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Os desafios do professor na educação inclusiva
Qui, 19 de Abril de 2012 01:34 Juliana Lautenschlaeger
Nos últimos tempos, o tema da inclusão tem estado presente
nas pautas de governos, ONGs, grupos de educadores e da sociedade em geral.
Inicialmente, ao recorrer à definição de inclusão contida no dicionário Aurélio
da Língua Portuguesa, encontra-se; “abranger, compreender, fazer parte”.
Deste modo, é preciso compreender a complexidade do processo
de inclusão escolar, e entender que incluir na escola os excluídos, não é
apenas cumprir a lei e oferecer vagas aos diferentes colocando-os no mesmo
espaço com os chamados de iguais, é compreender que um projeto dessa natureza
demanda muito investimento e envolvimento de todos, principalmente dos órgãos
governamentais.
Mas, o que é a escola? Ainda segundo o mesmo dicionário,
“escola é o estabelecimento público ou privado onde se ministra,
sistematicamente, ensino coletivo”.
Será que coletivo significa igual para todos? Partindo desse
pressuposto, e entendendo a escola como sendo uma sociedade menor incluída numa
sociedade maior, e que, portanto, opera com uma diversidade humana, a escola
deveria ser o espaço para construção e sistematização do conhecimento
historicamente produzido pelo homem, próprio para os diferentes, para a
diversidade.
Nesse contexto e diante dessas circunstancias ser educador é
um desafio, mas, sobretudo, um privilégio. Educar em períodos de turbulência e
revolução na sociedade exige muitas habilidades do educador como sensibilidade,
flexibilidade, visão contemporânea, interação, além da capacidade e
disponibilidade para o trabalho coletivo.
Ao longo da história, a profissão docente vem sendo pautada
por um caminho que oscila entre modelos que levam em conta conhecimentos
fundamentais e modelos práticos que são considerados relevantes como os métodos
e as técnicas.
No contexto atual, ter o domínio e a compreensão ampla do
processo de ensinar e aprender são aspectos fundamentais do conhecimento
pedagógico que fazem parte da construção do conhecimento do professor. Mas
ainda, é extremamente relevante considerar que a trajetória de vida tanto
pessoal como profissional, as crenças e a concepção de educação, mundo e
infância, são fatores decisivos e que influenciam o fazer pedagógico
cotidianamente.
Isso leva, na verdade, o educador a preocupar-se não somente
com o que ensinar, por que ensinar, a quem ensinar e como ensinar. Mas
compreender que nesse processo aquele que ensina está também incluído no
processo de construção do conhecimento numa dialética constante e ininterrupta.
A construção do papel do professor é, portanto, algo que acontece coletivamente
na prática em sala de aula e no exercício da atuação cotidiana da instituição
escolar.
Sendo assim, como a sociedade e os alunos, também os
professores são afetados por essa necessidade de constante atualização de
conhecimentos e competências, fazendo-se necessário organizar-se de modo que
isso seja possível, ou que tenham oportunidades para aperfeiçoarem sua arte de
ensinar.
Partindo deste pressuposto, a formação do professor é
elemento essencial para o desenvolvimento da cultura.
Seu campo de atuação profissional é, portanto, o conjunto de
conhecimento de saberes adquiridos no exercício do magistério, onde foi
construído em sua formação inicial, devendo ser ampliado nas ações de formação
em serviço das quais participa, na busca individual de novas ações necessárias
para sua formação tanto profissional como pessoal.
O professor é um profissional que trabalha com a
diversidade, tendo a responsabilidade de desenvolver com êxito as aprendizagens
nas múltiplas capacidades dos alunos, e não apenas à transmissão de
conhecimento, implicando a atuação do profissional, não meramente técnico, mas
também intelectual e político.
Diante do exposto, considerando a inclusão escolar de
crianças com deficiência(s) e sabendo-se que essa inclusão visa reverter o
percurso de exclusão de qualquer natureza, cabe mais uma vez ao professor
procurar enriquecer seus conhecimentos a respeito deste assunto tornando-se
capaz de beneficiá-los efetivamente na aprendizagem.
Assim sendo, é fundamental que o trabalho em sala de aula
seja respaldado por uma enorme gama de informações e explicações acerca do
comportamento, limitações e necessidades dessas crianças. Nesse sentido, a
Neurociência traz importantes contribuições, esclarecendo como o cérebro se
desenvolve e sua estreita relação com a aprendizagem, e como esta se comporta
nos transtornos mentais, contribuindo para mudanças práticas e para melhoria do
desempenho e evolução dos alunos.
Compreender o funcionamento cerebral é uma tarefa de extrema
responsabilidade e importância, já que o professor, mais do que intervir quando
este não funciona bem, contribui para a organização do sistema nervoso do
aprendiz.
É necessário que o professor busque novas alternativas para
se fortalecer dentro desse novo quadro, de forma que ele possa constituir e
interpretar sua prática, não de maneira ingênua, mas “comprometida” com a
direção do desenvolvimento do processo de inclusão. Entendendo a palavra
comprometida como implicada, ou seja, que a atuação do professor influencia
positivamente nas possibilidades de cada aluno se este respeita as
singularidades existentes dentro de sua sala de aula.
Dentro deste contexto, ao tomar decisões e optar por
determinados caminhos e procedimentos para resolver conflitos, o professor faz
mais do que escolher uma forma de ação. Ele considera e avalia as diferentes
hipóteses, estabelecendo critérios para a melhor opção pensando sempre de modo
flexível a prática pedagógica.
Para tanto, e imprescindível que o professor esteja
preparado para enfrentar as diversas situações que irão surgir durante o
processo educacional, pensando e analisando suas crenças, valores e teorias a
respeito do processo ensino-aprendizagem, principalmente junto às crianças com
necessidades especiais, o que lhe possibilitará reestruturar seu pensamento
alicerçado numa base sólida de conhecimentos.
Dessa forma é preciso que os professores reflitam sobre sua
própria prática, e dentro dessa reflexão, possam discutir o motivo pelo qual as
diferenças têm sido pouco valorizadas no espaço escolar.
É necessário acreditar na escola inclusiva, ter uma visão de
que a inclusão não só aceita, mas valoriza a diferença, porque entende que é na
diferença que as crianças crescem, se afirmam e se constituem.
Referências
CORREIA, L. M. Alunos com necessidades educativas especiais
nas classes regulares. Portugal: Porto Editora, 1999.
FOUCAULT, M. Vigiar e Punir. Petrópolis: Vozes, 1997.
GOMEZ, A. P. O
pensamento pratico do professor: a
formação do professor como profissional reflexivo. In: NOVOA, A. (Org.)
Os professores e sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1995.SADALLA, A. M. F. A. Com a palavra a professora: Suas crenças, suas ações. Campinas: Alínea, 1998.
VOIVODIC, M. A. Inclusão escolar de crianças com síndrome de Down. Rio de Janeiro: Vozes, 2004
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