Érica, a mulher que eu, em desespero, pedi que me
ajudasse a resolver minha desorganização, pegou um pedaço de papel amarelado e
eu me encolhi de vergonha. Eu tinha deixado essa nota no fundo de uma cesta de
roupas cheia de papéis que eu recolhi no escritório do meu marido. O papel
ficou escondido lá por dois anos.
Nós, mulheres com o transtorno de déficit de atenção,
precisamos das nossas pilhas de trastes. Temos tanto medo de perder alguma
coisa numa gaveta ou numa pasta – “longe dos olhos, longe da mente TDAH” – que conservamos
tudo à vista, onde podemos achar. Mas, depois de um par de dias, não
conseguimos ver mais a “coisa importante”. Ela está enterrada debaixo de novas
coisas que não queremos perder.
O preço de ser desorganizado
A desorganização me custa caro. Perdi, duas vezes, o contrato para um
artigo de revista que escrevi, e fiquei muito envergonhada para
pedir uma terceira via. Quando limpei meu carro, uma semana antes de vendê-lo,
encontrei um cheque não descontado que já tinha oito meses de idade.
A bagunça também me causa ferimentos. Estava tentando
achar o caminho no meio de uma estreita faixa entre as coisas na garagem e
tropecei num vaso que estava no meio do caminho. Cai no concreto, fraturei duas
costelas e o punho. Ainda dói quando penso nisso. E há o agravo de não ser
capaz de encontrar as coisas quando preciso delas. Um pesquisador, que estuda
tais assuntos, diz que se gastamos cinco minutos procurando a chave do carro a
cada dia, gastamos nisso 30 horas por ano. Multiplique por uma expectativa de
vida de 80 anos e dará 13 semanas de nossas vidas tentando encontrar as
malditas chaves do carro.
A verdade é que a desordem me deixa maluca. Eu juro, as
coisas de casa gritam silenciosamente para que eu as arrume conforme passo por
elas: “Me ponha na lava-louças!”, “Chame o técnico, para que eu pare de vasar!”.
Eu não paro para fazer essas coisas no momento porque meu cérebro está
sobrecarregado de milhares de outras chamadas: “Será que você não pode ser
pontual ao menos uma vez?”, “Estas calças estão muito justas; você precisa de
uma dieta”. Érica tentou me organizar do jeito dela. Encontramos no sótão um arquivo
rotatório com muitas gavetas fininhas. Nós arrumamos o arquivo e o
colocamos na cozinha – a central da bagunça da minha casa – e etiquetamos cada
gaveta. O arquivo teria ajudado se eu o usasse. Não conseguimos usar sistemas
que funcionam para as outras pessoas. Precisamos de sistemas que sejam nossos.
Maluco mas prático
Achei meu sistema. Uma amiga com TDAH me falou sobre um
organizador plástico rotatório que ela usa com grande sucesso. Funcionou como
uma luva para mim. Meus documentos mais importantes estão guardados, e posso
sempre achar a correspondência não aberta.
Érica chama meu sistema de arquivamento de “criativo”.
Ela faz careta e franze a testa porque eu não arquivo em ordem alfabética. Eu
arquivo por assunto. Às vezes, as associações na minha cabeça são esquisitas.
Se meu cérebro pensa que apólices de seguro e garantias de bicicletas são a mesma
coisa, então eu as arquivo assim. Quando voltar àquela pasta, encontrarei as
duas.
Outro sistema que eu uso é o que chamo “Pense uma vez”,
também conhecido como “Pense muito uma vez e então não pense mais novamente”.
Pego um problema chato e persistente – lidar com a correspondência que chega,
por exemplo – e o vejo por todos os ângulos. Gasto um bocado de tempo
trabalhando em todos os desafios e em minhas soluções para eles, então,
eventualmente, descubro um sistema prático que me permitirá não pensar mais
nisso novamente.
Uma estratégia que funciona para mim é ter duplicatas das
coisas que uso com frequência, como óculos de leitura. Há provavelmente 15 pares
espalhados pela minha casa, escritório e carro, a qualquer hora, cada par com
um colar, para que eu não os perca. Tenho quatro estojos de maquiagem: um para
casa, outro para o carro, um para o trabalho e um para viagem. Medicamentos,
canetas e copos de medida são algumas das coisas que tenha duplicadas.
Embora eu duvide que me torne uma organizadora
profissional, penso realmente que ganhei outro título. Que tal “Desorganizadora
profissional”? Este é um rótulo que uma mulher com TDAH pode usar com simpatia e
bom humor.
Agora, onde foi que eu enfiei o meu rotulador Brother
novinho?
(Extraído de Confessions of an ADDiva, por Linda Roggli).
ADDitude 2012.
Nossa, me vi nesse artigo. Sou assim. Não consigo me organizar. Quando tento, levo muito tempo e mais bagunço do que arrumo. Tudo precisa ser feito como minha cabeça pensa, senão tudo dá errado. Não consigo terminar as coisas que começo. Será que eu tenho TDAH?
ResponderExcluirLidiane lidiane.serra@gmail.com
Sou muito preguiçosa e acabo procrastinando muito.. deixo tudo para depois.
ResponderExcluirLidiane lidiane.serra@gmail.com
Nossa, me vi nesse artigo. Sou assim. Não consigo me organizar. Quando tento, levo muito tempo e mais bagunço do que arrumo. Tudo precisa ser feito como minha cabeça pensa, senão tudo dá errado. Não consigo terminar as coisas que começo. E tenho muita preguiça. Deixo tudo para depois e acabo não fazendo. Comecei duas faculdades e não terminei. Será que eu tenho TDAH?
ResponderExcluirÉ possível. Procure um médico especializado e faça um diagnóstico. Responda ao questionário no site da ABDA www.tdah.org.br
ExcluirObrigada!
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