base em seu comportamento. na condição de baixa intensidade, as crianças recebiam feedback sobre seu comportamento mas não ganhavam ou perdiam pontos. 

De modo semelhante, embora o conteúdo das lições de habilidades sociais fosse similar, na condição de menor intensidade, o feedback das habilidades sociais não era incorporado nas atividades diárias e o treinamento para resolver problemas sociais não era fornecido. Recompensas por bom comportamento eram fornecidas em base semanal e não diária.

O Desenho do Estudo

O desenho básico do estudo variava a dose da medicação - placebo, baixa, média, alta - com tratamento comportamental - nenhum, baixa intensidade, alta intensidade - de modo que o comportamento das crianças em cada combinação de tratamento pudesse ser avaliado. Assim, cada criança foi avaliada durante todas as combinações possíveis de dose de medicamento e terapia comportamental. Isso permitiu aos pesquisadores determinar, por exemplo, como uma dose baixa da medicação combinada com terapia comportamental de baixa intensidade se comparava a uma dose alta de medicação sozinha.

Medida dos efeitos

A avaliação do comportamento das crianças durante cada combinação de medicação e terapia comportamental foi feita por conselheiros. Os conselheiros eram "cegos" quanto à medicação, mas, como ele faziam o tratamento comportamental, estavam cientes de em qual condição comportamental a criança estava inserida, isto é, nenhuma, baixa intensidade, alta intensidade.

A pontuação do principal efeito foi derivada do sistema diário de pontuação empregado no STP. Por esse sistema, medidas diárias foram obtidas para cada nível de violação de regras por parte de cada criança, não cooperação, interrupção, problemas graves de conduta e verbalizações negativas. Além disso, os conselheiros completaram um diário de pontuação de sintomas de TDAH, do grau total de prejuízo e dos efeitos colaterais da medicação.

Resultados

Com era esperado, o tratamento medicamentoso na ausência de modificação do comportamento estava associado a melhora significativa do comportamento das crianças. E, conforme a dose aumentava, assim também aumentavam os benefícios - em média - em relação ao comportamento das crianças.

A terapia comportamental na ausência do tratamento medicamentoso também foi associada a significativa melhora do comportamento ao longo de várias faixas de medidas. Em geral, o gerenciamento de alta intensidade do comportamento foi associado a maiores melhoras do comportamento e redução dos sintomas do TDAH do que o gerenciamento de baixa intensidade do comportamento.

Os achados realmente interessantes desse estudo são concernentes à combinação de medicação e tratamento comportamental. Em virtualmente todas as medidas, a adição de gerenciamento de alta intensidade do comportamento à mais baixa dosagem de medicação trouxe melhoras comparáveis às produzidas por altas doses de medicação sozinhas.
Para ser direto, os resultados sugeriram que uma criança típica com TDAH pode ser tratada com o equivalente a 5 mg de metilfenidato duas vezes ao dia se ela receber concomitantemente terapia comportamental de intensidade moderada a alta. Sem a terapia comportamental, a mesma criança poderia precisar de 20 mg duas vezes ao dia para atingir os mesmos benefícios. Então, a redução diária de metilfenidato seria de 30 mg/dia. Uma razão para que isso seja importante é que os efeitos de diminuição do apetite observados nesse estudo aumentaram substancialmente com o aumento das doses - a porcentagem de lanche que as crianças ingeriam foi de 81%, 73%, 59% e 45%, com o placebo, baixa, média e alta dosagem de medicação, respectivamente.

Também é importante notar que para vários dos efeitos, adicionar terapia comportamental de baixa ou alta intensidade produziu melhoras com todas as doses de medicação; o tamanho real dessas melhoras frequentemente foi alto. De modo semelhante, adicionar medicação a qualquer variante de terapia comportamental foi associado com significativos aumentos de ganhos em cada dose.

Resumo e Implicações

Os resultados desse estudo fornecem uma demonstração convincente de que adicionar terapia comportamental ao tratamento medicamentoso poderia tornar várias crianças capazes de serem mantidas com doses significativamente mais baixas de medicação do que em caso contrário. Isso poderia potencialmente reduzir a diminuição de apetite e talvez a supressão do crescimento somático que podem estar associados com o tratamento prolongado com estimulantes; também poderia ser mais confortável para muitos pais que têm restrições sobre o tratamento medicamentoso dos seus filhos.

Embora esse estudo evidencie a viabilidade dessa abordagem, é bom notar que a prática usual geralmente não tem essa orientação. Tipicamente, quando as crianças começam o tratamento medicamentoso do TDAH, o objetivo do clínico é encontrar a dose que promova os maiores benefícios. A questão de se os mesmos benefícios poderiam ser obtidos pela combinação de menos medicação e terapia comportamental geralmente não é resolvida.

Há limitações nesse estudo que devem ser notadas. Em primeiro lugar, mesmo o tratamento comportamental em "baixa intensidade" tinha múltiplos componentes e poderia ser difícil para as famílias sustentá-lo por um longo tempo. Em segundo lugar, o estudo ocorreu em um contexto de um programa de tratamento intensivo de verão, que é um contexto muito diferente do que as crianças experimentam em suas vidas diárias. E, os resultados dos tratamentos foram avaliados por um período de somente 9 semanas, com as diversas combinações de doses de medicação e intensidade de terapia comportamental durando períodos ainda mais curtos. Assim, a sustentabilidade dos efeitos, e a generalização para ambientes mais típicos, ainda esperam por serem demonstradas.

Apesar dessas limitações, um ponto básico demonstrado por esse estudo é claro e direto - as doses da medicação podem ser diminuídas quando tal tratamento é combinado com terapia comportamental bem executada. Isso pode ser particularmente valioso quando as crianças não forem capazes de tolerar doses mais altas de medicação e quando houver preocupações em relação à diminuição do apetite e da supressão do crescimento. Do mesmo modo, doses mais baixas de medicação podem reduzir a intensidade da terapia comportamental necessária para a obtenção de bons efeitos. Tais achados complementares falam a favor do tratamento combinado para muitas crianças com TDAH.



