Os problemas acadêmicos são
extremamente comuns em crianças com TDAH e geralmente são o motivo que as leva
a uma avaliação para TDAH. Infelizmente, as significativas dificuldades
acadêmicas que muitas crianças com TDAH experimentam podem comprometer seu
sucesso a longo prazo nas áreas que vão muito além da educação formal.
Dados esses fatos, uma importante
questão é se o desempenho acadêmico de longo prazo em jovens com TDAH melhora
com o tratamento. Por ser esta uma questão de importância fundamental, e o TDAH é
a condição mental mais bem estudada nas crianças, alguém pode pensar que a
resposta está claramente definida. Por uma variedade de razões, talvez a mais
importantes das quais seja a dificuldade inerente de conduzir estudos de
tratamento de longo prazo, isso não é o caso.
Os estudos iniciais analisaram o
desempenho acadêmico por duas formas diferentes - a conquista acadêmica e o
desempenho acadêmico. A conquista acadêmica se refere à informação e
habilidades que as crianças adquirem e, tipicamente, é medida por testes
acadêmicos padronizados de conquistas. O desempenho acadêmico focaliza nas
medidas diretas de sucesso na escola, tais como as notas, repetição de ano,
formatura no ensino médio e matrícula na universidade. Assim, as medidas de
conquista acadêmica focalizam o que as crianças demonstram terem aprendido com
uma simples prova. As medidas de desempenho focalizam, em contraste, como as
crianças realmente se saíram na escola durante um período extenso. Ambos os
tipos de resultados estão comprometidos em crianças com TDAH.
O impacto do tratamento do TDAH
nas conquistas e no desempenho permanece controverso. Alguns estudos
verificaram que enquanto o tratamento do TDAH claramente melhorava o
comportamento em classe, o impacto sobre o funcionamento acadêmico era menos
evidente. Em outros estudos, há evidência de que o tratamento melhora alguns
aspectos do desempenho acadêmico mas não melhora as conquistas. Outras
pesquisas questionaram se o tratamento medicamentoso ou comportamental tem
efeitos positivos de longa duração em qualquer dos dois tipos de resultado
acadêmico.
Um estudo publicado recentemente online no Journal of Attention Disorders [Arnold
et al. (2015). Long-term outcomes of ADHD: Academic
achievement and performance. Journal of
Attention Disorders, representa um esforço valioso de organizar estudos
relevantes sobre esse problema, para que possam ser tiradas conclusões mais
abrangentes sobre como o tratamento do TDAH influencia os resultados acadêmicos
de longo prazo.
Os autores começaram por conduzir
uma sistemática pesquisa na literatura, para identificar todos os estudos
potencialmente relevantes. Especificamente, eles viram todos os estudos publicados
em jornais com revisão por pares entre 1980 e 2012, os quais examinavam os
resultados acadêmicos associados ao tratamento em período de ao menos dois
anos. Alguns desses estudos comparavam os resultados acadêmicos em crianças
tratadas e não tratadas, outros, não tinham nenhum grupo de comparação mas
avaliaram as medidas de conquistas e/ou de desempenho antes e depois do
tratamento, enquanto outros, ainda, compararam os resultados entre jovens
tratados e jovens sem TDAH.
Ao final, os autores identificaram
14 estudos que verificaram os resultados das conquistas acadêmicas e 12 em que
as medidas dos resultados de desempenho foram comparadas - houve alguma
sobreposição nesses estudos. Para criar uma medida de resultados comum em meio
aos múltiplos estudos, que utilizaram vários métodos, os estudos foram
agrupados nos que tinham mostrado algum benefício e nos que não tinham
mostrado. Então, eles simplesmente contaram o número de estudos nos quais havia
evidência do encontro de benefícios do tratamento.
Para os estudos que compararam jovens tratados com
jovens não tratados, ou o funcionamento acadêmico antes e depois do tratamento,
o benefício foi definido como um ganho estatisticamente significativo associado
ao tratamento. Nos que os jovens tratados foram comparados com jovens sem TDAH,
o benefício foi assumido quando os resultados acadêmicos para jovens com TDAH
não eram significativamente piores do que os dos controles não-TDAH.
Resultados
O tratamento promoveu melhora nas
notas das provas de conquista em 7 de 9 estudos (78%), quando a comparação era
com a linha de base pré-tratamento, e em 4 de 5 estudos (80%) quando jovens
tratados e não tratados eram comparados.
Para os resultados de desempenho
acadêmico, a melhora foi encontrada em 1 de 2 estudos que usaram comparações de
pré versus pós-tratamento, e em 4 de 10 estudos que compararam jovens tratados
e não tratados.
Portanto, no geral, houve maior
evidência de benefícios do tratamento nos resultados de conquistas do que nos
resultados de desempenho.