Mais uma vez, obrigado por seu permanente interesse em nosso boletim. Espero que tenha apreciado o artigo acima e que lhe seja de utilidade. Sinceramente, David Rabiner, Ph.D. Research Professor, Dept. of Psychology & Neuroscience, Duke University, Durham, NC 27708 - USA

sábado, 1 de março de 2014

326- É BOM PRESTAR ATENÇÃO (TDAH, TDA, ADHD, ADD)

Blog do NOBLAT 01/03/14
É BOM PRESTAR ATENÇÃO 
por Zuenir Ventura, O Globo

Dizem os entendidos que só se dará bem neste século quem conseguir resolver dentro de si a luta entre o foco e a desatenção, isto é, entre a capacidade de se concentrar e a dispersão a que estamos sujeitos por causa das “distrações” que nos assediam diariamente através dos vários meios de comunicação.
A velocidade e a insistência dessas mensagens estariam diminuindo nossa capacidade de fixá-las e de refletir sobre o que elas realmente significam. O bombardeio de informações produz entropia, confusão, já que o excesso delas é igual a ruído.

Preocupado com o fenômeno, o psicólogo americano Daniel Goleman escreveu o livro “Foco — A atenção e seu papel fundamental para o sucesso”, que acaba de ser lançado no Brasil, onde a palavra do título virou moda. Já comentamos aqui mesmo que o termo passou a frequentar os mais variados ambientes.
O governo Dilma não perdeu o rumo, “perdeu o foco”. Os partidos de oposição estão “desviando o foco”. A atriz prefere “focar no lado bom das coisas”. Um time venceu não porque jogou melhor, mas porque finalmente “encontrou o foco”.

Por meio de análises, depoimentos e pesquisas, Goleman mostra que essa recorrência é causada pela dificuldade de concentração, que se deve sobretudo à onipresença do celular e da internet em nossas vidas. “A tecnologia captura a nossa atenção e interrompe as nossas conexões”.
Algumas empresas do Vale do Silício chegaram a banir das reuniões laptops, iPads, iPhones e outras ferramentas digitais. Um casal confessou ao autor que teve de fazer um pacto de boa convivência: “Em casa, guardamos os telefones numa gaveta.”

Alguns anos atrás as pessoas ficavam indignadas quando alguém pegava o Blackberry para conversar com outra na nossa presença. “Hoje é a norma.” Estudos cerebrais revelam que a “recompensa neural” desses viciados é parecida com a dos dependentes de álcool e drogas. Um professor universitário admitiu que não consegue ler mais de duas páginas por vez. “Estou perdendo a capacidade de me concentrar em qualquer coisa séria.”

Ainda bem que o mal tem cura. Uma das lições do livro é que a atenção funciona como um músculo mental, que permite acompanhar uma história, concluir uma tarefa, aprender ou criar. “Pouco utilizada, ela definha; bem utilizada, ela melhora e se expande”, o que significa que é possível fortalecê-la e até mesmo reabilitar “cérebros carentes de foco”. Basta treiná-la. Um bom método é o exercício de memorização.

Mas, cuidado, foco não é ideia fixa, obsessão. Use com moderação. É preciso dar uma folga ao cérebro, deixar um tempo livre para a divagação. Muitas descobertas e invenções aconteceram durante momentos de “distração”. O espírito aberto e a imaginação solta permitem a entrada de boas ideias.

Zuenir Ventura é jornalista.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

325- TDAH e seu terapeuta. Os bons e os maus sinais

Os bons e os maus sinais

Sinais de aviso de que um terapeuta pode não ser bom para você

• Parece impaciente e/ou distante

• Escuta apenas superficialmente

• Oferece soluções rápidas

• Fala de sua situação/transtorno em generalidades

• Tem noção pré-concebida do tratamento

• Certifica-se de que você sabe da importância dele e de sua experiência no assunto

• Arruína sua autoconfiança

Sinais de que um terapeuta pode ser perfeito para você

• Não tem pressa

• Deixa você confortável

• Ouve você – ouve realmente, e faz bom contato com o olhar

• Dá valor às suas dúvidas

• Interage com você como um ser humano

• Tem ideias às quais você responde

• Dá a você autoconfiança e confiança em suas habilidades

ADDitude

sábado, 8 de fevereiro de 2014

324- Os Efeitos Colaterais Podem Incluir: Humilhação, Julgamento e Estigma - TDAH e "drogas"


Dois recentes encontros na farmácia me convenceram: Se você não pode gritar "Fogo!" em um teatro lotado, você não deveria gritar "Droga" quando eu peço remédio para o TDAH.

Por Samantha Hines

O Merriam-Webster Dictionary define a palavra droga como "uma substância (como cocaína, heroína ou maconha) que afeta o cérebro e geralmente é perigosa e ilegal". Se você é pai de uma criança com TDAH, que, depois de consultas minuciosas e geralmente opressivas com profissionais médicos, foi informado de que seu filho poderia ser ajudado pelo uso de doses pequenas de medicação estimulante, DROGA (ou ENTORPECENTE) será uma palavra que você terá de assimilar quando ela for lançada contra você no local onde você menos esperaria: a farmácia.

O primeiro dessa série de eventos infelizes ocorreu há 1 mês. A farmácia teve dificuldade de obter toda medicação do meu filho. Nós estávamos esperando por muito tempo, então eu perguntei ao farmacêutico se ele poderia dar para o meu filho algumas doses da medicação para que ele melhorasse, enquanto aguardávamos que o restante da medicação chegasse. Isso não me pareceu ser esquisito. A farmácia já tinha feito isso uma vez, quando houve problemas com meu remédio para pressão alta. A pessoa a quem eu propus minha idéia deu um passo para trás, olhou para mim com espanto e falou bem alto, "Minha senhora, esta medicação é um entorpecente. Não podemos fazer isso com drogas".

O segundo episódio ocorreu mais recentemente. A medicação do meu filho precisou de uma pequena alteração, e houve complicações no preenchimento da receita. Decidi falar com a farmácia antes da hora - e antes de alguma tempestade de neve intensa - para garantir a quantidade que precisaríamos ter em estoque. Uma vez mais, fui atingida com a mesma palavra pela mesma pessoa: "Minha senhora, não podemos dar essa informação sobre entorpecentes pelo telefone."

Gostaria de acreditar que o uso dessa palavra por essa pessoa fosse puramente inocente - que talvez a palavra fosse a que ela tenha sempre usado, que ela não entendesse suas nuances, que ela a usasse no seu estrito sentido farmacêutico.

Para o leigo, entretanto, a palavra entorpecente, ou droga, tem conotações - e preconceitos a respeito dela. Até a definição do dicionário aponta para suas implicações menos simpáticas. Uma pequena leitura mais aprofundada já revela os fatos mais repelentes: "Entorpecentes são drogas ilegais. Drogas ilegais são usadas por viciados e criminosos. Assim, entorpecentes devem ser abomináveis, e os que os utilizam devem ser igualmente abomináveis."
Isso não é o professor de inglês que está falando ou uma artífice da palavra dentro de mim que está falando. Não é também a mãe protetora e defensora. Pergunte a qualquer um o que ele pensa quando ouve a palavra entorpecente, e eu acho que imagens do meu querido filho e de sua mãe obediente à lei virão à mente.

Há outros modos de descrever a medicação de que ele precisa: "estimulantes", sim, mas também "substância controlada", ou, possivelmente, a mais preferível "a receita do seu filho". Essas alternativas mais gentis existem não para camuflar a verdade - tenho total conhecimento dos produtos químicos que meu filho toma e porquê - mas para mostrar respeito, especialmente para uma pessoa que precisa suportar o que outros podem não entender completamente.

Para crédito da farmácia, quando eu falei sobre isso com a gerente, ela foi profissional e cooperativa. Entretanto, pais de crianças com TDAH, para não mencionar as pessoas com TDAH elas mesmas - embora acostumadas com julgamentos - não são imunes a isso. Há algo particularmente rude em descobrir isso na farmácia onde você obtém os itens que tendem a promover a maioria dos mal entendidos e dos preconceitos.

Meu filho não é um viciado, e eu não sou uma traficante. Ele é um meigo menino de oito anos com deficiência de dopamina, que foi diagnosticado como portador de TDAH. Eu sou uma mãe que tem derramado mais lágrimas do que posso contar em cada etapa do processo de diagnóstico. Trabalho duro e a medicação que compramos todo mês na farmácia transformaram a vida do meu filho. Ambos trouxeram a ele a paz e a estabilidade e permitiram que ele progredisse academicamente e socialmente. 

Essa jornada não tem sido fácil - tremendamente gratificante, sim, mas ainda não é um caminho que eu deseje a alguém.
Assim, se você me vir na farmácia, comprando a medicação do meu filho, saiba que essa nossa história é mais complicada do que uma mãe esgotada comprando alguma "droga" para acalmar seu filho agitado. É mais complicada do que minhas palavras podem expressar e, portanto, mais complicada do que a maioria das pessoas poderá imaginar.


ADDitude

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

323- Segredos do TDAH que minha professora deveria saber


Um estudante com déficit de atenção dá algumas dicas à sua professora para que ambos consigam o melhor em classe. Por Josh e Melinda Boring

Querida professora, 
enquanto nos preparamos para compartilhar mais um dia na escola, podemos fazer uma pequena pausa? Fizemos uma conferência na minha lista, abrangendo tudo o que eu vou precisar para os assuntos do dia. Mas, e a sua lista de conferência? Nós dois precisamos nos sentir bem sucedidos. Como você já me ajudou a entender como você quer que eu me prepare para a aula, eis aqui a minha lista para você.

Você tem a minha atenção?

É difícil dizer, olhando para mim algumas vezes, porque eu nem sempre faço contato visual ou me sento direito, mas geralmente estou escutando o que você está dizendo. Se você não tiver certeza, pergunte-me o que acabou de dizer, em vez de me pedir para prestar atenção. Se eu responder corretamente, eu estava prestando atenção. Se eu não conseguir repetir o que você falou, ganhe primeiro minha atenção antes de repetir o que falou.

Para mim é muito difícil aprender passivamente por longos períodos de tempo. Algumas vezes eu preciso de repetição para aprender, desde que você ganhe minha atenção. Quanto mais sentidos você envolver, mais eu ficarei engajado. Não me diga somente o que fazer, mostre-me como, e então me faça mostrar que eu entendi.

Sou distraído ou não muito distraído?

Às vezes eu não presto atenção porque estou distraído. Outras vezes, preciso de uma distração. Um ambiente completamente parado pode fazer meus ouvidos e os meus olhos procurarem descobrir de onde vêm as distrações. Se eu tiver algo sutil para me ocupar - dois pequenos objetos para esfregar um no outro ou um par de fones de ouvido para abafar os sons ou para ouvir música - eu não ficarei distraído nem procurando distrações. Estarei relaxado e alerta.

Tenho excesso de energia enquanto ainda estou sentado?

Minha capacidade de atenção está ligada aos meus níveis de energia. Sei que se espera que eu faça as tarefas escolares enquanto estou sentado à minha mesa. Mas como prosseguir se o meu cérebro está sempre em ponto morto? Se eu não puder me mover enquanto estou pensando, meu motor fica parado.

Se uma atividade chega ao fim, deixe que eu me levante, que ande, que troque as marchas antes de retomar o novo assunto. Às vezes uma pausa para movimentação, alguns pulos - podem ligar o meu motor. Isso funciona melhor, para mim, do que tentar me obrigar a ficar sentado e não ter permissão para andar um pouco pela sala antes de terminar a tarefa.

Você está me ensinando... ou me interrogando?

O que eu aprendi na escola nem sempre está aparente, mesmo para mim. Preciso de sua ajuda para mostrar o que aprendi. Quando tenho de fazer uma pergunta, faça com que a resposta seja uma meta que eu queira alcançar e que tenha orgulho quando for bem sucedido.