Os autores também examinaram como
os resultados do tratamento variaram para tratamento médico, não-médico, e
tratamentos que combinaram ambas as abordagens
combinadas, isto é, tratamento multimodal. Embora o número de estudos em que essas comparações foram baseadas fosse
pequeno, a evidência disponível confirmou o valor do tratamento multimodal. Tal
tratamento trouxe benefícios em 100% dos estudos que examinaram os resultados
de conquista e em 67% dos que examinaram os resultados de desempenho acadêmico.
Para o tratamento somente com medicação as porcentagens foram de 75% e de 33%
respectivamente; para os tratamentos não médicos os números foram 75% e 50%.
Por fim, houve 5 estudos nos
quais os resultados de conquistas e de desempenho acadêmico foram comparados
entre crianças tratadas para TDAH e jovens sem TDAH. Mesmo com tratamento, os
resultados foram significativamente piores para os jovens com TDAH em 4 de 5 estudos
que examinaram os resultados de conquistas e em 3 de 5 que examinaram os
resultados de desempenho acadêmico.
Resumo e implicações
O resultado geral desse resumo de
pesquisa, que examinou como o tratamento influencia os resultados acadêmicos de
longo prazo, em jovens com TDAH, é positivo. muitos estudos verificaram
melhoras com o tratamento para o TDAH tanto para os resultados de conquista
como para desempenho acadêmico, com evidências sugerindo que o tratamento tinha
impactos mais consistentemente positivos nas conquistas do que no desempenho
acadêmico.
Uma descoberta interessante -
embora baseada em número limitado de estudos - foi a indicação de que resultados
acadêmicos melhores eram mais prováveis quando abordagens médicas e não médicas
eram combinadas. Isso é consistente com a visão geralmente tida de que a
maioria dos jovens com TDAH deveria receber tratamento multimodal em oposição
às abordagens isoladas médicas e não médicas. Entretanto, como foi dito em um
artigo recente - veja em www.helpforadd.com/2014/december.htm - um estudo que examinou as práticas de tratamento com um grande
número de pediatras verificou que, enquanto o tratamento médico foi recomendado
em 90% dos jovens diagnosticados com TDAH, o tratamento comportamental foi
recomendado em menos de 15% das vezes. Assim, muitas crianças podem não estar
recebendo o tratamento multimodal no sistema de saúde da comunidade.
Embora a mensagem geral desse estudo
seja basicamente positiva, os resultados dos estudos que comparam jovens
tratados para o TDAH e controles não TDAH indicam que o tratamento geralmente
não "normaliza" os resultados acadêmicos nos jovens com TDAH. Assim,
enquanto os jovens tratados possam geralmente se dar bem melhor do que se
dariam sem o tratamento, o tratamento geralmente não os traz para o nível dos
seus colegas.
É importante avaliar esses
achados no contexto da base limitada de dados sobre os quais eles foram
obtidos. Em primeiro lugar, apesar da procura sistemática de pesquisas
relevantes ao longo de um período de 32 anos, os autores identificaram somente
5 estudos que comparavam especificamente os resultados acadêmicos de longo
prazo em jovens tratados versus não tratados. E, esses estudos não eram
necessariamente experimentos randomicamente controlados, o que torna impossível
concluir que os resultados positivos associados ao tratamento possam ser
atribuídos especificamente ao tratamento em si mesmo. Essa será uma limitação
continuada na base de pesquisa porque, conduzir experimentos randomizados de
longo prazo nos quais o tratamento é negado a um grupo de jovens com TDAH, por
um período longo, não é algo que possa ser feito eticamente.
É também o caso em que a análise
dos autores somente indica que jovens tratados geralmente têm melhores
resultados acadêmicos de longo prazo. Entretanto, a magnitude dos benefícios do
tratamento não foi discutida. Há uma importante diferença entre significância
estatística e significância clínica, e não se sabe se o tratamento teve a
tendência de produzir ganhos que os pais e educadores teriam considerado serem
significativos do ponto de vista educacional. Para mim não está claro por que
os autores não incorporaram tais análises em seus artigos e por que esse
problema não foi resolvido em suas discussões.
Então, enquanto esse estudo traz
uma bela contribuição para resumir a relevante literatura, de um modo que
permite ao menos conclusões genéricas sobre o impacto do tratamento do TDAH nos
resultados acadêmicos de longo prazo, ele também evidencia que um número
significante de questões sobre esse assunto permanece. Os autores concluem que,
apesar do número de estudos que foram realizados, ainda restam dados para guiar
"... (a) os educadores a como orientar melhor cada criança, (b) o
gerenciamento de acordo com o nível do sistema escolar, e (c) a formação de uma
conduta em nível nacional. A tudo isso, eu acrescentaria que as decisões
baseadas nos dados sobre o curso da ação que mais propicia uma melhora nos
resultados acadêmicos de longo prazo para cada criança são difíceis de derem
tomadas, com base nos dados de pesquisa disponíveis.
Nos próximos anos, espera-se que
a pesquisa necessária para melhor resolver esses importantes assuntos se torne
mais disponível.
Dr. David Rabiner, Ph.D. Duke University,
Durham, NC 27708 - USA
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