Mas se você me disser que eu não estou me esforçando o bastante ou que não estou cooperando, minha motivação e minha mente ficarão como as de um prisioneiro trancado em uma sala de interrogatório. Ser interrogado não me motiva, mas me desencoraja de querer tentar. Preciso sentir que você está me guiando para encontrar as respostas.

Dê-me a forma correta de atenção

Preciso de muito mais redirecionamento e de incentivos do que meus colegas. Às vezes eu atraio a atenção sem querer, quando estou mexendo com as mãos sem perceber, ou quando estou com o olhar perdido no espaço porque minha mente está vagando novamente. Preciso do seu encorajamento paciente, não de comentários que me envergonhem. 

Quero ter sucesso. Não estou agindo assim para lhe importunar ou para ser desrespeitoso. Meu cérebro funciona de modo diferente, mas ele funciona e posso perceber quando os adultos não gostam de mim. Se você estiver do meu lado, saberei disso e vou me esforçar muito mais do que se você estivesse contra mim.

Seu aluno com TDAH.

Josh e Melinda Boring são mãe e filho. Melinda é autora e especialista em patologia da fala e da linguagem. Josh é escritor de ficção científica e estudante com TDAH.


ADDitude

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

322- TDAH e TOD: Como lidar com seu filho rebelde (ADHD & ODD)


Os problemas de comportamento no TDAH (ADHD) geralmente são compartilhados com o Transtorno de Oposição e de Desafio (ODD), fazendo com que disciplinar seja um desafio. Tente essas estratégias para controlar e tratar uma criança brava e rebelde.

Mais do que rebeldia

Todo pai de criança com déficit de atenção sabe o que é lidar com os problemas de comportamento - dizer não aos pedidos ou xingamentos. Crianças com TDAH e TOD levam o comportamento desafiador e rebelde ao extremo. Eles têm um padrão de comportamento raivoso, violento e destrutivo em relação aos pais, cuidadores e outras figuras de autoridade.

TOD e TDAH: estatísticas e fatos

Quarenta por cento das crianças com TDAH também desenvolvem TOD. Antes da puberdade, o TOD é mais comum em meninos; depois da puberdade, é igualmente comum em ambos os sexos. Cerca de metade dos pré-escolares diagnosticados com TOD superam o problema na idade de oito anos. Outras crianças têm mais dificuldade de se livrar dele.

TOD e TDAH: As ligações

Os comportamentos de oposição de uma criança não são intencionais. Os especialistas acham que o TOD está ligado a uma impulsividade intensa. Não ser capaz de controlar os impulsos, combinado com o estresse e a frustração de tentar vencer os sintomas do TDAH a cada dia, leva algumas crianças a atacar física e verbalmente.

O diagnóstico do TOD é problemático

Toda criança se expressa e testa os seus limites. Pode ser difícil saber se uma criança é normalmente desafiadora ou se tem TOD. Consulte um terapeuta especializado em problemas de comportamento na infância. Ele vai pesquisar também sobre ansiedade, depressão e transtorno bipolar - cada um dos quais pode causar comportamento de oposição. Deixar o TOD sem tratamento, pode fazer com que ele evolua para Transtorno de Conduta, um problema de comportamento mais grave.

Etapas do tratamento do TOD

O tratamento se inicia com o controle dos sintomas do TDAH. Quando a hiperatividade, impulsividade e desatenção de uma criança é reduzida, geralmente há uma melhora nos sintomas do TOD. Os medicamentos estimulantes demonstraram que reduzem os sintomas do TDAH, assim como os do TOD, em até 50%.

Vá além dos estimulantes

Se uma criança não responde bem aos estimulantes, alguns médicos receitam um não estimulante, a atomoxetina (nome comercial: Strattera). Em um estudo, os pesquisadores viram que a medicação reduzia significativamente os sintomas do TOD e do TDAH. Entretanto, doses mais altas da medicação foram necessárias para controlar os sintomas.

Mude o comportamento da criança mudando o seu

O tratamento de escolha para o TOD é o treinamento dos pais. Os pais são ensinados a mudar suas reações ao comportamento da criança - bom ou mal. O treinamento envolve o uso de incentivos e punições, dando recompensas bem definidas e elogios quando seu filho coopera, e consequências para seu mal comportamento. Os terapeutas também trabalham com os pais junto às crianças para resolver dificuldades específicas.

Disciplina em três passos

Os especialistas em TOD acham que as seguintes estratégias são eficientes para os pais: Peça calmamente ao seu filho para ele fazer alguma coisa. Se ele não responder a você em dois minutos, diga a ele, gentilmente, "Eu vou pedir uma segunda vez. Você sabe o que eu lhe pedi para fazer - e as consequências se você não fizer? Por favor, tome uma decisão inteligente." Se você tiver que pedir uma terceira vez, ele sofrerá a consequência que já foi combinada de antemão - sem TV ou videogame por uma hora.

Faça todo mundo seguir o mesmo roteiro

Para a terapia de comportamento funcionar, os cuidadores da criança devem usar as mesmas estratégias de disciplina que você usa. Avós, professores, babás e ouros adultos que fiquem algum tempo com seu filho devem entender quais os incentivos e punições que você usa e, acima de tudo, usá-los consistentemente. Se algum deles facilitar o mau comportamento do seu filho, isso poderá arruinar seu programa de disciplina.

Não leve o TOD como algo pessoal

É difícil para um pai permanecer calmo quando uma criança está verbalmente abusando dele, mas não reaja. Fique calmo e emocionalmente neutro em meio aos desafios do seu filho. Crianças oposicionistas têm um radar para a hostilidade do adulto. Se elas percebem sua raiva, elas vão reagir igual.

Dê espaço para o elogio

Ajudar os pais a aprender a elogiar o bom comportamento é um dos maiores desafios que o terapeuta enfrenta. muitos pais estão tão focalizados no mal comportamento que eles param de reforçar os comportamentos positivos. Algumas dicas: Especifique o comportamento merecedor de elogio, seja entusiasmado, mas sem exagero e, termine com um gesto não verbal - um beijo na face ou um abraço.

Seja criativo e consistente

Quanto mais criatividade você aplicar no seu programa de recompensas e punições para as habilidades e necessidades do seu filho, melhor. As necessidades dele mudam conforme ele cresce. A criatividade é importante, mas a consistência é vital para o sucesso. Consistência no modo com que você trata o seu filho - estabelecimento de regras, combinação de expectativas - é a chave para eliminar os atos de oposição e desafio do seu filho.


ADDitude

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

321- TDAH - Aja contra a distração


Nove estratégias para manter seu olho - e o cérebro TDAH - no alvo.

Gatilhos da Distração

Pessoas com TDAH são especialmente inclinadas a distrações - externas e internas. Seja um colaborador que o interrompe quando você está no limite de um prazo, ou sua mente vagante, ou emoções estressantes, as distrações atrapalham o que tem de ser feito. Adote essas ações contra as distrações.

"Veja" a tarefa sendo terminada

Visualize-se terminando a tarefa. Muitos TDAHs são distraídos quando tentam dividir um trabalho em partes menores. A visualização do que fazer faz com que essas etapas sejam mais concretas. Veja o produto final e pergunte, "O que seria a metade?" "Qual seria o primeiro passo para dar o início?" Os estudos indicam que esse foco aumenta as chances de terminar o trabalho.

Fale consigo mesmo

Faça declarações positivas sobre coisas que conquistou para se ligar novamente quando ficar distraído por um trabalho difícil. Diga, "Fui capaz de terminar o trabalho quando estava escrevendo nesta mesa. Usei meu boné de baseball e ele me deixou focado. Fui capaz de trabalhar por 20 minutos seguidos". Focalizando em coisas que você já conquistou lhe dá a confiança para terminar uma tarefa difícil.

Siga seu próprio conselho

Quando você diz a si mesmo as etapas para fazer um trabalho, seu foco geralmente segue em frente. Se você estiver preenchendo um cheque e sua atenção se desviar porque você escreveu uma data errada ou uma quantia errada, faça uma pequena lista de conferência e diga para si mesmo, "OK, a data é tal. Escreva.""Devo fazer o cheque em nome de fulano. Bom. Feito". E continue dizendo para si mesmo para fazer uma pequena etapa depois da outra.

Imponha um limite às suas emoções

Os TDAHs são especialmente distraídos por sentimentos de desapontamento: "Não fui escolhido para ser promovido" ou "Não fui aceito na primeira faculdade". Sustentar esses sentimentos pode levar a um baixo rendimento no trabalho. Analise o fracasso. O fracasso não prova que você não é bom o suficiente. É somente uma experiência, não uma avaliação do seu valor como pessoa.

Corte as interrupções no começo

Uma declaração positiva afasta as interrupções desnecessárias. Coloque um sinal na sua mesa ou em sua casa que diga, "Gênio trabalhando. Por favor, deixe um recado". É preciso dizer a um chefe ou a um membro da família quando você precisa de um tempo para pensar, mesmo que sejam somente 15 minutos. Garanta seu direito por um local silencioso, protegido e livre de distrações.

Enfrente suas tarefas

Às vezes você tem de fazer a tarefa que menos gosta logo de início, para tirá-la de sua frente ou de sua mente. Assim, ela não vai distraí-lo das outras coisas que tem de fazer. Se você odeia lavar a roupa, diga, mas não se preocupe em esvaziar a máquina de lavar roupas, comece o dia lavando as roupas, e use as atividades que escolheu como motivação para seguir em frente.

O que você disse?

Muitos TDAHs não obtém indicações claras de seus chefes ou de seus cônjuges. Ou perdem informação vital quando a tarefa está sendo explicada devido à fraca capacidade de ouvir. Então eles giram suas rodas em vez de obter a informação que falta e começam o trabalho. Em vez de se preocupar em fazer feio perguntando algo que não captou, pergunte o que precisa para completar o trabalho.

Pare, olhe e escute

Se um trabalho não está indo bem, ajuste um timer para 15 ou 20 minutos e faça uma pausa, em vez de ficar distraído. Quando o timer soar, pare e diga a si mesmo "Tudo bem. Pessoas espertas podem fazer as coisas em pouco tempo". Olhe para dentro de sua mente e reveja o que ainda precisa ser feito. Talvez você decida que já fez o suficiente e volte à tarefa mais tarde. Não exagere: permita que a lógica, não as suas emoções, comande as coisas.

Junte uma equipe


Se você se distrai muito, requisite ajuda. A medicação para o TDAH dá a algumas pessoas a capacidade de parar e pensar se estão sendo prejudicadas pela distração. Outros contratam um treinador para conversar ou passar uma mensagem de texto várias vezes ao dia, para ter certeza de que estão focalizados no que estão fazendo.

ADDitude

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

320- Meu filho tem uma Dificuldade de Aprendizagem? (com ou sem TDAH)


Se o seu filho continua a ter dificuldades acadêmicas, mesmo com o tratamento para o TDAH, ele pode ser um dos 30 a 50 por cento de portadores de TDAH que também têm uma Dificuldade de Aprendizagem (DA). Os sintomas desse questionário relacionam-se principalmente com a escola elementar, que é onde as DA tendem a ser identificadas.

1- Seu filho tem dificuldade para aprender o alfabeto, rimar palavras, ou para ligar as letras aos seus sons?

2- Seu filho parece desajeitado, inepto, descoordenado, desastrado ou vive trombando nas coisas?

3- Seu filho comete muitos erros quando lê em voz alta, e repete ou faz pausas frequentemente?

4- Seu filho tem dificuldade de contar uma história na ordem certa (o que aconteceu primeiro, em segundo lugar e em terceiro lugar)?

5- Seu filho não entende o que lê?

6- Seu filho tem dificuldades com botões, ganchos, encaixes e zíperes? Tem dificuldade em amarrar os cordões dos tênis?

7- Seu filho demorou para aprender a falar e tem vocabulário limitado?

8- Seu filho tem de fato dificuldade com a soletração, dificuldade para se lembrar dos sons das letras, ou em perceber pequenas diferenças entre os sons das palavras?

9- Seu filho tem dificuldade de entender o humor, trocadilhos, histórias em quadrinhos, charges, expressões idiomáticas e sarcasmo?

10- Seu filho tem dificuldade para expor idéias por escrito?

11- Seu filho tem dificuldades para entender instruções ou ordens? Para seguir as ordens?

12- Seu filho tem dificuldade de dizer as horas ou de medir a passagem do tempo?

13- Seu filho faz confusão com os símbolos matemáticos e lê erradamente os números?

14- Seu filho pronuncia mal as palavras, ou usa palavras erradas com sons semelhantes?

15- Se filho tem dificuldade para organizar o que ele quer dizer ou para encontrar a palavra que precisa quando está escrevendo ou conversando?

16- Seu filho não segue as regras sociais de conversação, tais como não esperar sua vez, ou não ficar muito perto do seu interlocutor?

17-Seu filho não sabe como iniciar uma tarefa ou como seguir em frente depois do início?

18- Seu filho tem uma caligrafia muito ruim ou segura o lápis de modo muito desajeitado?


[A presença de um ou mais desses sintomas indica a necessidade de uma avaliação psicopedagógica ou multidisciplinar, mesmo sem a presença do TDAH.]

[Isso vale para os países nos quais a educação tem qualidade. No Brasil, pela péssima qualidade de nosso sistema educacional, que leva quase 30% dos universitários a não terem capacidade de entender um texto, sem falar nos erros ortográficos e gramaticais, é melhor, antes de procurar esses profissionais, ver se o seu filho não é mais uma vítima da "deficiência de ensinagem".]

ADDitude

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

319- DEZ COISAS QUE TODA CRIANÇA COM AUTISMO GOSTARIA QUE VOCÊ SOUBESSE


Por Ellen Nottohm (tradução livre - Andréa Simon)

1) Antes de tudo eu sou uma criança. Eu tenho autismo. Eu não sou somente "Autista". O meu autismo é só um aspecto do meu caráter. Não me define como pessoa. Você é uma pessoa com pensamentos, sentimentos e talentos. Ou você é somente gordo, magro, alto, baixo, míope. Talvez estas sejam algumas coisas que eu perceba quando conhecer você, mas isso não é necessariamente o que você é. Sendo um adulto, você tem algum controle de como se auto-define. Se quer excluir uma característica, pode se expressar de maneira diferente. Sendo criança eu ainda estou descobrindo. Nem você ou eu podemos saber do que eu sou capaz. Definir-me somente por uma característica, acaba-se correndo o risco de manter expectativas que serão pequenas para mim. E se eu sinto que você acha que não posso fazer algo, a minha resposta naturalmente será: Para que tentar?

2) A minha percepção sensorial é desordenada. Interação sensorial pode ser o aspecto mais difícil para se compreender o autismo. Quer dizer que sentidos ordinários como audição, olfato, paladar, toque, sensações que passam despercebidas no seu dia a dia podem ser doloridas para mim. O ambiente em que eu vivo pode ser hostil para mim. Eu posso parecer distraído ou em outro planeta, mas eu só estou tentando me defender. Vou explicar o porquê uma simples ida ao mercado pode ser um inferno para mim: a minha audição pode ser muito sensível. Muitas pessoas podem estar falando ao mesmo tempo, música, anúncios, barulho da caixa registradora, celulares tocando, crianças chorando, pessoas tossindo, luzes fluorescentes. O meu cérebro não pode assimilar todas estas informações, provocando em mim uma perda de controle. O meu olfato pode ser muito sensível. O peixe que está à venda na peixaria não está fresco. A pessoa que está perto pode não ter tomado banho hoje. O bebê ao lado pode estar com uma fralda suja. O chão pode ter sido limpo com amônia. Eu não consigo separar os cheiros e começo a passar mal. Porque o meu sentido principal é o visual. Então, a visão pode ser o primeiro sentido a ser super-estimulado. A luz fluorescente não somente é muito brilhante, mas ela pisca e pode fazer um barulho. O quarto parece pulsar e isso machuca os meus olhos. Esta pulsação da luz cobre tudo e distorce o que estou vendo. O espaço parece estar sempre mudando. Eu vejo um brilho na janela, são muitas coisas para que eu consiga me concentrar. O ventilador, as pessoas andando de um lado para o outro... Tudo isso afeta os meus sentidos e agora eu não sei onde o meu corpo está neste espaço.

3) Por favor, lembre de distinguir entre não poder (eu não posso fazer) e eu não posso (eu não consigo fazer). Receber e expressar a linguagem e vocabulário pode ser muito difícil para mim. Não é que eu não escute as frases. É que eu não o compreendo. Quando você me chama do outro lado do quarto, isto é o que eu escuto "BBBFFFZZZZSWERSRTDSRDTYFDYT João". Em vez disso, venha falar comigo diretamente com um vocabulário simples: "João, por favor, coloque o seu livro na estante. Está na hora de almoçar". Isso me diz o que você quer que eu faça e o que vai acontecer depois. Assim é mais fácil para compreender.
4) Eu sou um "pensador concreto" (CONCRETE THINKER). O meu pensamento é concreto, não consigo fazer abstrações. Eu interpreto muito pouco o sentido oculto das palavras. É muito confuso para mim quando você diz "não enche o saco", quando o que você quer dizer é "não me aborreça". Não diga que "isso é moleza, é mamão com açúcar" quando não há nenhum a mamão com açúcar por perto e o que você quer dizer é que isso e algo fácil de fazer. Gírias, piadas, duplas intenções, paráfrases, indiretas, sarcasmo eu não compreendo.

5) Por favor, tenha paciência com o meu vocabulário limitado. Dizer o que eu preciso é muito difícil para mim, quando não sei as palavras para descrever o que sinto. Posso estar com fome, frustrado, com medo e confuso, mas agora estas palavras estão além da minha capacidade, do que eu possa expressar. Por isso, preste atenção na linguagem do meu corpo (retração, agitação ou outros sinais de que algo está errado). Por um outro lado, posso parecer como um pequeno professor ou um artista de cinema dizendo palavras acima da minha capacidade na minha idade. Na verdade, são palavras que eu memorizei do mundo ao meu redor para compensar a minha deficiência na linguagem. Por que eu sei exatamente o que é esperado de mim como resposta quando alguém fala comigo. As palavras difíceis que de vez em quando falo podem vir de livros, TV, ou até mesmo serem palavras de outras pessoas. Isto é chamado de ECOLALIA. Não preciso compreender o contexto das palavras que estou usando. Eu só sei que devo dizer alguma coisa.

6) Eu sou muito orientado visualmente porque a linguagem é muito difícil para mim. Por favor, me mostre como fazer alguma coisa em vez de simplesmente me dizer. E, por favor, esteja preparado para me mostrar muitas vezes. Repetições consistentes me ajudam a aprender. Um esquema visual me ajuda durante o dia-a-dia. Alivia-me do stress de ter que lembrar o que vai acontecer. Ajuda-me a ter uma transição mais fácil entre uma atividade e outra. Ajuda-me a controlar o tempo, as minhas atividades e alcançar as suas expectativas. Eu não vou perder a necessidade de ter um esquema visual por estar crescendo. Mas o meu nível de representação pode mudar. Antes que eu possa ler, preciso de um esquema visual com fotografias ou desenhos simples. Com o meu crescimento, uma combinação de palavras e fotos pode ajudar mais tarde a conhecer as palavras.

7) Por favor, preste atenção e diga o que eu posso fazer ao invés de só dizer o que eu não posso fazer. Como qualquer outro ser humano não posso aprender em um ambiente onde sempre me sinta inútil, que há algo errado comigo e que preciso de "CONSERTO". Para que tentar fazer alguma coisa nova quando sei que vou ser criticado? Construtivamente ou não é uma coisa que vou evitar. Procure o meu potencial e você vai encontrar muitos! Terei mais que uma maneira para fazer as coisas.

8) Por favor, me ajude com interações sociais. Pode parecer que não quero brincar com as outras crianças no parque, mas algumas vezes simplesmente não sei como começar uma conversa ou entrar na brincadeira. Se você pode encorajar outras crianças a me convidarem a jogar futebol ou brincar com carrinhos, talvez eu fique muito feliz por ser incluído. Eu sou melhor em brincadeiras que tenham atividades com estrutura começo-meio-fim. Não sei como "LER" expressão facial, linguagem corporal ou emoções de outras pessoas. Agradeço se você me ensinar como devo responder socialmente. Exemplo: Se eu rir quando Sandra cair do escorregador não é que eu ache engraçado. É que eu não sei como agir socialmente. Ensine-me a dizer: "você esta bem?".

9) Tente encontrar o que provoca a minha perda de controle. Perda de controle, "chilique", birra, mal-criação, escândalo, como você quiser chamar, eles são mais horríveis para mim do que para você. Eles acontecem porque um ou mais dos meus sentidos foi estimulado ao extremo. Se você conseguir descobrir o que causa a minha perda de controle, isso poderá ser prevenido - ou até evitado. Mantenha um diário de horas, lugares pessoas e atividades. Você encontrar uma seqüência pode parecer difícil no começo, mas, com certeza, vai conseguir. Tente lembrar que todo comportamento é uma forma de comunicação. Isso dirá a você o que as minhas palavras não podem dizer: como eu sinto o meu ambiente e o que está acontecendo dentro dele.

10) Se você é um membro da família me ame sem nenhuma condição. Elimine pensamentos como "Se ele pelo menos pudesse…" ou "Porque ele não pode…" Você não conseguiu atender a todas as expectativas que os seus pais tinham para você e você não gostaria de ser sempre lembrado disso. Eu não escolhi ser autista. Mas lembre-se que isto está acontecendo comigo e não com você. Sem a sua ajuda a minha chance de alcançar uma vida adulta digna será pequena. Com o seu suporte e guia, a possibilidade é maior do que você pensa. Eu prometo: EU VALHO A PENA. E, finalmente três palavras mágicas: Paciência, Paciência, Paciência. Ajuda a ver o meu autismo como uma habilidade diferente e não uma desabilidade. Olhe por cima do que você acha que seja uma limitação e veja o presente que o autismo me deu. Talvez seja verdade que eu não seja bom no contato olho no olho e conversas, mas você notou que eu não minto, roubo em jogos, fofoco com as colegas de classe ou julgo outras pessoas? É verdade que eu não vou ser um Ronaldinho "Fenômeno" do futebol. Mas, com a minha capacidade de prestar atenção e de concentração no que me interessa, eu posso ser o próximo Einstein, Mozart ou Van Gogh. O que o futuro tem guardado para crianças autistas como eu, está no próprio futuro. Tudo que eu posso ser não vai acontecer sem você sendo a minha Base. Pense sobre estas "regras" sociais e se elas não fazem sentido para mim, deixe de lado. Seja o meu protetor, seja o meu amigo e nós vamos ver até onde eu posso ir. CONTO COM VOCÊ!!!

Retirado do site: http://www.autimismo.com.br/
http://img1.blogblog.com/img/icon18_wrench_allbkg.png


“O maior desafio (da educação) é conhecer cada criança como ela realmente é, saber o que ela é capaz de fazer e centrar a educação nas capacidades, forças e interesses dessa criança. O professor é um antropólogo, que observa a criança cuidadosamente, e um orientador, que ajuda a criança a atingir os objetivos que a escola – ou o distrito, ou a nação – estabeleceu".  (Howard Gardner)

318- Por que nós, com TDAH, agimos assim: Entendendo o comportamento TDAH.


Por William Dodson, M.D. 

Explicações para a compreensão dos nossos pensamentos e comportamentos - desde a preferência pela companhia de amigos TDAH até o hiperfoco durante toda a noite, e a duvidar de nossa capacidade de agir quando os outros querem nossa ação.

A vida dos TDAHs
A maioria dos TDAHs sempre soube que eles são diferentes. Os pais, professores, patrões e os amigos sempre disseram que eles não se ajustavam ao modelo normal. Disseram para que eles aprendessem e se tornassem iguais às outras pessoas. O principal obstáculo para entender o TDAH é a crença de que os TDAHs podem e devem ser como o resto das pessoas. Para os "normais" e para os TDAHs, aqui vai uma explicação do porquê dos TDAHs fazerem o que fazem.

Por que não nos damos bem em um mundo linear?
O mundo TDAH é curvo. Passado, presente e futuro nunca são separados e distintos. Tudo é agora. Os TDAHs vivem um presente permanente e têm muita dificuldade de aprender do passado ou de olhar para o futuro para ver as consequências de seus atos. "Agir sem pensar" é a definição de impulsividade, e uma das razões por que os TDAHs têm dificuldade de aprender pela experiência.

Problemas de A a Z
Os TDAHs não são bons em organização - planejar e fazer as etapas de uma tarefa em ordem certa. Trabalhos no mundo neurotípico ["normal"] têm um começo, um meio e um fim. Os TDAHs não sabem onde e como começar, porque não conseguem achar o início. Eles vão para o meio de uma tarefa e agem em todas as direções ao mesmo tempo. A organização se torna uma tarefa insustentável porque os sistemas organizacionais trabalham com linearidade, importância e tempo.

Por que ficamos oprimidos?
Os TDAHs sentem a vida de modo mais intenso do que os outros. O sistema nervoso do TDAH quer se envolver com algo interessante e desafiador. Atenção nunca é um déficit. Ela é sempre excessiva, constantemente ocupada com envolvimentos internos. Quando os TDAHs não estão na zona de conforto, no hiperfoco, eles têm muitas coisas rondando suas mentes, todas ao mesmo tempo, e por nenhuma razão aparente, como cinco pessoas falando entre si ao mesmo tempo. Nada consegue atenção sustentada e não dividida. Nada fica bem feito.

Por que sentimos o mundo todo?
Muitos TDAHs não conseguem selecionar os estímulos sensoriais. Às vezes isso está relacionado somente a um reino sensorial, como a audição. De fato, o fenômeno é chamado de hiperacusia (audição amplificada), mesmo quando a atrapalhação vem de um dos cinco outros sentidos. Por exemplo, o menor barulho na casa impede que pegue no sono. Os TDAHs têm seus mundos constantemente perturbados por sensações que os neurotípicos não percebem.

Por que gostamos de uma crise?
Às vezes, um TDAH pode atingir o limite de um prazo e produzir muito trabalho em pouco tempo. Os "mestres do desastre" podem lidar facilmente com a crise e perder o controle quando as coisas voltam a ser rotina. Balançando de crise em crise, entretanto, é uma dura maneira de viver a vida. Alguns portadores de TDAH usam a raiva para ter a descarga de adrenalina que precisam para serem produtivos. O preço que pagam por sua produtividade é tão alto que eles podem ser considerados como portadores de transtornos de personalidade.

Por que nem sempre terminamos as coisas?
Os portadores de TDAH  são iludidos e frustrados por sua intermitente habilidade de serem super-homens quando interessados, e desafiados e incapazes de iniciar e manter projetos que os aborreçam. Nunca estão confiantes de que podem se engajar quando for necessário, quando os outros esperam que o façam, quando os outros dependem de que o façam. Quando os portadores de TDAH se vêm como independentes, eles começam a duvidar de seus talentos e a sentir vergonha de não serem confiáveis.

Por que nossos motores estão sempre ligados?
Quando a maioria dos portadores de TDAH fica adolescente, sua hiperatividade se esconde. Mas ela está lá e ainda prejudica a capacidade de se ligar no ato, de ouvir as pessoas e de relaxar o suficiente para dormir. Mesmo quando tomam suas medicações, podem não ser capazes de fazer uso de seu estado acalmado. Ainda são acelerados. Na adolescência, muitos portadores de TDAH já adquiriram as habilidades sociais necessárias para disfarçar que eles não estão ligados no aqui e agora.

Por que a organização nos confunde?
A mente do TDAH é uma enorme e desorganizada biblioteca. Ela contém vasta quantidade de informação, em pedaços, não em livros completos. A informação existe em muitas formas - como artigos, vídeos, audioclipes, páginas da internet. Mas não há cartões de catalogação. Cada portador de TDAH tem sua própria maneira de guardar essa enorme quantidade de material. Itens importantes (Deus nos acuda, importantes para mais alguém) não têm nenhum lugar fixo, e podem muito bem estarem invisíveis ou completamente perdidos.

Por que podemos nos esquecer?
Para o portador de TDAH, a informação e as memórias que estiverem fora da vista estarão fora da mente. Sua mente é uma memória RAM de computador, sem nenhum acesso confiável à informação no disco rígido. A mente do TDAH está cheia de minúcias da vida ("Onde estão minhas chaves?"), então, há pouco lugar para novos pensamentos e memórias. Algo tem de ser descartado ou esquecido para dar lugar a informação nova. Geralmente a informação de que os portadores de TDAH precisam está em sua memória, mas não está disponível quando solicitada.

Por que não nos vemos claramente?
Os portadores de TDAH têm pouca autopercepção. Enquanto podem frequentemente entender bem os outros, para a média dos TDAHs é difícil saber, de momento a momento, como eles mesmos estão se saindo. Os neurotípicos interpretam isso de modo errado, como sendo insensibilidade, narcisismo, descuido ou inaptidão social. A vulnerabilidade dos TDAHs ao feedback negativo dos outros e a falta de habilidade de se avaliar no momento, pioram as coisas.

Por que somos desafiados pelo tempo?
Como os portadores de TDAH não têm uma avaliação real do tempo, tudo acontece agora ou nunca. Junto ao conceito de ordenação (o que deve ser feito em primeiro lugar; o que vem em segundo lugar) também deve haver o conceito de tempo. Oitenta e cinco por cento dos meus pacientes com TDAH não têm ou não usam um relógio de pulso. Para os TDAHs, o tempo é uma abstração sem significado. Ele é importante para as outras pessoas, mas os TDAHs nunca têm noção dele.


ADDitude

  TDAH 10 coisas para fazer ANTES do início das aulas Um ano letivo bem-sucedido começa em julho (nos Estados Unidos) . Um malsucedi...